terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CRÍTICA DE O CALDEIRÃO MÁGICO(1985)-O DESENHO ESQUECIDO DA DISNEY



Neste final de semana, assisti na Netflix  por curiosidade após ver uma matéria do canal  de cinema Entre Planos do Youtube  ao filme O Caldeirão Mágico(The Black Claudron,EUA,1985), desenho da Disney que entra na galeria dos anais da história da empresa como um dos seus filmes esquecido.




















 A própria Disney tem lá suas razões para esquecer que já fez este filme devido as situações problemáticas enfrentadas durante a fase de pré e de pós-produção, tamanho foi o trabalho que a Disney  enfrentou nos bastidores, que terminou resultando no maior fracasso de bilheteria que quase arruinou a empresa.  A Disney havia depositado  um investimento alto neste filme, que apresentava uma ótima proposta de trama que tinha tudo para atrair comercialmente com o licenciamento de brinquedos, camisas, lancheiras entre outros fatores. O roteiro teve como base numa série de livros de fantasia  intitulada de  As Crônicas de Prydan  de Lloyd Alexander(1924-2007) publicados originalmente entre os anos de 1964-1968.  Foi por volta de 1970/71, que a Disney adquiriu o direito de fazer a adaptação desse livro em filme em animação, com potencial de merchandising para o público infantil. Acontece que ao longo dos l15 anos de espera para concretizar este filme apareceram muitas pedras no sapato da Disney  que a adiaram bastante para realizar este feito. Primeiro foi com a saída de sua equipe de animadores veteranos, que contava com nomes de pesos, com a saída destes e a entrada de novatos sem muita experiência nas técnicas de animação  tornava inviável um trabalho de qualidade, o que só piorou quando houve uma greve sindical ocorrida em 1982. Durante a fase de produção, a equipe de animadores fez as ilustrações de cada cena separado, o que terminou afetando na qualidade dos frames, na qualidade dos traços dos personagens. Isto também afetou na coerência da estrutura narrativa do enredo. A premissa da história até que começa bem envolvente nos apresentando o garoto camponês  Taran, vivendo uma vida  comum, pacata, atuando como guardador de porcos na fazenda de um mago Daliben. Neste primeiro ato do filme ele deixa bem claro que Taran vai ser do condutor para o mote da  história, aqui é mostrado que ele sonha em ser um herói, um guerreiro para enfrentar o temido Rei de Chifres, por ser um órfão aqui vemos muitas influencias de elementos que rementem ao conceito da Jornada do Herói formulado pelo mitólogo americano Joseph Campbell(1904-1987). Isto fica bem evidente no momento em que a porquinha de estimação de Daliben, Hen When mostrar uma reação de medo e nisto somos apresentados ao seu dom místico de vidente, que quando ela bate na água reflete qual será a sua previsão de perigo. E o que será revelado lá é que o Rei de Chifres está atrás do poderoso Caldeirão Negro para ficar superpoderoso e usar de suas energias despertar guerreiros  mortos e trazer as trevas para o mundo de Prydan. Sabendo desse perigo, Daliben encarrega Taran de cuidar e fugir com a porquinha para que ela não caia nas mãos malignas do Rei de Chifres. É dessa forma que temos o inicio do formato do escopo  do mote da trama que envolve a jornada do protagonista em proteger um animal com um dom das garras de gente mal-intencionada, onde ao longo dessa aventura ele vai encarar muitos desafios e irá conhecer novos amigos que vão acompanhar em sua jornada e virarem seus importantes aliados como Gurgi, um ser peludo atrapalhado que parece um chimpanzé com cara de cachorro, a Princesa Eilowy que aparece para tirá-lo do calabouço e o atrapalhado  músico de harpa Flewddur. Uma formula bem básica para dar mais fluidez a trama, algo que aqui não é muito sentido. Ao longo do desenvolver do mote, o enredo vai meio que se perdendo, a porquinha Hen Whein que no começo era a parte importante para a missão de Taran por causa do seu dom místico despertar o interesse maquiavélico do antagonista, da metade para o fim termina ficando esquecida. Os outros personagens apresentado na trama tem suas personalidades muito mal desenvolvidas ao longo do filme, Taran como protagonista até que apresenta uma boa motivação que poderia  sustentar a trama,  mas logo que ele conhece seus companheiros de jornadas para gerarem um equilíbrio para segurar  o filme, que são apresentados de uma forma muito rasa, como a Princesa Eliowy que  resgata Taran do calabouço do Rei de Chifres, neste momento   onde ela se apresenta  pela primeira vez, ela até gera o despertar do interesse do público por representar uma visão  diferente das princesas da Disney que até então eram vistas como as donzelas indefesas que precisavam dependerem do Príncipe Encantado  para protege-las do mal das bruxas, aqui no caso não, é ela quem salva o herói do perigo,  a maneira diferente como ela foi mostrada daria uma concepção diferente  as histórias de princesas, acontece que ao longo da trama a participação dela  em nada contribui para o andar da história, assim como a presença do músico Flewddur para ser o alivio cômico da história acaba também não contribuindo em nada. Fora também a presença das fadas e do trio de bruxas não ajudarem a dar fluidez para a trama.  Com exceção do Gurgi, que foi o único que conseguiu transmitir maior destaque, principalmente no plot twist do enredo e gerando uma forte dramática para a trama, ainda assim não foi o suficiente para salvar o filme.
Fora que também, a Disney bem tentou colocar um elemento diferente do que ela costumava trabalhar em seus filmes. Trabalhou um elemento mais experimental em não colocar diálogos cantados, como ela sempre costuma fazer uma encenação musical para ficar com um tom mais teatralizado e a falta disso no filme fez o público da época estranhar. Colocou um tom sombrio demais, especialmente nas cenas das florestas do castelo do Rei de Chifre com paletas de cores muito escuras, isto também fez o público estranhar a ponto de acha-lo muito pesado para criança, fora o fato de mostrar uma cena onde a boca de Taran sangra, e a maneira como o Rei de Chifres ficou caracterizado em um tom muito assustador foi também o principal fator que desagradou a critica e o publico, a ponto de gerar um enorme prejuízo para a Disney. De fato, a Disney tem muitos motivos para esquecer que já fez este filme, e o colocar na sua galeria dos mais esquecíveis, especialmente por ter sido lançado numa época em que o estúdio passava por uma fase crítica como foi entre o começo e meados dos anos 1980. Apesar do legado ruim que o filme causou, de todo modo há de se notar alguns poucos pontos positivos que ele apresenta, como o fato de ter ousado em usar a primeira vez a inovadora e revolucionaria  técnica computadorizada dentro da animação da tradicional em 2D feita a mão, que criam ótimos efeitos de frames, especialmente nas cenas ao redor do caldeirão e quando os mortos são despertados, o efeito visual daquilo gerou um show a parte.     Por ter ousado em tentar ir por um caminho diferente no formato das histórias convencionais do estúdio. Pena que isto não seja o suficiente para abrilhantar o filme, e torna-lo uma referencia de obra-prima clássica, especialmente pelas falhas técnicas dos frames, e dos traços, consequência do trabalho apressado dos animadores que fazem com que o filme com o tempo envelheça mal. Por fim, posso destacar dentre os poucos pontos  positivos apresentados no filme, está o bom desempenho da dublagem brasileira. O elenco apresentado neste é de primeira qualidade, dentre os nomes destaco para Márcios Seixas(dublador dos filmes de James Bond com Sean Connery, Roger Moore e Timonthy Dalton e do Batman em Batman: Animated Series) como narrador, Mario Jorge de Andrade(Dublador dos atores John Travolta, Eddie Murphy, Gorpo de He-Man  e Burro de Shrek) faz a voz do Gurgi usando de um timbre de voz bem infantilizado ajudando a caracterizar a personalidade cômica do personagem, Isaac Bardavid(Voz do Wolverine e do Esqueleto de He-Man) faz um trabalho cômico perfeito como o Flewddur. E por fim, o elenco da dublagem também contou com o saudoso Garcia Neto(1931-1996-Voz do Homem-Fera de He-Man, narrador dos desenhos de Pica-Pau dentre outros trabalhos), é quem fez a voz do antagonista Rei dos Chifres cuja maneira como ele construiu  a fala do personagem  em tom de secura o ajudou a criar o tom sinistro e apavorante que ele exigia. Enfim, posso definir que apesar de O Caldeirão Mágico apresentar muitas falhas e foram estas falhas as responsáveis por quase afundar a Disney devido ao tamanho prejuízo que ela causou a ponto dela ficar na galeria dos seus filmes esquecidos, ainda assim é um filme que vale a pena conhecer a nível de curiosidade.  

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