Neste final de semana, assisti
na Netflix por curiosidade após ver uma matéria
do canal de cinema Entre Planos do
Youtube ao filme O Caldeirão Mágico(The Black Claudron,EUA,1985), desenho da Disney
que entra na galeria dos anais da história da empresa como um dos seus filmes esquecido.
A própria Disney tem lá suas razões para esquecer que já fez este filme devido
as situações problemáticas enfrentadas durante a fase de pré e de pós-produção,
tamanho foi o trabalho que a Disney
enfrentou nos bastidores, que terminou resultando no maior fracasso de
bilheteria que quase arruinou a empresa. A Disney havia depositado um investimento alto neste filme, que
apresentava uma ótima proposta de trama que tinha tudo para atrair
comercialmente com o licenciamento de brinquedos, camisas, lancheiras entre
outros fatores. O roteiro teve como base numa série de livros de fantasia intitulada de As
Crônicas de Prydan de Lloyd Alexander(1924-2007)
publicados originalmente entre os anos de 1964-1968. Foi por volta de 1970/71, que a Disney adquiriu
o direito de fazer a adaptação desse livro em filme em animação, com potencial
de merchandising para o público infantil. Acontece que ao longo dos l15 anos de
espera para concretizar este filme apareceram muitas pedras no sapato da Disney
que a adiaram bastante para realizar
este feito. Primeiro foi com a saída de sua equipe de animadores veteranos, que
contava com nomes de pesos, com a saída destes e a entrada de novatos sem muita
experiência nas técnicas de animação tornava inviável um trabalho de qualidade, o
que só piorou quando houve uma greve sindical ocorrida em 1982. Durante a fase
de produção, a equipe de animadores fez as ilustrações de cada cena separado, o
que terminou afetando na qualidade dos frames, na qualidade dos traços dos
personagens. Isto também afetou na coerência da estrutura narrativa do enredo. A
premissa da história até que começa bem envolvente nos apresentando o garoto camponês
Taran, vivendo uma vida comum, pacata, atuando como guardador de porcos
na fazenda de um mago Daliben. Neste primeiro ato do filme ele deixa bem claro
que Taran vai ser do condutor para o mote da história, aqui é mostrado que ele sonha em ser
um herói, um guerreiro para enfrentar o temido Rei de Chifres, por ser um órfão
aqui vemos muitas influencias de elementos que rementem ao conceito da Jornada
do Herói formulado pelo mitólogo americano Joseph Campbell(1904-1987). Isto
fica bem evidente no momento em que a porquinha de estimação de Daliben, Hen
When mostrar uma reação de medo e nisto somos apresentados ao seu dom místico de
vidente, que quando ela bate na água reflete qual será a sua previsão de
perigo. E o que será revelado lá é que o Rei de Chifres está atrás do poderoso Caldeirão Negro para ficar superpoderoso
e usar de suas energias despertar guerreiros mortos e trazer as trevas para o mundo de
Prydan. Sabendo desse perigo, Daliben encarrega Taran de cuidar e fugir com a
porquinha para que ela não caia nas mãos malignas do Rei de Chifres. É dessa
forma que temos o inicio do formato do escopo do mote da trama que envolve a jornada do
protagonista em proteger um animal com um dom das garras de gente
mal-intencionada, onde ao longo dessa aventura ele vai encarar muitos desafios
e irá conhecer novos amigos que vão acompanhar em sua jornada e virarem seus
importantes aliados como Gurgi, um ser peludo atrapalhado que parece um chimpanzé
com cara de cachorro, a Princesa Eilowy que aparece para tirá-lo do calabouço e
o atrapalhado músico de harpa Flewddur. Uma
formula bem básica para dar mais fluidez a trama, algo que aqui não é muito
sentido. Ao longo do desenvolver do mote, o enredo vai meio que se perdendo, a
porquinha Hen Whein que no começo era a parte importante para a missão de Taran
por causa do seu dom místico despertar o interesse maquiavélico do antagonista,
da metade para o fim termina ficando esquecida. Os outros personagens
apresentado na trama tem suas personalidades muito mal desenvolvidas ao longo
do filme, Taran como protagonista até que apresenta uma boa motivação que
poderia sustentar a trama, mas logo que ele conhece seus companheiros de
jornadas para gerarem um equilíbrio para segurar o filme, que são apresentados de uma forma
muito rasa, como a Princesa Eliowy que
resgata Taran do calabouço do Rei de Chifres, neste momento onde
ela se apresenta pela primeira vez, ela
até gera o despertar do interesse do público por representar uma visão diferente das princesas da Disney que até então
eram vistas como as donzelas indefesas que precisavam dependerem do Príncipe
Encantado para protege-las do mal das
bruxas, aqui no caso não, é ela quem salva o herói do perigo, a maneira diferente como ela foi mostrada
daria uma concepção diferente as
histórias de princesas, acontece que ao longo da trama a participação dela em nada contribui para o andar da história,
assim como a presença do músico Flewddur para ser o alivio cômico da história
acaba também não contribuindo em nada. Fora também a presença das fadas e do
trio de bruxas não ajudarem a dar fluidez para a trama. Com exceção do Gurgi, que foi o único que
conseguiu transmitir maior destaque, principalmente no plot twist do enredo e
gerando uma forte dramática para a trama, ainda assim não foi o suficiente para
salvar o filme.
Fora que também, a Disney
bem tentou colocar um elemento diferente do que ela costumava trabalhar em seus
filmes. Trabalhou um elemento mais experimental em não colocar diálogos cantados,
como ela sempre costuma fazer uma encenação musical para ficar com um tom mais
teatralizado e a falta disso no filme fez o público da época estranhar. Colocou
um tom sombrio demais, especialmente nas cenas das florestas do castelo do Rei
de Chifre com paletas de cores muito escuras, isto também fez o público
estranhar a ponto de acha-lo muito pesado para criança, fora o fato de mostrar
uma cena onde a boca de Taran sangra, e a maneira como o Rei de Chifres ficou
caracterizado em um tom muito assustador foi também o principal fator que
desagradou a critica e o publico, a ponto de gerar um enorme prejuízo para a
Disney. De fato, a Disney tem muitos motivos para esquecer que já fez este
filme, e o colocar na sua galeria dos mais esquecíveis, especialmente por ter
sido lançado numa época em que o estúdio passava por uma fase crítica como foi
entre o começo e meados dos anos 1980. Apesar do legado ruim que o filme
causou, de todo modo há de se notar alguns poucos pontos positivos que ele
apresenta, como o fato de ter ousado em usar a primeira vez a inovadora e
revolucionaria técnica computadorizada
dentro da animação da tradicional em 2D feita a mão, que criam ótimos efeitos
de frames, especialmente nas cenas ao redor do caldeirão e quando os mortos são
despertados, o efeito visual daquilo gerou um show a parte. Por ter
ousado em tentar ir por um caminho diferente no formato das histórias
convencionais do estúdio. Pena que isto não seja o suficiente para abrilhantar
o filme, e torna-lo uma referencia de obra-prima clássica, especialmente pelas
falhas técnicas dos frames, e dos traços, consequência do trabalho apressado
dos animadores que fazem com que o filme com o tempo envelheça mal. Por fim,
posso destacar dentre os poucos pontos positivos apresentados no filme, está o bom desempenho
da dublagem brasileira. O elenco apresentado neste é de primeira qualidade,
dentre os nomes destaco para Márcios Seixas(dublador dos filmes de James Bond
com Sean Connery, Roger Moore e Timonthy Dalton e do Batman em Batman: Animated
Series) como narrador, Mario Jorge de Andrade(Dublador dos atores John
Travolta, Eddie Murphy, Gorpo de He-Man e Burro de Shrek) faz a voz do Gurgi usando de
um timbre de voz bem infantilizado ajudando a caracterizar a personalidade
cômica do personagem, Isaac Bardavid(Voz do Wolverine e do Esqueleto de He-Man)
faz um trabalho cômico perfeito como o Flewddur. E por fim, o elenco da
dublagem também contou com o saudoso Garcia Neto(1931-1996-Voz do Homem-Fera de
He-Man, narrador dos desenhos de Pica-Pau dentre outros trabalhos), é quem fez
a voz do antagonista Rei dos Chifres cuja maneira como ele construiu a fala do personagem em tom de secura o ajudou a criar o tom
sinistro e apavorante que ele exigia. Enfim, posso definir que apesar de O Caldeirão Mágico apresentar muitas
falhas e foram estas falhas as responsáveis por quase afundar a Disney devido
ao tamanho prejuízo que ela causou a ponto dela ficar na galeria dos seus
filmes esquecidos, ainda assim é um filme que vale a pena conhecer a nível de
curiosidade.