segunda-feira, 26 de maio de 2025

25 ANOS DO FILME GLADIADOR



25 ANOS DO FILME GLADIADOR.

Há 25 anos, em Maio de 2000, estreava nos cinemas o filme Gladiador(Gladiator, EUA, Reino Unido, 2000).



Produção épica dirigida por Ridley Scott, marcava o retorno das produções monumentais de temáticas históricas que teve seu auge nos anos 1950, cujo ponto de partida ocorreu  com o lançamento de Quo Vadis(EUA, 1951), obra dirigida por Mervin LeRoy(1900-1987), com roteiro inspirado no romance do polonês Henryk Sienkiwicz(1846-1916) que marcou a padronização da fase clássica da técnica da colorização em Tecnhicolor.

Obra que abordava a perseguição dos cristãos pelo tirânico imperador romano Nero, vivido brilhantemente no filme pelo britânico Peter Ustinov(1921-2004).

Depois tivemos outro épico histórico monumental  marcante que foi a produção bíblica de Os Dez Mandamentos(The Ten Commandments, EUA, 1956) dirigida por Cecil B. DeMille(1881-1959), que contou de forma romanceada a passagem bíblica de Moisés de Faraó no Egito a líder do oprimido povo hebreu e quando recebeu a tábua com a escritura dos dez mandamentos.

Cujo elenco contou  com nomes como:  Charlton Heston(1923-2008) protagonizando Moisés e o dançarino russo Yul Bryner(1920-1985) como Ramsés.

Mas foi com  Ben-Hur(EUA, 1959) obra dirigida por William Wyler(1902-1981) com roteiro inspirado no romance Ben-Hur-Uma História nos Tempos de Cristo, publicado em 1880 pelo general Lew Wallace(1827-1905) e contou com Charlton Heston como protagonista e marcou a história do cinema  por ter sido o primeiro filme a ganhar 11 estatuetas na edição do Oscar de 1960 e que por muito tempo esse recorde ficou exclusivamente para o filme*.

Em 1960 foi lançado Spartacus(EUA,1960), produção dirigida por Stanley Kubrick(1928-1999), com roteiro de Dalton Trumbo(1905-1976)**, baseado em romance de Howard Fast(1914-2003) e estrelado por Kirk Douglas(1916-2020) que também foi responsável por assinar a produção-executiva. No Oscar de 1961, o filme ganhou  as 4 estatuetas das seis em que foi indicado.

Mas o  seu declínio veio  com a produção de  Cleópatra (EUA, 1963) que quase levou a Fox a falência.

Produção dirigida por Joseph L. Mankiewicz(1909-1993), que também assina  o roteiro em conjunto com Sidney Buchman(1902-1975) e Ranald MacDougall(1915-1973) cuja base foi por meio de relatos escritos por  historiadores contemporâneos romanos como Plutarco(46 d.C-120 d.C), Suetônio(69 d.C-141 d.C) e Apriano(95 d.C-165 d.C) e no romance Vida e Obra de Cleópatra do italiano Carlo Maria Franzero(1892-1986), que mesmo contando com um elenco estelar formado por: Elizabeth Taylor(1932-2011) como protagonista, Rex Harrison(1908-1990) como o imperador romano  Júlio César seu primeiro amante e Richard Burton(1925-1984) como Marco Antônio seu segundo amante, nem isso foi capaz de salvar o filme de virar um fiasco.

Em 1979, foi lançado Calígula(Itália,EUA,1979), sendo essa é mais considerada uma produção erótica ítalo-americana do que um épico monumental com roteiro inspirado no romance de Gore Vidal(1925-2012) que também assina o roteiro, e contou com a direção de três cineastas: os italianos Tinto Brass, Giancarlo Lui e o americano Bob Guccione(1930-2010) e contou com Malcolm McDowell na pele do insano, depravado, genocida e tirânico Calígula.

Eis então que a gente pula para o ano 2000, e chegamos a Gladiador, produção épica histórica  que marcou o retorno de Hollywood a investir em produções monumentais nessa produção que girava em torno de Máximus(Russel Crowe) um ex-general hispano-romano que perde sua família e é obrigado a virar um escravo por Cômodus(Joaquin Phoenix) o tirânico imperador romano que se apossou do poder matar seu pai Marco Aurélio(Richard Harris) e durante toda a sua jornada vamos acompanhando Máximus enfrentar a opressão provocada por Cômodus na eterna luta do bem contra o mal.

Com roteiro assinado por: David Franzoni, John Logan e William Nicholson, que apesar da precisão histórica se utilizaram de licenças poéticas como o fato de mostrar que não foi  “Marco Aurélio   não foi assassinado por seu filho Cômodo; ele morreu em Vindobona (atual Viena) em 180 d.C. de Peste Antonina.   

     A epidemia, que se acredita ter sido varíola   ou  sarampo, varreu o Império durante o reinado de Marco.

    Não há indício que Marco Aurélio desejava transformar o Império de volta numa república como forma de governo, como é mostrado no filme. Além disso, na época de sua morte, Marco já governava com Cômodo como co-imperadores havia três anos. Após a morte do pai, Cômodo viria a governar o império sozinho até 192 d.C..

       O filme mostra o imperador Marco Aurélio derrotando os bárbaros em batalha de forma decisiva nas Guerras Marcomanas. Na realidade, a guerra se estendeu por mais algum tempo; foi Cômodo que assegurou a paz ao assinar um tratado com duas tribos germânicas que haviam se aliado contra Roma, os Marcomanos  e os Quados.

     O personagem Maximus é ficcional, embora em alguns aspectos ele se pareça com as seguintes figuras históricas: Narciso  (o real assassino de Cômodo e um personagem que apareceu no primeiro esboço do roteiro); Espártaco (que liderou uma revolta de escravos significativa em 73–71 a.C.);  Cincinato (519–439 a.C.) (um fazendeiro que virou ditador, salvou Roma de uma invasão, e então renunciou ao cargo de líder após apenas 15 dias); e Marco Nônio Macrino (um confiável general, Cônsul  em 154 d.C. e amigo de Marco Aurélio).

      Embora Cômodo tenha realmente lutado no Coliseu, ele não foi morto na arena; ele foi estrangulado no seu banho pelo lutador Narciso. Cômodo governou Roma como imperador por doze anos, ao contrário do que é mostrado no filme que parece ser um período bem menor de tempo.

        No filme,  Lucila é mostrada como viúva de Lúcio Vero  e têm um filho dele, também chamado de Lúcio. Embora Lucila realmente fosse viúva dele e tivesse um filho de mesmo nome, a criança morreu jovem, antes do reinado de Cômodo, com Lucila se casando novamente com Cláudio Pompeiano  após a morte de Lúcio Vero. Ela estava casada com ele há 11 anos quando seu irmão se tornou imperador. O filme omite o fato de Lucila ter tido outros dois filhos de Lúcio, Lucila Pláucia e Aurélia Lucila.

    O personagem Maximus teve uma carreira similar (e traços de personalidade parecidos relatados pelo historiador Herodinao) a Tibério Cláudio Pompeiano  (um sírio ) que era casado com a filha de Marco Aurélio, Lucila.

 

        Acredita-se que o imperador Marco pode ter desejado que Pompeiano o sucedesse como César, em detrimento de Cômodo, mas foi recusado. Pompeiano não participou em nenhum dos vários complôs contra Cômodo. O seu personagem não aparece e nem é citado no filme.

       Lucila foi de fato implicada num complô para assassinar seu irmão, em 182 d.C, junto com seu enteado e vários outros. Ela foi primeiro exilada em Capri pelo irmão e então executada, sob ordens dele, mais tarde naquele ano.

     No filme o personagem Antônio Próximo afirma que Marco Aurélio é chamado de "o Sábio" e que ele teria banido os jogos de gladiadores   em Roma, o que teria forçado os lutadores a ir lutar nas arenas da Mauritânia.

 

       O Marco Aurélio de verdade realmente baniu as lutas, mas apenas em Antióquia como punição pelo apoio da cidade ao usurpador Caio Avídio Cássio. Os jogos de gladiadores nunca foram banidos em Roma. Contudo, quando o imperador começou a recrutar gladiadores para as legiões, isso resultou num esvaziamento das lanistae (escolas de gladiadores).

      Na vida real, a morte de Cômodo não resultou em paz para Roma, ou na restauração da República. Pelo contrário, acabou dando início a um período caótico e sangrento numa luta pelo poder que culminou no chamado Ano dos Cinco Imperadores  em 193 d.C.. De acordo com Herodiano, o povo de Roma ficou muito feliz ao saber da morte de Cômodo, embora temessem que os pretorianos  não aceitassem o novo imperador Pertinax.

(Fonte: Wikipédia).

 

 

A produção “faturou US$ 187,7 milhões de dólares nos Estados Unidos e US$ 269,9 milhões pelo mundo, totalizando cerca de US$ 457,6 milhões de bilheteria global, em cima de um orçamento de US$ 103 milhões.”

(Fonte: Wikipédia).

 

Esse filme cujas filmagens foram rodadas em Malta e no Marrocos,  marcou o último trabalho de Oliver Reed(1928-1999) que representou no filme o comerciante Próximo, ele  faleceu quando estava em Malta, local das filmagens e durante um intervalo foi para um pub e lá  se  excedeu ao consumo excesso  bebidas do qual ele nutria uma fraqueza, quando passou mal e veio a óbito no dia 2 de Maio de 1999.  O que ocasionou para que suas  cenas que faltavam filmar  fossem feitas na pós-produção  inseridas em computação gráfica. Foi seu trabalho póstumo.

O elenco  que também contou com  o australiano Russel Crowe no papel do protagonista Máximus, que com esse papel foi um marco importante em sua carreira como um divisor de águas, visto que desde o começo da década de 1990 ele já tinha uma longa filmografia, mas foi com esse papel que ele recebeu até hoje a única estatueta de melhor no Oscar de 2001. Muito disso se deve ao brilhante desempenho como ele transmite em cena, a figura heroica de um sujeito que perdeu a família que virou o símbolo da luta contra a opressão do Império Romano.  

Também mencionar a participação do Joaquin Phoenix que mostra um desempenho brilhante como o sádico Cômodo, foi com esse papel que também marcou um ponto de virada em sua carreira, porque ele já tinha uma longa filmografia, cujo primeiro filme que participou foi como ator-mirim assinando como Leaf Phoenix, junto de seu irmão River Phoenix(1970-1993). Mas foi com esse papel que ele ganhou reconhecimento da crítica e mostrou sua versatilidade como ator.

Também mencionar a participação da dinamarquesa Connie Nielsen na pele de  Lucila, a irmã do Cômodo que nutre uma paixão platônica por Máximo, aqui desempenhando o papel da mulher submissa.

E por fim, vale a menção a participação do irlandês Richard Harris(1930-2002) na pele do Imperador Marco Aurélio, que mostra realmente ser uma atuação brilhante de um fera, um veterano no oficio, com certeza quem acompanhou a franquia Harry Potter(2001-2011) deve se lembrar dele como o professor Alvo Dumbledore***.

Posso descrever num balanço geral que a produção de Gladiador envelheceu bem, mostrando o nível de importância como obra de arte, e que merece ser reassistindo sempre.

*Depois de Ben-Hur, os únicos filmes a levarem 11 estatuetas na história do Oscar foram: Titanic(1997), obra catástrofe do diretor James Cameron que foi premiado na edição do Oscar de 1998 e O Senhor dos Anéis-O Retorno do Rei(2003), o último da trilogia do diretor  Peter Jackson que levou as 11 estatuetas em 2004.

**A participação de Dalton Trumbo como roteirista em Spartacus(1960) marcou um importante ponto de virada na sua carreira. Isso porque até então Trumbo havia vivido uma fase infernal durante a década de 1950 com a política de caça às bruxas adotada pelo macarthismo de perseguir prováveis comunistas em solo americano  naquele momento do começo do clima de Guerra Fria. E muitos roteiristas estavam sendo alvo  de investigação do governo americano por supostos envolvimentos comunistas. Por conta disso, ele ficou com o nome manchado na indústria. Chegou a entregar roteiros assinados com pseudônimos para tentar burlar os agentes. Com o sucesso de Spartacus, onde ele finalmente voltou a ganhar prestigio em Hollywood sendo creditado, visto que a fase da politica do macarthismo havia deixado de existir. Toda essa fase turbulenta da carreira de Dalton Trumbo foi retratada na sua cinebiografia Trumbo: Lista Negra(2015), onde ele foi representado por Bryan Cranston.

***Richard Harris representou o professor Alvo Dumbledore, diretor da instituição de Hogwarts nos filmes Harry Potter e a Pedra Filosofal(2001) e Harry Potter e a Cãmara Secreta(2002) dirigidas por Chris Columbus, inspiradas nas séries de livros da britânica J.K.Rowling. Sua participação em Cãmara Secreta marcou seu trabalho póstumo, isso porque Harris havia falecido em 25 de Outubro de 2002 em consequência de um câncer linfático faltando duas semanas para o lançamento do filme. Com sua morte, quem passou a assumir o papel de Alvo Dumbledore a partir de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban(2004) foi o saudoso Michael Gambon(1940-2023) dirigido por Alfonso Cuarón que os representou nos filmes seguinte da franquia que foram: Harry Potter e o Cálice de Fogo(2005) dirigido por Mike Newell, Harry Potter e a Ordem da Fênix(2007), Harry Potter e o Enigma do Principe(2009), Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1(2010) e Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2(2011) dirigido por David Yates. Harris também deixou postumamente sua participação na minissérie Júlio Cesar(2002) e na animação Kaena-A Profecia(2003). 

 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

A BUNDA

 

A BUNDA

 

Os responsáveis pela bunda (como é conhecida na atualidade, referindo-me ao conceito contemporâneo de bunda; ou seja, a bunda como ela é) são os africanos. Mais especificamente, os angolanos e os cabo-verdianos. Para ser ainda mais preciso, as angolanas e as cabo-verdianas.



Foram elas, angolanas e cabo-verdianas, que, ao chegarem ao Brasil durante as trevas da escravatura, revolucionaram tudo o que se sabia sobre bunda, até então.




Foi assim: naquela época, a palavra bunda não existia. Os portugueses, quando queriam falar a respeito das nádegas de uma cachopa, diziam, exatamente isto: nádegas; ou região glútea (tanto fazia).




Aí, os escravos angolanos e cabo-verdianos chegaram ao Brasil.

Só que eles não eram conhecidos como angolanos nem cabo-verdianos.





Eram os “bantos”, chamados bundos, e falavam o idioma "ambundo", ou "quimbundo": a língua bunda, enfim.




Os bundos, em especial as mulheres bundas, possuíam a tal região glútea muito mais sólida, avantajada, globosa.




Os portugueses, que não são parvos, logo deitaram os olhares para as nádegas das bundas (das mulheres bundas). 






Quando alguma delas passava diante de um grupo de portugueses, vinham logo os comentários: “Que bunda!” (referindo-se, claro, à africana; não à bunda, propriamente dita, da africana...). Em pouco tempo, a palavra bunda, antes designação de uma língua e de um povo, passou a ser sinônimo de nádegas. E assim nasceu a bunda moderna.






 

Como se vê... BUNDA TAMBÉM É CULTURA!...

(Autor Desconhecido).



terça-feira, 8 de abril de 2025

DOCUMENTÁRIO VAL(2021) EM MEMÓRIA DE VAL KILMER(1959-2025)

 

Na semana em que o ator  Val Kilmer(1959-2025) faleceu, eu dei uma assistida no  seu documentário biográfico intitulado de Val(EUA, 2021) na Amazon Prime Vídeo.




Nesse documentário de 1 Hora e 49 Minutos de duração. Que teve o envolvimento do próprio ator que usa de gravações caseiras de arquivo pessoal onde ele narra toda sua trajetória desde sua infância, passando pelo começo de sua carreira onde são mostrados gravações de bastidores de alguns filmes que ele participou e onde ele procura mostrar por ele mesmo a situação um tanto inconstante que foi sua carreira devido a fama de encrenqueiro e também o acompanha no presente com a dificuldade da fala por conta do câncer na garganta.




O filme conta com a direção de Leo Scott e Ting Poo, ele que é narrado em off  pelo seu filho que conta todas as suas experiências dos momentos de sua infância e compartilha como foi as suas sensações dos papeis que representou no cinema.




O mais curioso que o documentário mostra foi da sensação dele achar que o seu papel como o Iceman em Top Gun: Ases Indomáveis(Top Gun, EUA,1986) foi um tanto medíocre, mas ao mesmo tempo sente uma sensação conflitante com a fama que ele lhe rendeu, tanto que toda vez que ele ia viajar e passava por algum aeroporto era chamado de Iceman. Inclusive ele  foi convidado para participar de Top Gun: Maverick(EUA, 2022) para repetir o papel com ele aparecendo em uma única cena ao lado de Maverick, cujo diálogo ele escreve textualmente e nos minutos finais de sua participação, sua voz é reproduzida por inteligência artificial, foi o momento mais tocante da obra. Que por esse retorno fez ele ao mesmo sentir uma frustação e ao mesmo tempo alegria, principalmente pelo convite para repetir o papel na sequencia que marcou o último filme  da sua carreira.




Também mostra a sua sensação de como foi representar o icônico herói  Batman em Batman Eternamente(Batman Forever, EUA, 1995) onde ele rememora a sua infância, quando assistia a clássica série dos anos 1960, estrelada por Adam West(1928-2017) dentre outros momentos.





Mostra ele e o filho fantasiado de Batman e Robin, também abordando a sua  fama de encrenqueiro que ele carregou de muitos diretores, por ser perfeccionista e muito metódico, o que o levou a ser visto como uma pessoa de personalidade insuportável.




Também registra sua participação numa Comic Con, dando autógrafos aos seus fãs, mesmo estando num estado de saúde  delicado respirando com um aparelho que dificulta sua fala saindo toda radiofônica.

Enfim, é um ótimo documentário que serve para conhecer outras camadas a respeito de Val Kilmer além do que já foi mostrado.

 Im Memoriam.

sábado, 15 de março de 2025

O APRENDIZ-A JORNADA DE DONALD TRUMP COMO EMPREENDEDOR IMOBILIÁRIO

 

Outro dia, assistindo ao mais recente  filme concorrente ao Oscar  de 2025, que é no caso   O Aprendiz(The Apprentice,EUA,Canadá,Irlanda, Dinamarca,  2024) após ser incluído no catálogo da Amazon Prime Video.





Confesso ter ficado impressionado com o tipo de abordagem a respeito dele que é um cara muito polêmico.

A primeira impressão que ele pode tender a causar a um expectador desavisado e que tenha caído de paraquedas é quanto ao fato da obra  tentar trazer uma mensagem de cunho político panfletário tendencioso com os ideais de extrema-direita de intolerância  social.




Toda cinebiografia que trata de protagonizar figuras politicas tender a gerar esse desconforto em tentar criar uma idealização romantizada de sua jornada heroica com ares de endeusamento exageradamente mitificado como se ele fosse destinado para tal coisa.

O que por incrível que pareça, no filme  O Aprendiz em nenhum momento procura criar essa atmosfera de endeusamento sobre Trump.




 Essa cinebiografia que conta com a direção do iraniano-dinamarquês Ali Abbasi, com roteiro de Gabriel Sherman, trata-se de uma produção independente contando com a colaboração da Dinamarca, Canadá e Irlanda, procura abordar e  explorar um pouco da fase de Trump, muito bem defendido pelo ator Sebastian Stan,  em sua ascensão na carreira de empresário do ramo imobiliário em Nova York entre os anos 1970 a 1980, seguindo os passos de seu pai Fred Trump(1905-1999) vivido magistralmente no filme por Martin Donovan, um empresário renomado nesse ramo com a empresa The Trump Organization.






Em nenhum momento a obra tenta ser panfletária em fazer apologia aos seus ideais autoritários, do mesmo jeito que procura não ser tendenciosa em criar um endeusamento de  mostrar como ocorreu sua carreira na política até chegar a comandar a Casa Branca como o atual  Chefe de Estado.

Mesmo porque ela apenas se preocupa em nos apresentar um recorte de sua vida apresentado a ascensão da sua carreira no ramo imobiliário.




Onde a gente pode bem conhecer como um bom estudo de personagem que pode explicar  sua postura autoritária e desprezível. É  uma obra sensacional em explorar um pouco do perfil repugnante que ele já demonstrava ter.  





Em especial mostrando a pessoa que foi seu grande mentor Roy Cohn(1927-1986), muito bem defendido no filme por Jeremy Strong, um polêmico advogado que esteve envolvido na acusação do   Caso do Casal Rosenberg em 1953 e que no filme ele esmiuça bem o nível da importância de como suas orientações levaram Trump  a se ascenderem no ramo empresarial do mercado imobiliário de Nova York naquele período dos anos 1970 a 1980, quando a Big Apple estava vivendo um caos urbano e sua ascensão ocorreu de uma forma muito desonesta, pisando em muita gente para conseguir os seus objetivos gananciosos dos seus empreendimentos. 




Podendo-se dizer que o filme mostrou bem como ele foi um bom  aprendiz do título que não por acaso, também foi o título de um programa de reality show de competição de empreendedorismo que ele comandaria por volta dos anos 2000, cujo formato foi importado para diversos países e aqui no Brasil se tornou popular sendo apresentado pelo empresário Roberto Justus, que eu acredito quem tem minha idade, com certeza deve ter tido o primeiro contato com o nome Trump por meio desse programa.




Ao mesmo tempo que também pincela  um retrato do quão escroto ele vivia em sua vida afetiva. Como nas cenas que mostram ele reunido com sua família, onde ouve umas poucas e boas  de seu pai, um sujeito autoritário e abusivo, que desprezava seu irmão mais velho Fred Trump Junior(1938-1981), por ter escolhido seguir a carreira de piloto da TWA em vez de comandar os negócios da família como Donald escolheu, que para ele  era a mesma coisa que viver como um pobretão e que seria a ponto de ser visto como um pária na família. Mostrando como ele herdou esse caráter tóxico do seu pai.  O  Fred Jr. é muito bem representado por Charlie Carrick que nos seus últimos anos de vida, após perder o emprego  caiu em desgraça no consumo de álcool que o levou a morte.




Ou mesmo quando ele vivia as turras com sua mãe Mary Anne MacLeod(1912-2000), uma imigrante escocesa, grande ironia sendo ele um sujeito xenófobo que é, no filme é    muito bem representada por Catherine McNally.

Também mostra a maneira como Trump  era um marido abusivo e muito violento com sua primeira esposa, a ex-modelo tcheca Ivana Zelníčková(1949-2022), ou seja, ele foi casado com uma imigrante, um  contraste se assim posso descrever  com sua postura de lei anti-imigratória em território americano.




Foi com essa que passou adotar o sobrenome de casada assinando como Ivana Trump, vivida no filme pela atriz búlgara Maria Bakalova que Trump teve três filhos formados por: Donald Trump Jr., Ivanka Trump e Eric Trump.

Como o recorte vai até o momento do falecimento de Roy Cohn, não é mostrado Donald se divorciando de  Ivana que ocorreu em 1990, como consequência da pulada de cerca de Trump ao começar a ter um caso com a ex-modelo e atrix Maria Maples com quem se divorciaria em 1999 e teve uma filha Tiffany e atualmente se encontra casado com a ex-modelo eslovena Melânia Knauss, que contradição  ele viver casado com uma imigrante e ser xenófobo com quem  tem um filho Barrow.




Acontecimentos esses que ocorreram no momento onde Trump estava com sua carreira de empreendedor imobiliário  declinando devido ao fracasso dos empreendimentos do Trump Tower, por exemplo. E ele só foi se reerguer graças a televisão ao apresentar o reality show imobiliário intitulado ironicamente de O Aprendiz.

Em um balanço geral, O Aprendiz é um bom filme cine biográfico para se conhecer a trajetória de um sujeito tão controverso quanto Trump, em nenhum momento ele tenta ser chapa branca e nem procura ser  panfletário mesmo retratando  a trajetória de um sujeito de discurso fascista da típica extrema direita autoritária americana.




Ele procura sim é retratar como se deu sua trajetória de ascensão do ramo do mercado imobiliário na Nova York dos anos 1970/80 que começou com seu pai, onde com a mentoria de uma figura controversa como o Roy Cohn, ele conquistou de uma forma que não merecia, pisando e enganando muita gente.






Onde  conhecemos  também um pouco do seu perfil canalha de sujeito de caráter egocêntrico, narcisista, frio, calculista e megalomaníaco e era extremamente tóxico dentro de casa com sua esposa. Justamente por conta é que recomendo assistirem ao filme.

Os brilhantes  desempenhos de Sebastian Stan protagonizando Trump e de Jeremy Strong como Roy Cohn, renderam duas indicações na recente edição do Oscar 2025, nas categorias de melhor ator e melhor ator coadjuvante. Que perderam ambas sendo derrotados por Adrien Brody que ganhou na categoria de melhor ator por O Brutalista e Kieran Culkin que venceu como melhor ator coadjuvante por A Verdadeira Dor.

Ainda assim recomendo assistirem.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

MARIGHELLA: O MÁRTIRE DA DITADURA

 

Ainda aproveitando o clima do filme Ainda Estou Aqui (Brasil, 2024) que está repercutindo lá fora abordando sobre a  temática sensível da Ditadura Militar no Brasil.




Recomendo assistirem a outra obra  interessante que também aborda  essa temática indigesta que no caso me refiro  ao filme Marighella(Brasil,2021) que aborda a brutalidade com que a Ditadura Militar oprimiu o povo brasileiro contando a trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella(1911-1969). Um dos mártires da Ditadura. Principalmente  porque ele esteve envolvido na luta armada, o que o tornava bastante perigoso para o Regime.

A trama acompanha a jornada de Marighella(Seu Jorge) num recorte mostrando a sua conturbada vida rotineira na ilegalidade, onde vive longe do convívio de sua esposa Clara(Adriana Esteves)  e do seu filho Carlinhos nos dias que antecedem ao seu assassinato ocorrido no dia 4 de Novembro de 1969 onde estava sendo perseguido e caçado pelos militares, e organizando os assaltos naquele tenso clima de insegurança.  




Nessa obra dirigida por Wagner Moura, com roteiro adaptado da biografia Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo de Mário Magalhães que é assinado pelo próprio diretor em conjunto com Felipe Braga.

Eles optaram por explorar em suas 2 horas e 35 minutos de duração, o recorte da vida do Marighella como um guerrilheiro combatente dos militares até os seus últimos momentos de vida vivendo uma vida bandida sendo procurado pelos militares.




Mas a vida de Marighella, não se restringia só a isso, pois ele também fez carreira literária na poesia. Para saber mais sobre a sua  trajetória, na Netflix tem disponível o documentário Marighella(Brasil, 2012), que conta com a direção de  Isa Grinspum Ferraz, uma sobrinha de Carlos Marighella, na verdade, ela é sobrinha de sua esposa Clara onde, portanto, Marighella era seu tio por afinidade.

 Conta com a participação de Lázaro Ramos como narrador, onde apresenta sua vida comum na capital baiana de onde nasceu filho de um imigrante  italiano com uma baiana preta descendente dos escravos sudaneses.




A produção estava prevista para ser lançada em 2019, mas devido ao imbróglio com a ANCINE, envolvendo uma prática de censura do governo de Jair Bolsonaro e agravado pela crise viral com a pandemia de Covid-19, a produção só conseguiu estrear em 2021.

Foram  tomadas  algumas licenças poéticas ao reconstituir o que de fato foi verídico e o que foi inventado na maneira como eles o retrataram.

A matéria do  site da revista Veja, de 5 Novembro de 2021, quando o filme foi lançado,  listou cinco pontos verídicos apresentado no filme, mas que foram ficcionalizados para caráter dramatúrgico que vou reproduzir abaixo:

1)Baleado no cinema e preso na frente do filho.

O atentado contra Marighella dentro de um cinema aconteceu de forma similar ao retratado no filme, mas com algumas liberdades poéticas no contexto. No livro Por Que Resisti à Prisão, ele conta que havia marcado um encontro com a zeladora de seu prédio para pegar algumas roupas, já que havia fugido do local dias antes, durante uma invasão da polícia. Vendo que ela estava sendo seguida, entrou no cinema para confundir os policiais, “visando receber no interior do salão, ás escuras, o embrulho que ela trazia”. Lá dentro, recebeu o pacote, mas o local foi invadido pelas forças de segurança, que o balearam no peito depois de gritos de “abaixo à ditadura”. Segundo as publicações da época, ele de fato lutou, desarmado, por minutos a fio com os policiais. Rendido, foi levado para a rua, onde um jornalista do Correio da Manhã registrou a prisão, como mostra o filme. Não há indícios, porém, que o filho Carlinhos estivesse assistindo a tudo do carro, nem eram da criança as roupas que levava a zeladora, que no filme é mandada fugir do local sem entrar no cinema. Outra diferença é que, no relato de Marighella, os policiais interromperam a sessão e acenderam as luzes assim que entraram no cinema, enquanto o filme mostra os agentes com lanternas abordando o homem com o filme rodando de fundo. 

2) Fitas gravadas e promessa ao único filho.

Logo no começo do filme, Marighella, em maio de 1964, nada com o filho Carlinhos, que aparenta ter entre 10 e 12 anos. Com o recente golpe militar, ele diz ao menino que ele precisará ir pra Bahia morar com a mãe por questão de segurança, mas promete que voltará a vê-lo antes que complete 15 anos. Carlinhos realmente costumava nadar com o pai, e voltou a morar com a mãe em Salvador, mas a promessa nunca aconteceu-na verdade, em 1964, ele já era um rapaz de 16 anos, e não uma criança pequena, como mostra o longa. O filme ainda usou outra liberdade poética com o menino: as fitas que Marighella grava para o filho, na esperança de que elas cheguem até o garoto um dia, nunca existiram. O recurso serviu para apresentar ao espectador a vida e os valores do biografado. 

 

3) Tom de pele

Uma das primeiras polêmicas que despontaram com o filme diz respeito ao tom de pele do guerrilheiro, mais claro do que o de Seu Jorge, negro retinto. Nas redes sociais, os críticos do longa acusaram a a produção de retratar um branco como sendo preto, mas a realidade é mais complexa do que isso. Neto de escravos sudaneses, Marighella é fruto do relacionamento da baiana Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos, com o imigrante italiano Augusto Marighella, um homem branco. A miscigenação deu a ele um tom de pele mais claro — próximo ao de Mano Brown, primeira escolha de Wagner Moura para o papel-próximo ao de Mano Brown, primeira escolha de Wagner Moura para o papel — e ele costumava se descrever como um “mulato baiano”, termo hoje considerado pejorativo. Nas redes sociais, o biógrafo Mario Magalhães respondeu à polêmica dizendo que os inimigos de Marighella  sabiam que ele não era branco. “Em 1947, o deputado Marighella criticou um colega que levara um carro (a “Baronesa”) da Câmara para a Bahia. Altamirando Requião reagiu: ‘Não permito que elementos de cor, como V. Ex.se intrometam no meu discurso”, escreveu Magalhães no Twitter, citando um episódio de racismo enfrentado por Mariguella.

 

3) Expulsão do Partido Comunista (PCB)

 Em determinada cena da produção, Marighella aparece falando com Jorge Salles, um jornalista membro do PCB que o alerta sobre a posição contrária do partido à luta armada e que ele acabaria expulso.  A passagem é verídica: em uma edição de janeiro de 1968 do jornal Voz Operária, o PCB discorre sobre as resoluções de seu 6º congresso, feito em dezembro do ano anterior, e ratifica a expulsão de Carlos Marighella  e de uma série de outros membros que “participaram de atividades fraccionistas”. Maior organização de esquerda da época, o PCB defendia uma “transição pacífica” para o socialismo e a resistência à ditadura por meios constitucionais, como o voto no MDB e a participação de seus membros em sindicatos. Parte dos militantes, porém, descontentes com a “covardia” e “apatia” — como descreve Marighella no filme —perante o golpe de 64 e a repressão militar, deixaram o partido e se juntaram a núcleos de guerrilha como a Ação Libertadora Nacional, fundada por Marighella depois de sua expulsão.  

 

 

 

 

 

4) Invasão das rádios e manifesto divulgado.

De fato, em 1969, a ALN usou as torres de rádio para burlar a censura e invadir o sinal da Rádio Nacional, como mostra o longa, mas não foi Marighella quem leu o texto. Embora o manifesto “Ao Povo Brasileiro” tenha sido escrito por ele em junho, meses antes do ocorrido, foi o estudante Gilberto Luciano Belloque quem emprestou a voz para a gravação transmitida via rádio em agosto. Ao contrário do que mostra o filme, a transmissão foi feita pela manhã, e não no período da noite. O jornalista Hermínio Sacchetta publicou o texto na íntegra na edição da manhã do Diário da Noite e, como mostra o longa, acabou  preso pelos militares. 

 

 

5) Morte: versão oficial vs versão do filme. 

Quando Marighella foi morto, em 4 de novembro de 1969, ele era considerado pelos militares como “o inimigo número 1 do Brasil”. Naquele dia, como mostra o filme, dois padres que ajudavam a ALN marcaram — torturados e sob a mira do revólver — um encontro com Marighella que resultaria em sua morte. Segundo a narrativa oficial, descrita pela Operação bandeirantes (Oban), o guerrilheiro chegou ao local e recebeu voz de prisão, mas correu para o carro e “fez menção de sacar, de dentro de uma pasta, duas armas que estavam nela”. Ele, então, foi alvejado por metralhadoras e “caiu dentro do carro”, na  posição e local onde foi fotografado horas depois. Uma perícia feita posteriormente pela Comissão Nacional da Verdade, porém, indica que Marighella foi alvejado já dentro do veículo, sem troca de tiro — versão reproduzida pelo longa — e morreu com um tiro à queima roupa. “O tiro que atingiu Marighella na região torácica, provavelmente o último, foi efetuado a curtíssima distância (menos de oito centímetros), através do vão formado pela abertura da porta direita do veículo, numa ação típica de execução”, conclui o documento. No longa, a distância é um pouco maior, e Marighella é acertado por mais de cinco tiros, número constatado pela perícia.

Posso concluir que cinebiografia sobre Carlos Marighella o retratando como o perseguido politico na Ditadura Militar, é uma interessante obra que serve bem para retratar como as consequências da brutalidade da Ditadura são sentidas até hoje.

Um tema indigesto, mas muito relevante para entender como o nosso Estado Brasileiro é bastante omisso quanto as práticas violentas feitas pelos militares. E que por muito tempo negaram essa prática criminosa, isso é algo que incomoda demais a extrema-direita fascista brasileira que idolatra torturadores como o próprio Jair Bolsonaro que mostrou sua idolatria ao Coronel  Carlos Brilhante Ustra(1932-2015), o responsável por cometer torturas na Ditadura.





No seu elenco, o filme conta com Seu Jorge como protagonista que faz uma brilhante representação do Marighella encarando as dificuldade de viver na clandestinidade,  Adriana Esteves representa bem a companheira de Marighella Clara vivendo uma vida incertezas com o marido na clandestinidade e sem o seu convívio.

Também conta com  as participações de Bruno Gagliasso, que no filme representa brilhantemente  o papel do Agente Lúcio, o caçador de Marighella,  personagem ficcionalizado na história que equivale ao torturador real Sérgio Paranhos Fleury(1933-1979), um sujeito agressivos que não mede esforços para usar da violência bruta.  




Vale menção também  as participações de Herson Capri como o jornalista Jorge Salles que no filme ele condensa diferentes figuras de figuras de jornalistas com quem Marighella foi muito próximo e foram seus aliados. Humberto Carrão como Humberto, um companheiro de luta armada de Marighella, que condensa no filme os seus diferentes companheiros da vida real.  Bella Camero como Bella faz uma representação condensada dos diferentes membros da Ação Libertadora Nacional.

Há também de mencionar as participações de Luiz Carlos Vasconcellos que no filme representa Almir, outro aliado de Marighella equivalendo a figura real de Joaquim Cãmara Ferreira(1913-1970), Jorge Paz como Jorge que equivale a Virgílio Gomes da Silva(1933-1969),  estes que estiveram envolvidos no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick(1908-1983). Henrique Vieira como Frei Henrique equivalente ao frade dominicano Fernando de Brito(1936-2019) que era um dos aliados contra os militares.

Assim como mencionar a participação do americano naturalizado brasileiro Charles Paraventi que no filme representa o papel do Bob que simboliza a participação passiva dos americanos no Golpe Militar.

Enfim, posso concluir que a cinebiografia Marighella, é um filme muito relevante para esse momento turbulento que vive o Brasil.