MINHA
VOLTA AO CINEMA COM THE BATMAN
Este texto
contou com a colaboração de Dickson de Oliveira  Tavares, maior especialista em Batman do Rio
Grande do Norte, que muito gentilmente aceitou o meu  convite para ler primeiro esse texto e fazer
as checagens das informações. Meus sinceros agradecimentos Dickson. 
Na
tarde de domingo, 13 de março de 2022, fui conferir no Cinemark do  Shopping Midway Mall ao tão aguardado novo
filme do Batman, The Batman(EUA, 2022).
Filme
que marcou a minha volta a pisar numa sala de cinema, após dois anos dessa
pandemia de Covid-19. 
O
último filme que eu vi numa sala de cinema foi do Sonic(EUA,
2020). Nas semanas que antecederam ao decreto da quarentena mundial, que por
consequência fechou os cinemas. 
Só
agora eu arrisquei a voltar a ver um filme na tela grande depois que no ano
passado tomei minhas duas doses de Coronavac e a terceira de Pfeizer. 
Nesse
dia ao chegar para enfrentar a enorme fila no Shopping Midway Mall, que estava
grande para comprar o ingresso e próximo dali ao corredor em frente da  entrada da sala de cinema estava uma concentração
enorme de jovens aglomerados  fazendo uma
espécie de rolezinho. Não deu para ver direito. Porque depois que comprei o
ingresso já estava bem em cima da hora  para o começo da sessão  que era de 17:30hs. Eu comprei meia-entrada  em espécie como pessoa com necessidade
especiais, por ter o espectro autista e mostrei printado no meu celular os
documentos das minhas vacinações de 2021 como são exigidos. 
Foram
longas três horas de duração mas que realmente compensou a minha  imersão naquela história. 
Uma
história densa com um clima bastante pesado como nunca vi antes. Principalmente
no incrível trabalho técnico  do design
de produção,  na direção de fotografia
que explora bem as paletas de cores mais escuras e com pouca luminosidade,
mesmo nas poucas  externas a luz do dia,
aquilo bem defini a estética noir do filme. 
Servindo
também para caracterizar a atmosfera sombria da Gotham Citty, uma cidade  poluída, corrupta, dominada pela
criminalidade. Onde até mesmo a polícia é comprada pelos poderosos  mafiosos. 
Ou seja, uma terra sem lei. 
A
direção do Matt Reeves está de parabéns e também de toda a sua equipe envolvida
na produção, em proporcionar uma história de um Batman mais diferencial do que
nos nunca tínhamos visto no cinema que é o lado mais detetivesco do herói.  Cujas bases foram as histórias das HQs Batman:
O Longo Dia das Bruxas, Batman: Ego, Batman: Ano Um e das
publicações dos  anos 1970 de Neal Adams.
Produção
que passou por muitos percalços, principalmente por causa da pandemia, que
causou o adiamento da sua data de lançamento, inicialmente previsto para 2021.
Mas por consequência  do vírus
desgraçado, que fez a produção ficar paralisada após o decreto da quarentena
mundial e com   parte da equipe contraindo a Covid-19.
No
entanto, a espera compensou, estava uma grande expectativa por esse filme. 
Principalmente
para avaliar o desempenho do Robert Pattinson, o eterno astro da franquia  Crepúsculo(2008-2012),  desempenhando o papel do icônico herói da DC
Comics. Que ninguém botava muita fé na sua atuação, eu mesmo confesso que  sou dessas pessoas. 
Humildemente
confesso que quebrei a cara ao ver o amadurecimento profissional dele em cena. 
Ele
realmente mostra uma entrega ao personagem, ficou  sensacional. 
Nesse
filme, sua história gira em torno do herói investigando a série de bizarros
assassinatos, onde em todos são deixados umas cartas destinadas ao Batman com
enigmas para serem decifrados. Sem querer entregar spoilers a quem não ainda
viu o filme, porém, aqui no caso desde o princípio já fica estabelecido que
todas essas mensagens insanas são de autoria de um ser psicótico chamado
Charada(Paul Dano). 
A
cada  nova vítima que o Charada faz,
aparece uma mensagem enigmática direcionada para o Batman quebrar a cabeça para
tentar  decifrar qual a motivação do
Charada e entre essas mensagens o levará ao Pinguim(Collin Farrell) e a
Mulher-Gato(Zoe Kravitz). 
E
caberá ao nosso herói, junto com a polícia de Gotham,   comandada por James  Gordon(Jeffrey Wright) a correrem contra o
tempo para impedirem o diabólico plano mirabolante do Charada de provocar o
caos na cidade. 
Além
do desempenho do Robert Pattinson com seu rosto sério e um tanto apático  me surpreender bastante como o Batman e ele
mostrar sua evolução, que ficou ainda mais crível na voz dublada pelo Wendell
Bezerra, eterno dublador do Goku de Dragon Ball, que aqui imprimiu toda uma
sutileza de representar um herói com suas camadas mais sérias, mais soturnas e
com toques de elegância tanto ao protagonista como Bruce Wayne e quando ele se
torna o Batman, melhor ainda. 
Outro
ponto que posso elogiar muito dessa obra foi como o roteiro soube   nos introduzir a nova Gotham Citty para outro
público já estabelecida com  os
personagens bem desenhados  dentro
daquele universo.  Sem precisar de usar
de didatismo de nos explicar como o Batman surgiu? O  que motivou Bruce Wayne a virar o Batman? E
de como seus vilões foram concebidos? Aqui ficou cada macaco no seu galho. 
Do
mesmo modo que nos poupou de nos introduzir a três vilões, que não são inéditos
no cinema. Já que tanto o Charada, Pinguim e a Mulher-Gato, já tiveram suas
históricas primeiras representações no audiovisual   desde a
clássica e divertida  série camp dos anos
1960. 
Onde
a Mulher-Gato foi representada por duas atrizes, primeiro por Julie Newmar  na primeira temporada e depois pela cantora
Eartha Kitt(1927-2008) na temporada final. Isso sem contar com a participação
de Lee Meriwetther no filme de 1966, inspirado na série com o mesmo elenco. 
O
Pinguim foi representado por Burgress Meredith(1907-1997) e o Charada foi
revezado por  Frank Gorshin(1933-2005) na
primeira temporada e por John Astin na temporada final. Passando pelas
representações de Michelle Pfeiffer(Mulher-Gato) e Danny DeVito(Pinguim) em Batman-O
Retorno(Batman Returns, EUA, 1992). 
 E Jim Carey foi responsável por representar o
Charada em Batman Eternamente(Batman Forever, EUA, 1995).
       Halle Berry, famosa pela Tempestade na
franquia dos X-Men(2000-2019), fez a  Mulher-Gato ao protagonizar o seu esquecível
filme solo  lançado em 2004. A famosa
gatuna voltou a ter outra representação em Batman-O Cavaleiro das Trevas
Ressurge(The Dark Knigth Rises, EUA, 2012), onde ela foi representada
por Anne Hathaway. 
          Na série de TV Gotham(2014-2019),
voltamos a ver esse trio, que coube a Camren Biocondova representa-la
adolescente na mesma faixa etária do jovem Bruce Wayne(David Mazouz). 
              O Pinguim foi representado por
Robin Lord Taylor e o Charada por Cory Michael Smith. 
              Do
mesmo jeito que o Batman ao longo da história do audiovisual, sendo que a
primeira vez por incrível que possa parecer não foi na clássica série de TV nos
anos 1960.  Produzida por William
Dozier(1908-1991),  caracterizada por
apresentar   o Batman galhofa,  fora de forma e um tanto  brega, que  foi representado por Adam West(1928-2017). 
            Mas sim em duas produções de cines
séries exibidas nas sessões matinês de cinema dos anos 1940. Muito comum na
época, onde eram exibidos em curtas-metragens. O primeiro a representar o
Batman nesse formato foi Lewis Wilson(1920-2000), em 1943.  Anos depois houve outra produção de Batman no
cinema nesse mesmo formato, lançado em 1949. Onde quem o representou foi Robert
Lowery(1913-1971). 
Em seguida veio Christian Bale, protagonizando o Morcego na trilogia de filmes do Christopher Nolan formada por Batman Begins(EUA, 2005), Batman-O Cavaleiro das Trevas(The Dark Knight, EUA, 2008) e Batman-O Cavaleiro das Trevas Ressurge(The Dark Knight Rises, 2012).
        Ben Afleck foi a última até agora
representação do herói em Batman Versus Superman: A Origem da Justiça
(Batman V Superman: Dawn of Justice, EUA, 2016) e na Liga da Justiça(League
of Justice, EUA, 2017). 
         Até chegarmos finalmente a Robert
Pattinson na mais nova encarnação do Morcego na tela grande. 
          Não só Pattinson ficou excelente como
o protagonista. Como também boa parte do elenco principal que compõe a obra. Cada
um brilhando.
              Começando por Paul Dano, que está
 excelente na pele do Charada.  Dá um show de atuação. Seu desempenho no
papel ao moldar o nível do  desequilíbrio
mental do personagem para causar o caos em Gotham Citty ficou crível. Ele
consegue segurar o filme em suas três horas de duração como a ameaça central ao
depois de assassinar  uma pessoa, deixar
suas enigmáticas frases destinadas para o Batman decifrar que criou o nível de
terror psicológico pelo ar mais atmosférico da ameaça. Remetendo bem a pegada
do suspense do filme Seven-Os Sete Crimes Capitais(Seven, EUA,
1995) e também no infame serial killer Zodíaco, que inspirou o filme de
2007.    O cantor 
brasileiro Supla, tem uma canção sobre o 
Charada que  pode exemplificar o
seu perfil insano:
“CUIDADO
COM O BOTE
O BOTE
DO CHARADA
ELE
NÃO LIGA PRA NADA
E ESSA
É MINHA MARCA
OS
POLÍTICOS QUEREM ME PEGAR
E OS
GANGTERS ME CONTRATAR
MAS EU
TÔ COM O PÉ ATRÁS
TANTO
FEZ COMO TANTO FAZ
CHARADA,
BRASILEIRO
CHARADA,
FUNDAMENTAL
CHARADA,
SUICIDA
SERÁ
QUE VAI MUDAR SUA VIDA?”
(Música:
O Charada Brasileiro. Autor: Supla).
         
Mais incrível mesmo  é a sua
caracterização usando um capuz verde com um tom de voz grave quando aparece
fazendo seus vídeos ameaçadores onde atrai muitos seguidores em suas redes
sociais. Refletindo a atual  geração
do  influencer digital, e sua visão de  agente do caos. 
            Serão essas enigmáticas mensagens
de cartas  do Charada deixadas nas suas vítimas,
que vão servir como fios condutores para o Batman ao longo do fluir da  narrativa chegar aos outros vilões que compõe
o filme, e com suas subtramas,  entre
eles o  Pinguim, muito bem defendido por
Colin Farrell, cujo trabalho incrível da caracterização da maquiagem grotesca
que o deixou irreconhecível, contrastando com o seu rosto bonito de galã. Isso   ajudou ele a compor a feiura do personagem
simbolizado  no seu caráter podre, de
sujeito tipicamente verme,  nojento, vil,
mesquinho, ordinário, canalha,  indivíduo
cuja personalidade o torna bastante detestável por assim dizer.  O curioso que ele já havia representado outro
vilão em filme de super-herói, que foi o Mercenário em Demolidor: O Homem
Sem Medo(Daredevil, EUA, 2003). Cujo herói foi ironicamente protagonizado
por Ben Afleck. O mesmo que viraria o Batman anos depois.
        Não só o levará ao Pinguim, como também
a Mulher-Gato, muito bem defendida pela Zoe Kravitz. Aqui ela se interliga com
o Pinguim, pois mostra a famosa gatuna que desperta a libido sexual do Batman
como uma espécie de garçonete ou mesmo stripper do bar administrado pelo
Pinguim que é o sócio do temido mafioso Carmine Falcone(John Turturro). 
       Ela que também já havia participado de
outro filme do gênero super-herói que foi em X-Men: Primeira Classe(X-Men:
First Class, EUA, 2011), representando a mutante Angel. Defendeu aqui de forma
magistral a personagem, que sempre simbolizou aquele perfil dúbio, de não ser
boa, nem má. Fica no meio termo, que desperta a loucura da paixão do Batman,
ainda mais por carregar uma atraente e sensual beleza, com aqueles toques característicos
de sexy appeal. 
             Que junto ao Pinguim e ao Charada
que estão nesse filme, compõe a leva clássica dos vilões do Batman que surgiram
nos anos 1940, ou seja,  em sua primeira
década de existência. 
                 Um fato curioso sobre a
gatuna, é que nos quadrinhos houve um período em que ela precisou entrar num
hiato de 12 anos sem aparecer nas histórias. Isso ocorreu como consequência do
surgimento do Comics Code Authority*, um órgão fiscalizador de censura dos
quadrinhos. 
                     Ele surgiu em 1954, depois
que o psiquiatra Fredric Wertham(1895-1981), um alemão naturalizado americano,
com sua carreira na psiquiatria bem consolidada nos EUA, publicou o polêmico
livro A Sedução dos Inocentes, onde criticava a publicação dos gibis de
super-heróis pelo aumento da delinquência juvenil nos EUA, baseado no
atendimento a seus pacientes, representado a maioria por garotos que liam estes
gibis. Antes de publicar o livro condenando os heróis, ele já era um
sujeito  conhecido publicamente por essa
sua postura crítica aos gibis de  super-heróis, isso porque desde  1948 ele já  escrevia artigos em colunas de jornais
condenando a má influência das publicações das revistas de super-heróis. 
                     Com o surgimento do Comics
Code Authorithy, que passou a fiscalizar e censurar as publicações de
super-heróis, controlando os conteúdo pesados que envolviam violência e apelos
eróticos. E o Batman era o alvo principal do Wertham porque ele suspeitava que
o herói fosse gay, por causa da sua aproximação com o Robin. E a visão do  comportamento LGBTQUIA+ na conservadora
sociedade americana dos anos 1950, era vista como uma doença, um desvio de
conduta, de psicopatia, caso de cadeia.  E como não ficava bem ele ficar tendo um
romance com uma bandida,  e os
roteiristas para poderem se adequar as imposições desse  órgão fiscalizador  de censura, onde eles só podiam distribuírem
para vender nas bancas de jornais com o selo do CCA, então optaram por
trabalharem umas histórias divertidas do Batman sem a Mulher-Gato aparecendo. O
que mudou graças ao seriado de TV dos anos 1960. Em que ela retornou as HQs. 
               Também não posso esquecer de
mencionar os nomes  de John Turturro que
está excelente na pele do ganancioso e  inescrupuloso
mafioso Carmine Falcone, ele nessa trama vai apresentar uma forte relevância
para o desenvolvimento do  arco da
Mulher-Gato.  
                  Outras menções de elenco vão
para Andy Serkis, conhecido por representar personagens em captura de movimento
como o Gollum na franquia O Senhor dos Anéis(2001-2003), e fez o vilão
Garra Sônica em dois filmes do MCU que foram Vingadores: Era de Ultron(Avengers:
Age of Ultron, EUA, 2015) e em Pantera Negra(Black Panther, EUA, 2018).
Está magnifico representando o Alfred Pennyworth, famoso mordomo de Bruce Wayne
que sabe do seu segredo como Batman e que simboliza a figura paternal por ser o
seu tutor. De uma forma diferente, com um ar até jovial  de meia-idade para compatibilizar com o Bruce
Wayne representado por Pattinson que tem 35 anos. O que pode não aparentar pela
cara de moleque de 25 anos.  Personagem
muito importante dentro da mitologia do Batman, que o acompanha desde primeira
adaptação para o cinema em 1943, mesma data da sua estreia nos quadrinhos. Onde
o primeiro ator a representa-lo foi o inglês William Austin(1884-1975), cuja
maneira como ele imprimiu um tom  de
refinamento e de bom trato,  com
características britânicas ao mordomo fez ele  ficar com esse toque de gentil lorde.   No  filme seguinte lançado em 1949, quem
representou Alfred foi outro inglês  Eric
Wilton(1882-1957).  Mas só foram duas
décadas depois  na popular e clássica
série de TV dos anos 1960, onde o Alfred, representado pelo também inglês  Alan Napier(1903-1988), ficou mais conhecido
de grande parte do público,  ele
conseguiu incorporar um mordomo menos sisudo, e mais divertido. Pode-se dizer
que ele conseguia transmitir bem a característica do mordomo mais idoso, Napier
já estava com 66 anos e  com os cabelos
grisalhos. Ele  batia com a idade que
West estava na época com 37 anos  ao
protagonizar o Bruce ao  representar o
herói já não mais  jovem, mas o homem com
porte de garanhão  e assumindo a tutoria
do Dick Grayson/Robin(Burt Ward). 
E
dessa forma nos acostumamos quando  o
famoso mordomo do Batman foi representado por Michael Gough(1916-2011) na
quadrilogia de filmes do Batman de Tim Burton e Joel Schumacher, onde ele desde
o primeiro em que representou com Michael Keaton no papel principal, estando na
época com 72 anos, correspondendo a idade que Keaton estava na época que
estrelou o primeiro com 37 anos, também correspondendo a idade de Val Kilmer
que no único filme de Batman que protagonizou em Batman Eternamente estava com
35 anos e George Clooney que em Batman & Robin estava com 36 anos. Ambos
representavam o Bruce  com aquele
típico  perfil de playboy garanhão. Na
trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan, o Alfred foi representado pelo
também inglês Michael Caine, que também o  incorporou com esse mesmo perfil idoso para
corresponder ao perfil de Christian Bale, o protagonista daquela trilogia que
estava com 29 anos e Caine estava com 71 anos. Na série Gotham, o personagem
representando pelo também inglês Sean Pertwee, que estava com 50 anos
quando  o representou não era tão idoso
quando o representou, mas,  estava na
meia-idade, para corresponder ao garoto David Mazoz que  estava com apenas 13 anos quando representou o
Bruce Wayne adolescente.  Já nos filmes
da linha Zack Snyder, protagonizado por Ben Afleck, Jeremy Irons também inglês
representou o Alfred em Batman Vs Superman com 67 anos, correspondendo ao Bruce
de Afleck na meia-idade com 42 anos.  E
no filme do Coringa(Joker, EUA, 2019), o mordomo também apareceu
o representando pelo também inglês Douglas Hodge na meia-idade com 58 anos
acompanhando  o Bruce Wayne pequeno. Onde
inclusive algumas características da desmistificação dos Wayne do filme do
Coringa simbolizados como família perfeita, também foram trabalhadas em The
Batman.
O primeiro registro de ator a representá-lo no
cinema foi Lylle Talbot(1902-1996), no filme do Batman, cinesserie de 1949. Mas
o que ficou mais lembrado  mesmo no papel
foi Neil Hamilton(1899-1984), no clássico seriado de TV dos anos 1960, onde eternizou
o papel com esse perfil de homem mais idoso, já que Hamilton na época estava
com 66 anos quando assumiu o papel na primeira temporada. O mesmo também
ocorreu em relação a Pat Hingle(1924-2009), que representou o mesmo personagem
na quadrilogia do Batman  de 1989-1997, com
um bigode e um tanto fora de forma. Hingle estava com 64 anos quando
representou o personagem no primeiro filme. Já o britânico  Gary Oldman, quando o representou na trilogia
do Nolan(2005-2012), imprimiu um toque mais jovial e até mais vigoroso, já que
quando ele representou o personagem em Batman Begins, ele estava com 46 anos. Onde
ele correspondia a idade de Christian Bale estava na época. Onde aqui pela
primeira vez fomos mostrados a ele começando no cargo de  tenente e virando comissário no filme seguinte.
Em seguida, foi a vez de Ben Mackenzie o representar no seriado de TV Gotham,
onde aqui ele representou o Gordon jovial, o ator estava na época com 36 anos
quando fez a primeira temporada, que correspondia a representação do Bruce
Wayne adolescente,  numa história que
mostra uma visão de Gotham Citty Pré-Batman, onde o Gordon assumiu o
protagonismo virando  o fio condutor da
história, principalmente por ele transitar entre os diferentes núcleos que eram
espalhados na cidade. Desde os policiais de seu departamento, passando a
trabalhar em campo investigando os pontos  dos mafiosos, visitando  a mansão do Bruce Wayne enfim. Antes de
Wright, houve a representação de J.K. Simmons, o eterno J.J. Jameson da
trilogia clássica do Homem-Aranha de 2002-2007, que representou o papel do
Gordon na Liga da Justiça com aquela visão mais experiente, idosa. Já que
Simmons estava com 62 anos. 
           Diante de tudo isso, posso constatar
como o Batman em toda a sua história tem uma grande relevância para a cultura
pop. Ele mesmo já tendo outras adaptações para cinema, ainda assim não deixar de
ser empolgante ver um novo filme do herói.  
                 É meio difícil explicar qual
razão dele atrair uma legião de fãs a cada nova geração, e especialmente me
atrair. Provavelmente uma das explicações pode estar nele trazer uma típica
característica do arquétipo campbeliano** do órfão,  que tem em todos os heróis. Talvez como uma
forma de entendermos suas motivações para virarem vigilantes mascarados, ainda
que isso não romantiza o drama deles viverem solitariamente sem pais, ainda
mais no caso mais barra pesada do protagonista ter presenciado criança  os seus 
pais morrerem na sua frente quando sofreram um assalto num beco a noite.
Juntando também ao fato dos seus criadores Bob Kane(1915-1998) e Bill
Finger(1914-1974), quando o conceberam para a revista Detective Comics
em 1939, se inspiraram no momento em que os EUA estava vivendo um período
conturbado durante a década de 1930 em que após a Crise da Bolsa de Nova York
em 1929,  houve um grande aumento de
desemprego, e como consequência disso houve também o alto índice de criminalidade
e com o surgimento da Lei Seca, houve um predomínio das atividades  das máfias em diferentes estados americanos,
comandando o dinheiro sujo, que gerou uma forte guerra por território. E o
Batman veio como essa representação escapista da situação que o cenário
americano dos anos 1930 vivia. Fora também as inspirações cinematográficas,
como do próprio Batman  ter inspiração no
filme The Bat(EUA, 1926), onde nessa obra do cinema mudo mostrava
o protagonista assaltante fantasiado de Morcego. Do mesmo jeito em relação ao
Coringa que foi inspirado no palhaço Gwyplaine, protagonista do filme mudo O
Homem Que Ri(The Man Who Laughs, EUA, 1928), e a Mulher-Gato inspirada
na atriz  Jean Harlow(1911-1937). 
              Em todas as comunidades de fãs de
quadrinhos, que eu acompanho como do Cuscuz HQ ou mesmo do HQFã por
exemplo,  há gente que ao não gostar do
Batman, argumenta que ele apesar de não ter superpoderes, é distante da
realidade por causa da sua  condição
social de playboy milionário, filantropo, garanhão, elegante, refinado, que
pode se utilizar de muitos apetrechos tecnológicos e simbolizado como um
sujeito elitista. E o colocam num comparativo ao Homem-Aranha da Marvel, que
também é um vigilante mascarado, que mesmo com superpoderes, está mais dentro
da realidade por representar um pouco cada um de nós, numa figura como Peter
Parker simbolizando um jovem  de classe
média suburbana, cuidado por uma tia viúva que lida com alugueis e lida com  problemas comuns. Eu não tiro as razões para
este argumento, porém, é necessário a gente ter em mente que quando o
Homem-Aranha foi concebido pelo Stan Lee(1922-2018), para ser publicado na
edição da Revista Amazing Fantasy em 1962, e vai completar 60 anos agora em
2022,  o personagem surgiu 23 anos após  o Batman, em um contexto completamente
diferente. Enquanto que a dupla Bob Kane e Bill Finger ao criarem o  Batman no final da década de 1930, ele
refletia uma simbologia de escapismo ao cenário social dos EUA, Pré-Segunda
Guerra Mundial estava enfrentando uma guerra interna com os  mandos e desmandos dos gangsteres. E o  Batman simbolizava junto com o Superman e a
Mulher-Maravilha uma representação divina dos heróis da Era de Ouro dos
Quadrinhos. Onde eles eram equivalentes a deuses e estavam imunes de falhas. Já
quanto ao Homem-Aranha, quando ele foi criado não só pelo Stan Lee, mas também por
Steven Ditko(1927-2018) no começo dos anos 1960. O personagem foi concebido num
contexto completamente diferente, onde aqui a  representação escapista do Cabeça de Teia,
Amigão da Vizinhança, refletia um conceito diferente de construção de herói onde
eles representaram realisticamente  seres
humanos imperfeitos,  com falhas. No caso
especifico do Cabeça de Teia, ele  era  representado por Peter Parker, um adolescente
nerd, morador de subúrbio, órfão criado por sua  tia viúva, amante da ciência,  introvertido, que vivia sofrendo bullying na
escola, a típica figura  do azarado que
contraiu o superpoder sobre-humano de escalar paredes, e sentir um sexto
sentido do sensor aranha. Um poder contraído ao ser picado por uma aranha
radioativa de laboratório, que refletia bem a paixão de Stan Lee pela ciência,
e também o momento em que o mundo se encontrava em pânico de a qualquer momento
ocorrer uma guerra nuclear. Trazer um herói como o Homem-Aranha representado
por um adolescente foi considerado uma revolução na época, pois até então os
heróis adolescentes eram simbolizados como siderkicks(ajudantes), e o Robin do
Batman simbolizava bem isso. Fora que também a gente não pode esquecer que o
Batman simbolizado na figura de um milionário como Bruce Wayne, ele apesar de
viver uma vida privilegiada, morando em uma mansão, tendo um mordomo como
serviçal,  e vivendo como um playboy
garanhão, que frequenta as glamorosas festas das alta sociedade,  ainda assim ele simboliza o drama real da
pessoa que cresceu solitariamente traumatizado como órfão ao testemunhar seus
pais morrerem num assalto. E foi isso que o motivou a criar o manto do Morcego,
como vigilante mascarado  que simbolizava
o medo dele na infância.  É bom quem
costuma colocar esse argumento ao comparar o Batman com o Homem-Aranha,
favorecendo o Homem-Aranha pela sua condição social. É bom lembrarmos  que antes de tudo, o Batman é fruto de sua
época, e ele reflete a época onde foi criado duas décadas antes do
Homem-Aranha. 
             O que posso concluir de tudo isso
é que independentemente de quando  tiverem
 novas produções do Batman no cinema, de
todo jeito ele sempre vai despertar o interesse de ser visto e atrair novas
gerações de fãs. 
*O
selo de censura  do órgão  da Comics Code Authorithy nas publicações das
revistas de super-heróis nos EUA, permaneceu ativo por 57 anos. Ele só foi
extinto em 2011. 
**O
autor quis se referir ao conceito formulaico da Jornada do Herói,  do estudioso americano Joseph Campbell(1904-1987).
Autor de diferentes livros sobre mitos, lendas de diferentes civilizações com
seus heróis. Que serve como norte para os criadores de histórias ficcionais,
pegando naqueles arquétipos. Onde o mais comum é o do órfão. 






































