terça-feira, 23 de agosto de 2022

PACTO BRUTAL-O ASSASSINATO DE DANIELA PEREZ

 

 

Na tarde de quinta-feira, 11 de agosto de 2022, terminei de assistir ao documentário Pacto brutal: o assassinato de Daniela Perez (Brasil, 2022). Uma produção original da HBO Max dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, em cinco episódios, aborda o assassinato da jovem atriz Daniela Perez pelo seu colega de elenco da novela De Corpo e Alma (Brasil, 1992-1993), Guilherme de Pádua. O crime aconteceu no dia 28 de dezembro de 1992. Coincidentemente, terminei de assistir o documentário no dia em que ela completaria 52 anos.




Eu era muito criança na época em que esse crime ocorreu, estava com sete anos, mas lembro vagamente dos telejornais noticiando o nome dela. Principalmente da última novela que participou, em que representou a Yasmin e Guilherme de Pádua, seu assassino, interpretava o Bira, o seu par romântico.

Por mais estranho que possa parecer o que vou dizer, eu não recordava tanto deles em cena nessa novela; o que durante muito tempo carreguei como lembrança foi a ousadia de o folhetim apresentar em horário nobre, o antigo horário das oito, homens fazendo strip-tease num local frequentado só por mulheres, o popular Clube das Mulheres, que estava muito em alta na época, o qual contava com Victor Fasano, no auge da beleza e da boa forma atlética, o famoso garoto-propaganda da marca de desodorante Avanço, representando um stripper. O núcleo do qual Victor fazia parte contava com a participação de um cara que fazia um apresentador do clube e que atuava nessa função também na vida real, o sócio e fundador do Clube das Mulheres , o saudoso Marcos Manzano (1959-2020).





Outra coisa que eu me recordo dessa novela é a estreia de Cristiana Oliveira na Globo, após estourar como a Juma Marruá na versão original de Pantanal (Brasil, 1990), da extinta Rede Manchete. Sua personagem, Paloma, era do núcleo de Daniela Perez, que representava sua irmã. Paloma vivia um romance proibido com o Diogo, personagem do saudoso Tarcísio Meira (1935-2021), um cara em crise no casamento. O casal era embalado pela canção italiana Caruso, interpretada por Lucio Dalla (1943-2012).  A atriz, inclusive, participa do documentário dando seu depoimento.

Enfim, essas são as poucas coisas que eu me recordo dessa novela tão assimilada ao crime brutal do assassinato de uma jovem e talentosa atriz por um colega de elenco.






A respeito do documentário, o que posso dizer é que ele é bem produzido. De maneira impecável, eles conseguem conduzir a história tendo como fio condutor a mãe de Daniela, a novelista Glória Perez, autora da novela em que a filha atuava na época do crime, que vai se intercalando com as entrevistas e os depoimentos de muitos nomes importantes do judiciário que investigaram o caso. Das pessoas próximas à Daniela, como um dos representantes da classe artística, destaca-se o ator Raul Gazolla, que é viúvo da atriz.

O documentário traz uma reconstituição das horas que antecederam o crime, quando ela foi vista pela última vez na Globo, saindo dos estúdios Tycoon, onde era gravada a novela antes da existência do Projac, e imagens de arquivos. O canalha do Guilherme de Pádua não aparece dando depoimento, ainda bem, pois muita coisa ali foi baseada nos autos do processo; pois certamente ele daria uma nova versão para tentar confundir ainda mais a justiça e colocar a culpa em sua então esposa e cúmplice no crime bárbaro, Paula Thomaz. Esta, tão desprezível quanto Guilherme de Pádua, também não participa do documentário. As únicas coisas que dá para ouvir da boca deles estão nos arquivos das reportagens de telejornalismo que cobriam o caso.





O documentário esclarece como Guilherme de Pádua havia sido selecionado para representar o Bira, o par romântico da Yasmim, papel de Daniela Perez, que inicialmente era para ser do hoje deputado federal Alexandre Frota, que não pôde aceitar o convite na época porque não foi liberado da novela em que estava ainda atuando, Perigosas Peruas (Brasil, 1992). Frota aparece no documentário junto com outros atores, Raul Gazolla; Fábio Assunção, que contracenava com Dani na novela fazendo seu outro par romântico; Eri Johnson, que também contracenava com a atriz na novela. Outros atores também dão seu depoimento: Stênio Garcia, que interpretava o pai de Yasmin, e Cristiana Oliveira, que fazia o papel de sua irmã.

Mauricio Mattar, que não compunha o elenco da novela, traça um perfil de Guilherme de Pádua quando contracenou com ele numa peça chamada Blue Jeans, dirigida por Wolf Maia. A peça ainda contava com Fábio Assunção e Alexandre Frota no elenco, os quais também dizem como era conviver com Guilherme antes do crime, ressaltando seu comportamento estranho. Fábio Assunção lembra um momento em que Guilherme de Pádua, representando um policial que o prendia, chegou a machucá-lo de verdade. “Ele fazia um policial, então ele me prendia, tinha que me bater, mas era ensaio. E ele me deu um soco em cena. Foi na minha garganta, aquilo deu uma discussão enorme. Achei até que ia ficar com algum problema na voz”, diz o ator.





O documentário mostra a passagem de Guilherme de Pádua pelo grupo teatral homoerótico dos Leopardos, no qual ingressou no final dos 1980 ao chegar no Rio de Janeiro (ele nasceu em Belo Horizonte). Ele se envergonha de ter participado do grupo e nessa época já mostrava um perfil egoísta, psicótico, narcisista. Foi nesse grupo conheceu a mulher que seria sua futura esposa e cúmplice no assassinato, Paula Thomaz. Ela também já demonstrava um comportamento estranho e possessivo. Capazes de fazer até um pacto  macabro e dos mais bizarros. Foi essa a inspiração para o título do documentário. 





O documentário traz ainda o depoimento de muitos dos profissionais que trabalharam nos bastidores da novela (maquiadora, cameraman, figurinista), todos ali relatando que Guilherme de Pádua agia sempre de forma estranha e vivia perseguindo Daniela, por não se conformar com o pouco destaque do seu personagem.

Há também o depoimento da filha de Hugo da Silveira, já falecido, importante testemunha que passava pela estrada próxima ao matagal onde foi encontrado o corpo da atriz; ele anotou a placa dos dois carros ali parados.




Em alguns momentos nos deparamos com imagens de arquivos com muitos representantes da classe artística clamando nas portas das delegacias por justiça pelo assassinato de Daniela Perez, alguns desses artistas já são falecidos, como é o caso Guilherme Karan (1958-2016), Marilu Bueno (1940-2022), que na novela De Corpo e Alma fazia o papel da mãe de Yasmim, personagem da Daniela Perez. Outras personalidades que aparecem nas imagens de arquivos e também são falecidas: o jornalista Marcelo Rezende (1951-2017), famoso apresentador de programas policialescos; o documentário mostra sua cobertura do caso como repórter em matéria para a Rede Globo.

A jornalista Sandra Moreyra (1954-2015) também aparece nas imagens de arquivos, entrevistando Daniela Perez quando a atriz estava se preparando para fazer o papel da Yasmim na novela, comentando suas expectativas em relação à personagem. Outra personalidade, essa recém-falecida, que é mostrada nas imagens de arquivo do documentário, é Jô Soares (1938-2022), em seu antigo talk show do SBT, o Jô Soares Onze e Meia (1988-1999), quando entrevista a autora Glória Perez, esta desabafa sobre a impunidade. Em outro momento, traz imagens do grupo dos Leopardos, fazendo performances sexuais das quais participava o assassino Guilherme de Pádua.





Há também o depoimento do irmão de Daniela Perez, o advogado Rodrigo Perez, relatando a ferida aberta com a morte brutal da irmã, uma ferida que ainda não cicatrizou. O documentário não mencionou o outro irmão de Daniela, o caçula Rafael Perez, que nasceu com uma síndrome rara que afetou o seu desenvolvimento mental. Rafael faleceu dez anos depois da irmã, em novembro de 2002, aos 25 anos, vítima de problemas intestinais.  





  Enfim, sobre esse tipo de produção, é necessário que se tenha nervos de aço e muito preparo psicológico para digerir todo o teor barra pesada que a obra expõe, desde os depoimentos emocionantes até a foto da perícia mostrando o corpo da Daniela mutilado. Para quem gosta dessa estética de true crime e tem estômago para conseguir ver até o fim e não se sentir revoltado com a impunidade do caso, recomendo o documentário. Passados trinta anos desse crime bárbaro, os monstros que assassinaram a Daniela Perez estão soltos por aí. O Guilherme de Pádua virou pastor evangélico e está sempre posando de santinho.  Mas se você for sensível demais e se emociona muito fácil, acho melhor não se arriscar a ver.



quinta-feira, 12 de maio de 2022

MARVEL SENDO BARRADA PELA CHINA.

  

Neste vídeo teremos o comentário a respeito da China barrar os mais recentes filmes da Fase 4 do MCU nessa fase pós-pandemia. É hora da Marvel repensar para não cair no prejuízo?
É o que irei comentar.

domingo, 17 de abril de 2022

O PIOR DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO: NÃO VAI TER GOLPE!

Para compreender o cenário do Brasil atual, é preciso compreender o que levou grupos de extrema direita da MBL(Movimento Brasil Livre) a comandar o país  trazendo Bolsonaro ao poder  só mesmo vendo esse documentário Não Vai Ter Golpe!(Brasil,2019) e ter muito estômago para ver até o fim para ouvir os argumentos absurdos desse povo.  Realizado pelos próprios articuladores do movimento que fez Dilma Roussef sofrer o Impeachment em 2016. Contando com a direção de Fred Rauh e Alexandre Santos, que assinam também o roteiro e produção de Gabriel Sândalo.




O teor da estética desse documentário tendencioso, puxando a sardinha para eles mesmo sendo moldado com um perfil heroico é tão absurdo de puro mau gosto, que faz a obra ir para um nível de breguice, de tão cafona que a obra se  mostra quando  eles apelam  para o humor, nem falo. Principalmente quando mostra artistas como Danilo Gentilli ou mesmo Lobão participando dos comícios dando seu apoio e os depoimentos de Kim Kataguiri e de Artur do Val, o Mamãe Falei é de incomodar demais, vistos que recentemente ele protagonizaram as polêmicas envolvendo declarações preconceituosas sobre nazismo misoginia com as ucranianas.  Tinha horas que me dava vontade de rir, mas de nervoso com tamanho mau gosto  que essa obra apresenta.




 Tem disponível no Amazon Prime Vídeo.  Só assista se for a nível de curiosidade e se tiver  disposto a digerir e não levar a sério a visão tendenciosa desse documentário com ideais direitistas.

sábado, 2 de abril de 2022

RESENHA DA SÉRIE DA AMAZON NOSSO JEITO DE SER(2022)

 

COMO SERIAM JOVENS AUTISTAS DIVIDIREM O MESMO TETO?

 

A abordagem do autismo nunca tinha sido tão explorado quanto antes,  e a prova disso está na série que vou comentar aqui em homenagem a data do dia   02 de Abril, onde é comemorado o Dia Mundial  da Conscientização do Autismo. Trata-se de  Nosso Jeito de Ser(As We See It, EUA, 2022) da Amazon Prime Vídeo.





A série conta a  história de um trio de jovens autistas formado por Jack(Rick Glassman), Violet(Sue Ann Pien) e Harrison(Albert Rutecki), que são companheiros de quarto, dividem um apartamento e são orientados pela Mandy(Sosie Bacon), a cuidadora contratada pelas famílias dos três.




Cada um deles apresenta suas particularidades, Jack é o  que se mostra mais retraído do trio, e as vezes tem um temperamento explosivo, e irritadiço,   trabalha como web designer para uma livraria, onde lida com um chefe muito casca-grossa como Austin(Robby Clater).






 Cuja reação irascível  faz ele  explodir e ser demitido, mais depois é readmitido. É muito metódico, tem dificuldades de demonstrar suas emoções. Ainda mais num momento delicado em que ele sendo  órfão de mãe, é criado pelo seu pai Lou Hoffman(Joe Mantegna) que anda com a saúde delicada por conta do câncer, o que deixa Jack preocupado quanto a ele morrer a qualquer momento sem ter conquistado sua independência financeira. E justo nesse momento que ele conhece no hospital a enfermeira Ewatomi(Délé Ogundiram), com quem ele tem uma aproximação e o começo de uma relação amorosa.




Já Violet é de temperamento mais esfuziante, trabalha como atendente de um fast food. Sonha em querer namorar, mas é impedida pelo seu irmão Van(Chris Pang), o único familiar que cuida dela, já que ela é órfã. Que vive  controlando  os aplicativos do  relacionamento do seu celular. Violet chega a ter  um caso com um sujeito que ela conhece do trabalho, que a decepciona e ela reagindo com um piti dentro da lanchonete acaba sendo demitida.







Quanto ao Harrison, cuja característica é ainda de um rapaz imaturo  que não consegue se expor na rua, tem seus medos, suas manias,  desse trio ele é o único que não tem emprego, porém,  vem de  uma  base  familiar que  não é tão disfuncional quanto a de Jack e Violet. Cujos pais,  inclusive,  são muito ricos e  moram numa mansão. Poderia descrever, que desses três ele é o único privilegiado por ter uma base familiar sólida, coisa que os pobres coitados do Jack e da Violet não apresentam.






Porém, eu estaria sendo hipócrita de descrever dessa maneira, mesmo porque o Harrison não recebe tão constantemente a visita dos pais na sua residência  como ocorre com Jack que recebe a visita do pai e da Violet do seu irmão. Aliás só conhecemos  a família do Harrison lá pela metade da série  quando ele acompanhado da Mandy visita a mansão da sua família  e conhecemos também sua irmã.

Fora que também o Harisson lida com o preconceito capacitista e autistofóbico  ocasionado pela sua vizinha, mãe de um menino chamado A.J(Adam James Carrillo), que o impede de interagir a ponto de chamar a polícia.  Seria o mesmo que pensar que se o Harrison fosse preto, mesmo sendo rico, mascaria o racismo que ele pudesse sofrer.





A série é uma produção de Jason Katims, que mescla comédia com drama, contendo 8 episódios, baseada na série israelense On The Spectrum(Israel, 2018).

Com o elenco contando com o trio protagonista formado por autistas de verdade. Com Rick Glassman como Jack, Sue Ann Pien como Violet e Albert Ruteck como Harrisson,  em cena eles mostram um bom entrosamento e uma ótima química para representar o drama de seus personagens de uma forma bastante verossímil e realista, onde cada um aqui ao lidar ao seu modo  com superações típicas do espectro procuram enfrentar como a introversão por exemplo, a forma como eles retratam  não fica parecendo uma tentativa piega  de  parecer um engessamento de perfil heroico para eles criarem uma romantização sobre o autismo. Aqui eles não apresentam uma unidimensionalidade rasa, também tem suas outras camadas envolvendo os complexos dramas adultos.  Houve um momento em que dos três,  a Violet foi a que mais me preocupou inicialmente, pelo fato de que como era a única representação feminina do trio e tinha momentos que ela  demonstrava uma típica visão meio conto de fadas de querer encontrar um príncipe encantado e falando abertamente  do seu desejo sexual, aquilo chegou a me fazer parecer uma forçação de barra que poderia fazer ela cair na caricatura do  estereótipo racista da objetificação erótica da mulher oriental.  Porém, a maneira como sua interprete  Sue Nan Pien defendeu   foi me surpreendendo e evoluindo ao longo dos episódios após um lance que teve com um sujeito do trabalho, que a decepcionou após ela transar com ele. Do mesmo jeito que Rick Glassman como  o Jack e Albert Ruteck como  o Harrison foram também aos poucos evoluindo e mostrando suas outras camadas, principalmente ao lidarem cada um com a afetividade amorosa e desejo sexual.  





 Mesmo porque  é preciso levar em conta que no autismo mesmo há graus variados de dificuldades motoras, intelectuais e de comunicação. Onde de todo jeito o indivíduo sempre vai ser visto de uma forma banal e discriminatória  pela sociedade. Principalmente se o seu comportamento mesmo depois de adulto ser visto como eternamente  infantilizado de um sujeito assexuado, ingênuo e puro como um anjo azul. 




Porém, ignora-se a realidade crua e  mundana  que existem autistas que vivem em lares familiares disfuncionais e outros em família humildades que não tem condições de pagar tratamentos terapêuticos alternativos para seus filhos conseguirem evoluir. Dentro dos limites deles lógico. E esses tendem a caírem no caminho perigoso da criminalidade, quando você acha  que não, eu vi o noticiário de um menino autista de 10 anos que quase cometeu suicídio com tanta medicação que tomou por não aguentar o bullying na escola. Isto é muito preocupante.  Ou mesmo do menino autista assassinado pela mãe.





Além do trio protagonista, outros atores que compõe o núcleo de apoio e de grande importância para  os arcos narrativos de cada um do trio protagonista. Mostrando também outras camadas, que também não são unidimensionais. Joe Mantegna, famoso por fazer comédias, já tinha assistido criança na telona  ele fazendo o ladrão que sequestra um bebê em Ninguém Segura Este Bebê(Baby´s Day Out, EUA, 1994), na série defende brilhantemente o papel do Lou, homem viúvo, pai do Jack, sujeito que o tempo todo fica preocupado com ele, principalmente ao lidar com seu comportamento muito centrado demais, correto demais  ou muito irritadiço e como procura ser compreensivo, mesmo quando tem gente  da sua  própria família que o crítica por ele não saber como educa-lo. A forma como ele pincela o papel, em nenhum momento procura criar uma representação heroica de romantizar a figura que gente de fora cria muito da família dos autistas  de um pai guerreiro,   muito presente na vida do seu filho com necessidades especiais, que não abandona tal. Mas ele também mostra que como qualquer ser humano, vive  esgotado da vida, principalmente ao lidar com o drama da sua frágil saúde. O que deixa Jack desesperado, já que não consegue imaginar como vai ser lidar quando ele partir e não conquistar sua independência financeira. Além de Joe Mantegna, destaco também Chris Pang, representando o Van, irmão mais velho da Violet. O seu desempenho no papel é  admirável, principalmente na forma como ele pincela a figura de um irmão mais velho  que assume o grande desafio de ser a figura  paterna  e materna  da ingênua da Violet, depois de ambos ficarem órfãos e ele ficou encarregado de ser o tutor dela. Cuja relação nem sempre é perfeita, já que a maneira como ele a exageradamente a superprotege, principalmente em proibir os aplicativos de namoro dela,  faz ele as vezes parecer um babaca. Ele também não o apresenta com uma característica unidimensional, com um elogiado perfil heroico  que se espera de todo irmão mais velho. Mostra  também como ás vezes, ele vive esgotado emocionalmente em procurar   amenizar a barra da Violet, a ponto daquilo até afetar a sua relação amorosa com Selena(Vela Lovell), com quem ele namora no começo da história e ela resolve terminar com ele depois que a Violet compartilhou com ela um segredinho do encontro que ele marcou com um namorado para ter sua primeira transa. O que o deixa em desespero, já que outras mulheres com quem Van já namorou terminaram o relacionamento, justamente por conta da situação barra pesada que ele precisava lidar com a Violet. E nesse desespero todo, ele termina se envolvendo amorosamente com a Mandy, a cuidadora contratada pelas famílias do trio para servir como orientadora deles no apartamento onde dividem juntos.  A Mandy foi muito bem defendida pela Sosie Bacon, cujo desempenho no papel é elogiável. Principalmente em defender o papel de uma mulher que lida  com a difícil missão de orientar os três  jovens inexperientes da vida que vão dividir o mesmo teto das quais as família de cada um as contratou para isso, que carregam o estigma do espectro que é o autismo, uma característica invisível. Que não tem cara, mas mesmo assim  a hipócrita sociedade neurotipica fecha os olhos para a vida banal que o autista sofre. Algo no nível A Vida Como Ela é..., mas não no sentido rodrigueano.  




Ao mesmo tempo que Mandy  precisa lidar com os problemas pessoais com o seu marido que a vê pouco e entra num dilema de ao ser aprovada para ingressar numa faculdade se abandona ou não o trio. Apesar dela não figurar como a protagonista, ainda assim, ela assumi bem a função do arco narrativo  deles  ser uma fio condutora do telespectador ao transitar entre diversos personagens da série, não só entre o trio protagonista, mas também quando individualmente conversa com cada familiar e é com ela que conhecemos a família do Harrison.




A maneira como a série retrata o modo de vida social desse trio de jovens autistas dividindo o mesmo teto. Pode parecer para nós autistas brasileiros, um retrato fora da realidade, principalmente para os que assim  como eu que tenho Transtorno do Espectro Autista ainda moram na casa dos pais. Uma quase utopia.

Porém, dentro da realidade estadunidense isto é bastante verossímil, porque lá eles já tem esse hábito de dividirem casas para alugar, para terem com quem dividir os custos com gente que aceitem serem   seus inquilinos. Uma solução  que tem suas vantagens e desvantagens, principalmente nas dores de cabeça deles arrumarem como inquilinos gente de  mau caráter como os psicopatas apresentados na minissérie documental da Netflix Moradores Indesejados (Worst Roomate Ever, EUA, 2022). Desses vermes eu não tenho a menor pena.




Fora que o trio protagonista de jovens autista  também representam uma típica característica verossímil do costume familiar  estadunidense, ainda que não seja mostrado na série  de quando os  filhos vão crescendo, eles saem de casa e vão construindo suas próprias vidas sem a família presente. E o Harrison é o que mais simboliza essa característica, visto que sua família aparece pouco na série.




Digo isso pela própria experiência de quando eu hospedei há muitos anos  uma intercambista americana, estudante de Medicina na Universidade de Yale, que veio para estudar autismo. Onde seu campus não ficava localizado em sua cidade natal que era Chicago, onde lá ela dividia o dormitório com uma colega de quarto.




Mais ou menos para vocês entenderem o retrato que a série apresenta do trio protagonista de jovens autistas tem verossimilhança com a realidade do modo de vida social dos EUA. Coisa que aqui no Brasil não temos.

Acredito que se essa série fosse produzida no Brasil, com certeza muitas famílias de autistas que dirigem instituições que prestam auxílios pedagógicos alternativo aos autistas se indignariam, a ponto de acusarem essa produção de prestar um desserviço a causa ao    romantizar a representatividade do autista.

Principalmente por eles apresentarem o trio lidando com as  complexas abordagens sobre desejos sexuais e afetividades amorosas. Temáticas que já são tabus, mesmo para neurotípicos, imagine para o autista, cuja imagem assimilada ao estereótipo  dele  ser um indivíduo  de comportamento infantilóide já causa preconceito por acharem que isso é culpa da péssima educação familiar, e somados a sua  dificuldade de interação social e de comunicação, ás vezes quando se comunica usa de um vocabulário restrito com assuntos de seu interesse, aquilo   dá impressão dele ser visto como um sujeito ingênuo e  assexuado  o  que  já ocorreu quando uma novela da Globo  chamada Amor à Vida(Brasil, 2013-2014) causou ao mostrar uma jovem autista chamada Linda(Bruna Linzmayer) namorando e beijando um rapaz neurotípico que a pede em casamento. Isso gerou tamanha revolta entre muitos grupos de mães de autistas  aqui do Brasil que dirigem instituições respeitadas, por acharem aquilo muito fora da realidade e gerou uma repercussão negativa. Motivado justamente pela visão sociocultural aqui ainda ser muito conservadora cristã. Imagine se esse autista se descobrisse  um  LGBTQIA+ e resolvesse  fazer  uma cirurgia de mudança de sexo,  como ocorreu com um rapaz autista que conheço pelo Facebook que virou transsexual, e adotou um nome feminino. E ele não é um único caso, tenho  uma amiga fonoaudióloga que atende um autista que virou transsexual e que me compartilha como foi o processo psicológico dele se aceitar no novo corpo e de como as pessoas que o conheciam rapaz, se acostumarem com ele mulher, ela mesma confessa que demora a se acostumar a isso.

O que posso concluir de tudo isso  é o seguinte, o autismo ainda é visto como um grande tabu social, mesmo que hoje ajam meios de como se informar para conseguir um diagnóstico. Porém, diante de muitos fatores complexos que envolvem as diferentes camadas do espectro  é preciso tomar certos cuidados em relação a  rótulos ou mesmo a pré-julgamentos sobre os comportamentos sociais que eles tem.

Não podemos confundir o autista ter um repertório de interesse restrito na comunicação, com alguém com transtorno obsessivo compulsivo, ou com um cara stalker. Do mesmo jeito que não podemos confundir o fato do autista com suas características dificuldades de socialização, de que ele por não namorar é um sujeito assexuado. Mesmo porque até mesmo pessoas assexuadas se casam e tem filhos.

E nunca em hipótese alguma, podemos confundir o autista como pessoa supergênio, como nerd e principalmente como uma eterna criança ingênua que é um ser cheio de pureza.

Nenhuma dessas  rotulações ao autista vão mascarar o preconceito capacitista e a discriminação  autistofóbica sobre ele.

Termino aqui com um trecho de um poema de minha autoria que me descreve bem como é a minha sensação quanto ao meu espectro.

Eu sou autista?

Sou sim senhor,

Mas não sou nenhum santo, sou como qualquer pessoa dita normal, um sujeito cheio de virtudes e de defeitos. Sou um cara muito amoroso com quem gosto, ao mesmo tempo que sou grosseiro com quem vive me estressando. Me incomoda as vezes as constantes romantizações  sensacionalistas que fazem a respeito do meu espectro, principalmente quando sai  notícias de sites sobre a superação de alguém no espectro se saindo bem sucedido, numa faculdade ou mesmo no trabalho dentre outros exemplos para nos tornar espelhos para os outros. Para mim fica a falsa sensação de mitificação, como se nós fossemos os seres mais puros do mundo. O que para mim não diz respeito em nada.

 

 

“Eu sou autista?

Sou sim senhor,

Mas não me considero a pessoa mais insociável pela descrição estereotipada que me muita gente desses profissionais que trabalham com autismo tanto batem na tecla. 

 

Sou autista?

Sou sim senhor,

Diante de tudo isso que descrevi, posso concluir dizendo que o fato de eu ter o meu espectro, posso descrever simplesmente:

Eu sou autista.... mas não sou vira-lata.”

sexta-feira, 25 de março de 2022

RESENHA DO FILME THE BATMAN(2022)

MINHA VOLTA AO CINEMA COM THE BATMAN

Este texto contou com a colaboração de Dickson de Oliveira  Tavares, maior especialista em Batman do Rio Grande do Norte, que muito gentilmente aceitou o meu  convite para ler primeiro esse texto e fazer as checagens das informações. Meus sinceros agradecimentos Dickson.

 

 

Na tarde de domingo, 13 de março de 2022, fui conferir no Cinemark do  Shopping Midway Mall ao tão aguardado novo filme do Batman, The Batman(EUA, 2022).





Filme que marcou a minha volta a pisar numa sala de cinema, após dois anos dessa pandemia de Covid-19.

O último filme que eu vi numa sala de cinema foi do Sonic(EUA, 2020). Nas semanas que antecederam ao decreto da quarentena mundial, que por consequência fechou os cinemas.




Só agora eu arrisquei a voltar a ver um filme na tela grande depois que no ano passado tomei minhas duas doses de Coronavac e a terceira de Pfeizer.




Nesse dia ao chegar para enfrentar a enorme fila no Shopping Midway Mall, que estava grande para comprar o ingresso e próximo dali ao corredor em frente da  entrada da sala de cinema estava uma concentração enorme de jovens aglomerados  fazendo uma espécie de rolezinho. Não deu para ver direito. Porque depois que comprei o ingresso já estava bem em cima da hora  para o começo da sessão  que era de 17:30hs. Eu comprei meia-entrada  em espécie como pessoa com necessidade especiais, por ter o espectro autista e mostrei printado no meu celular os documentos das minhas vacinações de 2021 como são exigidos.




Foram longas três horas de duração mas que realmente compensou a minha  imersão naquela história.

Uma história densa com um clima bastante pesado como nunca vi antes. Principalmente no incrível trabalho técnico  do design de produção,  na direção de fotografia que explora bem as paletas de cores mais escuras e com pouca luminosidade, mesmo nas poucas  externas a luz do dia, aquilo bem defini a estética noir do filme.




Servindo também para caracterizar a atmosfera sombria da Gotham Citty, uma cidade  poluída, corrupta, dominada pela criminalidade. Onde até mesmo a polícia é comprada pelos poderosos  mafiosos.  Ou seja, uma terra sem lei.




A direção do Matt Reeves está de parabéns e também de toda a sua equipe envolvida na produção, em proporcionar uma história de um Batman mais diferencial do que nos nunca tínhamos visto no cinema que é o lado mais detetivesco do herói.  Cujas bases foram as histórias das HQs Batman: O Longo Dia das Bruxas, Batman: Ego, Batman: Ano Um e das publicações dos  anos 1970 de Neal Adams.




Produção que passou por muitos percalços, principalmente por causa da pandemia, que causou o adiamento da sua data de lançamento, inicialmente previsto para 2021. Mas por consequência  do vírus desgraçado, que fez a produção ficar paralisada após o decreto da quarentena mundial e com   parte da equipe contraindo a Covid-19.

No entanto, a espera compensou, estava uma grande expectativa por esse filme.




Principalmente para avaliar o desempenho do Robert Pattinson, o eterno astro da franquia  Crepúsculo(2008-2012),  desempenhando o papel do icônico herói da DC Comics. Que ninguém botava muita fé na sua atuação, eu mesmo confesso que  sou dessas pessoas.




Humildemente confesso que quebrei a cara ao ver o amadurecimento profissional dele em cena.

Ele realmente mostra uma entrega ao personagem, ficou  sensacional.




Nesse filme, sua história gira em torno do herói investigando a série de bizarros assassinatos, onde em todos são deixados umas cartas destinadas ao Batman com enigmas para serem decifrados. Sem querer entregar spoilers a quem não ainda viu o filme, porém, aqui no caso desde o princípio já fica estabelecido que todas essas mensagens insanas são de autoria de um ser psicótico chamado Charada(Paul Dano).




A cada  nova vítima que o Charada faz, aparece uma mensagem enigmática direcionada para o Batman quebrar a cabeça para tentar  decifrar qual a motivação do Charada e entre essas mensagens o levará ao Pinguim(Collin Farrell) e a Mulher-Gato(Zoe Kravitz).










E caberá ao nosso herói, junto com a polícia de Gotham,   comandada por James  Gordon(Jeffrey Wright) a correrem contra o tempo para impedirem o diabólico plano mirabolante do Charada de provocar o caos na cidade.





Além do desempenho do Robert Pattinson com seu rosto sério e um tanto apático  me surpreender bastante como o Batman e ele mostrar sua evolução, que ficou ainda mais crível na voz dublada pelo Wendell Bezerra, eterno dublador do Goku de Dragon Ball, que aqui imprimiu toda uma sutileza de representar um herói com suas camadas mais sérias, mais soturnas e com toques de elegância tanto ao protagonista como Bruce Wayne e quando ele se torna o Batman, melhor ainda.

Outro ponto que posso elogiar muito dessa obra foi como o roteiro soube   nos introduzir a nova Gotham Citty para outro público já estabelecida com  os personagens bem desenhados  dentro daquele universo.  Sem precisar de usar de didatismo de nos explicar como o Batman surgiu? O  que motivou Bruce Wayne a virar o Batman? E de como seus vilões foram concebidos? Aqui ficou cada macaco no seu galho.

Do mesmo modo que nos poupou de nos introduzir a três vilões, que não são inéditos no cinema. Já que tanto o Charada, Pinguim e a Mulher-Gato, já tiveram suas históricas primeiras representações no audiovisual   desde a clássica e divertida  série camp dos anos 1960.



Onde a Mulher-Gato foi representada por duas atrizes, primeiro por Julie Newmar  na primeira temporada e depois pela cantora Eartha Kitt(1927-2008) na temporada final. Isso sem contar com a participação de Lee Meriwetther no filme de 1966, inspirado na série com o mesmo elenco.




O Pinguim foi representado por Burgress Meredith(1907-1997) e o Charada foi revezado por  Frank Gorshin(1933-2005) na primeira temporada e por John Astin na temporada final. Passando pelas representações de Michelle Pfeiffer(Mulher-Gato) e Danny DeVito(Pinguim) em Batman-O Retorno(Batman Returns, EUA, 1992).

 E Jim Carey foi responsável por representar o Charada em Batman Eternamente(Batman Forever, EUA, 1995).






       Halle Berry, famosa pela Tempestade na franquia dos X-Men(2000-2019), fez a  Mulher-Gato ao protagonizar o seu esquecível filme solo  lançado em 2004. A famosa gatuna voltou a ter outra representação em Batman-O Cavaleiro das Trevas Ressurge(The Dark Knigth Rises, EUA, 2012), onde ela foi representada por Anne Hathaway.




          Na série de TV Gotham(2014-2019), voltamos a ver esse trio, que coube a Camren Biocondova representa-la adolescente na mesma faixa etária do jovem Bruce Wayne(David Mazouz).

              O Pinguim foi representado por Robin Lord Taylor e o Charada por Cory Michael Smith.





              Do mesmo jeito que o Batman ao longo da história do audiovisual, sendo que a primeira vez por incrível que possa parecer não foi na clássica série de TV nos anos 1960.  Produzida por William Dozier(1908-1991),  caracterizada por apresentar   o Batman galhofa,  fora de forma e um tanto  brega, que  foi representado por Adam West(1928-2017).

            Mas sim em duas produções de cines séries exibidas nas sessões matinês de cinema dos anos 1940. Muito comum na época, onde eram exibidos em curtas-metragens. O primeiro a representar o Batman nesse formato foi Lewis Wilson(1920-2000), em 1943.  Anos depois houve outra produção de Batman no cinema nesse mesmo formato, lançado em 1949. Onde quem o representou foi Robert Lowery(1913-1971).



              Seguindo de Michael Keaton nos dois filmes: Batman(EUA, 1989) e Batman-O Retorno(Batman Returns, EUA 1992) do diretor Tim Burton. Val Kilmer em Batman Eternamente(Batman Forever, EUA, 1995)  e George Clooney em Batman & Robin(EUA, 1997), esses  dois dirigidos por Joel Schumacher(1939-2020), que figuram entre os mais odiados pelas comunidades de fãs do Batman. 




             Em seguida veio Christian Bale, protagonizando o Morcego na trilogia de filmes do Christopher Nolan formada por Batman Begins(EUA, 2005), Batman-O Cavaleiro das Trevas(The Dark Knight, EUA, 2008) e Batman-O Cavaleiro das Trevas Ressurge(The Dark Knight Rises, 2012).






        Ben Afleck foi a última até agora representação do herói em Batman Versus Superman: A Origem da Justiça (Batman V Superman: Dawn of Justice, EUA, 2016) e na Liga da Justiça(League of Justice, EUA, 2017).

         Até chegarmos finalmente a Robert Pattinson na mais nova encarnação do Morcego na tela grande.

          Não só Pattinson ficou excelente como o protagonista. Como também boa parte do elenco principal que compõe a obra. Cada um brilhando.

              Começando por Paul Dano, que está  excelente na pele do Charada.  Dá um show de atuação. Seu desempenho no papel ao moldar o nível do  desequilíbrio mental do personagem para causar o caos em Gotham Citty ficou crível. Ele consegue segurar o filme em suas três horas de duração como a ameaça central ao depois de assassinar  uma pessoa, deixar suas enigmáticas frases destinadas para o Batman decifrar que criou o nível de terror psicológico pelo ar mais atmosférico da ameaça. Remetendo bem a pegada do suspense do filme Seven-Os Sete Crimes Capitais(Seven, EUA, 1995) e também no infame serial killer Zodíaco, que inspirou o filme de 2007.    O cantor  brasileiro Supla, tem uma canção sobre o  Charada que  pode exemplificar o seu perfil insano:

“CUIDADO COM O BOTE

O BOTE DO CHARADA

ELE NÃO LIGA PRA NADA

E ESSA É MINHA MARCA

OS POLÍTICOS QUEREM ME PEGAR

E OS GANGTERS ME CONTRATAR

MAS EU TÔ COM O PÉ ATRÁS

TANTO FEZ COMO TANTO FAZ

CHARADA, BRASILEIRO

CHARADA, FUNDAMENTAL

CHARADA, SUICIDA

SERÁ QUE VAI MUDAR SUA VIDA?”

(Música: O Charada Brasileiro. Autor: Supla).

          Mais incrível mesmo  é a sua caracterização usando um capuz verde com um tom de voz grave quando aparece fazendo seus vídeos ameaçadores onde atrai muitos seguidores em suas redes sociais. Refletindo a atual  geração do  influencer digital, e sua visão de  agente do caos.




            Serão essas enigmáticas mensagens de cartas  do Charada deixadas nas suas vítimas, que vão servir como fios condutores para o Batman ao longo do fluir da  narrativa chegar aos outros vilões que compõe o filme, e com suas subtramas,  entre eles o  Pinguim, muito bem defendido por Colin Farrell, cujo trabalho incrível da caracterização da maquiagem grotesca que o deixou irreconhecível, contrastando com o seu rosto bonito de galã. Isso   ajudou ele a compor a feiura do personagem simbolizado  no seu caráter podre, de sujeito tipicamente verme,  nojento, vil, mesquinho, ordinário, canalha,  indivíduo cuja personalidade o torna bastante detestável por assim dizer.  O curioso que ele já havia representado outro vilão em filme de super-herói, que foi o Mercenário em Demolidor: O Homem Sem Medo(Daredevil, EUA, 2003). Cujo herói foi ironicamente protagonizado por Ben Afleck. O mesmo que viraria o Batman anos depois.




        Não só o levará ao Pinguim, como também a Mulher-Gato, muito bem defendida pela Zoe Kravitz. Aqui ela se interliga com o Pinguim, pois mostra a famosa gatuna que desperta a libido sexual do Batman como uma espécie de garçonete ou mesmo stripper do bar administrado pelo Pinguim que é o sócio do temido mafioso Carmine Falcone(John Turturro).




       Ela que também já havia participado de outro filme do gênero super-herói que foi em X-Men: Primeira Classe(X-Men: First Class, EUA, 2011), representando a mutante Angel. Defendeu aqui de forma magistral a personagem, que sempre simbolizou aquele perfil dúbio, de não ser boa, nem má. Fica no meio termo, que desperta a loucura da paixão do Batman, ainda mais por carregar uma atraente e sensual beleza, com aqueles toques característicos de sexy appeal.

             Que junto ao Pinguim e ao Charada que estão nesse filme, compõe a leva clássica dos vilões do Batman que surgiram nos anos 1940, ou seja,  em sua primeira década de existência.




                 Um fato curioso sobre a gatuna, é que nos quadrinhos houve um período em que ela precisou entrar num hiato de 12 anos sem aparecer nas histórias. Isso ocorreu como consequência do surgimento do Comics Code Authority*, um órgão fiscalizador de censura dos quadrinhos.





                     Ele surgiu em 1954, depois que o psiquiatra Fredric Wertham(1895-1981), um alemão naturalizado americano, com sua carreira na psiquiatria bem consolidada nos EUA, publicou o polêmico livro A Sedução dos Inocentes, onde criticava a publicação dos gibis de super-heróis pelo aumento da delinquência juvenil nos EUA, baseado no atendimento a seus pacientes, representado a maioria por garotos que liam estes gibis. Antes de publicar o livro condenando os heróis, ele já era um sujeito  conhecido publicamente por essa sua postura crítica aos gibis de  super-heróis, isso porque desde  1948 ele já  escrevia artigos em colunas de jornais condenando a má influência das publicações das revistas de super-heróis.





                     Com o surgimento do Comics Code Authorithy, que passou a fiscalizar e censurar as publicações de super-heróis, controlando os conteúdo pesados que envolviam violência e apelos eróticos. E o Batman era o alvo principal do Wertham porque ele suspeitava que o herói fosse gay, por causa da sua aproximação com o Robin. E a visão do  comportamento LGBTQUIA+ na conservadora sociedade americana dos anos 1950, era vista como uma doença, um desvio de conduta, de psicopatia, caso de cadeia.  E como não ficava bem ele ficar tendo um romance com uma bandida,  e os roteiristas para poderem se adequar as imposições desse  órgão fiscalizador  de censura, onde eles só podiam distribuírem para vender nas bancas de jornais com o selo do CCA, então optaram por trabalharem umas histórias divertidas do Batman sem a Mulher-Gato aparecendo. O que mudou graças ao seriado de TV dos anos 1960. Em que ela retornou as HQs.




               Também não posso esquecer de mencionar os nomes  de John Turturro que está excelente na pele do ganancioso e  inescrupuloso mafioso Carmine Falcone, ele nessa trama vai apresentar uma forte relevância para o desenvolvimento do  arco da Mulher-Gato.  





                  Outras menções de elenco vão para Andy Serkis, conhecido por representar personagens em captura de movimento como o Gollum na franquia O Senhor dos Anéis(2001-2003), e fez o vilão Garra Sônica em dois filmes do MCU que foram Vingadores: Era de Ultron(Avengers: Age of Ultron, EUA, 2015) e em Pantera Negra(Black Panther, EUA, 2018). Está magnifico representando o Alfred Pennyworth, famoso mordomo de Bruce Wayne que sabe do seu segredo como Batman e que simboliza a figura paternal por ser o seu tutor. De uma forma diferente, com um ar até jovial  de meia-idade para compatibilizar com o Bruce Wayne representado por Pattinson que tem 35 anos. O que pode não aparentar pela cara de moleque de 25 anos.  Personagem muito importante dentro da mitologia do Batman, que o acompanha desde primeira adaptação para o cinema em 1943, mesma data da sua estreia nos quadrinhos. Onde o primeiro ator a representa-lo foi o inglês William Austin(1884-1975), cuja maneira como ele imprimiu um tom  de refinamento e de bom trato,  com características britânicas ao mordomo fez ele  ficar com esse toque de gentil lorde.   No  filme seguinte lançado em 1949, quem representou Alfred foi outro inglês  Eric Wilton(1882-1957).  Mas só foram duas décadas depois  na popular e clássica série de TV dos anos 1960, onde o Alfred, representado pelo também inglês  Alan Napier(1903-1988), ficou mais conhecido de grande parte do público,  ele conseguiu incorporar um mordomo menos sisudo, e mais divertido. Pode-se dizer que ele conseguia transmitir bem a característica do mordomo mais idoso, Napier já estava com 66 anos e  com os cabelos grisalhos. Ele  batia com a idade que West estava na época com 37 anos  ao protagonizar o Bruce ao  representar o herói já não mais  jovem, mas o homem com porte de garanhão  e assumindo a tutoria do Dick Grayson/Robin(Burt Ward).






E dessa forma nos acostumamos quando  o famoso mordomo do Batman foi representado por Michael Gough(1916-2011) na quadrilogia de filmes do Batman de Tim Burton e Joel Schumacher, onde ele desde o primeiro em que representou com Michael Keaton no papel principal, estando na época com 72 anos, correspondendo a idade que Keaton estava na época que estrelou o primeiro com 37 anos, também correspondendo a idade de Val Kilmer que no único filme de Batman que protagonizou em Batman Eternamente estava com 35 anos e George Clooney que em Batman & Robin estava com 36 anos. Ambos representavam o Bruce  com aquele típico  perfil de playboy garanhão. Na trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan, o Alfred foi representado pelo também inglês Michael Caine, que também o  incorporou com esse mesmo perfil idoso para corresponder ao perfil de Christian Bale, o protagonista daquela trilogia que estava com 29 anos e Caine estava com 71 anos. Na série Gotham, o personagem representando pelo também inglês Sean Pertwee, que estava com 50 anos quando  o representou não era tão idoso quando o representou, mas,  estava na meia-idade, para corresponder ao garoto David Mazoz que  estava com apenas 13 anos quando representou o Bruce Wayne adolescente.  Já nos filmes da linha Zack Snyder, protagonizado por Ben Afleck, Jeremy Irons também inglês representou o Alfred em Batman Vs Superman com 67 anos, correspondendo ao Bruce de Afleck na meia-idade com 42 anos.  E no filme do Coringa(Joker, EUA, 2019), o mordomo também apareceu o representando pelo também inglês Douglas Hodge na meia-idade com 58 anos acompanhando  o Bruce Wayne pequeno. Onde inclusive algumas características da desmistificação dos Wayne do filme do Coringa simbolizados como família perfeita, também foram trabalhadas em The Batman.








            E para fechar a menção ao elenco, destaco a participação de Jeffrey Wright como o policial James Gordon, personagem importante da mitologia do Batman, aquele que simboliza o único policial de Gotham a quem o Batman confiava para  manter  um contato dele ser  seu informante. E o acompanha desde sua primeira edição nas HQs.  Nesse filme o ator defendeu bem ele representado como afro-americano e com um aspecto mais jovial e vigoroso para encarar a ação, bem diferente das outras representações de atores brancos, sempre o representando como um cara já idoso com cabelos grisalhos, para mostrar o peso da experiência na polícia para poder ocupar aquela  importante patente  de comissário.  






O primeiro registro de ator a representá-lo no cinema foi Lylle Talbot(1902-1996), no filme do Batman, cinesserie de 1949. Mas o que ficou mais lembrado  mesmo no papel foi Neil Hamilton(1899-1984), no clássico seriado de TV dos anos 1960, onde eternizou o papel com esse perfil de homem mais idoso, já que Hamilton na época estava com 66 anos quando assumiu o papel na primeira temporada. O mesmo também ocorreu em relação a Pat Hingle(1924-2009), que representou o mesmo personagem na quadrilogia do Batman  de 1989-1997, com um bigode e um tanto fora de forma. Hingle estava com 64 anos quando representou o personagem no primeiro filme. Já o britânico  Gary Oldman, quando o representou na trilogia do Nolan(2005-2012), imprimiu um toque mais jovial e até mais vigoroso, já que quando ele representou o personagem em Batman Begins, ele estava com 46 anos. Onde ele correspondia a idade de Christian Bale estava na época. Onde aqui pela primeira vez fomos mostrados a ele começando no cargo de  tenente e virando comissário no filme seguinte. Em seguida, foi a vez de Ben Mackenzie o representar no seriado de TV Gotham, onde aqui ele representou o Gordon jovial, o ator estava na época com 36 anos quando fez a primeira temporada, que correspondia a representação do Bruce Wayne adolescente,  numa história que mostra uma visão de Gotham Citty Pré-Batman, onde o Gordon assumiu o protagonismo virando  o fio condutor da história, principalmente por ele transitar entre os diferentes núcleos que eram espalhados na cidade. Desde os policiais de seu departamento, passando a trabalhar em campo investigando os pontos  dos mafiosos, visitando  a mansão do Bruce Wayne enfim. Antes de Wright, houve a representação de J.K. Simmons, o eterno J.J. Jameson da trilogia clássica do Homem-Aranha de 2002-2007, que representou o papel do Gordon na Liga da Justiça com aquela visão mais experiente, idosa. Já que Simmons estava com 62 anos.





           Diante de tudo isso, posso constatar como o Batman em toda a sua história tem uma grande relevância para a cultura pop. Ele mesmo já tendo outras adaptações para cinema, ainda assim não deixar de ser empolgante ver um novo filme do herói.  





                 É meio difícil explicar qual razão dele atrair uma legião de fãs a cada nova geração, e especialmente me atrair. Provavelmente uma das explicações pode estar nele trazer uma típica característica do arquétipo campbeliano** do órfão,  que tem em todos os heróis. Talvez como uma forma de entendermos suas motivações para virarem vigilantes mascarados, ainda que isso não romantiza o drama deles viverem solitariamente sem pais, ainda mais no caso mais barra pesada do protagonista ter presenciado criança  os seus  pais morrerem na sua frente quando sofreram um assalto num beco a noite. Juntando também ao fato dos seus criadores Bob Kane(1915-1998) e Bill Finger(1914-1974), quando o conceberam para a revista Detective Comics em 1939, se inspiraram no momento em que os EUA estava vivendo um período conturbado durante a década de 1930 em que após a Crise da Bolsa de Nova York em 1929,  houve um grande aumento de desemprego, e como consequência disso houve também o alto índice de criminalidade e com o surgimento da Lei Seca, houve um predomínio das atividades  das máfias em diferentes estados americanos, comandando o dinheiro sujo, que gerou uma forte guerra por território. E o Batman veio como essa representação escapista da situação que o cenário americano dos anos 1930 vivia. Fora também as inspirações cinematográficas, como do próprio Batman  ter inspiração no filme The Bat(EUA, 1926), onde nessa obra do cinema mudo mostrava o protagonista assaltante fantasiado de Morcego. Do mesmo jeito em relação ao Coringa que foi inspirado no palhaço Gwyplaine, protagonista do filme mudo O Homem Que Ri(The Man Who Laughs, EUA, 1928), e a Mulher-Gato inspirada na atriz  Jean Harlow(1911-1937). 




              Em todas as comunidades de fãs de quadrinhos, que eu acompanho como do Cuscuz HQ ou mesmo do HQFã por exemplo,  há gente que ao não gostar do Batman, argumenta que ele apesar de não ter superpoderes, é distante da realidade por causa da sua  condição social de playboy milionário, filantropo, garanhão, elegante, refinado, que pode se utilizar de muitos apetrechos tecnológicos e simbolizado como um sujeito elitista. E o colocam num comparativo ao Homem-Aranha da Marvel, que também é um vigilante mascarado, que mesmo com superpoderes, está mais dentro da realidade por representar um pouco cada um de nós, numa figura como Peter Parker simbolizando um jovem  de classe média suburbana, cuidado por uma tia viúva que lida com alugueis e lida com  problemas comuns. Eu não tiro as razões para este argumento, porém, é necessário a gente ter em mente que quando o Homem-Aranha foi concebido pelo Stan Lee(1922-2018), para ser publicado na edição da Revista Amazing Fantasy em 1962, e vai completar 60 anos agora em 2022,  o personagem surgiu 23 anos após  o Batman, em um contexto completamente diferente. Enquanto que a dupla Bob Kane e Bill Finger ao criarem o  Batman no final da década de 1930, ele refletia uma simbologia de escapismo ao cenário social dos EUA, Pré-Segunda Guerra Mundial estava enfrentando uma guerra interna com os  mandos e desmandos dos gangsteres. E o  Batman simbolizava junto com o Superman e a Mulher-Maravilha uma representação divina dos heróis da Era de Ouro dos Quadrinhos. Onde eles eram equivalentes a deuses e estavam imunes de falhas. Já quanto ao Homem-Aranha, quando ele foi criado não só pelo Stan Lee, mas também por Steven Ditko(1927-2018) no começo dos anos 1960. O personagem foi concebido num contexto completamente diferente, onde aqui a  representação escapista do Cabeça de Teia, Amigão da Vizinhança, refletia um conceito diferente de construção de herói onde eles representaram realisticamente  seres humanos imperfeitos,  com falhas. No caso especifico do Cabeça de Teia, ele  era  representado por Peter Parker, um adolescente nerd, morador de subúrbio, órfão criado por sua  tia viúva, amante da ciência,  introvertido, que vivia sofrendo bullying na escola, a típica figura  do azarado que contraiu o superpoder sobre-humano de escalar paredes, e sentir um sexto sentido do sensor aranha. Um poder contraído ao ser picado por uma aranha radioativa de laboratório, que refletia bem a paixão de Stan Lee pela ciência, e também o momento em que o mundo se encontrava em pânico de a qualquer momento ocorrer uma guerra nuclear. Trazer um herói como o Homem-Aranha representado por um adolescente foi considerado uma revolução na época, pois até então os heróis adolescentes eram simbolizados como siderkicks(ajudantes), e o Robin do Batman simbolizava bem isso. Fora que também a gente não pode esquecer que o Batman simbolizado na figura de um milionário como Bruce Wayne, ele apesar de viver uma vida privilegiada, morando em uma mansão, tendo um mordomo como serviçal,  e vivendo como um playboy garanhão, que frequenta as glamorosas festas das alta sociedade,  ainda assim ele simboliza o drama real da pessoa que cresceu solitariamente traumatizado como órfão ao testemunhar seus pais morrerem num assalto. E foi isso que o motivou a criar o manto do Morcego, como vigilante mascarado  que simbolizava o medo dele na infância.  É bom quem costuma colocar esse argumento ao comparar o Batman com o Homem-Aranha, favorecendo o Homem-Aranha pela sua condição social. É bom lembrarmos  que antes de tudo, o Batman é fruto de sua época, e ele reflete a época onde foi criado duas décadas antes do Homem-Aranha.







             O que posso concluir de tudo isso é que independentemente de quando  tiverem  novas produções do Batman no cinema, de todo jeito ele sempre vai despertar o interesse de ser visto e atrair novas gerações de fãs.

 

 

*O selo de censura  do órgão  da Comics Code Authorithy nas publicações das revistas de super-heróis nos EUA, permaneceu ativo por 57 anos. Ele só foi extinto em 2011.

**O autor quis se referir ao conceito formulaico da Jornada do Herói,  do estudioso americano Joseph Campbell(1904-1987). Autor de diferentes livros sobre mitos, lendas de diferentes civilizações com seus heróis. Que serve como norte para os criadores de histórias ficcionais, pegando naqueles arquétipos. Onde o mais comum é o do órfão.