sexta-feira, 25 de março de 2022

RESENHA DO FILME THE BATMAN(2022)

MINHA VOLTA AO CINEMA COM THE BATMAN

Este texto contou com a colaboração de Dickson de Oliveira  Tavares, maior especialista em Batman do Rio Grande do Norte, que muito gentilmente aceitou o meu  convite para ler primeiro esse texto e fazer as checagens das informações. Meus sinceros agradecimentos Dickson.

 

 

Na tarde de domingo, 13 de março de 2022, fui conferir no Cinemark do  Shopping Midway Mall ao tão aguardado novo filme do Batman, The Batman(EUA, 2022).





Filme que marcou a minha volta a pisar numa sala de cinema, após dois anos dessa pandemia de Covid-19.

O último filme que eu vi numa sala de cinema foi do Sonic(EUA, 2020). Nas semanas que antecederam ao decreto da quarentena mundial, que por consequência fechou os cinemas.




Só agora eu arrisquei a voltar a ver um filme na tela grande depois que no ano passado tomei minhas duas doses de Coronavac e a terceira de Pfeizer.




Nesse dia ao chegar para enfrentar a enorme fila no Shopping Midway Mall, que estava grande para comprar o ingresso e próximo dali ao corredor em frente da  entrada da sala de cinema estava uma concentração enorme de jovens aglomerados  fazendo uma espécie de rolezinho. Não deu para ver direito. Porque depois que comprei o ingresso já estava bem em cima da hora  para o começo da sessão  que era de 17:30hs. Eu comprei meia-entrada  em espécie como pessoa com necessidade especiais, por ter o espectro autista e mostrei printado no meu celular os documentos das minhas vacinações de 2021 como são exigidos.




Foram longas três horas de duração mas que realmente compensou a minha  imersão naquela história.

Uma história densa com um clima bastante pesado como nunca vi antes. Principalmente no incrível trabalho técnico  do design de produção,  na direção de fotografia que explora bem as paletas de cores mais escuras e com pouca luminosidade, mesmo nas poucas  externas a luz do dia, aquilo bem defini a estética noir do filme.




Servindo também para caracterizar a atmosfera sombria da Gotham Citty, uma cidade  poluída, corrupta, dominada pela criminalidade. Onde até mesmo a polícia é comprada pelos poderosos  mafiosos.  Ou seja, uma terra sem lei.




A direção do Matt Reeves está de parabéns e também de toda a sua equipe envolvida na produção, em proporcionar uma história de um Batman mais diferencial do que nos nunca tínhamos visto no cinema que é o lado mais detetivesco do herói.  Cujas bases foram as histórias das HQs Batman: O Longo Dia das Bruxas, Batman: Ego, Batman: Ano Um e das publicações dos  anos 1970 de Neal Adams.




Produção que passou por muitos percalços, principalmente por causa da pandemia, que causou o adiamento da sua data de lançamento, inicialmente previsto para 2021. Mas por consequência  do vírus desgraçado, que fez a produção ficar paralisada após o decreto da quarentena mundial e com   parte da equipe contraindo a Covid-19.

No entanto, a espera compensou, estava uma grande expectativa por esse filme.




Principalmente para avaliar o desempenho do Robert Pattinson, o eterno astro da franquia  Crepúsculo(2008-2012),  desempenhando o papel do icônico herói da DC Comics. Que ninguém botava muita fé na sua atuação, eu mesmo confesso que  sou dessas pessoas.




Humildemente confesso que quebrei a cara ao ver o amadurecimento profissional dele em cena.

Ele realmente mostra uma entrega ao personagem, ficou  sensacional.




Nesse filme, sua história gira em torno do herói investigando a série de bizarros assassinatos, onde em todos são deixados umas cartas destinadas ao Batman com enigmas para serem decifrados. Sem querer entregar spoilers a quem não ainda viu o filme, porém, aqui no caso desde o princípio já fica estabelecido que todas essas mensagens insanas são de autoria de um ser psicótico chamado Charada(Paul Dano).




A cada  nova vítima que o Charada faz, aparece uma mensagem enigmática direcionada para o Batman quebrar a cabeça para tentar  decifrar qual a motivação do Charada e entre essas mensagens o levará ao Pinguim(Collin Farrell) e a Mulher-Gato(Zoe Kravitz).










E caberá ao nosso herói, junto com a polícia de Gotham,   comandada por James  Gordon(Jeffrey Wright) a correrem contra o tempo para impedirem o diabólico plano mirabolante do Charada de provocar o caos na cidade.





Além do desempenho do Robert Pattinson com seu rosto sério e um tanto apático  me surpreender bastante como o Batman e ele mostrar sua evolução, que ficou ainda mais crível na voz dublada pelo Wendell Bezerra, eterno dublador do Goku de Dragon Ball, que aqui imprimiu toda uma sutileza de representar um herói com suas camadas mais sérias, mais soturnas e com toques de elegância tanto ao protagonista como Bruce Wayne e quando ele se torna o Batman, melhor ainda.

Outro ponto que posso elogiar muito dessa obra foi como o roteiro soube   nos introduzir a nova Gotham Citty para outro público já estabelecida com  os personagens bem desenhados  dentro daquele universo.  Sem precisar de usar de didatismo de nos explicar como o Batman surgiu? O  que motivou Bruce Wayne a virar o Batman? E de como seus vilões foram concebidos? Aqui ficou cada macaco no seu galho.

Do mesmo modo que nos poupou de nos introduzir a três vilões, que não são inéditos no cinema. Já que tanto o Charada, Pinguim e a Mulher-Gato, já tiveram suas históricas primeiras representações no audiovisual   desde a clássica e divertida  série camp dos anos 1960.



Onde a Mulher-Gato foi representada por duas atrizes, primeiro por Julie Newmar  na primeira temporada e depois pela cantora Eartha Kitt(1927-2008) na temporada final. Isso sem contar com a participação de Lee Meriwetther no filme de 1966, inspirado na série com o mesmo elenco.




O Pinguim foi representado por Burgress Meredith(1907-1997) e o Charada foi revezado por  Frank Gorshin(1933-2005) na primeira temporada e por John Astin na temporada final. Passando pelas representações de Michelle Pfeiffer(Mulher-Gato) e Danny DeVito(Pinguim) em Batman-O Retorno(Batman Returns, EUA, 1992).

 E Jim Carey foi responsável por representar o Charada em Batman Eternamente(Batman Forever, EUA, 1995).






       Halle Berry, famosa pela Tempestade na franquia dos X-Men(2000-2019), fez a  Mulher-Gato ao protagonizar o seu esquecível filme solo  lançado em 2004. A famosa gatuna voltou a ter outra representação em Batman-O Cavaleiro das Trevas Ressurge(The Dark Knigth Rises, EUA, 2012), onde ela foi representada por Anne Hathaway.




          Na série de TV Gotham(2014-2019), voltamos a ver esse trio, que coube a Camren Biocondova representa-la adolescente na mesma faixa etária do jovem Bruce Wayne(David Mazouz).

              O Pinguim foi representado por Robin Lord Taylor e o Charada por Cory Michael Smith.





              Do mesmo jeito que o Batman ao longo da história do audiovisual, sendo que a primeira vez por incrível que possa parecer não foi na clássica série de TV nos anos 1960.  Produzida por William Dozier(1908-1991),  caracterizada por apresentar   o Batman galhofa,  fora de forma e um tanto  brega, que  foi representado por Adam West(1928-2017).

            Mas sim em duas produções de cines séries exibidas nas sessões matinês de cinema dos anos 1940. Muito comum na época, onde eram exibidos em curtas-metragens. O primeiro a representar o Batman nesse formato foi Lewis Wilson(1920-2000), em 1943.  Anos depois houve outra produção de Batman no cinema nesse mesmo formato, lançado em 1949. Onde quem o representou foi Robert Lowery(1913-1971).



              Seguindo de Michael Keaton nos dois filmes: Batman(EUA, 1989) e Batman-O Retorno(Batman Returns, EUA 1992) do diretor Tim Burton. Val Kilmer em Batman Eternamente(Batman Forever, EUA, 1995)  e George Clooney em Batman & Robin(EUA, 1997), esses  dois dirigidos por Joel Schumacher(1939-2020), que figuram entre os mais odiados pelas comunidades de fãs do Batman. 




             Em seguida veio Christian Bale, protagonizando o Morcego na trilogia de filmes do Christopher Nolan formada por Batman Begins(EUA, 2005), Batman-O Cavaleiro das Trevas(The Dark Knight, EUA, 2008) e Batman-O Cavaleiro das Trevas Ressurge(The Dark Knight Rises, 2012).






        Ben Afleck foi a última até agora representação do herói em Batman Versus Superman: A Origem da Justiça (Batman V Superman: Dawn of Justice, EUA, 2016) e na Liga da Justiça(League of Justice, EUA, 2017).

         Até chegarmos finalmente a Robert Pattinson na mais nova encarnação do Morcego na tela grande.

          Não só Pattinson ficou excelente como o protagonista. Como também boa parte do elenco principal que compõe a obra. Cada um brilhando.

              Começando por Paul Dano, que está  excelente na pele do Charada.  Dá um show de atuação. Seu desempenho no papel ao moldar o nível do  desequilíbrio mental do personagem para causar o caos em Gotham Citty ficou crível. Ele consegue segurar o filme em suas três horas de duração como a ameaça central ao depois de assassinar  uma pessoa, deixar suas enigmáticas frases destinadas para o Batman decifrar que criou o nível de terror psicológico pelo ar mais atmosférico da ameaça. Remetendo bem a pegada do suspense do filme Seven-Os Sete Crimes Capitais(Seven, EUA, 1995) e também no infame serial killer Zodíaco, que inspirou o filme de 2007.    O cantor  brasileiro Supla, tem uma canção sobre o  Charada que  pode exemplificar o seu perfil insano:

“CUIDADO COM O BOTE

O BOTE DO CHARADA

ELE NÃO LIGA PRA NADA

E ESSA É MINHA MARCA

OS POLÍTICOS QUEREM ME PEGAR

E OS GANGTERS ME CONTRATAR

MAS EU TÔ COM O PÉ ATRÁS

TANTO FEZ COMO TANTO FAZ

CHARADA, BRASILEIRO

CHARADA, FUNDAMENTAL

CHARADA, SUICIDA

SERÁ QUE VAI MUDAR SUA VIDA?”

(Música: O Charada Brasileiro. Autor: Supla).

          Mais incrível mesmo  é a sua caracterização usando um capuz verde com um tom de voz grave quando aparece fazendo seus vídeos ameaçadores onde atrai muitos seguidores em suas redes sociais. Refletindo a atual  geração do  influencer digital, e sua visão de  agente do caos.




            Serão essas enigmáticas mensagens de cartas  do Charada deixadas nas suas vítimas, que vão servir como fios condutores para o Batman ao longo do fluir da  narrativa chegar aos outros vilões que compõe o filme, e com suas subtramas,  entre eles o  Pinguim, muito bem defendido por Colin Farrell, cujo trabalho incrível da caracterização da maquiagem grotesca que o deixou irreconhecível, contrastando com o seu rosto bonito de galã. Isso   ajudou ele a compor a feiura do personagem simbolizado  no seu caráter podre, de sujeito tipicamente verme,  nojento, vil, mesquinho, ordinário, canalha,  indivíduo cuja personalidade o torna bastante detestável por assim dizer.  O curioso que ele já havia representado outro vilão em filme de super-herói, que foi o Mercenário em Demolidor: O Homem Sem Medo(Daredevil, EUA, 2003). Cujo herói foi ironicamente protagonizado por Ben Afleck. O mesmo que viraria o Batman anos depois.




        Não só o levará ao Pinguim, como também a Mulher-Gato, muito bem defendida pela Zoe Kravitz. Aqui ela se interliga com o Pinguim, pois mostra a famosa gatuna que desperta a libido sexual do Batman como uma espécie de garçonete ou mesmo stripper do bar administrado pelo Pinguim que é o sócio do temido mafioso Carmine Falcone(John Turturro).




       Ela que também já havia participado de outro filme do gênero super-herói que foi em X-Men: Primeira Classe(X-Men: First Class, EUA, 2011), representando a mutante Angel. Defendeu aqui de forma magistral a personagem, que sempre simbolizou aquele perfil dúbio, de não ser boa, nem má. Fica no meio termo, que desperta a loucura da paixão do Batman, ainda mais por carregar uma atraente e sensual beleza, com aqueles toques característicos de sexy appeal.

             Que junto ao Pinguim e ao Charada que estão nesse filme, compõe a leva clássica dos vilões do Batman que surgiram nos anos 1940, ou seja,  em sua primeira década de existência.




                 Um fato curioso sobre a gatuna, é que nos quadrinhos houve um período em que ela precisou entrar num hiato de 12 anos sem aparecer nas histórias. Isso ocorreu como consequência do surgimento do Comics Code Authority*, um órgão fiscalizador de censura dos quadrinhos.





                     Ele surgiu em 1954, depois que o psiquiatra Fredric Wertham(1895-1981), um alemão naturalizado americano, com sua carreira na psiquiatria bem consolidada nos EUA, publicou o polêmico livro A Sedução dos Inocentes, onde criticava a publicação dos gibis de super-heróis pelo aumento da delinquência juvenil nos EUA, baseado no atendimento a seus pacientes, representado a maioria por garotos que liam estes gibis. Antes de publicar o livro condenando os heróis, ele já era um sujeito  conhecido publicamente por essa sua postura crítica aos gibis de  super-heróis, isso porque desde  1948 ele já  escrevia artigos em colunas de jornais condenando a má influência das publicações das revistas de super-heróis.





                     Com o surgimento do Comics Code Authorithy, que passou a fiscalizar e censurar as publicações de super-heróis, controlando os conteúdo pesados que envolviam violência e apelos eróticos. E o Batman era o alvo principal do Wertham porque ele suspeitava que o herói fosse gay, por causa da sua aproximação com o Robin. E a visão do  comportamento LGBTQUIA+ na conservadora sociedade americana dos anos 1950, era vista como uma doença, um desvio de conduta, de psicopatia, caso de cadeia.  E como não ficava bem ele ficar tendo um romance com uma bandida,  e os roteiristas para poderem se adequar as imposições desse  órgão fiscalizador  de censura, onde eles só podiam distribuírem para vender nas bancas de jornais com o selo do CCA, então optaram por trabalharem umas histórias divertidas do Batman sem a Mulher-Gato aparecendo. O que mudou graças ao seriado de TV dos anos 1960. Em que ela retornou as HQs.




               Também não posso esquecer de mencionar os nomes  de John Turturro que está excelente na pele do ganancioso e  inescrupuloso mafioso Carmine Falcone, ele nessa trama vai apresentar uma forte relevância para o desenvolvimento do  arco da Mulher-Gato.  





                  Outras menções de elenco vão para Andy Serkis, conhecido por representar personagens em captura de movimento como o Gollum na franquia O Senhor dos Anéis(2001-2003), e fez o vilão Garra Sônica em dois filmes do MCU que foram Vingadores: Era de Ultron(Avengers: Age of Ultron, EUA, 2015) e em Pantera Negra(Black Panther, EUA, 2018). Está magnifico representando o Alfred Pennyworth, famoso mordomo de Bruce Wayne que sabe do seu segredo como Batman e que simboliza a figura paternal por ser o seu tutor. De uma forma diferente, com um ar até jovial  de meia-idade para compatibilizar com o Bruce Wayne representado por Pattinson que tem 35 anos. O que pode não aparentar pela cara de moleque de 25 anos.  Personagem muito importante dentro da mitologia do Batman, que o acompanha desde primeira adaptação para o cinema em 1943, mesma data da sua estreia nos quadrinhos. Onde o primeiro ator a representa-lo foi o inglês William Austin(1884-1975), cuja maneira como ele imprimiu um tom  de refinamento e de bom trato,  com características britânicas ao mordomo fez ele  ficar com esse toque de gentil lorde.   No  filme seguinte lançado em 1949, quem representou Alfred foi outro inglês  Eric Wilton(1882-1957).  Mas só foram duas décadas depois  na popular e clássica série de TV dos anos 1960, onde o Alfred, representado pelo também inglês  Alan Napier(1903-1988), ficou mais conhecido de grande parte do público,  ele conseguiu incorporar um mordomo menos sisudo, e mais divertido. Pode-se dizer que ele conseguia transmitir bem a característica do mordomo mais idoso, Napier já estava com 66 anos e  com os cabelos grisalhos. Ele  batia com a idade que West estava na época com 37 anos  ao protagonizar o Bruce ao  representar o herói já não mais  jovem, mas o homem com porte de garanhão  e assumindo a tutoria do Dick Grayson/Robin(Burt Ward).






E dessa forma nos acostumamos quando  o famoso mordomo do Batman foi representado por Michael Gough(1916-2011) na quadrilogia de filmes do Batman de Tim Burton e Joel Schumacher, onde ele desde o primeiro em que representou com Michael Keaton no papel principal, estando na época com 72 anos, correspondendo a idade que Keaton estava na época que estrelou o primeiro com 37 anos, também correspondendo a idade de Val Kilmer que no único filme de Batman que protagonizou em Batman Eternamente estava com 35 anos e George Clooney que em Batman & Robin estava com 36 anos. Ambos representavam o Bruce  com aquele típico  perfil de playboy garanhão. Na trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan, o Alfred foi representado pelo também inglês Michael Caine, que também o  incorporou com esse mesmo perfil idoso para corresponder ao perfil de Christian Bale, o protagonista daquela trilogia que estava com 29 anos e Caine estava com 71 anos. Na série Gotham, o personagem representando pelo também inglês Sean Pertwee, que estava com 50 anos quando  o representou não era tão idoso quando o representou, mas,  estava na meia-idade, para corresponder ao garoto David Mazoz que  estava com apenas 13 anos quando representou o Bruce Wayne adolescente.  Já nos filmes da linha Zack Snyder, protagonizado por Ben Afleck, Jeremy Irons também inglês representou o Alfred em Batman Vs Superman com 67 anos, correspondendo ao Bruce de Afleck na meia-idade com 42 anos.  E no filme do Coringa(Joker, EUA, 2019), o mordomo também apareceu o representando pelo também inglês Douglas Hodge na meia-idade com 58 anos acompanhando  o Bruce Wayne pequeno. Onde inclusive algumas características da desmistificação dos Wayne do filme do Coringa simbolizados como família perfeita, também foram trabalhadas em The Batman.








            E para fechar a menção ao elenco, destaco a participação de Jeffrey Wright como o policial James Gordon, personagem importante da mitologia do Batman, aquele que simboliza o único policial de Gotham a quem o Batman confiava para  manter  um contato dele ser  seu informante. E o acompanha desde sua primeira edição nas HQs.  Nesse filme o ator defendeu bem ele representado como afro-americano e com um aspecto mais jovial e vigoroso para encarar a ação, bem diferente das outras representações de atores brancos, sempre o representando como um cara já idoso com cabelos grisalhos, para mostrar o peso da experiência na polícia para poder ocupar aquela  importante patente  de comissário.  






O primeiro registro de ator a representá-lo no cinema foi Lylle Talbot(1902-1996), no filme do Batman, cinesserie de 1949. Mas o que ficou mais lembrado  mesmo no papel foi Neil Hamilton(1899-1984), no clássico seriado de TV dos anos 1960, onde eternizou o papel com esse perfil de homem mais idoso, já que Hamilton na época estava com 66 anos quando assumiu o papel na primeira temporada. O mesmo também ocorreu em relação a Pat Hingle(1924-2009), que representou o mesmo personagem na quadrilogia do Batman  de 1989-1997, com um bigode e um tanto fora de forma. Hingle estava com 64 anos quando representou o personagem no primeiro filme. Já o britânico  Gary Oldman, quando o representou na trilogia do Nolan(2005-2012), imprimiu um toque mais jovial e até mais vigoroso, já que quando ele representou o personagem em Batman Begins, ele estava com 46 anos. Onde ele correspondia a idade de Christian Bale estava na época. Onde aqui pela primeira vez fomos mostrados a ele começando no cargo de  tenente e virando comissário no filme seguinte. Em seguida, foi a vez de Ben Mackenzie o representar no seriado de TV Gotham, onde aqui ele representou o Gordon jovial, o ator estava na época com 36 anos quando fez a primeira temporada, que correspondia a representação do Bruce Wayne adolescente,  numa história que mostra uma visão de Gotham Citty Pré-Batman, onde o Gordon assumiu o protagonismo virando  o fio condutor da história, principalmente por ele transitar entre os diferentes núcleos que eram espalhados na cidade. Desde os policiais de seu departamento, passando a trabalhar em campo investigando os pontos  dos mafiosos, visitando  a mansão do Bruce Wayne enfim. Antes de Wright, houve a representação de J.K. Simmons, o eterno J.J. Jameson da trilogia clássica do Homem-Aranha de 2002-2007, que representou o papel do Gordon na Liga da Justiça com aquela visão mais experiente, idosa. Já que Simmons estava com 62 anos.





           Diante de tudo isso, posso constatar como o Batman em toda a sua história tem uma grande relevância para a cultura pop. Ele mesmo já tendo outras adaptações para cinema, ainda assim não deixar de ser empolgante ver um novo filme do herói.  





                 É meio difícil explicar qual razão dele atrair uma legião de fãs a cada nova geração, e especialmente me atrair. Provavelmente uma das explicações pode estar nele trazer uma típica característica do arquétipo campbeliano** do órfão,  que tem em todos os heróis. Talvez como uma forma de entendermos suas motivações para virarem vigilantes mascarados, ainda que isso não romantiza o drama deles viverem solitariamente sem pais, ainda mais no caso mais barra pesada do protagonista ter presenciado criança  os seus  pais morrerem na sua frente quando sofreram um assalto num beco a noite. Juntando também ao fato dos seus criadores Bob Kane(1915-1998) e Bill Finger(1914-1974), quando o conceberam para a revista Detective Comics em 1939, se inspiraram no momento em que os EUA estava vivendo um período conturbado durante a década de 1930 em que após a Crise da Bolsa de Nova York em 1929,  houve um grande aumento de desemprego, e como consequência disso houve também o alto índice de criminalidade e com o surgimento da Lei Seca, houve um predomínio das atividades  das máfias em diferentes estados americanos, comandando o dinheiro sujo, que gerou uma forte guerra por território. E o Batman veio como essa representação escapista da situação que o cenário americano dos anos 1930 vivia. Fora também as inspirações cinematográficas, como do próprio Batman  ter inspiração no filme The Bat(EUA, 1926), onde nessa obra do cinema mudo mostrava o protagonista assaltante fantasiado de Morcego. Do mesmo jeito em relação ao Coringa que foi inspirado no palhaço Gwyplaine, protagonista do filme mudo O Homem Que Ri(The Man Who Laughs, EUA, 1928), e a Mulher-Gato inspirada na atriz  Jean Harlow(1911-1937). 




              Em todas as comunidades de fãs de quadrinhos, que eu acompanho como do Cuscuz HQ ou mesmo do HQFã por exemplo,  há gente que ao não gostar do Batman, argumenta que ele apesar de não ter superpoderes, é distante da realidade por causa da sua  condição social de playboy milionário, filantropo, garanhão, elegante, refinado, que pode se utilizar de muitos apetrechos tecnológicos e simbolizado como um sujeito elitista. E o colocam num comparativo ao Homem-Aranha da Marvel, que também é um vigilante mascarado, que mesmo com superpoderes, está mais dentro da realidade por representar um pouco cada um de nós, numa figura como Peter Parker simbolizando um jovem  de classe média suburbana, cuidado por uma tia viúva que lida com alugueis e lida com  problemas comuns. Eu não tiro as razões para este argumento, porém, é necessário a gente ter em mente que quando o Homem-Aranha foi concebido pelo Stan Lee(1922-2018), para ser publicado na edição da Revista Amazing Fantasy em 1962, e vai completar 60 anos agora em 2022,  o personagem surgiu 23 anos após  o Batman, em um contexto completamente diferente. Enquanto que a dupla Bob Kane e Bill Finger ao criarem o  Batman no final da década de 1930, ele refletia uma simbologia de escapismo ao cenário social dos EUA, Pré-Segunda Guerra Mundial estava enfrentando uma guerra interna com os  mandos e desmandos dos gangsteres. E o  Batman simbolizava junto com o Superman e a Mulher-Maravilha uma representação divina dos heróis da Era de Ouro dos Quadrinhos. Onde eles eram equivalentes a deuses e estavam imunes de falhas. Já quanto ao Homem-Aranha, quando ele foi criado não só pelo Stan Lee, mas também por Steven Ditko(1927-2018) no começo dos anos 1960. O personagem foi concebido num contexto completamente diferente, onde aqui a  representação escapista do Cabeça de Teia, Amigão da Vizinhança, refletia um conceito diferente de construção de herói onde eles representaram realisticamente  seres humanos imperfeitos,  com falhas. No caso especifico do Cabeça de Teia, ele  era  representado por Peter Parker, um adolescente nerd, morador de subúrbio, órfão criado por sua  tia viúva, amante da ciência,  introvertido, que vivia sofrendo bullying na escola, a típica figura  do azarado que contraiu o superpoder sobre-humano de escalar paredes, e sentir um sexto sentido do sensor aranha. Um poder contraído ao ser picado por uma aranha radioativa de laboratório, que refletia bem a paixão de Stan Lee pela ciência, e também o momento em que o mundo se encontrava em pânico de a qualquer momento ocorrer uma guerra nuclear. Trazer um herói como o Homem-Aranha representado por um adolescente foi considerado uma revolução na época, pois até então os heróis adolescentes eram simbolizados como siderkicks(ajudantes), e o Robin do Batman simbolizava bem isso. Fora que também a gente não pode esquecer que o Batman simbolizado na figura de um milionário como Bruce Wayne, ele apesar de viver uma vida privilegiada, morando em uma mansão, tendo um mordomo como serviçal,  e vivendo como um playboy garanhão, que frequenta as glamorosas festas das alta sociedade,  ainda assim ele simboliza o drama real da pessoa que cresceu solitariamente traumatizado como órfão ao testemunhar seus pais morrerem num assalto. E foi isso que o motivou a criar o manto do Morcego, como vigilante mascarado  que simbolizava o medo dele na infância.  É bom quem costuma colocar esse argumento ao comparar o Batman com o Homem-Aranha, favorecendo o Homem-Aranha pela sua condição social. É bom lembrarmos  que antes de tudo, o Batman é fruto de sua época, e ele reflete a época onde foi criado duas décadas antes do Homem-Aranha.







             O que posso concluir de tudo isso é que independentemente de quando  tiverem  novas produções do Batman no cinema, de todo jeito ele sempre vai despertar o interesse de ser visto e atrair novas gerações de fãs.

 

 

*O selo de censura  do órgão  da Comics Code Authorithy nas publicações das revistas de super-heróis nos EUA, permaneceu ativo por 57 anos. Ele só foi extinto em 2011.

**O autor quis se referir ao conceito formulaico da Jornada do Herói,  do estudioso americano Joseph Campbell(1904-1987). Autor de diferentes livros sobre mitos, lendas de diferentes civilizações com seus heróis. Que serve como norte para os criadores de histórias ficcionais, pegando naqueles arquétipos. Onde o mais comum é o do órfão. 

domingo, 20 de março de 2022

30 ANOS DE INSTINTO SELVAGEM

 

Todo romancista que se preze em criar uma  obra de ficção, se inspira de algum modo em algo da sua realidade para criar o mote e a estética textual de sua trama. Que pode criar confusão com o público leitor, principalmente quando se essa obra traz uma abordagem pesada  sobre crimes chocantes de assassinatos que coincidem com a descrição do livro. E o filme Instinto Selvagem(Basic Instint, EUA,1992) representa bem este exemplo.




 Nesse clássico de suspense policial erótico que completa três décadas agora em 2022, cheios de muitos nudes, de todos o que faz mais sentido para a narrativa é na premissa do filme  que mostra a cena de sexo de um casal, onde supostamente seria a escritora  Catherine Tramell(Sharon Stone) cometendo o assassinato do cara, um cantor decadente  na cama num tom de violência gráfica bem pesada, onde ela se torna  suspeita número um já que no último livro de romance que ela escreveu, havia detalhes de um assassinato como ocorreu ali que intriga a polícia.




Principalmente o detetive Nick Curran(Michael Douglas). Que se vê tão envolvido emocionalmente no caso, que acaba se apaixonando pela Catherine Tramell.

Esse seu envolvimento no caso, o levará para uma cilada de uma perseguição de gato e rato, cheia de reviravoltas, principalmente quando o quebra-cabeça lhe surpreende durante a investigação da série de assassinatos que foram ocorrendo da forma como era descrito nos livros da escritora Catherine Tramell.  




Com um gênero misto de suspense policial, com pitadas de apelos eróticos, contando com a direção do holandês  Paul Verhoeven, cineasta que carrega um extenso currículo cinematográfico hollywoodiano dirigindo filmes neste estilo de ação  como Robocop-O Policial do Futuro( Robocop, EUA, 1987),  O Vingador do Futuro( Total Recall, EUA, 1990), onde contou com Sharon Stone fazendo  Lori,  a esposa de mentirinha de Douglas Quaid, papel do musculoso Arnold Schwarzenegger.  Também dirigiu posteriormente Showgirls( EUA, 1995) e  Tropas Estelares( Starship Troopers, EUA, 1997). Contou no elenco com Michael Douglas, filho do ator Kirk Douglas(1916-2020), que carrega  um extenso  currículo cinematográfico. Douglas interpretou  o papel do policial Nick Curran,  um sujeito de caráter dubio, que já teve problemas com  o seu transtornado  passado de  vicio no alcoolismo, e também  consumo de  drogas.  Curran se envolverá na investigação de um misterioso assassinato de uma antiga estrela do rock, Johnny Boz. A principal suspeita do assassinato de Boz é Catherine Tramell(Sharon Stone). 





E nesse filme protagonizando o papel de uma escritora, cuja especialidade é escrever romances de suspenses, relatando de forma nua e crua as práticas barbaras de crimes mais brutais do qual se pode imaginar.  A suspeita cai sobre Tramell por dois motivos: o primeiro  motivo  é que ela mantinha fazia algum tempo um romance com Boz, e o segundo motivo da suspeita cair sobre ela,  foi pela maneira como a polícia descobriu ao folhear  um livro dela recém-lançado, ficam intrigados com as descrições bastantes semelhantes com a maneira bárbara como foi feito o assassinato com Boz.





 E será a partir daí que tem  início uma trama bem elaborada, cheia de enigmas, cheia de quebra-cabeças, onde nem tudo o que é óbvio, não  se concretiza, e se descobre depois surpresas, capazes de gerar outros enigmas, outros mistérios, onde todos são suspeitos até que se prove o contrário.





E vai  ser nesse ciclo vicioso sem fim, que Curran acabará se envolvendo com Tramell, com direito a tórridas e antológicas  cenas picantes, onde ele acabará sendo o suspeito, e que também sobrará  para Beth Gardner(Jeanne Tripplehorn), a psiquiatra que trabalha na polícia, que tem uma proximidade muito suspeita com Curran, pelo dos dois já terem sido namorados, e que depois se descobre que ela se formou junta com na Faculdade de Psicologia e por quem, pelo que parece já nutria um interesse homoafetivo por Catherine, apresentando o lesbianismo ainda muito banal por assim nessa abordagem LGBTQIA+. 




Quatorze anos depois, Instinto Selvagem ganharia uma sequência, lançada em 2006, dirigida por Michael Caton-Jones, e que de novo contou com Sharon Stone  repetindo o papel da Tramell, mas sem a presença de Michael Douglas.

Mas não conseguiu repetir o sucesso desse primeiro. O filme é até hoje uma grande referência principalmente pelas picantes cenas de Michael Douglas e Sharon Stone.




 Instinto Selvagem foi  o grande responsável por gerar como  divisor de águas na carreira de  Sharon Stone, ao conseguir transformá-la  na musa hollywoodiana. Foi a partir dessa personagem de caráter dúbio, que ela se tornou a símbolo sexual masculina dos anos 1990, chegou até a posar nua para a Playboy americana.





Tamanho foi o sucesso que em sequência vieram vários papéis  de ação com apelos eróticos como Invasão de Privacidade(1993),  O Especialista(1994),  Cassino(1995) e Diabolique(1996), entre tantos outros  de gêneros diversos, que mesmo sem precisar de utilizar do seu erotismo para fazer sucesso, pelo menos mostrou bom empenho, em  papeis dramáticos mais sérios e densos.