No
dia 4 de Outubro de 1985, estreava nos cinemas o cultuado filme de ação Comando
Para Matar(Commando, EUA, 1985).
Comando
Para Matar trata-se de uma produção da 20th Century Fox que contou com a direção de Mark L. Lester,
com roteiro de Joel Silver, Steven E. de
Souza e Jeph Loeb.
Estrelada
por Arnold Schwarzenegger, protagonizando o aposentado Coronel John Matrix, que
estava vivendo uma vida pacata numa casa
localizada em uma região serrana ao lado
da filha Jenny(Alyssa Milano), quando tem seu sossego interrompido pela
presença da cavalaria do General
Franklin Kirby(James Olson) que veio lhe informar do assassinato de três de
seus homens que foram combatentes em conflitos que ele participou pelo mundo,
fosse na Síria, Vietnã enfim.
Antes
de partir, Kirby deixa dois dos seus homens de vigilância na casa de Matrix,
que horas depois são atacados por grupo de mercenários que sequestram ele e sua filha, que para sua surpresa a pessoa
por trás desse sequestro é o ex-ditador de Valverde Arius(Dan Hedaya) que
contou com a colaboração de Bennett(Vernom Wells) seu ex-subordinado do
Exército que forjou a própria morte para entrar no esquema da vingança de
Arius.
Usando
sua filha Jenny como refém para que fosse a Valverde e matar o atual Presidente Velásquez, que não aparece
é só mencionado, que ele havia ajudado a botar no poder tirando Arius.
E a partir daí que começará a jornada de
Matrix para correr contra o tempo para providenciar muita munição eliminando na
força bruta gente que tente impedir no
seu caminho para chegar a Valverde enfrentando sozinho o exército numeroso de
Arius que o protegem em sua mansão e encarar seu acerto de contas com Bennet.
Esse
é aquele típico filme de ação estrelado
por Arnold Schwarzenegger, astro do
fisiculturismo que junto com Sylvester Stallone passaram a figurar como os machões brucutus dos filmes de ação.
Schwarzenegger
na ocasião que estrelou o filme já tinha firmado o seu nome no mercado
hollywoodiano, já fazia um bom tempo que ele vinha sonhando em fazer carreira
em Hollywood desde que saiu de sua terra natal a Áustria e aportou em solo americano nos anos 1960 para
se dedicar a carreira no fisiculturismo onde participou
de muitas competições de Mr. Olympia e foi campeão em diferentes edições.
Teve
sua primeira experiência no cinema em 1970, quando estrelou o filme Hércules
em Nova York(Hercules in New York, EUA, 1970) onde assinou como Arnold
Strong, que segundo pelo que o próprio contou na sua série documental biográfica da Netflix dividida em
dois episódios intitulado de Arnold(EUA, 2023) escolher representar esse
herói mítico grego foi uma formar dele
homenagear o seu ídolo do fisiculturismo, o americano Steve Reeves(1926-2000)
que no final dos anos 1950 estrelou o mítico herói grego em duas produções
italianas do subgênero peplum*. E que foi inspirado nele e em outros
fisiculturistas que haviam se aventurado no cinema que ele quis tentar a
carreira de ator.
Demorou
um bom tempo para até Arnold finalmente conseguir o tão almejado sonho de virar
uma estrela de Hollywood após protagonizar o filme Conan, O Bárbaro(1982)
e em seguida O Exterminador do Futuro(1984).
Que
foram os papeis que o consagraram o tornando junto com Stallone como expoentes
de um tipo especifico de subgênero de herói de ação que marcou o cinema dos anos
1980 símbolo de machão, viril, de cara dura, mal encarado, brutamontes que
resolve tudo sozinho, o cinema brucutu.
Este
subgênero se caracterizava com um protagonista forte e individualista que
resolve problemas com força física e armas, e pouco diálogo, onde o herói é um
indivíduo que age sozinho ou quase sozinho, enfrentando adversários com sua
força superior e habilidade com armas.
Onde
o enredo prioriza cenas de luta,
tiroteios, explosões e violência, muitas vezes gratuita, com diálogos
mínimos. Sendo associada a corpos fortes e musculosos, com os filmes
explorando a imponência dos atores através de ângulos de câmera.
Uma
das possíveis razões sobre o porquê do grande tesão que Hollywood sentia nos
anos 1980 por esse tipo de herói musculoso pode estar relacionado a forte
influência da moda fitness** nos Estados Unidos, popularizada principalmente
pela televisão no auge do home vídeo onde eram gravadas teleaulas de ginástica
que contou com a participação de uma
estrela do cinema Jane Fonda como a grande divulgadora fitness estrelando como instrutora nos exercícios.
Onde
mostrava os praticantes usando um modelo de vestimenta de malha collant apertada e polainas com cores bem
berrantes e chamativas e com o adereço
do laço na testa que apesar de bregas, traziam um certo charme com um toque bem sexy por assim dizer. Fosse
masculino ou mesmo feminino.
Junte
isso ao fato de que foi também nessa época que outra artista ajudou a popularizar esse
modismo fitness que foi a anglo-australiana Olivia Newton-John(1948-2022), a estrela do
clássico musical Grease-Nos Tempos da
Brilhantina(Grease, EUA, 1978) que lançou em 1981 a canção Physical,
grande hit do seu álbum homônimo, onde inclusive estrelou um videoclipe que criou polêmica pelo apelo sexy mostrando
homens seminus em uma época bastante
conservadora nos Estados Unidos.
E
muitas produções da época fosse no cinema ou mesmo nas séries de televisão
apresentaram muitas cenas de ginástica com esse estilo de vestimenta.
Isso
de fato pode-se explicar a razão do porque esse tipo de subgênero atraiu muito
Hollywood até por volta da segunda metade dos anos 1990, a ponto de despertar o
interesse de ir malhar frequentar uma academia e levantar peso com esse culto ao corpo.
Inclusive
aqui no Brasil nessa época tivemos um
artista que também aderiu a esse estilo fitness
que foi o cantor Marcos Valle,
ele lançou em 1983 a canção Estrelar
cuja letra exaltava a prática de exercícios e no ano seguinte lançou a canção Bicicleta, em homenagem a prática do
ciclismo.
Voltando
ao foco do filme, eu cresci vendo Comando Para Matar passando com frequência na Sessão da Tarde da Globo, que traz
aquele elemento um tanto absurdo de mostrar Schwarzenegger desafiando as
inércias da lei da física fazendo
manobras quase sobre-humanas a ponto de virar quase um super-herói com direito
ao seu momento Tarzan como na cena de tiroteio num shopping onde ele pega
uma das cordas do teto e corta para
fazer um voo até o elevador onde estava o Sully(David Patrick Kelly), a
probabilidade real daquilo acontecer seria impossível, aquela corda não iria
aguentar o peso da massa corporal de
Matrix.
Ou
mesmo na cena onde ele cai do avião em direção ao lago em frente do Aeroporto,
mesmo a água amortecendo a queda, a probabilidade dele conseguir sobreviver
seria mínima pelo fato do local ser raso.
Fora
que a obra apresenta alguns efeitos práticos para as cenas de explosões que a
olho nu nem se percebe muito algumas falhas como a sequência que mostra Matrix pegando o carro amarelo do Sully, um dos capangas de Arius
que ele elimina ao longo do filme que
estava com uma porta amassada devido a
um acidente e quando mostra ele
dirigindo o carro, a porta estava novinha em folha, um grande erro de
continuidade, ou mesmo notar que na cena mostrando tiro e explosão em Valverde,
pode ser percebido dois dos soldados de Arius ao subirem foi graças a um
aparelho que os fazia pular.
Ainda
que aos olhos de hoje tenham envelhecido mal, pelo menos soube se encaixar a estética
da violência brutal e gráfica.
Se
a gente for reparar bem, a forma como o protagonista John Matrix ao colocar a comissária de bordo
Cindy(Rae Dawn Chong) para ajudá-lo na sua missão de resgatar sua filha Jenny faz
toda uma violência psicológica em torno dela de
forçar a barrar pedindo a sua
colaboração, a ponto de obriga-la
a ver toda a violência brutal com que ele prática.
Principalmente
para eliminar gente perigosa como o
Sully e depois o Cook(Bill Duke), os capangas de Arius e Bennett.
Como
se não bastasse isso, Matrix numa cena com ela dentro do motel onde Cook estava
hospedado, sem o consentimento dela
rasga o seu decote para Cook ao chegar
fazer acreditar que ela estava se
divertindo fazendo sexo com o Sully. E a coitada da Cindy nisso tudo é obrigada
a ter uma postura passiva com Matrix, ao vê-lo furtar os carros dos caras que
ele matou, furtar uma loja de armas para eliminar o exército de Arius em Valverde, onde a filha de Matrix é
mantida refém. Invadir um quarto de
motel onde eles não estavam hospedados e meio que sem querer invadir um quarto
vizinho mostrando um casal no momento intimo fazendo sexo, onde a mulher coitada tomada com os sustos que toma ao ver a brutalidade da violência de
Matrix com Cook acaba mostrando seus seios grandes balançando. Uma situação um tanto inconveniente.
Fora
o momento nonsense dela explicar para o Matrix após disparar uma bazuca para resgatá-lo do camburão da polícia e ele ao questiona-lo
como ela aprendeu, engoli a explicação fajuta dela que aprendeu lendo o manual. Coisa que ele
não só com a força física e com muito treinamento militar para carregar uma
arma pesada sabe bem que manejar um troço daquele não se aprende só lendo
manual, uma justificativa um tanto chinfrim da parte dela. Como se isso não
fosse suficiente, a parte da fada da conveniência do roteiro nos
obrigar a ficar com o cérebro desligado para digerir essa situação, pois ele também não tem a obrigação de explicar que esse armamento devia ser
supostamente da loja que Matrix tentou furtar, mas foi impedido com a chegada da
Polícia. Então como Cindy conseguiu adquirir essa munição e usar o canhão para
atingir o camburão onde Matrix estava
dentro? Será que ela pagou pela munição. Certamente esses dois momentos representaram um tremendo furo de roteiro.
Como
se não bastasse tudo isso, há o momento
em que ele botou a vida dela em perigo
ao manda-la pilotar uma aeronave velha
para dar uma carona a ele até Valverde, sendo que ela ainda não tinha tirado o brevê, que é o registro profissional para piloto.
Para um tipo de voo assim poderia gerar
uma cadeia para a pobre da Cindy.
Tudo
isso que a Cindy passou ao lado do Matrix, se mostrou mais perigoso do que em
relação ao que Jenny passou nas mãos dos sequestradores. Ainda bem que ela não estava perto de Matrix quando ele meteu a bala em
muito machão sozinho com essa munição. Com certeza o stress pós-traumático dela
seria maior.
Um
outro ponto que chama a atenção na obra é o fato da sua localização ser ambientada num pais fictício
chamado Valverde, que foi uma criação de Steven E. DeSouza para representar a
América Central e do Sul para evitar causar legais e diplomáticos com países
reais. Com o propósito para servir de cenário tropical e instável com seus
ditadores corruptos, suas guerrilhas dentre outros fatores.
O
que não deixa de simbolizar bem a representação racista dos hispânicos
americanos, ainda mais levando em conta a simbologia de Matrix como o Salvador
Branco simbolizando a severidade militar americana na batalha entre o bem e o
mal.
Ainda
mais que temos de levar em conta que na época que essa obra foi concebida,
ainda vivíamos no clima da Guerra Fria, onde o Governo Americano durante a
gestão do ex-astro do cinema Ronald Reagan(1911-2004) que
representou muitos papeis de heróis pistoleiros em faroestes e usou disso como
referência para intimidar em seus discursos contra as ameaças aos comunistas russos. Também vinha encarando como inimigos os guerrilheiros
e narcotraficantes aqui da América Central e do Sul com um embate no conflito de países centro e sul-americanos nas guerrilhas da
Nicaragua, El Salvador, Panamá que eram governados autoritariamente por ditadores e perdendo a cabeça no combate ao narcotráfico
no México com o Cartel de Guadalajara comandada por Miguel Ángel Felix Gallardo
vulgo El Padrinho e nos nossos vizinhos da Colômbia com o Cartel de Medelin, comandado
pelo temido Pablo Escobar(1949-1993).
Nas
palavras do que o saudoso e renomado crítico de cinema brasileiro Rubens Ewald
Filho(1945-2019) descreveu sobre o filme em um artigo de jornal publicado em
1987:
“Uma
imitação pobre do Rambo, que traz Arnold Schwarzenegger, o Conan, no papel
principal. O herói, um ex-militar, vive sossegadamente com a filha num lugar
isolado. Até que um dia um grupo de terroristas sequestram sua filha para
força-lo a participar de uma missão, que tem por objetivo derrubar um ditador
latino-americano. Sem ter outra saída, ele participa da missão e quando volta
se vinga dos terroristas, matando mais gente do que Stallone em Rambo. É um
filme com tanta ação que você nem vai ter tempo de pensar. Mesmo assim, alguns
absurdos são difíceis de engolir, principalmente a fuga de Arnold do avião que
está levantando, você não vai acreditar nos seus próprios olhos.”
Bom,
posso descrever que a medida que fui revisitando Comando Para Matar, apesar
dele ser um filme inconsistente ao explorar o nível do irreal a ponto de se
tornar absurdo, ainda assim ele não deixa de ter seus méritos como obra, em
especial na trilha sonora assinada pelo saudoso James Horner(1953-2015) que
aqui criou uma excelente composição moderna de sintetizador que ajuda a criar o
clima de cada momento do filme. Junto da canção We Fight for Love
tocada pela banda The Power Station, com uma sonoridade pop/rock meio
new wave que é tocada nos créditos que ajuda a ditar o tom do filme.
Os
efeitos práticos usados no filme, principalmente para tiroteios, explosões e
até mesmo para a coreografia de luta mais corporal conseguem transmitir uma
verdadeira sensação autêntica de adrenalina que dificilmente os modernos
efeitos de CGI conseguiriam transmitir, principalmente no tom brutal da violência gráfica. Algo que o filme cumpriu
ao que foi proposto.
Além
de contar com Schwarzenegger como protagonista que cumpri ao que é proposto ao
filme em mostrar o Matrix como aquela figura imbatível de herói. A obra também conta em seu
elenco com Vernom Wells que mostra um
desempenho brilhante como o Bennett, um sujeito com um nível de crueldade
sádica e brutal que o torna
repugnante.
Outros
a serem mencionados são: Dan Hedaya na pele do Arius se mostra incrível,
principalmente pela maneira calma como ele procura mostrar o seu nível de crueldade
psicótica. David Patrick Kelly na pele do Sully está surpreendente no papel,
principalmente pela forma impagável como
ele o representa com um perfil tagarela e debochado e tentando assediar
a Cindy mostrando o seu nível detestável.
Assim
como Bill Duke na pele do Cook que mostra um nível de frieza metódica,
principalmente quando mostra eliminando dois ex-subordinados de Matrix no
começo da história.
Outras
menções ao elenco são de: Rae Dawn Chong
que mostra um bom desempenho na pele da Cindy, uma ajudante de Matrix. O final
deixa subentendido um suposto interesse amoroso dela pelo Matrix, ainda que de
fato não ficasse muito explicito. Também
mencionar a participação de Alyssa Milano que faz a Jenny Matrix, ela apesar de
na época ser uma garotinha adolescente de apenas 12 anos representa bem em cena o papel da filha
sequestrada do Matrix, principalmente na maneira como ela transmiti a sensação
insegura vivendo como refém nas mãos cruéis de Bennett que a coloca numa sala
fechada com as portas de vidros tapadas
por madeira, e ao mesmo tempo vai
mostrando o seu lado astuta de como conseguir fugir do local assim que o
pai chega.
Com
menções também as participações de Drew Snyder que aparece no começo da
história na pele do Lawson, o primeiro que morre pela quadrilha de Arius que
aparece num carro de lixo, e de Michael DeLano na pele do Forrestal, que se
destaca pelo humor verborrágico na cena dele agindo como vendedor de uma loja de
carro que atende para Cook, este é o responsável por mata-lo furtando o carro da loja.
Por
fim, faço menção aos nomes dos saudosos Charles Meshack(1945-2006) que no filme
representou bem o papel do Henriques, um dos capangas de Arius com um jeito de mal encarado e falando uma
frase ameaçadora a Matrix, transmitiu bem o seu nível de perigo. E a James Olson(1930-2022) que representou bem no
filme o General Franklin Kirby, uma figura sempre preocupada com o bem estar do
Matrix, transmitindo quase que uma simbologia paternal.
No
balanço geral, posso concluir que passados 40 anos, Comando Para Matar
mostra ser uma obra que tem seu grau de importância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário