quarta-feira, 15 de outubro de 2025

A DOCÊNCIA REPRESENTADA NO FILME AO MESTRE, COM CARINHO.

 

15 de Outubro,  é a data  em que lembramos a figura do profissional que mais ajuda a formar a base para todas as profissões e que em nosso Brasil recebe o salário mais medíocre em comparação aos mega salários dos magistrados e dos deputados de tão desvalorizado como é o professor.

E aproveitando esta data que comento sobre uma obra  que exemplifica bem  o protagonismo  da profissão de docente sob diferentes óticas.  O  filme em questão trata-se de  Ao Mestre, Com Carinho(To Sir, With Love, Reino Unido,1967).




Ao Mestre, Com Carinho  trata-se de um filme britânico cujo roteiro foi inspirado numa semiautobiográfia homônima de autoria de Edward Ricardo Braithwaite(1912-2016) ou como costuma assinar E.R. Braithwaite.  




Neste filme dirigido e escrito por James Clavell(1921-1994) onde  carrega uma interessante  abordagem bem atemporal criando  um traço típico da rotina dura que envolve a realidade de  todo e qualquer docente quando é mandado para lecionar em uma escola num bairro como a  periferia londrina retratado no filme, bastante barra pesada, onde os jovens representam em sua maioria gente de comportamento problemático em consequência das suas desestruturas familiares. 

 O saudoso Sidney Poitier(1927-2022)  é o responsável  por protagonizar no papel de Mark Thackeray,  um imigrante da Guiana Inglesa  cujo principal objetivo de trabalho  ao chegar em Londres não era para lecionar numa escola secundária, era na verdade para trabalhar como engenheiro elétrico de uma importante firma.  Inicialmente ele só aceitou este emprego com o intuito de preencher o seu  tempo e esperar o momento certo de receber uma correspondência da empresa avisando que foi aceito.  



Ele sem nenhuma base docente vai assumindo a dura missão de ensinar  uma turma bem anárquica que fazem de tudo para testar sua paciência, até chegar a um ponto que ele resolve adotar a postura de fazer os alunos se comportarem como verdadeiros adultos  aprendendo coisas do dia-a-dia, alguns gostam, outros não,  alguns colegas docentes não se mostram muito contentes com suas metodologias, entre acertos e erros ele conseguiu receber um feedback positivo de todos numa confraternização dedicada a ele onde uma de suas alunas Barbara “Babs”Peggs(Lulu)  lhe presta uma homenagem cantando a música-tema do filme.  



E desse jeito na cena final do filme é mostrado Thackeray rasgando o papel da firma onde ele aceito para trabalhar como engenheiro elétrico e resolve permanecer ali como docente  e lecionar para a turma seguinte. 




Em Ao Mestre, Com Carinho  o Professor Thackeray defendido com segurança por Sidney Poitiers representava bem a figura de um imigrante guiano recém-chegado à Inglaterra, ainda por cima sendo um negro cujo objetivo primeiramente era para trabalhar como engenheiro elétrico numa companhia de eletricidade, ele estava esperando a resposta da empresa para emprega-lo enquanto assumia a vaga temporária  de professor numa escola pública  da periferia londrina formada em sua maioria por jovens brancos, que vinham de uma realidade barra pesada. Com suas famílias desestruturadas, e que por este motivo se comportam de forma transgressora promovendo a rebelião que deixa qualquer professor desmotivado, além de lá receber quase nenhuma verba e incentivo do governo.




Serão estes alunos, especialmente o  Denham(Christian Roberts) e a Pam(Judy Geeson)  que vão constantemente desafia-los em diferentes situações até chegar ao ponto dele tomar umas atitudes drásticas, ás vezes sem contar muito com o apoio da própria coordenadoria.




 Onde tem professores que já se sentem muito desmotivados e a única pessoa com que ele recebe apoio é com a Professora Gillian Blanchard(Suzy Kendall), por quem nota-se sutilmente ele sentir uma paixão. Que no final mostra-se recompensador.

 A abordagem do mote  desse filme consegue ser bastante atemporal e bem envelhecido, mesmo com sua estética e seu texto muito datado, principalmente com as constantes gírias dos diálogos dos  alunos e estes trajarem vestimentas e cortes que simbolizam o modismo da época, influenciado por elementos da pop art, da contracultura, do psicodelismo do movimento hippie e o próprio ritmo musical tocado na trilha do filme também simboliza este elemento datado, mas de todo jeito consegue ser atemporal. 




Além de contar com Sidney Poitiers, o filme também conta em seu elenco, dentre as menções vale destacar a presença da  cantora Lulu, a grande estrela pop da música  britânica que chegou a ser casada com o astro da música  Maurice Gibb(1949-2003) membro dos Bee Gees*,  representa no filme  o papel da Babs, ela também é responsável por cantar a trilha musical da canção-tema cujo título é To Sir, With Love**, também o título original do filme. Ela também comporia a canção para outro filme anos depois que foi em 007 Contra o Homem da Pistola de Ouro(The Man With The Golden Gun, Reino Unido, 1974), filme que compõe a franquia do espião James Bond, o único com licença para matar.




Também mencionar a participação de Judy Geeson, que no filme representa bem o papel da Pamela Dare, uma das alunas de Thackeray, ela se destaca por ser a mais provocadora da turma e vive tirando a paciência de Thackeray, mas depois passa a defende-lo. Em alguns momentos, ela parece transparecer nutrir implicitamente uma certa atração sexual reprimida por ele, algo que mesmo hoje em dia soaria muito estranho  a maneira explicita de um professor assediando sexualmente sua aluna.  

Outro do núcleo dos alunos que se destaca é Christian Roberts(1944-2022), que representa bem no filme o papel do Denham, o garoto mais problemático da turma de Thackeray. E Anthony Villaroel que faz um brilhante desempenho como Seales,  numa cena onde aparece sozinho no corredor da escola chorando pela morte do pai e é acolhido por Thackeray.




Já no núcleo dos professores, mencionar a atriz Suzy Kendall que faz um brilhante desempenho como a Gillian Blanchard, que é a única que se mostra apoiadora de Thackeray enquanto que boa parte da direção da escola  faz meio que vista grossa para ele. Nas suas interações fica bem implícito um romance interracial bem nas entrelinhas, algo que para a época seria impensável de mostrar explicitamente.   

Mencionar também a participação de  Geofrey Bayldon(1924-2017) que brilhantemente representou  Theo Weston, o professor que  em toda a reunião era muito resmungão, vivia reclamando de tudo, se mostrava o mais descontente com tudo,  também mencionar a participação de Patrícia Routledge(1929-2025) como a tagarela da coordenadora Clinty Clintdge, Edward Burnham(1916-2015) como o diretor Florian, Faith Brook(1922-2012) como Grace Evans dentre outros.




E mencionar a participação da banda The Mindbenders, que toca as canções no salão de festa da turma e tocam o repertório da sua  trilha sonora  e são a banda de apoio que mostra a cantora cantando a canção tema do filme.

Quase 30 anos depois, foi lançado uma continuação que foi Ao Mestre, Com Carinho II (To Sir, With Love II, EUA, 1996), essa uma produção americana  que contou com a direção de Peter Bogdanovich(1939-2022), com Sidney Poitiers representando novamente o papel de Thackeray e dessa vez lidando com uma turma na periferia  americana.




Posso concluir sobre Ao Mestre, Com Carinho, apesar dele mostrar uma representação um tanto romantizada sobre a docência, com aquele perfil quase heroico ele não deixar de ser relevante em mostrar os desafios que envolve trabalhar nessa profissão que forma todas as profissões, mas que é vista de uma forma um tanto desprestigiada, ainda mais quando existe parlamentares da extrema-direita que insistem em comparar professor a bandido, sendo eles piores que traficantes.


*Quase dez anos depois de Maurice Gibb falecer, faleceu outro membro da banda que foi Robin Gibb no dia 20 de Maio de 2012, aos 62 anos, após enfrentar uma longa batalha contra o câncer. Atualmente, Barry Gibb que em 2026 vai completar 80 anos figura como o único membro vivo do conjunto que ele formou com seus dois irmãos.

**Anos depois, a canção do filme ganhou uma versão brasileira que foi primeiramente gravada por um grupo chamado Os Abelhudos em 1989. Mas ficou mais conhecida pela gravação feita pela então celebre apresentadora infantil Eliana. Que fez parte primeiramente do seu álbum É Dez, lançado em 2002. Ela mesma regravou dez anos depois em 2012 para a trilha da novela infantil Carrossel, como tema da Professora Helena. Nessa versão, a produção contou com o envolvimento de Arnaldo Saccomani(1949-2020).


sábado, 4 de outubro de 2025

40 ANOS DO FILME COMANDO PARA MATAR

 

No dia 4 de Outubro de 1985, estreava nos cinemas o cultuado filme de ação Comando Para Matar(Commando, EUA, 1985).




Comando Para Matar trata-se de uma produção da 20th Century Fox  que contou com a direção de Mark L. Lester, com roteiro de Joel Silver,  Steven E. de Souza e Jeph Loeb.





Estrelada por Arnold Schwarzenegger, protagonizando o aposentado Coronel John Matrix, que estava vivendo  uma vida pacata numa casa localizada em uma  região serrana ao lado da filha Jenny(Alyssa Milano), quando tem seu sossego interrompido pela presença da cavalaria  do General Franklin Kirby(James Olson) que veio lhe informar do assassinato de três de seus homens que foram combatentes em conflitos que ele participou pelo mundo, fosse na Síria, Vietnã enfim.




Antes de partir, Kirby deixa dois dos seus homens de vigilância na casa de Matrix, que horas depois são atacados por grupo de mercenários que sequestram ele  e sua filha, que para sua surpresa a pessoa por trás desse sequestro é o ex-ditador de Valverde Arius(Dan Hedaya) que contou com a colaboração de Bennett(Vernom Wells) seu ex-subordinado do Exército que forjou a própria morte para entrar no esquema da vingança de Arius.




Usando sua filha Jenny como refém para que fosse a Valverde e matar  o atual Presidente Velásquez, que não aparece é só mencionado, que ele havia ajudado a botar no poder tirando  Arius.

   E a partir daí que começará a jornada de Matrix para correr contra o tempo para providenciar muita munição eliminando na força bruta gente que tente impedir  no seu caminho para chegar a Valverde enfrentando sozinho o exército numeroso de Arius que o protegem em sua mansão e encarar seu acerto de contas com Bennet.




 

Esse é aquele  típico filme de ação estrelado por Arnold Schwarzenegger,  astro do fisiculturismo que junto com Sylvester Stallone passaram a figurar como os machões brucutus dos filmes de ação.



Schwarzenegger na ocasião que estrelou o filme já tinha firmado o seu nome no mercado hollywoodiano, já fazia um bom tempo que ele vinha sonhando em fazer carreira em Hollywood desde que saiu de sua terra natal a Áustria e  aportou em solo americano nos anos 1960 para se  dedicar  a carreira no fisiculturismo onde participou de muitas competições de Mr. Olympia e foi campeão em diferentes edições.






Teve sua primeira experiência no cinema em 1970, quando estrelou o filme Hércules em Nova York(Hercules in New York, EUA, 1970) onde assinou como Arnold Strong, que segundo pelo que o próprio contou na sua série  documental biográfica da Netflix dividida em dois episódios intitulado de Arnold(EUA, 2023) escolher representar esse herói mítico grego foi uma formar  dele homenagear o seu ídolo do fisiculturismo, o americano Steve Reeves(1926-2000) que no final dos anos 1950 estrelou o mítico herói grego em duas produções italianas do subgênero peplum*. E que foi inspirado nele e em outros fisiculturistas que haviam se aventurado no cinema que ele quis tentar a carreira de ator.




Demorou um bom tempo para até Arnold finalmente conseguir o tão almejado sonho de virar uma estrela de Hollywood após protagonizar o filme Conan, O Bárbaro(1982) e em seguida O Exterminador do Futuro(1984).






Que foram os papeis que o consagraram o tornando junto com Stallone como expoentes de um tipo especifico de subgênero de  herói de ação que marcou o cinema dos anos 1980  símbolo de machão, viril,  de cara dura, mal encarado, brutamontes que resolve tudo sozinho, o cinema  brucutu.




Este subgênero se caracterizava  com um protagonista forte e individualista que resolve problemas com força física e armas, e pouco diálogo, onde o herói é um indivíduo que age sozinho ou quase sozinho, enfrentando adversários com sua força superior e habilidade com armas. 






Onde o  enredo prioriza cenas de luta, tiroteios, explosões e violência, muitas vezes gratuita, com diálogos mínimos.  Sendo associada a corpos fortes e musculosos, com os filmes explorando a imponência dos atores através de ângulos de câmera. 

Uma das possíveis razões sobre o porquê do grande tesão que Hollywood sentia nos anos 1980 por esse tipo de herói musculoso pode estar relacionado a forte influência da moda fitness** nos Estados Unidos, popularizada principalmente pela televisão no auge do home vídeo onde eram gravadas teleaulas de ginástica que contou com a participação de  uma estrela do cinema Jane Fonda como a grande divulgadora fitness  estrelando como instrutora nos exercícios.

Onde mostrava os praticantes usando um modelo de vestimenta de malha  collant apertada e polainas com cores bem berrantes e chamativas  e com o adereço do laço na testa que apesar de bregas, traziam um certo charme com um  toque bem sexy por assim dizer. Fosse masculino ou mesmo feminino.

Junte isso ao fato de que foi também nessa época  que outra artista ajudou a popularizar esse modismo fitness que foi a anglo-australiana  Olivia Newton-John(1948-2022), a estrela do clássico musical  Grease-Nos Tempos da Brilhantina(Grease, EUA, 1978) que lançou em 1981 a canção Physical, grande hit do seu álbum homônimo, onde inclusive estrelou um  videoclipe que criou polêmica pelo apelo sexy mostrando  homens seminus em uma época bastante conservadora nos Estados Unidos. 

E muitas produções da época fosse no cinema ou mesmo nas séries de televisão apresentaram muitas cenas de ginástica com esse estilo de vestimenta.

Isso de fato pode-se explicar a razão do porque esse tipo de subgênero atraiu muito Hollywood até por volta da segunda metade dos anos 1990, a ponto de despertar o interesse de ir malhar frequentar uma academia e levantar peso  com esse culto ao corpo.

Inclusive aqui no Brasil nessa época  tivemos um artista que também aderiu a esse estilo fitness  que foi o cantor  Marcos Valle, ele lançou   em 1983 a canção Estrelar cuja letra exaltava a prática de exercícios  e no ano seguinte lançou a canção  Bicicleta, em homenagem a prática do ciclismo.  

Voltando ao foco do filme, eu cresci vendo Comando Para Matar  passando com frequência  na Sessão da Tarde da Globo, que traz aquele elemento um tanto absurdo de mostrar Schwarzenegger desafiando as inércias da lei da física  fazendo manobras quase sobre-humanas a ponto de virar quase um super-herói com direito ao seu   momento Tarzan como  na cena de tiroteio num shopping onde ele pega uma das cordas do teto  e corta para fazer um voo até o elevador onde estava o Sully(David Patrick Kelly), a probabilidade real daquilo acontecer seria impossível, aquela corda não iria aguentar  o peso da massa corporal de Matrix.

Ou mesmo na cena onde ele cai do avião em direção ao lago em frente do Aeroporto, mesmo a água amortecendo a queda, a probabilidade dele conseguir sobreviver seria mínima pelo fato do local ser raso.

Fora que a obra apresenta alguns efeitos práticos para as cenas de explosões que a olho nu nem se percebe muito algumas falhas como a sequência que mostra  Matrix pegando o carro  amarelo do Sully, um dos capangas de Arius que ele elimina ao longo do filme  que estava com uma porta  amassada devido a um acidente  e quando mostra ele dirigindo o carro, a porta estava novinha em folha, um grande erro de continuidade, ou mesmo notar que na cena mostrando tiro e explosão em Valverde, pode ser percebido dois dos soldados de Arius ao subirem foi graças a um aparelho que os fazia pular.

Ainda  que aos olhos de hoje tenham  envelhecido  mal, pelo menos soube se encaixar a estética da violência brutal e gráfica.

 

Se a gente for reparar bem,  a  forma como o protagonista John Matrix  ao colocar a comissária de bordo Cindy(Rae  Dawn Chong) para ajudá-lo  na sua missão de resgatar sua filha Jenny faz toda uma violência psicológica em torno dela de  forçar a barrar pedindo a sua  colaboração,  a ponto de obriga-la a ver toda a violência brutal com que ele prática.

Principalmente para eliminar gente perigosa como  o Sully e depois o Cook(Bill Duke), os capangas de Arius e Bennett.

Como se não bastasse isso, Matrix numa cena com ela dentro do motel onde Cook estava hospedado,  sem o consentimento dela rasga o seu decote para Cook ao  chegar fazer  acreditar que ela estava se divertindo fazendo sexo com o Sully. E a coitada da Cindy nisso tudo é obrigada a ter uma postura passiva com Matrix, ao vê-lo furtar os carros dos caras que ele matou, furtar uma loja de armas para eliminar o exército de  Arius em Valverde, onde a filha de Matrix é mantida refém.  Invadir um quarto de motel onde eles não estavam hospedados e meio que sem querer invadir um quarto vizinho mostrando um casal no momento intimo fazendo sexo, onde   a mulher coitada tomada com os sustos  que toma ao ver a brutalidade da violência de Matrix com Cook acaba mostrando seus seios grandes  balançando. Uma situação um tanto  inconveniente. 

Fora o momento nonsense dela explicar para o Matrix após disparar uma bazuca  para resgatá-lo  do camburão da polícia e ele ao questiona-lo como ela aprendeu, engoli a explicação fajuta dela  que aprendeu lendo o manual. Coisa que ele não só com a força física e com muito treinamento militar para carregar uma arma pesada sabe bem que manejar um troço daquele não se aprende só lendo manual, uma justificativa um tanto chinfrim da parte dela. Como se isso não fosse suficiente,   a parte da fada da conveniência do roteiro nos obrigar a ficar com o cérebro desligado para digerir essa situação,  pois ele também não tem a obrigação de  explicar que esse armamento devia ser supostamente da loja que Matrix tentou furtar, mas foi impedido com a chegada da Polícia. Então como Cindy conseguiu adquirir essa munição e usar o canhão para atingir  o camburão onde Matrix estava dentro? Será que ela pagou pela munição.  Certamente esses dois  momentos  representaram um tremendo furo de roteiro.

 

Como se não bastasse tudo isso, há  o momento em que ele  botou a vida dela em perigo ao manda-la   pilotar uma aeronave velha para dar uma carona a ele até Valverde, sendo que ela ainda não tinha  tirado o brevê,  que é o registro profissional para piloto. Para um tipo de voo assim  poderia gerar uma cadeia para a pobre da Cindy.  

Tudo isso que a Cindy passou ao lado do Matrix, se mostrou mais perigoso do que em relação ao que Jenny passou nas mãos dos sequestradores. Ainda  bem que ela não estava  perto de Matrix quando ele meteu a bala em muito machão sozinho com essa munição. Com certeza o stress pós-traumático dela  seria maior.  

Um outro ponto que chama a atenção na obra é o fato da sua  localização ser ambientada num pais fictício chamado Valverde, que foi uma criação de Steven E. DeSouza para representar a América Central e do Sul para evitar causar legais e diplomáticos com países reais. Com o propósito para servir de cenário tropical e instável com seus ditadores corruptos, suas guerrilhas dentre outros fatores.

O que não deixa de simbolizar bem a representação racista dos hispânicos americanos, ainda mais levando em conta a simbologia de Matrix como o Salvador Branco simbolizando a severidade militar americana na batalha entre o bem e o mal.

Ainda mais que temos de levar em conta que na época que essa obra foi concebida, ainda vivíamos no clima da Guerra Fria, onde o Governo Americano durante a gestão do ex-astro  do  cinema Ronald Reagan(1911-2004) que representou muitos papeis de heróis pistoleiros em faroestes e usou disso como referência para intimidar em seus discursos contra as ameaças  aos comunistas russos. Também  vinha encarando como inimigos os guerrilheiros e narcotraficantes aqui da América Central e do Sul com  um embate no conflito de países  centro e sul-americanos nas guerrilhas da Nicaragua, El Salvador, Panamá  que eram  governados autoritariamente por ditadores  e perdendo a cabeça no combate ao narcotráfico no México com o Cartel de Guadalajara comandada por Miguel Ángel Felix Gallardo vulgo El Padrinho e nos nossos vizinhos da  Colômbia com o Cartel de Medelin, comandado pelo temido Pablo Escobar(1949-1993).

Nas palavras do que o saudoso e renomado crítico de cinema brasileiro Rubens Ewald Filho(1945-2019) descreveu sobre o filme em um artigo de jornal publicado em 1987:

Uma imitação pobre do Rambo, que traz Arnold Schwarzenegger, o Conan, no papel principal. O herói, um ex-militar, vive sossegadamente com a filha num lugar isolado. Até que um dia um grupo de terroristas sequestram sua filha para força-lo a participar de uma missão, que tem por objetivo derrubar um ditador latino-americano. Sem ter outra saída, ele participa da missão e quando volta se vinga dos terroristas, matando mais gente do que Stallone em Rambo. É um filme com tanta ação que você nem vai ter tempo de pensar. Mesmo assim, alguns absurdos são difíceis de engolir, principalmente a fuga de Arnold do avião que está levantando, você não vai acreditar nos seus próprios olhos.

Bom, posso descrever que a medida que fui revisitando Comando Para Matar, apesar dele ser um filme inconsistente ao explorar o nível do irreal a ponto de se tornar absurdo, ainda assim ele não deixa de ter seus méritos como obra, em especial na trilha sonora assinada pelo saudoso James Horner(1953-2015) que aqui criou uma excelente composição moderna de sintetizador que ajuda a criar o clima de  cada momento do filme.  Junto da canção We Fight for Love tocada pela banda The Power Station, com uma sonoridade pop/rock meio new wave que é tocada nos créditos que ajuda a ditar o tom do filme.

Os efeitos práticos usados no filme, principalmente para tiroteios, explosões e até mesmo para a coreografia de luta mais corporal conseguem transmitir uma verdadeira sensação autêntica de adrenalina que dificilmente os modernos efeitos de CGI conseguiriam transmitir, principalmente no tom brutal  da violência gráfica. Algo que o filme cumpriu ao que foi proposto.

Além de contar com Schwarzenegger como protagonista que cumpri ao que é proposto ao filme em mostrar o Matrix como aquela figura  imbatível de herói. A obra também conta em seu elenco com Vernom Wells que  mostra um desempenho brilhante como o Bennett, um sujeito com um nível de crueldade sádica e brutal  que o torna repugnante. 

Outros a serem mencionados são: Dan Hedaya na pele do Arius se mostra incrível, principalmente pela maneira calma como ele procura mostrar o seu nível de crueldade psicótica. David Patrick Kelly na pele do Sully está surpreendente no papel, principalmente pela forma impagável como  ele o representa com um perfil tagarela e debochado e tentando assediar a Cindy mostrando o seu nível detestável.

Assim como Bill Duke na pele do Cook que mostra um nível de frieza metódica, principalmente quando mostra eliminando dois ex-subordinados de Matrix no começo da história.

Outras menções ao elenco são de:  Rae Dawn Chong que mostra um bom desempenho na pele da Cindy, uma ajudante de Matrix. O final deixa subentendido um suposto interesse amoroso dela pelo Matrix, ainda que de fato não ficasse muito explicito.  Também mencionar a participação de Alyssa Milano que faz a Jenny Matrix, ela apesar de na época ser uma garotinha adolescente de apenas  12 anos representa bem em cena o papel da filha sequestrada do Matrix, principalmente na maneira como ela transmiti a sensação insegura vivendo como refém nas mãos cruéis de Bennett que a coloca numa sala fechada com as portas de vidros  tapadas por madeira, e  ao mesmo tempo vai mostrando o seu lado   astuta  de como conseguir fugir do local assim que o pai chega.

Com menções também as participações de Drew Snyder que aparece no começo da história na pele do Lawson, o primeiro que morre pela quadrilha de Arius que aparece num carro de lixo, e de Michael DeLano na pele do Forrestal, que se destaca pelo humor verborrágico na cena dele agindo como vendedor de uma loja de  carro que atende  para Cook, este é  o responsável por  mata-lo furtando o carro da loja.

Por fim, faço menção aos nomes dos saudosos Charles Meshack(1945-2006) que no filme representou bem o papel do Henriques, um dos capangas de Arius  com um jeito de mal encarado e falando uma frase ameaçadora a Matrix, transmitiu bem o seu nível de perigo. E a  James Olson(1930-2022) que representou bem no filme o General Franklin Kirby, uma figura sempre preocupada com o bem estar do Matrix, transmitindo quase que uma simbologia paternal.

No balanço geral, posso concluir que passados 40 anos, Comando Para Matar mostra ser uma obra que tem seu grau de importância.

*Nome dado a vestimenta de tecido única, sem mangas, usadas por mulheres na Grécia Antiga, especialmente durante o período arcaico, que consistia em uma peça retângula de tecidos dobrada nos ombros e presa por alfinetes, formando uma sobrecapa(apotygma) e usada com um cinto na cintura. Uma versão latinizada de peplo. Esse vestuário deu nome a um subgênero de produções italianas entre os anos 1950/60 inspirados  nos míticos heróis gregos.

**O significado dessa palavra inglesa é estar em boa forma. O termo é normalmente associado à prática de exercícios e se refere originalmente ao bom condicionamento e ao bem estar físico e mental.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O EXCÊNTRICO REPÓRTER AGAMENON

 

O REPÓRTER AGAMENON

 

Na sexta-feira, 08 de Setembro de 2023, conferi  na Netflix ao filme As Aventuras de Agamenon-O Repórter (Brasil, 2012).




A trama do filme gira em torno da pitoresca saga de Agamenon Mendes Pedreira(Marcelo Adnet/Hubert), um repórter de caráter dúbio que já se aventurou em fazer reportagens testemunhando diferentes fatos da história da humanidade, onde inclusive foi após segundo ele ter testemunhando a bomba atômica atingir Hiroshima e Nagasaki que ele sentiu uma mudança no corpo que o deixou mais disposto sexualmente,  e fazia consultas com o Dr. Jacinto Leite Aquino Rêgo(Marcelo Madureira),   entrevistando as mais importantes personalidades que ao serem entrevistadas por ele demonstram em seus depoimentos  não terem simpatia nenhuma pela sua pessoa.




  Malandrão do jeito  que é, não resiste a um rabo de saia, já deu em cima de tanta mulher ao longo da vida.   

Vivendo em uma constante  relação de idas e vindas com Isaura(Luana Piovani) e sempre residindo em seu carro em frente ao jornal O Globo, no qual foi contratado.





Um sujeito com uma personalidade  que todo mundo ama odiar, a ponto de despertar o interesse do jornalista Pedro Bial, que nutre uma inveja por ele a ponto de  contratar um assassino chamado apenas de      Matador   (Leandro Firmino) para executar Agamenon.  

Dirigido por Victor Lopes, com produção de Flávio Ramos Tambelini  e Manfredo Barreto e roteirizado por  Hubert Aranha e Marcelo Madureira, membros do grupo  humorístico do Casseta & Planeta.




Cujo personagem foi inspirado numa criação deles para o jornal O Globo, onde eles também  participam do filme  como atores, Hubert representando o protagonista com quem divide com Marcelo Adnet e Marcelo Madureira representando o Dr. Jacinto Leite Aquino Rêgo, uma espécie de médico particular do Agamenon.

        Eu havia assistido ao filme na época quando chegou nas telonas, que recebeu umas críticas negativas de grande parte  da crítica especializada dos mais diferentes sites de cinema. Eu confesso ter gostado do filme, pois já conhecia um pouco da estética cômica dos criadores e ao revisitar na Netflix, eu continuei achando divertido, dando muitas gargalhadas.




         Pois ele reflete muito bem um estilo de humor  que aos olhos de hoje seria um pouco impensável de ser replicado pelo fato dele já carregar a característica de ficar datado, porque satirizava cada momento do cotidiano brasileiro naquele estilo provocativo de não perdoar ninguém.

         A sua   estética segue bem a fórmula do humor ácido que a trupe do Casseta & Planeta costumava explorar muito durante o longo tempo que estiveram no ar com o programa Casseta & Planeta, Urgente(1992-2010) exibido todas as noites de terça-feira, após alguma novela em cartaz no horário das oito da Globo.  Seguindo o lema do  humorismo verdade,  jornalismo mentira. 




           A começar pelo fato do filme  se utilizar de um formato de mocumentário, ou seja, de falso documentário.   

           Onde somos apresentados a sua jornada com  o jornalista Pedro Bial fazendo ele mesmo como fio condutor com uma reportagem a procura dele, em seguida temos diferentes cortes de edição onde somos apresentados a diferentes personalidades brasileiras dando seus depoimentos sobre ele, dando a entender que já foram entrevistas por ele e sendo narrado por uma atriz do calibre de Fernanda Montenegro.





            Fora quando temos muitas confusões entre a ficção com a realidade devido a maneira como é feita as sobreposições das  edições de imagens de arquivos que mostram o protagonista como testemunha ocular de fatos marcantes da história da humanidade de quando sobreviveu ao naufrágio do Titanic, de quando foi lutar na Europa para enfrentar as tropas de Hitler e manteve um caso amoroso com sua esposa Eva Braun(Guilermina Guinle).





         De quando testemunhou Getúlio Vargas(Xando Graça) se suicidando, passando pela Queda do Muro de Berlim e de quando esteve nos prédios do World Trade Center horas antes dos ataques dos aviões no dia 11 de Setembro de 2001 com aquele toque  bem pitoresco com cunho paródico. Algo bem típico como era o humor do Casseta & Planeta na TV.





 Por ser roteirizado justamente pelos membros do Casseta & Planeta, Hubert Aranha e Marcelo Madureira, todo o seu formato é inspirado no que eles faziam na TV, e para  quem como eu cresceu  acompanhando  o programa(chega a ser pitoresco comentar  aos leitores que  eu cresci assistindo o programa deles,  até porque o humor do Casseta & Planeta era inapropriado para crianças) mas enfim esperar assistir ao filme com o mesmo humor que o grupo fazia na TV, digamos que não vai  se decepcionar, porque ele cumpre bem essa função.




A história de como esse grupo humorístico foi originado  é um tanto quanto  pitoresco, já que ele começou quando no final dos anos 1970, três  amigos que se conheceram na UFRJ formado por Beto Silva, Marcelo Madureira e Hélio de La Peña, juntos criaram uma fanzine humorística chamada de Casseta Popular que logo depois viraria uma revista que trazia uma estética anárquica de humor ácido provocativo paródico, posteriormente ingressaram nesse grupo  Claudio Manoel e  Bussunda(1962-2006)*.




E o grupo aumentaria quando três amigos que trabalhavam para outra mídia impressa  humorística O Planeta Diário, uma sátira ao famoso jornal do Superman, formado por três ex-redatores de O Pasquim: Reinaldo Figueiredo, Hubert Aranha e Claudio Paiva ao se juntarem a eles formaram o Casseta & Planeta.

 O fato deles terem começado a fazer humor no jornalismo explica o famoso lema deles do “humorismo verdade, jornalismo mentira”.




O ousado estilo ácido de humor provocativo  que o grupo fazia nesse modelo tradicional de mídia impressa foi colocado na TV quando eles primeiramente ingressaram compondo a equipe de redatores da TV Pirata(Brasil, 1988-1992) juntos de outros nomes importantes do humor brasileiro: como o escritor Luís Fernando Verissimo(1936-2025), o  cartunista Glauco Villas-Boas(1957-2010), o dramaturgo Mauro Rasi(1949-2003) dentre outros.




Cujo elenco era formado por atores surgido do teatro de variedades, que abordavam sobre a comédia de costumes,  também popularmente chamado pejorativamente de besteirol e do revolucionário Asdrúbal Trouxe o Trombone,  que já eram estrelas popularmente conhecidas das novelas da Globo com nomes como:  Diogo Villela, Débora Bloch, Guilherme Karan(1958-2016),  Cristina Pereira, Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé  dentre outros exemplos.




Cuja estética humorística também se conectava um pouco com o que a  trupe fazia em satirizar  e provocar o cotidiano social  brasileiro.  

Em seguida,  eles fizeram carreira na música  lançando um LP de humor. Com a canção Mãe é Mãe.

 

Posteriormente,  mostrariam a cara e a coragem  apresentando o programa Doris Para Maiores(Brasil, 1991), acompanhado da jornalista Doris Giesse e  somente  em 1992, passariam a comandar o programa Casseta & Planeta, Urgente, que durou 18 anos no ar nas noites de terça-feira.

Inicialmente nesse programa, ele não contava com a presença de Maria Paula, a primeira mulher a participar foi a jornalista Kátia Maranhão que não participava tanto das esquetes, apenas comandava o programa dentro do estúdio assumindo a função séria do jornalismo.

 Só depois é que colocaram a Maria Paula, egressa da extinta  MTV Brasil para assumir a função de ser como ela ficou popularmente conhecida de “A Oitava Casseta”.

Isso porque o grupo era composto de sete homens formado por: Claudio Manoel, Beto Silva, Bussunda, Marcelo Madureira, Hélio de La Peña, Hubert e Reinaldo. Já  Claudio Paiva, ex-companheiro de Hubert e Reinaldo no O Planeta Diário não os acompanhou nessa nova empreitada.

E no que eles foram se consolidando  na TV, foram se expandindo escrevendo muitos livros de piadas, eu cheguei a ter um desses que foi o Seu Creysson: Vidia e Obra(2002), sobre o tipo popular representado por Claudio Manoel.

Mesmo após o desfalque que o grupo sofreu com a morte do Bussunda, em consequência de um ataque cardíaco sofrido   quando ele  estava na Alemanha com parte do grupo para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 2006, ainda assim eles continuaram juntos trabalhando  na TV por mais quatro anos.  

A estética de humor do Casseta & Planeta já tendia a ser datada, e isso já é algo característico da comédia que desde o surgimento de sua arte nos primórdios da humanidade no teatro da Grécia Antiga, tendia a ser datado pelo fato dele ridicularizar situações e costumes sociais de acordo com cada época,  ao contrário do drama cuja história é sempre atemporal. 

  Do mesmo modo como acontece com  o humor das charges, porque como o seu estilo humorístico tinha muito do DNA no jornalismo cujo roteiro das piadas dependiam do que vinha acontecendo nos noticiários da imprensa seja tanto na política dos quais eles tiravam sarro, fosse em parodiar as novelas em cartaz da Globo, fosse parodiar personalidades em situações nada agradáveis ou temas espinhosos na rotina de nossa sociedade, envolvendo os avanços científicos, o comportamento  social ou qualquer coisa do tipo eles não perdoavam mesmo.

Eles tiravam muito sarro de grupos sociais marginalizados como os pretos, a comunidade LGBTQIAPN+, os PCDs, os povos originários, as pessoas obesas e como o predomínio do grupo era masculino, eles também faziam muitas  piadas machistas de cunho erótico ou mesmo depreciativo.

Algo que hoje em dia já não é mais tão tolerado, não pelo politicamente correto, mas porque os grupos sociais marginalizados já não toleram mais isso.

Se bem que não se  pode julgar,  nem lacrar e nem sequer cancelar  o tipo  de humor que eles faziam até porque a gente tem de levar em contar de que quando  esse grupo surgiu, foi  num momento em que ainda  vivíamos  numa época opressora de transição do final da Ditadura Militar para o começo da atual Nova República.

Onde prevalecia uma forte censura aos meios de comunicação.  E estávamos nos adaptando a ter  de volta a nossa  liberdade de expressão depois de passarmos 21 anos sobre a  opressão dos militares. E vivíamos num cenário econômico  de alta inflação.

Poderia comparar que o tipo transgressor de humor deles equivalerem  como  os porta-vozes  da geração oprimida pela ditadura nos anos 1980,  a algo  parecido  ao que os cantores Cazuza(1958-1990) e Renato Russo(1960-1996) simbolizavam para a música brasileira, com suas letras de caráter panfletários e provocativos.

Isso inclusive me lembra que no meu tempo de Colégio Objetivo,  quando eu fazia a antiga 8ª Série do Ensino Fundamental, isso lá em 2002, durante uma aula  de história sobre a Ditadura no Brasil.

Nosso professor mencionou o exemplo do Casseta & Planeta, para explicar para nós que já erámos da geração que não alcançou a fase de repressão da ditadura e já era símbolo  de museu para nós, por assim dizer.  

Que aquele humor que a gente assistia do grupo  que ainda passava na TV, seria impensável da gente assistir tipo durante os anos 1970, fase mais repressora da ditadura.

Ainda no meu tempo de Objetivo, eu tive outro professor que não vou mencionar aqui  o nome e nem de qual disciplina ele lecionava que ele por ser crente, chegou uma vez em sala de aula comentando sua indignação reacionária  de um quadro do Casseta & Planeta onde eles faziam uma blasfêmia a Deus, por causa da brincadeira que eles fizeram com uma esquete onde o Seu Creysson(Claudio Manoel) virava um ser iluminado.

Uma postura que lembrando hoje,  irei dizer que se mostrou muito equivocada da parte dele, porque ele não entendeu que o intuito ali  não era difamar nenhuma religião, mas sim criticar o culto em torno de pastores midiáticos que ostentam uma vida de luxo para enganar seus ingênuos  fiéis virando suas ovelhas.

Quando o humor especificamente ousa provocar a religião, o negócio tende a trazer uma reação de enfurecimento de grupos religiosos reacionários, extremistas etc...

Pegar outros exemplos de situações semelhantes ao que eu testemunhei desse meu professor foi quando os  britânicos do Monty Pyton lançou o filme A Vida de Brian(Life of Brian, Reino Unido, 1979), que chegou a ser  proibido de ter  distribuição  em alguns países  pela forma como eles zoavam a história bíblica do nascimento de Jesus Cristo ou mesmo como ocorreu anos depois com o Porta dos Fundos, que em 2019 lançou um especial natalino para a Netflix intitulado A Primeira Tentação de Cristo (Brasil, 2019), que gerou uma revolta de grupos religiosos reacionários que até destruíram sua sede.

Olha com todo respeitado por qualquer religião, independente de qual seja o credo, até porque sou seguidor do espiritismo.    

Principalmente a  quem siga a religião evangélica, até porque eu meio que indiretamente tive uma educação evangélica porque minha mãe veio do berço de uma família protestante.  Onde inclusive um irmão dela faz carreira no sacerdócio, ministrando como pastor há mais de 30 anos numa igreja batista da Bahia e mesmo não sendo seguidor fiel,  cheguei  a frequentar alguns cultos evangélicos.

 Do mesmo  modo que cheguei a frequentar umas missas  de  igrejas católicas, onde recebi  batismo  que foi onde literalmente  meu pai teve essa formação educacional, já que estudou  do maternal ao ensino médio  num colégio de padres.

Mas não tem quem me convença de que pastores midiáticos com influência na política para formar uma bancada  evangélica no planalto e com aqueles discursos autoritários, moralistas  e recalcados  de demonizar tudo que foge ao padrão que eles pregam de deus e família e arrumarem bodes expiatórios condenando anime como coisa do demônio  e convencendo qualquer fiel de que são milagreiros.

Mas que no fundo escondem serem uns bando de gente torpe, que adora ostentar uma vida luxuosa e fazer suas orgias.

Esses sim, me desculpem mas são gente que se mostram mais nocivas do que qualquer coisa. Não merecem o meu respeito.

Voltando a comentar do filme, a produção conta em seu elenco além dos já citados Hubert e Marcelo Adnet que se revezam na pele do protagonista. Eles cada um dá um show à parte.

 Adnet na época já figurava como uma aposta para a nova  safra de comediantes, já era famoso por participar de programas humorísticos da antiga MTV Brasil.

E no filme faz um trabalho crível na pele do Agamenon na versão jovial e Hubert faz um trabalho fantástico como o Agamenon na melhor idade.

Também mencionar a participação do Marcelo Madureira  na pele do excêntrico  Dr. Jacinto Leite Aquino Rêgo, cujo  ótimo trabalho de  caracterização com uma peruca de cabelo espetado com jaleco branco e óculos  o faz remeter bem ao estereótipo caricato  do cientista louco explorado   na cultura pop, como nos cartoons, por exemplo.

Além desses mencionados, também faço menção   as participações no elenco  de Luana Piovani, que representou no filme, o papel da Isaura Melo Pinto(Isaurinha), a amada de Agamenon com a atraente  beleza jovial com quem ela dividiu o papel com a saudosa e veterana Daisy Lucidi(1929-2020) que a representou coroa nos minutos finais do filme.

Vale mencionar as participações de Luís Carlos Miele(1938-2015) e de Alcione Mazzeo que contracenam juntos como   casal abastado  Melo Pinto,  pais da Isaura que se mostram contra sua união com Agamenon.

Outras participações a serem mencionadas são de: Guilhermina Guinle representando a modelo alemã Eva Braun(1912-1945), a famosa amante do tirano mais perverso que o mundo já conheceu Adolf Hitler(1889-1945) que no contexto satírico do filme foi a mulher com quem Agamenon manteve um caso amoroso a  ponto de botar chifres no Führer.

Também mencionar as participações de Robson Nunes representando o famoso astro do futebol brasileiro  Ronaldo Fenômeno, Tonico Pereira como o Capitão do navio RMS Titanic Edward Smith(1850-1912), o que sofreu naufrágio em 1912  é este que aparece no clássico filme  catástrofe Titanic(EUA, 1997) dirigido por James Cameron e  vencedor de 11 Oscars em 1998 que foi  representado pelo britânico Bernard Hill(1944-2024).

Outra participação curiosa do filme é a de Leandro Firmino da Hora, o eterno Zé Pequeno do filme Cidade de Deus(Brasil, 2002) que representa um bandido de nome apenas Matador que é contratado pelo jornalista Pedro Bial para matar Agamenon, a coisa mais nonsense que você pode imaginar.  Sua interpretação no papel remete demais ao Zé Pequeno.

Assim como há de mencionar as participações  de Xando Graça representando Getúlio Vargas(1882-1954) e Claudio Tovar como o músico Tom Gilberto, parodiando Tom Jobim(1927-1994) e João Gilberto(1931-2019), ícones da bossa nova.

Outra participação curiosa no filme é do famoso assistente de palco dos programas da Globo  Russo(1931-2017)** que aparece numa cena pitoresca como juiz de um ringue de padres com Agamenon descrevendo sua cobertura da escolha do polonês Karol Wojtila(1920-2005) como o novo papa em 1978 recebendo o nome de João Paulo II.

Foras as curiosas participações de algumas celebridades reais que dão depoimentos sobre o Agamenon como se  ele tivesse realmente existido, o que torna a estética cômica nonsense do filme ainda mais pitoresca.

Onde cada uma conta como foi ser entrevistado por ele ou mesmo ter virado matéria escrita por ele.

Dentre essas celebridades, além de eu já ter citados os nomes da atriz Fernanda Montenegro e do jornalista Pedro Bial, também aparecem entre os entrevistados  estão  o saudoso humorista Jô Soares(1938-2022), o sociólogo e ex-presidente da República  Fernando Henrique Cardoso, que curiosamente no Casseta & Planeta era bastante parodiado por Hubert como Viajando Henrique Cardoso.

O jornalista Nelson Motta que brinca em não saber de quem o documentário iria abordar, porque ele é tão convidado para dar entrevista em documentários, é tanto que na legenda ao apresenta-lo fica escrito embaixo do seu nome a função pitoresca: Ator de documentários.

Há também a participação  do Ruy Castro, célebre escritor de biografia de importantes personalidades brasileiras que se envolve de fazer o trabalho de detetive de investigar o real Agamenon.

Dentre outros momentos interessantes no filme.

Ao mesmo tempo que a obra apresenta essas qualidades, também não posso  deixar passar pano em alguns pontos problemáticos que aparecem no filme.

Como o fato do filme ser uma produção da dupla que compõe o Casseta&Planeta, que além de representarem na função de atores, também são os roteiristas dessa obra.

Uma coisa era eles roteirizarem e representarem em  um programa de tv semanal com seu estilo paródico de humor  a respeito do cotidiano do Brasil e do Mundo com histórias apresentando esquetes de curta duração de 10 segundo ou as vezes de 10 minutos para cumprir a meia hora de duração dentro da grade,  com parodias de novelas de globo, de outros programas, de celebridades ou coisas do tipo.

Outra coisa  é eles estruturarem uma trama para um filme de uma hora e meia de duração, cujas piadas consigam se sustentarem do inicio ao fim.

Cujo protagonista  fosse cativante o suficiente para nos fisgar a acompanhar aquela narrativa. E digamos que o filme sofre de alguns desses problemas como já foi comentado por críticos como  Leonardo Vinicius Jorge em sua coluna do site Pipoca Moderna publicada em 6 de Janeiro de 2012:

A irregularidade da qualidade do humor do roteiro. Assim como já acontecia no antigo programa televisivo dos Cassetas, o longa alterna pouquíssimas piadas realmente boas e inteligentes com escatologia infantil e ideias batidas. Se existe uma sacada genial, como a brincadeira com o fotógrafo Sebastião Salgado, minutos depois a trama cai na tentação de explorar o episódio de Ronaldo Fenômeno e os travestis, fato já parodiado em todos os (péssimos) humorísticos da TV brasileira.

Por outro lado o portal Cineclick chegou a colocar 5 cinco estrelas a classificando como uma “coleção de esquetes”.

O colunista do site Omelete, Marcelo Hessel que deu 2 ovos para o filme em sua avaliação descreveu no seu artigo sobre o filme   de 5 de Janeiro de 2012:

Com cara de velho - seus fatos não têm o "calor" da mídia instantânea e todas as piadas se esgotaram no Twitter minutos depois de sair uma notícia (como no caso de Ronaldo). O filme inclusive emula a estética da web - imagens photoshopadas, dublagem em cima de vídeos de arquivo - que só o desfavorece. Se Agamenon gozava de algum timing no jornal, isso se perde no cinema, onde Madureira ainda acha que chamar um proctologista de Jacinto Leite Aquino Rêgo pode render alguma coisa. Não por acaso, os poucos momentos inspirados do filme são aqueles que lidam não com o imediatismo, mas com o acúmulo dos eventos. Por exemplo, Nelson Motta já participou de tantos documentários musicais nos últimos anos que, em As Aventuras de Agamenon, o próprio Motta - creditado como "ator de documentários" - aparece para tirar sarro de si mesmo. Outro que ganhou credibilidade pela repetição é o biógrafo Ruy Castro, que surge no filme sempre para contestar alguma informação histórica. É mal equilibrado entre o humor reativo mais popular (as gags de sexo) e essas inside jokes (como brincar com a obsessão de João Barone pela Segunda Guerra) que As Aventuras de Agamenon atira pra todo lado. Às vezes, acerta justamente pela mistura anacrônica - juntar um modismo de hoje com um evento passado, como a torcida "sou louco por ti Wojtyla" no conclave de João Paulo II.”

Para quem nunca se familiarizou com a estética cômica do Casseta & Planeta e vai cair de paraquedas nesse filme pode achar uma grande estranheza a ideia dessa estética de falso documentário dessa obra que faz o filme querer parecer um tanto realista em tratar sobre uma figura real, ainda mais contando com a presença de personalidades reais dando depoimento a respeito do Agamenon, um jornalista que ninguém nunca ouviu falar.  O que pode parecer confuso a primeira vista.

O que talvez possa não acontecer para quem já acompanhou os seus programas e sente aquela sensação em teoria de conforto e familiaridade com a obra.

De todo jeito, essa obra merece ser apreciada para conhecer a sua  importância como um estilo paródico que vale a pena conhecer e ter outra percepção e avaliar se é bom ou não.


*Pseudônimo de Claudio Besserman Vianna, cujo apelido Bussunda  surgiu em referência ao personagem cartunesco chamado Sujismundo, criação do brasileiro Ruy Perotti(1937-2005) que  nos anos 1970 costumava aparecer em comerciais de TV numa série de quatro filmetes, que variavam entre 60 e 90 segundos de duração, e eram exibidos na TV e no cinema. Com o intuito de conscientizar a higienização na  população brasileira nessa campanha do regime militar com o lema: Povo desenvolvido, é povo limpo. O Sujismundo era representado justamente como uma pessoa sem higiene, um porcalhão  cujo nome que foi batizado simbolizando  bem isso. Juntando as palavras sujo com imundo. E se tornou popular em nós para definir esse tipo de pessoa sem higiene. E foi precisamente quando ela agia sem muita higiene quando estava num acampamento de férias na infância que ele ganhou o apelido de Bussunda, primeiro era Besserman Sujismundo que foi se alterando para Bessermundo, depois ficar Bessundo, Bussundo e até chegar a Bussunda que o tornou famoso nacionalmente no Casseta & Planeta.  Nascido numa família de classe média alta, caçula dos três filhos de um cirurgião e de uma psicanalista. Bussunda era irmão do economista Sergio Besserman Vianna que chegou a presidir o IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e do médico Marcos Besserman Vianna que desenvolve pesquisas para a Fundação Oswaldo Cruz. 

**Russo era o apelido de Antônio Pedro de Souza e Silva, começou sua carreira no meio comunicativo como  assistente técnico na Rádio Tupi, foi lá que teve contato com o apresentador Chacrinha(1917-1988) que o convidou para ingressar na TV.  Ingressou na Globo em 1965, ano da inauguração da emissora da qual foi um  funcionário dedicado por quase 50 anos. Assumindo a função de assistente de palco dos mais diferentes programas de apresentadores como: Xuxa Meneghel, Fausto Silva, Luciano Huck, onde sempre esbanjava simpatia e carisma por onde passava a ponto de virar uma atração. Russo permaneceu na Globo até sua demissão em 2014. Três anos após sua demissão ele faleceu no dia 28 de Janeiro de 2017, de falência múltipla dos órgãos após ser internado por uma pneumonia aos 85 anos. Russo nos seus  últimos anos de vida  já se encontrava com seu estado de saúde comprometido  por conta da já avançada idade. Em 2011, Russo sofreu um infarto  onde precisou realizar uma cirurgia cardíaca que o levou a adquirir cinco pontes de safena no coração. Em 2015, sofre um AVC(Acidente Vascular Cerebral) e agravado pelo quadro depressivo que ele adquiriu após demonstrar inconformismo com a demissão da empresa a qual dedicou a vida como prestador de serviço, todos esses fatores fragilizaram ainda mais sua delicada saúde a ponto de ocasionar no triste fim da sua vida.