quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O BARRAQUEIRO DA TELEVISÃO AMERICANA

 

Quando você ouve alguma referência a barracos na tv, com certeza lhe deve vir a mente nomes de apresentadores brasileiros que foram bem sinônimos disso, dentre esses, os melhores exemplos a serem citados são: Márcia Goldschmidt e Carlos Massa vulgo Ratinho.




Esses aqui protagonizaram bem esse tipo de programa, principalmente naquela fase  da baixaria da tv brasileira dos anos 1990 no Vale Tudo pela Guerra de Audiência, que foi aquela fase anárquica  virando uma   referência de uma terra sem lei. 




Se bem que esse tipo de formato de programa  não é uma exclusividade  nossa, também já  foi praticado na tv de outros países, como nos Estados Unidos com o apresentador Jerry Springer(1944-2023), cuja história é contada na minissérie documental da Netflix intitulada de Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação(Jerry Springer: Fights, Camera, Action, EUA, 2025).



Dividida em dois episódios, o documentário nos apresenta os depoimentos de alguns profissionais que trabalharam nos bastidores do programa The Jerry Springer Show, relatando como funcionava o esquema deles conseguirem com que pessoas comuns fossem ao programa para expor seus problemas e quando o clima pesava, começava o quebra-pau entre os convidados.





O programa que teve duração de 28 temporadas, durando de 1991 a 2018, mostrando a realidade da vida como ela é dos mais absurdos e bizarros, sobre triângulos amorosos problemáticos, casos de incestos, supremacistas brancos  ou mesmo o mais controverso do homem que trocou a mulher por uma égua literalmente falando.  

Ele começou como um mero talk show comum, liderado por um âncora de notícias bem-educado, mas que, com o tempo, foi levado a uma apresentação cada vez mais sensacionalista.

Foi nesse formato que o programa se tornou um grande sucesso e, no fim dos anos 90, era uma febre nos Estados Unidos, chegando até mesmo a possuir avaliações superiores às de Oprah Winfrey. No entanto, defensores da moralidade protestavam e criticavam abertamente ao programa.”(Aventuras na História de Janeiro de 2025).

Pelo que já descreveu o cineasta britânico Luke Sewell ao jornal Guardian.

Parecia tão cru, visceral e descarado na forma como estava sendo embalado — isso meio que me chocou”, onde acrescenta fazendo um comparativo ao Coliseu Romano: “espécie de Coliseu Romano — choque puro, espetáculo puro, confronto puro. E para ter tanto sucesso claramente abriu as portas para a TV de realidade, e eu acho que algumas das coisas no mundo de hoje”.

Entre os entrevistados do documentário aparece Richard Dominick, um jornalista responsável por escrever histórias absurdas em jornais e foi quem encabeçava ele caçar histórias absurdas para o programa explorar a audiência.




Os entrevistados do documentário, a maioria ex-produtores do programa vão comentando como funcionava o esquema dos bastidores, eles faziam uns certos agradinhos com os convidados, eles pagavam a hospedagem deles em hotel, davam caronas numa limousine da emissora e ao trazerem os convidados para a sede, antes deles entrarem no palco, eles faziam uma preparação de jogo psicológico neles para prepara-los para se tornarem os gladiadores na televisão.




Mostrando bem como ali não era nada natural, tudo ocorria de forma proposital para atrair justamente a audiência e eles estavam poucos se lixando em darem um assistencialismo terapêutico  aos problemas deles, boa parte gente muito pobre coitada que eram ingenuamente  poucos instruídos da vida.




O jornalista Lucas Reichert em seu canal do Youtube  Aprofundo, fez um vídeo explicando como o esquema da espetacularização da falsa realidade desses formatos de programas usando o recente exemplo dos vídeos de debates dos 30 contra 1, onde lá mostrava uma pessoa defendendo uma opinião controversa encarado 30 pessoas que discordam dele, que são editados para cortes rápidos em tik tok.

Como eles manipulam mostrando que as pessoas comuns que fazem os barracos parecerem naturais, na verdade, não passam de atores contratados por agências especializadas para fazer uma representação convincente sem demonstrar que é teatralizado.




É tanto que a gente nem percebe que eles são vistos um dia fazendo pegadinhas no Programa de João Kleber, no Casos de Família dentre outros exemplos.

Provando como o intuito do entretenimento é feito para divertir, não tem nenhum cunho reflexivo sobre isso. Vendem a ilusão da realidade, mas que na verdade só querem apenas transformar numa espetacularização para atrair a audiência, muitas vezes passiva.  

E foi o que o formato do programa de Jerry Springer nos Estados Unidos bem explorou isso até a última gota.

E também foi como pudemos bem observar no formato do programa da Márcia Goldschmidt e  também do  Ratinho como mencionei no começo do texto, exploraram essa espetacularização a nível mundo cão em especial durante a segunda metade dos anos 1990, que ficou marcada pela fase mais anárquica da baixaria da  televisão brasileira em especial no “Vale Tudo pela Guerra de Audiência  que ficou  marcada por programas sensacionalistas e apelativos que competiam por audiência com quadros polêmicos e bizarros.”




Algo que só chegou ao fim quando o apresentador Gugu Liberato(1959-2019) tomou a equivocada decisão de exibir no Domingo Legal do SBT em 7 de Setembro de 2003 com a matéria da falsa entrevista com os “bandidos” do PCC(Primeiro Comando da Capital).  Esse episódio simbolizou a maior mancha da sua carreira, lhe tirando uma credibilidade até a sua trágica morte em 2019 vítima de um acidente doméstico.




Foi justo nessa época que entrou em atividade a campanha do Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania. A campanha nasceu em 2002, é uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados em parceria com entidades da sociedade civil e busca promover uma televisão mais ética e responsável. 

Posso concluir que essa obra ela é muito relevante por mostrar os bastidores do lado podre da televisão que nos manipula com o falso discurso de vender a realidade. Recomendo.

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