sábado, 4 de outubro de 2025

40 ANOS DO FILME COMANDO PARA MATAR

 

No dia 4 de Outubro de 1985, estreava nos cinemas o cultuado filme de ação Comando Para Matar(Commando, EUA, 1985).




Comando Para Matar trata-se de uma produção da 20th Century Fox  que contou com a direção de Mark L. Lester, com roteiro de Joel Silver,  Steven E. de Souza e Jeph Loeb.





Estrelada por Arnold Schwarzenegger, protagonizando o aposentado Coronel John Matrix, que estava vivendo  uma vida pacata numa casa localizada em uma  região serrana ao lado da filha Jenny(Alyssa Milano), quando tem seu sossego interrompido pela presença da cavalaria  do General Franklin Kirby(James Olson) que veio lhe informar do assassinato de três de seus homens que foram combatentes em conflitos que ele participou pelo mundo, fosse na Síria, Vietnã enfim.




Antes de partir, Kirby deixa dois dos seus homens de vigilância na casa de Matrix, que horas depois são atacados por grupo de mercenários que sequestram ele  e sua filha, que para sua surpresa a pessoa por trás desse sequestro é o ex-ditador de Valverde Arius(Dan Hedaya) que contou com a colaboração de Bennett(Vernom Wells) seu ex-subordinado do Exército que forjou a própria morte para entrar no esquema da vingança de Arius.




Usando sua filha Jenny como refém para que fosse a Valverde e matar  o atual Presidente Velásquez, que não aparece é só mencionado, que ele havia ajudado a botar no poder tirando  Arius.

   E a partir daí que começará a jornada de Matrix para correr contra o tempo para providenciar muita munição eliminando na força bruta gente que tente impedir  no seu caminho para chegar a Valverde enfrentando sozinho o exército numeroso de Arius que o protegem em sua mansão e encarar seu acerto de contas com Bennet.




 

Esse é aquele  típico filme de ação estrelado por Arnold Schwarzenegger,  astro do fisiculturismo que junto com Sylvester Stallone passaram a figurar como os machões brucutus dos filmes de ação.



Schwarzenegger na ocasião que estrelou o filme já tinha firmado o seu nome no mercado hollywoodiano, já fazia um bom tempo que ele vinha sonhando em fazer carreira em Hollywood desde que saiu de sua terra natal a Áustria e  aportou em solo americano nos anos 1960 para se  dedicar  a carreira no fisiculturismo onde participou de muitas competições de Mr. Olympia e foi campeão em diferentes edições.






Teve sua primeira experiência no cinema em 1970, quando estrelou o filme Hércules em Nova York(Hercules in New York, EUA, 1970) onde assinou como Arnold Strong, que segundo pelo que o próprio contou na sua série  documental biográfica da Netflix dividida em dois episódios intitulado de Arnold(EUA, 2023) escolher representar esse herói mítico grego foi uma formar  dele homenagear o seu ídolo do fisiculturismo, o americano Steve Reeves(1926-2000) que no final dos anos 1950 estrelou o mítico herói grego em duas produções italianas do subgênero peplum*. E que foi inspirado nele e em outros fisiculturistas que haviam se aventurado no cinema que ele quis tentar a carreira de ator.




Demorou um bom tempo para até Arnold finalmente conseguir o tão almejado sonho de virar uma estrela de Hollywood após protagonizar o filme Conan, O Bárbaro(1982) e em seguida O Exterminador do Futuro(1984).






Que foram os papeis que o consagraram o tornando junto com Stallone como expoentes de um tipo especifico de subgênero de  herói de ação que marcou o cinema dos anos 1980  símbolo de machão, viril,  de cara dura, mal encarado, brutamontes que resolve tudo sozinho, o cinema  brucutu.




Este subgênero se caracterizava  com um protagonista forte e individualista que resolve problemas com força física e armas, e pouco diálogo, onde o herói é um indivíduo que age sozinho ou quase sozinho, enfrentando adversários com sua força superior e habilidade com armas. 






Onde o  enredo prioriza cenas de luta, tiroteios, explosões e violência, muitas vezes gratuita, com diálogos mínimos.  Sendo associada a corpos fortes e musculosos, com os filmes explorando a imponência dos atores através de ângulos de câmera. 

Uma das possíveis razões sobre o porquê do grande tesão que Hollywood sentia nos anos 1980 por esse tipo de herói musculoso pode estar relacionado a forte influência da moda fitness** nos Estados Unidos, popularizada principalmente pela televisão no auge do home vídeo onde eram gravadas teleaulas de ginástica que contou com a participação de  uma estrela do cinema Jane Fonda como a grande divulgadora fitness  estrelando como instrutora nos exercícios.

Onde mostrava os praticantes usando um modelo de vestimenta de malha  collant apertada e polainas com cores bem berrantes e chamativas  e com o adereço do laço na testa que apesar de bregas, traziam um certo charme com um  toque bem sexy por assim dizer. Fosse masculino ou mesmo feminino.

Junte isso ao fato de que foi também nessa época  que outra artista ajudou a popularizar esse modismo fitness que foi a anglo-australiana  Olivia Newton-John(1948-2022), a estrela do clássico musical  Grease-Nos Tempos da Brilhantina(Grease, EUA, 1978) que lançou em 1981 a canção Physical, grande hit do seu álbum homônimo, onde inclusive estrelou um  videoclipe que criou polêmica pelo apelo sexy mostrando  homens seminus em uma época bastante conservadora nos Estados Unidos. 

E muitas produções da época fosse no cinema ou mesmo nas séries de televisão apresentaram muitas cenas de ginástica com esse estilo de vestimenta.

Isso de fato pode-se explicar a razão do porque esse tipo de subgênero atraiu muito Hollywood até por volta da segunda metade dos anos 1990, a ponto de despertar o interesse de ir malhar frequentar uma academia e levantar peso  com esse culto ao corpo.

Inclusive aqui no Brasil nessa época  tivemos um artista que também aderiu a esse estilo fitness  que foi o cantor  Marcos Valle, ele lançou   em 1983 a canção Estrelar cuja letra exaltava a prática de exercícios  e no ano seguinte lançou a canção  Bicicleta, em homenagem a prática do ciclismo.  

Voltando ao foco do filme, eu cresci vendo Comando Para Matar  passando com frequência  na Sessão da Tarde da Globo, que traz aquele elemento um tanto absurdo de mostrar Schwarzenegger desafiando as inércias da lei da física  fazendo manobras quase sobre-humanas a ponto de virar quase um super-herói com direito ao seu   momento Tarzan como  na cena de tiroteio num shopping onde ele pega uma das cordas do teto  e corta para fazer um voo até o elevador onde estava o Sully(David Patrick Kelly), a probabilidade real daquilo acontecer seria impossível, aquela corda não iria aguentar  o peso da massa corporal de Matrix.

Ou mesmo na cena onde ele cai do avião em direção ao lago em frente do Aeroporto, mesmo a água amortecendo a queda, a probabilidade dele conseguir sobreviver seria mínima pelo fato do local ser raso.

Fora que a obra apresenta alguns efeitos práticos para as cenas de explosões que a olho nu nem se percebe muito algumas falhas como a sequência que mostra  Matrix pegando o carro  amarelo do Sully, um dos capangas de Arius que ele elimina ao longo do filme  que estava com uma porta  amassada devido a um acidente  e quando mostra ele dirigindo o carro, a porta estava novinha em folha, um grande erro de continuidade, ou mesmo notar que na cena mostrando tiro e explosão em Valverde, pode ser percebido dois dos soldados de Arius ao subirem foi graças a um aparelho que os fazia pular.

Ainda  que aos olhos de hoje tenham  envelhecido  mal, pelo menos soube se encaixar a estética da violência brutal e gráfica.

 

Se a gente for reparar bem,  a  forma como o protagonista John Matrix  ao colocar a comissária de bordo Cindy(Rae  Dawn Chong) para ajudá-lo  na sua missão de resgatar sua filha Jenny faz toda uma violência psicológica em torno dela de  forçar a barrar pedindo a sua  colaboração,  a ponto de obriga-la a ver toda a violência brutal com que ele prática.

Principalmente para eliminar gente perigosa como  o Sully e depois o Cook(Bill Duke), os capangas de Arius e Bennett.

Como se não bastasse isso, Matrix numa cena com ela dentro do motel onde Cook estava hospedado,  sem o consentimento dela rasga o seu decote para Cook ao  chegar fazer  acreditar que ela estava se divertindo fazendo sexo com o Sully. E a coitada da Cindy nisso tudo é obrigada a ter uma postura passiva com Matrix, ao vê-lo furtar os carros dos caras que ele matou, furtar uma loja de armas para eliminar o exército de  Arius em Valverde, onde a filha de Matrix é mantida refém.  Invadir um quarto de motel onde eles não estavam hospedados e meio que sem querer invadir um quarto vizinho mostrando um casal no momento intimo fazendo sexo, onde   a mulher coitada tomada com os sustos  que toma ao ver a brutalidade da violência de Matrix com Cook acaba mostrando seus seios grandes  balançando. Uma situação um tanto  inconveniente. 

Fora o momento nonsense dela explicar para o Matrix após disparar uma bazuca  para resgatá-lo  do camburão da polícia e ele ao questiona-lo como ela aprendeu, engoli a explicação fajuta dela  que aprendeu lendo o manual. Coisa que ele não só com a força física e com muito treinamento militar para carregar uma arma pesada sabe bem que manejar um troço daquele não se aprende só lendo manual, uma justificativa um tanto chinfrim da parte dela. Como se isso não fosse suficiente,   a parte da fada da conveniência do roteiro nos obrigar a ficar com o cérebro desligado para digerir essa situação,  pois ele também não tem a obrigação de  explicar que esse armamento devia ser supostamente da loja que Matrix tentou furtar, mas foi impedido com a chegada da Polícia. Então como Cindy conseguiu adquirir essa munição e usar o canhão para atingir  o camburão onde Matrix estava dentro? Será que ela pagou pela munição.  Certamente esses dois  momentos  representaram um tremendo furo de roteiro.

 

Como se não bastasse tudo isso, há  o momento em que ele  botou a vida dela em perigo ao manda-la   pilotar uma aeronave velha para dar uma carona a ele até Valverde, sendo que ela ainda não tinha  tirado o brevê,  que é o registro profissional para piloto. Para um tipo de voo assim  poderia gerar uma cadeia para a pobre da Cindy.  

Tudo isso que a Cindy passou ao lado do Matrix, se mostrou mais perigoso do que em relação ao que Jenny passou nas mãos dos sequestradores. Ainda  bem que ela não estava  perto de Matrix quando ele meteu a bala em muito machão sozinho com essa munição. Com certeza o stress pós-traumático dela  seria maior.  

Um outro ponto que chama a atenção na obra é o fato da sua  localização ser ambientada num pais fictício chamado Valverde, que foi uma criação de Steven E. DeSouza para representar a América Central e do Sul para evitar causar legais e diplomáticos com países reais. Com o propósito para servir de cenário tropical e instável com seus ditadores corruptos, suas guerrilhas dentre outros fatores.

O que não deixa de simbolizar bem a representação racista dos hispânicos americanos, ainda mais levando em conta a simbologia de Matrix como o Salvador Branco simbolizando a severidade militar americana na batalha entre o bem e o mal.

Ainda mais que temos de levar em conta que na época que essa obra foi concebida, ainda vivíamos no clima da Guerra Fria, onde o Governo Americano durante a gestão do ex-astro  do  cinema Ronald Reagan(1911-2004) que representou muitos papeis de heróis pistoleiros em faroestes e usou disso como referência para intimidar em seus discursos contra as ameaças  aos comunistas russos. Também  vinha encarando como inimigos os guerrilheiros e narcotraficantes aqui da América Central e do Sul com  um embate no conflito de países  centro e sul-americanos nas guerrilhas da Nicaragua, El Salvador, Panamá  que eram  governados autoritariamente por ditadores  e perdendo a cabeça no combate ao narcotráfico no México com o Cartel de Guadalajara comandada por Miguel Ángel Felix Gallardo vulgo El Padrinho e nos nossos vizinhos da  Colômbia com o Cartel de Medelin, comandado pelo temido Pablo Escobar(1949-1993).

Nas palavras do que o saudoso e renomado crítico de cinema brasileiro Rubens Ewald Filho(1945-2019) descreveu sobre o filme em um artigo de jornal publicado em 1987:

Uma imitação pobre do Rambo, que traz Arnold Schwarzenegger, o Conan, no papel principal. O herói, um ex-militar, vive sossegadamente com a filha num lugar isolado. Até que um dia um grupo de terroristas sequestram sua filha para força-lo a participar de uma missão, que tem por objetivo derrubar um ditador latino-americano. Sem ter outra saída, ele participa da missão e quando volta se vinga dos terroristas, matando mais gente do que Stallone em Rambo. É um filme com tanta ação que você nem vai ter tempo de pensar. Mesmo assim, alguns absurdos são difíceis de engolir, principalmente a fuga de Arnold do avião que está levantando, você não vai acreditar nos seus próprios olhos.

Bom, posso descrever que a medida que fui revisitando Comando Para Matar, apesar dele ser um filme inconsistente ao explorar o nível do irreal a ponto de se tornar absurdo, ainda assim ele não deixa de ter seus méritos como obra, em especial na trilha sonora assinada pelo saudoso James Horner(1953-2015) que aqui criou uma excelente composição moderna de sintetizador que ajuda a criar o clima de  cada momento do filme.  Junto da canção We Fight for Love tocada pela banda The Power Station, com uma sonoridade pop/rock meio new wave que é tocada nos créditos que ajuda a ditar o tom do filme.

Os efeitos práticos usados no filme, principalmente para tiroteios, explosões e até mesmo para a coreografia de luta mais corporal conseguem transmitir uma verdadeira sensação autêntica de adrenalina que dificilmente os modernos efeitos de CGI conseguiriam transmitir, principalmente no tom brutal  da violência gráfica. Algo que o filme cumpriu ao que foi proposto.

Além de contar com Schwarzenegger como protagonista que cumpri ao que é proposto ao filme em mostrar o Matrix como aquela figura  imbatível de herói. A obra também conta em seu elenco com Vernom Wells que  mostra um desempenho brilhante como o Bennett, um sujeito com um nível de crueldade sádica e brutal  que o torna repugnante. 

Outros a serem mencionados são: Dan Hedaya na pele do Arius se mostra incrível, principalmente pela maneira calma como ele procura mostrar o seu nível de crueldade psicótica. David Patrick Kelly na pele do Sully está surpreendente no papel, principalmente pela forma impagável como  ele o representa com um perfil tagarela e debochado e tentando assediar a Cindy mostrando o seu nível detestável.

Assim como Bill Duke na pele do Cook que mostra um nível de frieza metódica, principalmente quando mostra eliminando dois ex-subordinados de Matrix no começo da história.

Outras menções ao elenco são de:  Rae Dawn Chong que mostra um bom desempenho na pele da Cindy, uma ajudante de Matrix. O final deixa subentendido um suposto interesse amoroso dela pelo Matrix, ainda que de fato não ficasse muito explicito.  Também mencionar a participação de Alyssa Milano que faz a Jenny Matrix, ela apesar de na época ser uma garotinha adolescente de apenas  12 anos representa bem em cena o papel da filha sequestrada do Matrix, principalmente na maneira como ela transmiti a sensação insegura vivendo como refém nas mãos cruéis de Bennett que a coloca numa sala fechada com as portas de vidros  tapadas por madeira, e  ao mesmo tempo vai mostrando o seu lado   astuta  de como conseguir fugir do local assim que o pai chega.

Com menções também as participações de Drew Snyder que aparece no começo da história na pele do Lawson, o primeiro que morre pela quadrilha de Arius que aparece num carro de lixo, e de Michael DeLano na pele do Forrestal, que se destaca pelo humor verborrágico na cena dele agindo como vendedor de uma loja de  carro que atende  para Cook, este é  o responsável por  mata-lo furtando o carro da loja.

Por fim, faço menção aos nomes dos saudosos Charles Meshack(1945-2006) que no filme representou bem o papel do Henriques, um dos capangas de Arius  com um jeito de mal encarado e falando uma frase ameaçadora a Matrix, transmitiu bem o seu nível de perigo. E a  James Olson(1930-2022) que representou bem no filme o General Franklin Kirby, uma figura sempre preocupada com o bem estar do Matrix, transmitindo quase que uma simbologia paternal.

No balanço geral, posso concluir que passados 40 anos, Comando Para Matar mostra ser uma obra que tem seu grau de importância.

*Nome dado a vestimenta de tecido única, sem mangas, usadas por mulheres na Grécia Antiga, especialmente durante o período arcaico, que consistia em uma peça retângula de tecidos dobrada nos ombros e presa por alfinetes, formando uma sobrecapa(apotygma) e usada com um cinto na cintura. Uma versão latinizada de peplo. Esse vestuário deu nome a um subgênero de produções italianas entre os anos 1950/60 inspirados  nos míticos heróis gregos.

**O significado dessa palavra inglesa é estar em boa forma. O termo é normalmente associado à prática de exercícios e se refere originalmente ao bom condicionamento e ao bem estar físico e mental.