quarta-feira, 28 de setembro de 2022

80 ANOS DE TIM MAIA

 



No dia 29 de setembro de 1942, nascia no Rio de Janeiro, no dia de São Sebastião, Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido como Tim Maia. Para lembrar a data em que ele completaria 80 anos, comentarei sua cinebiografia.




No filme Tim Maia (Brasil, 2014), somos apresentados às diferentes fases da vida do Tim (Robson Nunes jovem e Babu Santana na maturidade) da sua infância na Tijuca, ajudando sua grande família a entregar marmita. Tim Maia era penúltimo da numerosa prole dos 20 filhos de Altino Maia e Maria Imaculada Maia. Era chamado de Tião Marmita, apelido que detestava.




 Nessa passagem inicial do filme é mostrado como ele desde criança já tinha adquirido o aspecto físico bem rechonchudo, ainda mais quando era mandado a ajudar a família entregando marmitas, e por assumir essa função terminava aproveitando para comer às escondidas a comida dos clientes. Também ganha destaque sua formação escolar em um colégio católico.

No decorrer da passagem do tempo, o filme vai mostrando um Tim Maia mais crescido e com o aspecto físico mais roliço no final da década de 1950, sonhando alto com sua carreira musical.  Foi graças a um padre da escola onde estudava que ele conseguiu adquirir seu primeiro instrumento. Também é nessa fase da vida dele que realiza suas primeiras tentativas de conseguir viver sua tão sonhada carreira musical, formando duas diferentes bandas.





Nessa época também é mostrado como foi o relacionamento dele com duas importantes figuras da música brasileira, Roberto Carlos (George Saruma) e Erasmo Carlos (Tito Navile), e o pioneirismo da Jovem Guarda, um importante movimento musical surgido nessa época influenciado pelo rock americano. Também o mostra formando junto com esses dois amigos a banda The Sputniks. O cenário da época certamente deve trazer um pouco de nostalgia aos que tem mais de 50 anos. Esse é também o momento em que Tim Maia vivencia sua primeira tentativa de se lançar como cantor no programa de auditório do famoso apresentador de TV Carlos Imperial (Luís Lobianco), que, naqueles primórdios da televisão, com a extinta TV Tupi (1950-1980), poderia ser comparado a comunicadores como Faustão e outros do gênero.

É também nessa fase de sua juventude Tim Maia apresenta os primeiros traços de sua personalidade intempestiva, que se tornaria a grande responsável por, em diferentes momentos da sua vida, queimar sua carreira na música.

                    Com o desenrolar da história, é mostrado o Tim Maia se aventurando nos EUA, graças a um contato do colégio de padres, consegue uma hospedagem numa família. Em contato com o povo marginalizado das ruas do Brooklin, conheceu a influência musical do Soul, ritmo que adotaria quando retornasse ao Brasil. Antes disso, vai mostrando a sua experiência de malandragem em terras americanas, ao se envolver numa treta com alguns marginais que faziam furtos e cometiam outros tipos de desobediência à lei. Essa sua grande mancada na terra do Tio Sam seria responsável por sua prisão e deportação para o Brasil.






No momento em que retorna ao Brasil, descobre como a carreira musical de seus antigos parceiros dos Sputniks, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, eles estavam se tornando grandes mercadorias lucrativas para muitas gravadoras brasileiras, no auge da Jovem Guarda. Nessa época, Tim Maia precisou penar para conseguir virar o cantor que se tornaria futuramente. Mais para frente, o filme mostra o cantor já bem estabelecido mercadologicamente, havendo inclusive uma forte sacralização em torno dele.




É no cenário da fase dourada que foi nos anos 1970 que o filme mostra detalhes curiosos dos bastidores das canções que ele gravou. Além disso, mostra um pouco da sua relação amorosa com Janaína (Alinne Moraes). Interessante perceber nessa época, como, na mesma medida e proporção, ele conseguiu grandes sucessos, como também grandes fracassos, sua vida bem porra-louca nas festas onde bebia e se drogava excessivamente e envolvido nos episódios controversos. Um desses momento foi quando inventou de aderir à seita religiosa dos Racionais, comandada por Manuel Jacinto Coelho (Nando Cunha), onde terminou tentando doutrinar seus fãs gravando um álbum que lhe custou sua carreira. Isso sem falar no seu perfil irascível, que o fez entrar em sérios conflitos com gravadoras, somados ao afastamento de alguns de seus amigos, de sua amada. Sua genialidade musical contrastava demais com sua personalidade difícil que o levava a viver um estilo de vida um tanto controverso.

O filme contou com a direção de Mauro Lima, também encarregado de escrever o roteiro em conjunto com Antônia Pellegrino, cuja base foi a biografia Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia, publicado em 2007, escrito pelo jornalista e produtor musical Nelson Motta.  Pelo que pude constatar do filme sobre a vida do cantor Tim Maia, ele procura esmiuçar ao máximo possível todos os diferentes momentos da sua carreira: da ascensão e queda, passando por fases bem controversas, também mostrando seu talento musical, contrastando com o ser humano cheio de muitos defeitos como qualquer pessoa comum. Ou seja, são as várias faces de um mesmo Tim Maia, ainda que com algumas licenças poéticas, para poder seguir algumas convenções narrativas para fins dramatúrgicos.




Assim, houve alguns momentos que acabaram ficando de fora do filme, logicamente para o filme não ficar muito cansativo. Inclusive, senti falta de alguns detalhes de sua vida íntima na representação da figura paterna com os filhos Leo e Carmelo Maia.  Assim como também não chegaram explorar suas outras amizades e parcerias musicais com cantores como Jorge Ben Jor, Gal Costa, Sandra de Sá ou mesmo outros episódios bem controversos de algumas malandragens que lhes custaram muitas dívidas.




Enfim, o que posso definir do filme biográfico sobre Tim Maia, é que ele é excelente para se conhecer um pouco melhor do nosso contexto musical, sobretudo pra gente valorizar mais a cultura brasileira. O filme apresenta um excelente trabalho no design de produção com uma estética retrô com a fotografia, cenografias e belíssimos figurinos que reconstituem bem cada momento histórico do cenário musical vivenciado pelo Tim. Tudo impecável.

Passando pela sua infância e começo da juventude, durante os anos 1950, adentrando pelos anos 1960, após sua passagem em solo americano, e retornando deportado ao Brasil, após estourar com a Soul music, nos anos 1970, e cair no fundo do poço; e após retomar ao sucesso até chegar ao final dos anos 1990, já muito debilitado pelos excessos da vida que o levaram a passar mal no seu último show, em 08 de março de 1998, e falecer dias depois. Tudo isso criando todo um clima de nostalgia para quem conheceu muitas das suas diferentes fases tão bem reconstituídas no filme.

O elenco do filme é incrível, com destaque para Robson Nunes e Babu Santana, que estão perfeitos encarnando o papel do cantor em diferentes momentos da vida.





Robson Nunes está excelente apresentando um Tim Maia mais jovem sonhando alto com sua carreira artística e tendo uma forte ligação com o Roberto Carlos e já mostrando os primeiros sinais da sua personalidade explosiva. Babu Santana está perfeito no papel do Tim Maia mais maduro e com a carreira musical estabelecida. Sua perfeita empostação de voz o deixa quase idêntico ao cantor.

É curioso imaginar que os dois artistas que encarnam com perfeição no filme um Tim Maia com idades tão diferentes, o primeiro bem adolescente e o segundo um homem com mais de 30 anos; na vida real, têm uma diferença de idade de apenas três anos. Destaco ainda a excelente interpretação de outros atores que são rostos bem conhecidos do grande público, o galã global Cauã Reymond é um deles, que está brilhante no papel do cantor Fábio. Aliás, é esse personagem quem assume a função de ser o fio condutor da história ao fazer a narrativa em off na segunda pessoa. Alinne Moraes está ótima no papel da Janaína, que parece representar o papel de mulheres interesseiras que gostam de dar em cima de algum famoso para tentar se dar bem. Ela aqui foi condensada na figura de outras mulheres com quem Tim se relacionou ao longo da vida.




 O filme ainda conta com ótimas participações de rostos conhecidos de novelas globais que sabem como aproveitar os tempos de presença de cada um na trama. Destaque para George Saruma representando Roberto, com uma interpretação dos seus maneirismos que às vezes beira ao caricato, parecendo representar o cantor para um quadro de humor. Uma cena marcante é quando o personagem destrata Tim Maia no seu camarim. Luís Lobianco faz uma representação excelente do Carlos Imperial (1935-1992), importante comunicador dos primórdios da TV com aquele seu perfil malandro. Também vale mencionar as participações de Laila Zaid como Susi, amiga porra-louca da Janaina; Nando Cunha, no papel de Manuel Jacinto Coelho (1903-1991), imponente líder espiritual da seita dos Racionais na qual Tim Maia, cometendo a maior escorregada da sua vida; Edson Cardoso, o ex-dançarino do conjunto musical de axé É o Tchan!, popularmente conhecido como Jacaré, representa um segurança que barra Tim Maia em um show de Roberto Carlos. Também merecem destaque as participações internacionais de atores americanos que aparecem na passagem de Tim pelos EUA, dentre outros.

Quando Tim Maia faleceu, eu tenho de confessar nessa época conhecia pouco ou mesmo quase nada a respeito do seu nível de sua importância para a música brasileira; eu era só um garotinho de apenas 12 anos. No entanto, lembro da cobertura que a imprensa fez de sua última internação e da comoção causada por sua morte.





Na época do seu falecimento, ele já não figurava mais tanto como o artista mais lucrativo, como acontecera décadas antes; já não tinha mais suas músicas ocupando as paradas de sucesso das rádios brasileiras nem era visto se apresentando com frequência nos populares programas de auditório da TV. Um dos motivos envolvia o fato de que naturalmente, para a geração jovem do final dos anos 1990, ele já figurava como um artista sinônimo de “brega”, ou, no dizer da gíria jovem atual, cringe.

Naquele contexto do final do século 20 em que sequer sonhávamos em ouvir música facilmente pelas mídias digitais como Youtube e Sportfy, essa era uma quase realidade distante de ficção cientifica. Nós ainda ouvíamos pelas mídias físicas, o pequeno Compact Disc (CD), foi quem passou a substituir o grande Long Play (LP), também chamado por vinil ou popularmente aqui no Brasil de bolacha, que foi extinto do mercado na época. Ainda existiam as pequenas fitas K7, mais acessível às camadas populares.






Os estilos musicais que simbolizavam o modismo para essa geração do final dos anos 1990 eram: a axé music, o sertanejo e o pagode, gêneros que atraíam o gosto popular, cujos artistas de cada um desses gêneros figuravam segundo o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) como os mais lucrativos para o mercado fonográfico brasileiro na época. Do mesmo modo que também havia os jovens que se aventuravam a curtir mais o estilo underground dos sons experimentais da onda pop/rock do Skank, Jota Quest, Raimundos, Pato Fu, Charlie Brown Jr., que conquistaram seu espaço no mercado fonográfico brasileiro graças à influência da MTV Brasil, que simbolizava muito a cara jovem.




Como se vê, a concorrência na época era grande e fez Tim Maia perder seu espaço, tanto que os últimos álbuns que ele lançou de forma independente, com sua própria gravadora, a Vitória Regia, figuraram entre os que mais tiveram vendas baixas. Como se isso não fosse o bastante, em consequência da sua personalidade explosiva, já era apresentado naquele momento como uma persona non grata no showbusiness nacional.  Ele já se encontrava com a sua reputação manchada por ter brigado com Deus e o mundo, como ele mesmo descreve numa cena do filme. Criou desafetos com as gravadoras, com os empresários que já o haviam agenciado e estes se sentiam lesados pelo não cumprimento dos compromissos, moveram uma onda processos na justiça contra ele. Também criou desafetos com músicos que perderam a paciência com ele sempre pedindo para parar de executar uma canção, por viver reclamando do som ou mesmo da falta de retorno no áudio ao acompanhá-lo nos seus shows e ensaios. E, para piorar sua situação, ele ainda enfrentou problemas com a Receita Federal por não ter declarado seus impostos. Isso tudo o levou à falência. Tanto que ele chegou ao fundo do poço; meses antes dessa sua última apresentação, durante as festividades do Réveillon de 1997, recebeu da justiça uma ordem de confisco do seu imóvel e dos seus bens, em consequência das dívidas acumuladas até aquele momento.




Isso sem falar que a própria saúde dele também já se encontrava bastante fragilizada, em consequência do seu estilo desregrado de viver. Com 55 anos e pesando 142 Kg, Tim Maia estava sentindo os efeitos da cobrança que os excessos alimentares, misturado com as bebidas e com drogas nas noitadas que costumava promover em sua casa, representaram para ele naquele momento um fim melancólico da sua potente voz.

Como diz o velho ditado: “Morre o artista, mas sua obra fica”. E as canções de Tim Maia serão lembradas para sempre.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

PACTO BRUTAL-O ASSASSINATO DE DANIELA PEREZ

 

 

Na tarde de quinta-feira, 11 de agosto de 2022, terminei de assistir ao documentário Pacto brutal: o assassinato de Daniela Perez (Brasil, 2022). Uma produção original da HBO Max dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, em cinco episódios, aborda o assassinato da jovem atriz Daniela Perez pelo seu colega de elenco da novela De Corpo e Alma (Brasil, 1992-1993), Guilherme de Pádua. O crime aconteceu no dia 28 de dezembro de 1992. Coincidentemente, terminei de assistir o documentário no dia em que ela completaria 52 anos.




Eu era muito criança na época em que esse crime ocorreu, estava com sete anos, mas lembro vagamente dos telejornais noticiando o nome dela. Principalmente da última novela que participou, em que representou a Yasmin e Guilherme de Pádua, seu assassino, interpretava o Bira, o seu par romântico.

Por mais estranho que possa parecer o que vou dizer, eu não recordava tanto deles em cena nessa novela; o que durante muito tempo carreguei como lembrança foi a ousadia de o folhetim apresentar em horário nobre, o antigo horário das oito, homens fazendo strip-tease num local frequentado só por mulheres, o popular Clube das Mulheres, que estava muito em alta na época, o qual contava com Victor Fasano, no auge da beleza e da boa forma atlética, o famoso garoto-propaganda da marca de desodorante Avanço, representando um stripper. O núcleo do qual Victor fazia parte contava com a participação de um cara que fazia um apresentador do clube e que atuava nessa função também na vida real, o sócio e fundador do Clube das Mulheres , o saudoso Marcos Manzano (1959-2020).





Outra coisa que eu me recordo dessa novela é a estreia de Cristiana Oliveira na Globo, após estourar como a Juma Marruá na versão original de Pantanal (Brasil, 1990), da extinta Rede Manchete. Sua personagem, Paloma, era do núcleo de Daniela Perez, que representava sua irmã. Paloma vivia um romance proibido com o Diogo, personagem do saudoso Tarcísio Meira (1935-2021), um cara em crise no casamento. O casal era embalado pela canção italiana Caruso, interpretada por Lucio Dalla (1943-2012).  A atriz, inclusive, participa do documentário dando seu depoimento.

Enfim, essas são as poucas coisas que eu me recordo dessa novela tão assimilada ao crime brutal do assassinato de uma jovem e talentosa atriz por um colega de elenco.






A respeito do documentário, o que posso dizer é que ele é bem produzido. De maneira impecável, eles conseguem conduzir a história tendo como fio condutor a mãe de Daniela, a novelista Glória Perez, autora da novela em que a filha atuava na época do crime, que vai se intercalando com as entrevistas e os depoimentos de muitos nomes importantes do judiciário que investigaram o caso. Das pessoas próximas à Daniela, como um dos representantes da classe artística, destaca-se o ator Raul Gazolla, que é viúvo da atriz.

O documentário traz uma reconstituição das horas que antecederam o crime, quando ela foi vista pela última vez na Globo, saindo dos estúdios Tycoon, onde era gravada a novela antes da existência do Projac, e imagens de arquivos. O canalha do Guilherme de Pádua não aparece dando depoimento, ainda bem, pois muita coisa ali foi baseada nos autos do processo; pois certamente ele daria uma nova versão para tentar confundir ainda mais a justiça e colocar a culpa em sua então esposa e cúmplice no crime bárbaro, Paula Thomaz. Esta, tão desprezível quanto Guilherme de Pádua, também não participa do documentário. As únicas coisas que dá para ouvir da boca deles estão nos arquivos das reportagens de telejornalismo que cobriam o caso.





O documentário esclarece como Guilherme de Pádua havia sido selecionado para representar o Bira, o par romântico da Yasmim, papel de Daniela Perez, que inicialmente era para ser do hoje deputado federal Alexandre Frota, que não pôde aceitar o convite na época porque não foi liberado da novela em que estava ainda atuando, Perigosas Peruas (Brasil, 1992). Frota aparece no documentário junto com outros atores, Raul Gazolla; Fábio Assunção, que contracenava com Dani na novela fazendo seu outro par romântico; Eri Johnson, que também contracenava com a atriz na novela. Outros atores também dão seu depoimento: Stênio Garcia, que interpretava o pai de Yasmin, e Cristiana Oliveira, que fazia o papel de sua irmã.

Mauricio Mattar, que não compunha o elenco da novela, traça um perfil de Guilherme de Pádua quando contracenou com ele numa peça chamada Blue Jeans, dirigida por Wolf Maia. A peça ainda contava com Fábio Assunção e Alexandre Frota no elenco, os quais também dizem como era conviver com Guilherme antes do crime, ressaltando seu comportamento estranho. Fábio Assunção lembra um momento em que Guilherme de Pádua, representando um policial que o prendia, chegou a machucá-lo de verdade. “Ele fazia um policial, então ele me prendia, tinha que me bater, mas era ensaio. E ele me deu um soco em cena. Foi na minha garganta, aquilo deu uma discussão enorme. Achei até que ia ficar com algum problema na voz”, diz o ator.





O documentário mostra a passagem de Guilherme de Pádua pelo grupo teatral homoerótico dos Leopardos, no qual ingressou no final dos 1980 ao chegar no Rio de Janeiro (ele nasceu em Belo Horizonte). Ele se envergonha de ter participado do grupo e nessa época já mostrava um perfil egoísta, psicótico, narcisista. Foi nesse grupo conheceu a mulher que seria sua futura esposa e cúmplice no assassinato, Paula Thomaz. Ela também já demonstrava um comportamento estranho e possessivo. Capazes de fazer até um pacto  macabro e dos mais bizarros. Foi essa a inspiração para o título do documentário. 





O documentário traz ainda o depoimento de muitos dos profissionais que trabalharam nos bastidores da novela (maquiadora, cameraman, figurinista), todos ali relatando que Guilherme de Pádua agia sempre de forma estranha e vivia perseguindo Daniela, por não se conformar com o pouco destaque do seu personagem.

Há também o depoimento da filha de Hugo da Silveira, já falecido, importante testemunha que passava pela estrada próxima ao matagal onde foi encontrado o corpo da atriz; ele anotou a placa dos dois carros ali parados.




Em alguns momentos nos deparamos com imagens de arquivos com muitos representantes da classe artística clamando nas portas das delegacias por justiça pelo assassinato de Daniela Perez, alguns desses artistas já são falecidos, como é o caso Guilherme Karan (1958-2016), Marilu Bueno (1940-2022), que na novela De Corpo e Alma fazia o papel da mãe de Yasmim, personagem da Daniela Perez. Outras personalidades que aparecem nas imagens de arquivos e também são falecidas: o jornalista Marcelo Rezende (1951-2017), famoso apresentador de programas policialescos; o documentário mostra sua cobertura do caso como repórter em matéria para a Rede Globo.

A jornalista Sandra Moreyra (1954-2015) também aparece nas imagens de arquivos, entrevistando Daniela Perez quando a atriz estava se preparando para fazer o papel da Yasmim na novela, comentando suas expectativas em relação à personagem. Outra personalidade, essa recém-falecida, que é mostrada nas imagens de arquivo do documentário, é Jô Soares (1938-2022), em seu antigo talk show do SBT, o Jô Soares Onze e Meia (1988-1999), quando entrevista a autora Glória Perez, esta desabafa sobre a impunidade. Em outro momento, traz imagens do grupo dos Leopardos, fazendo performances sexuais das quais participava o assassino Guilherme de Pádua.





Há também o depoimento do irmão de Daniela Perez, o advogado Rodrigo Perez, relatando a ferida aberta com a morte brutal da irmã, uma ferida que ainda não cicatrizou. O documentário não mencionou o outro irmão de Daniela, o caçula Rafael Perez, que nasceu com uma síndrome rara que afetou o seu desenvolvimento mental. Rafael faleceu dez anos depois da irmã, em novembro de 2002, aos 25 anos, vítima de problemas intestinais.  





  Enfim, sobre esse tipo de produção, é necessário que se tenha nervos de aço e muito preparo psicológico para digerir todo o teor barra pesada que a obra expõe, desde os depoimentos emocionantes até a foto da perícia mostrando o corpo da Daniela mutilado. Para quem gosta dessa estética de true crime e tem estômago para conseguir ver até o fim e não se sentir revoltado com a impunidade do caso, recomendo o documentário. Passados trinta anos desse crime bárbaro, os monstros que assassinaram a Daniela Perez estão soltos por aí. O Guilherme de Pádua virou pastor evangélico e está sempre posando de santinho.  Mas se você for sensível demais e se emociona muito fácil, acho melhor não se arriscar a ver.



quinta-feira, 12 de maio de 2022

MARVEL SENDO BARRADA PELA CHINA.

  

Neste vídeo teremos o comentário a respeito da China barrar os mais recentes filmes da Fase 4 do MCU nessa fase pós-pandemia. É hora da Marvel repensar para não cair no prejuízo?
É o que irei comentar.

domingo, 17 de abril de 2022

O PIOR DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO: NÃO VAI TER GOLPE!

Para compreender o cenário do Brasil atual, é preciso compreender o que levou grupos de extrema direita da MBL(Movimento Brasil Livre) a comandar o país  trazendo Bolsonaro ao poder  só mesmo vendo esse documentário Não Vai Ter Golpe!(Brasil,2019) e ter muito estômago para ver até o fim para ouvir os argumentos absurdos desse povo.  Realizado pelos próprios articuladores do movimento que fez Dilma Roussef sofrer o Impeachment em 2016. Contando com a direção de Fred Rauh e Alexandre Santos, que assinam também o roteiro e produção de Gabriel Sândalo.




O teor da estética desse documentário tendencioso, puxando a sardinha para eles mesmo sendo moldado com um perfil heroico é tão absurdo de puro mau gosto, que faz a obra ir para um nível de breguice, de tão cafona que a obra se  mostra quando  eles apelam  para o humor, nem falo. Principalmente quando mostra artistas como Danilo Gentilli ou mesmo Lobão participando dos comícios dando seu apoio e os depoimentos de Kim Kataguiri e de Artur do Val, o Mamãe Falei é de incomodar demais, vistos que recentemente ele protagonizaram as polêmicas envolvendo declarações preconceituosas sobre nazismo misoginia com as ucranianas.  Tinha horas que me dava vontade de rir, mas de nervoso com tamanho mau gosto  que essa obra apresenta.




 Tem disponível no Amazon Prime Vídeo.  Só assista se for a nível de curiosidade e se tiver  disposto a digerir e não levar a sério a visão tendenciosa desse documentário com ideais direitistas.

sábado, 2 de abril de 2022

RESENHA DA SÉRIE DA AMAZON NOSSO JEITO DE SER(2022)

 

COMO SERIAM JOVENS AUTISTAS DIVIDIREM O MESMO TETO?

 

A abordagem do autismo nunca tinha sido tão explorado quanto antes,  e a prova disso está na série que vou comentar aqui em homenagem a data do dia   02 de Abril, onde é comemorado o Dia Mundial  da Conscientização do Autismo. Trata-se de  Nosso Jeito de Ser(As We See It, EUA, 2022) da Amazon Prime Vídeo.





A série conta a  história de um trio de jovens autistas formado por Jack(Rick Glassman), Violet(Sue Ann Pien) e Harrison(Albert Rutecki), que são companheiros de quarto, dividem um apartamento e são orientados pela Mandy(Sosie Bacon), a cuidadora contratada pelas famílias dos três.




Cada um deles apresenta suas particularidades, Jack é o  que se mostra mais retraído do trio, e as vezes tem um temperamento explosivo, e irritadiço,   trabalha como web designer para uma livraria, onde lida com um chefe muito casca-grossa como Austin(Robby Clater).






 Cuja reação irascível  faz ele  explodir e ser demitido, mais depois é readmitido. É muito metódico, tem dificuldades de demonstrar suas emoções. Ainda mais num momento delicado em que ele sendo  órfão de mãe, é criado pelo seu pai Lou Hoffman(Joe Mantegna) que anda com a saúde delicada por conta do câncer, o que deixa Jack preocupado quanto a ele morrer a qualquer momento sem ter conquistado sua independência financeira. E justo nesse momento que ele conhece no hospital a enfermeira Ewatomi(Délé Ogundiram), com quem ele tem uma aproximação e o começo de uma relação amorosa.




Já Violet é de temperamento mais esfuziante, trabalha como atendente de um fast food. Sonha em querer namorar, mas é impedida pelo seu irmão Van(Chris Pang), o único familiar que cuida dela, já que ela é órfã. Que vive  controlando  os aplicativos do  relacionamento do seu celular. Violet chega a ter  um caso com um sujeito que ela conhece do trabalho, que a decepciona e ela reagindo com um piti dentro da lanchonete acaba sendo demitida.







Quanto ao Harrison, cuja característica é ainda de um rapaz imaturo  que não consegue se expor na rua, tem seus medos, suas manias,  desse trio ele é o único que não tem emprego, porém,  vem de  uma  base  familiar que  não é tão disfuncional quanto a de Jack e Violet. Cujos pais,  inclusive,  são muito ricos e  moram numa mansão. Poderia descrever, que desses três ele é o único privilegiado por ter uma base familiar sólida, coisa que os pobres coitados do Jack e da Violet não apresentam.






Porém, eu estaria sendo hipócrita de descrever dessa maneira, mesmo porque o Harrison não recebe tão constantemente a visita dos pais na sua residência  como ocorre com Jack que recebe a visita do pai e da Violet do seu irmão. Aliás só conhecemos  a família do Harrison lá pela metade da série  quando ele acompanhado da Mandy visita a mansão da sua família  e conhecemos também sua irmã.

Fora que também o Harisson lida com o preconceito capacitista e autistofóbico  ocasionado pela sua vizinha, mãe de um menino chamado A.J(Adam James Carrillo), que o impede de interagir a ponto de chamar a polícia.  Seria o mesmo que pensar que se o Harrison fosse preto, mesmo sendo rico, mascaria o racismo que ele pudesse sofrer.





A série é uma produção de Jason Katims, que mescla comédia com drama, contendo 8 episódios, baseada na série israelense On The Spectrum(Israel, 2018).

Com o elenco contando com o trio protagonista formado por autistas de verdade. Com Rick Glassman como Jack, Sue Ann Pien como Violet e Albert Ruteck como Harrisson,  em cena eles mostram um bom entrosamento e uma ótima química para representar o drama de seus personagens de uma forma bastante verossímil e realista, onde cada um aqui ao lidar ao seu modo  com superações típicas do espectro procuram enfrentar como a introversão por exemplo, a forma como eles retratam  não fica parecendo uma tentativa piega  de  parecer um engessamento de perfil heroico para eles criarem uma romantização sobre o autismo. Aqui eles não apresentam uma unidimensionalidade rasa, também tem suas outras camadas envolvendo os complexos dramas adultos.  Houve um momento em que dos três,  a Violet foi a que mais me preocupou inicialmente, pelo fato de que como era a única representação feminina do trio e tinha momentos que ela  demonstrava uma típica visão meio conto de fadas de querer encontrar um príncipe encantado e falando abertamente  do seu desejo sexual, aquilo chegou a me fazer parecer uma forçação de barra que poderia fazer ela cair na caricatura do  estereótipo racista da objetificação erótica da mulher oriental.  Porém, a maneira como sua interprete  Sue Nan Pien defendeu   foi me surpreendendo e evoluindo ao longo dos episódios após um lance que teve com um sujeito do trabalho, que a decepcionou após ela transar com ele. Do mesmo jeito que Rick Glassman como  o Jack e Albert Ruteck como  o Harrison foram também aos poucos evoluindo e mostrando suas outras camadas, principalmente ao lidarem cada um com a afetividade amorosa e desejo sexual.  





 Mesmo porque  é preciso levar em conta que no autismo mesmo há graus variados de dificuldades motoras, intelectuais e de comunicação. Onde de todo jeito o indivíduo sempre vai ser visto de uma forma banal e discriminatória  pela sociedade. Principalmente se o seu comportamento mesmo depois de adulto ser visto como eternamente  infantilizado de um sujeito assexuado, ingênuo e puro como um anjo azul. 




Porém, ignora-se a realidade crua e  mundana  que existem autistas que vivem em lares familiares disfuncionais e outros em família humildades que não tem condições de pagar tratamentos terapêuticos alternativos para seus filhos conseguirem evoluir. Dentro dos limites deles lógico. E esses tendem a caírem no caminho perigoso da criminalidade, quando você acha  que não, eu vi o noticiário de um menino autista de 10 anos que quase cometeu suicídio com tanta medicação que tomou por não aguentar o bullying na escola. Isto é muito preocupante.  Ou mesmo do menino autista assassinado pela mãe.





Além do trio protagonista, outros atores que compõe o núcleo de apoio e de grande importância para  os arcos narrativos de cada um do trio protagonista. Mostrando também outras camadas, que também não são unidimensionais. Joe Mantegna, famoso por fazer comédias, já tinha assistido criança na telona  ele fazendo o ladrão que sequestra um bebê em Ninguém Segura Este Bebê(Baby´s Day Out, EUA, 1994), na série defende brilhantemente o papel do Lou, homem viúvo, pai do Jack, sujeito que o tempo todo fica preocupado com ele, principalmente ao lidar com seu comportamento muito centrado demais, correto demais  ou muito irritadiço e como procura ser compreensivo, mesmo quando tem gente  da sua  própria família que o crítica por ele não saber como educa-lo. A forma como ele pincela o papel, em nenhum momento procura criar uma representação heroica de romantizar a figura que gente de fora cria muito da família dos autistas  de um pai guerreiro,   muito presente na vida do seu filho com necessidades especiais, que não abandona tal. Mas ele também mostra que como qualquer ser humano, vive  esgotado da vida, principalmente ao lidar com o drama da sua frágil saúde. O que deixa Jack desesperado, já que não consegue imaginar como vai ser lidar quando ele partir e não conquistar sua independência financeira. Além de Joe Mantegna, destaco também Chris Pang, representando o Van, irmão mais velho da Violet. O seu desempenho no papel é  admirável, principalmente na forma como ele pincela a figura de um irmão mais velho  que assume o grande desafio de ser a figura  paterna  e materna  da ingênua da Violet, depois de ambos ficarem órfãos e ele ficou encarregado de ser o tutor dela. Cuja relação nem sempre é perfeita, já que a maneira como ele a exageradamente a superprotege, principalmente em proibir os aplicativos de namoro dela,  faz ele as vezes parecer um babaca. Ele também não o apresenta com uma característica unidimensional, com um elogiado perfil heroico  que se espera de todo irmão mais velho. Mostra  também como ás vezes, ele vive esgotado emocionalmente em procurar   amenizar a barra da Violet, a ponto daquilo até afetar a sua relação amorosa com Selena(Vela Lovell), com quem ele namora no começo da história e ela resolve terminar com ele depois que a Violet compartilhou com ela um segredinho do encontro que ele marcou com um namorado para ter sua primeira transa. O que o deixa em desespero, já que outras mulheres com quem Van já namorou terminaram o relacionamento, justamente por conta da situação barra pesada que ele precisava lidar com a Violet. E nesse desespero todo, ele termina se envolvendo amorosamente com a Mandy, a cuidadora contratada pelas famílias do trio para servir como orientadora deles no apartamento onde dividem juntos.  A Mandy foi muito bem defendida pela Sosie Bacon, cujo desempenho no papel é elogiável. Principalmente em defender o papel de uma mulher que lida  com a difícil missão de orientar os três  jovens inexperientes da vida que vão dividir o mesmo teto das quais as família de cada um as contratou para isso, que carregam o estigma do espectro que é o autismo, uma característica invisível. Que não tem cara, mas mesmo assim  a hipócrita sociedade neurotipica fecha os olhos para a vida banal que o autista sofre. Algo no nível A Vida Como Ela é..., mas não no sentido rodrigueano.  




Ao mesmo tempo que Mandy  precisa lidar com os problemas pessoais com o seu marido que a vê pouco e entra num dilema de ao ser aprovada para ingressar numa faculdade se abandona ou não o trio. Apesar dela não figurar como a protagonista, ainda assim, ela assumi bem a função do arco narrativo  deles  ser uma fio condutora do telespectador ao transitar entre diversos personagens da série, não só entre o trio protagonista, mas também quando individualmente conversa com cada familiar e é com ela que conhecemos a família do Harrison.




A maneira como a série retrata o modo de vida social desse trio de jovens autistas dividindo o mesmo teto. Pode parecer para nós autistas brasileiros, um retrato fora da realidade, principalmente para os que assim  como eu que tenho Transtorno do Espectro Autista ainda moram na casa dos pais. Uma quase utopia.

Porém, dentro da realidade estadunidense isto é bastante verossímil, porque lá eles já tem esse hábito de dividirem casas para alugar, para terem com quem dividir os custos com gente que aceitem serem   seus inquilinos. Uma solução  que tem suas vantagens e desvantagens, principalmente nas dores de cabeça deles arrumarem como inquilinos gente de  mau caráter como os psicopatas apresentados na minissérie documental da Netflix Moradores Indesejados (Worst Roomate Ever, EUA, 2022). Desses vermes eu não tenho a menor pena.




Fora que o trio protagonista de jovens autista  também representam uma típica característica verossímil do costume familiar  estadunidense, ainda que não seja mostrado na série  de quando os  filhos vão crescendo, eles saem de casa e vão construindo suas próprias vidas sem a família presente. E o Harrison é o que mais simboliza essa característica, visto que sua família aparece pouco na série.




Digo isso pela própria experiência de quando eu hospedei há muitos anos  uma intercambista americana, estudante de Medicina na Universidade de Yale, que veio para estudar autismo. Onde seu campus não ficava localizado em sua cidade natal que era Chicago, onde lá ela dividia o dormitório com uma colega de quarto.




Mais ou menos para vocês entenderem o retrato que a série apresenta do trio protagonista de jovens autistas tem verossimilhança com a realidade do modo de vida social dos EUA. Coisa que aqui no Brasil não temos.

Acredito que se essa série fosse produzida no Brasil, com certeza muitas famílias de autistas que dirigem instituições que prestam auxílios pedagógicos alternativo aos autistas se indignariam, a ponto de acusarem essa produção de prestar um desserviço a causa ao    romantizar a representatividade do autista.

Principalmente por eles apresentarem o trio lidando com as  complexas abordagens sobre desejos sexuais e afetividades amorosas. Temáticas que já são tabus, mesmo para neurotípicos, imagine para o autista, cuja imagem assimilada ao estereótipo  dele  ser um indivíduo  de comportamento infantilóide já causa preconceito por acharem que isso é culpa da péssima educação familiar, e somados a sua  dificuldade de interação social e de comunicação, ás vezes quando se comunica usa de um vocabulário restrito com assuntos de seu interesse, aquilo   dá impressão dele ser visto como um sujeito ingênuo e  assexuado  o  que  já ocorreu quando uma novela da Globo  chamada Amor à Vida(Brasil, 2013-2014) causou ao mostrar uma jovem autista chamada Linda(Bruna Linzmayer) namorando e beijando um rapaz neurotípico que a pede em casamento. Isso gerou tamanha revolta entre muitos grupos de mães de autistas  aqui do Brasil que dirigem instituições respeitadas, por acharem aquilo muito fora da realidade e gerou uma repercussão negativa. Motivado justamente pela visão sociocultural aqui ainda ser muito conservadora cristã. Imagine se esse autista se descobrisse  um  LGBTQIA+ e resolvesse  fazer  uma cirurgia de mudança de sexo,  como ocorreu com um rapaz autista que conheço pelo Facebook que virou transsexual, e adotou um nome feminino. E ele não é um único caso, tenho  uma amiga fonoaudióloga que atende um autista que virou transsexual e que me compartilha como foi o processo psicológico dele se aceitar no novo corpo e de como as pessoas que o conheciam rapaz, se acostumarem com ele mulher, ela mesma confessa que demora a se acostumar a isso.

O que posso concluir de tudo isso  é o seguinte, o autismo ainda é visto como um grande tabu social, mesmo que hoje ajam meios de como se informar para conseguir um diagnóstico. Porém, diante de muitos fatores complexos que envolvem as diferentes camadas do espectro  é preciso tomar certos cuidados em relação a  rótulos ou mesmo a pré-julgamentos sobre os comportamentos sociais que eles tem.

Não podemos confundir o autista ter um repertório de interesse restrito na comunicação, com alguém com transtorno obsessivo compulsivo, ou com um cara stalker. Do mesmo jeito que não podemos confundir o fato do autista com suas características dificuldades de socialização, de que ele por não namorar é um sujeito assexuado. Mesmo porque até mesmo pessoas assexuadas se casam e tem filhos.

E nunca em hipótese alguma, podemos confundir o autista como pessoa supergênio, como nerd e principalmente como uma eterna criança ingênua que é um ser cheio de pureza.

Nenhuma dessas  rotulações ao autista vão mascarar o preconceito capacitista e a discriminação  autistofóbica sobre ele.

Termino aqui com um trecho de um poema de minha autoria que me descreve bem como é a minha sensação quanto ao meu espectro.

Eu sou autista?

Sou sim senhor,

Mas não sou nenhum santo, sou como qualquer pessoa dita normal, um sujeito cheio de virtudes e de defeitos. Sou um cara muito amoroso com quem gosto, ao mesmo tempo que sou grosseiro com quem vive me estressando. Me incomoda as vezes as constantes romantizações  sensacionalistas que fazem a respeito do meu espectro, principalmente quando sai  notícias de sites sobre a superação de alguém no espectro se saindo bem sucedido, numa faculdade ou mesmo no trabalho dentre outros exemplos para nos tornar espelhos para os outros. Para mim fica a falsa sensação de mitificação, como se nós fossemos os seres mais puros do mundo. O que para mim não diz respeito em nada.

 

 

“Eu sou autista?

Sou sim senhor,

Mas não me considero a pessoa mais insociável pela descrição estereotipada que me muita gente desses profissionais que trabalham com autismo tanto batem na tecla. 

 

Sou autista?

Sou sim senhor,

Diante de tudo isso que descrevi, posso concluir dizendo que o fato de eu ter o meu espectro, posso descrever simplesmente:

Eu sou autista.... mas não sou vira-lata.”