sábado, 22 de setembro de 2018

FILME MUNDO CÃO E A CRÍTICA AO BANAL.


Quem como eu, costuma ler textos críticos sobre televisão escrito  por colunistas de sites especializados já deve ter ouvido falar de uma expressão chamada de Mundo Cão. Usada para definir de forma pejorativa as situações apelativamente absurdas, ridículas, sensacionalistas  ou mesmo da mais  pura baixaria usadas como recurso para atrair mais audiência. Esta nomenclatura tem origem  no título de um filme italiano do gênero shockumentary¹ lançado em 1962 que perdeu a Palma de Ouro em Cannes para o brasileiro O Pagador de Promessas. O filme continha cenas “de depravação e perversidade, recolhidas em vários países.”² Com o intuito de fazer chocar e conseguiu. A partir disso, a nomenclatura de Mundo Cão passou a ser associado a tudo de mais chocante e apelação a baixaria para fazer um circo dos horrores passou a ser adotado no vale tudo pela audiência dos programas de televisão, principalmente os de apelo popular com tom agressivo. 












Esse mesmo nome usado para denominar esta situação absurda é o que também dá  título ao filme brasileiro do gênero suspense  dirigido por Marcos Jorge.  A trama de Mundo Cão(Bra, 2016) gira em torno do técnico do Departamento de Combate a  Zoonoses(Doenças infecciosas transmitidas dos animais para os seres humanos) Santana(Babu Santana)um homem de vida pacata, avesso as confusões. Que adora dividir entre a família formada por sua esposa Dilza(Adriana Esteves) e os dois filhos Isaura e João(Thainá Duarte e Vini Carvalho) com seu hobby de tocar bateria. Acontece que sua tranquilidade ficará ameaçada logo após ele capturar um rottweiller que estava apavorando os alunos de uma escola pública. Logo após ele capturar este cachorro e leva-lo para o Departamento de Zoonose, passados três dias que o dono não tinha aparecido, ele resolve então cumprir o procedimento de sacrificar o cachorro, um pouco antes de ser sancionada a lei que proibia o sacrifico de animais abandonados que passou a valer a partir de 2008. Acontece que poucas horas após  cumprir este procedimento, o dono do rottweiller aparece, e para o seu  azar o sujeito trata-se de um ex-policial que que faz fortunas com negócios escusos chamado Nené(Lázaro Ramos), que desde a premissa do filme o apresentando primeiramente num bar soltando seus dobermanns para atacar o dono do estabelecimento por  lhe passar a perna, já demostrava que o sujeito  não era flor que se cheire.










Será a partir daquele momento após sacrificar o rottweiller de Nené no Departamento de Zoonoses  que a vida sossegada do Santana não será mais a mesma. Isso porque Nené passa a atormentar a sua vida sequestrando o seu filho João.  Deixando ele e toda a sua família preocupados,  indo de  delegacia em delegacia para procurar algo sinal de vida do garoto. Como se não bastasse toda essa desgraça na sua vida, ocorre de sua esposa Dilza morrer acidentada por um ônibus em um trânsito em movimento. Será a partir disso que sua vida irá mudar completamente  com este ponto de virada da trama  onde  resolve fazer justiça com as próprias mãos.  Planejando sequestrar Nené, fazê-lo comer o pão que o diabo amassou e depois executá-lo, coisa ao qual ele se acovarda.













A direção do Marcos Jorge consegue mostrar uma boa condução da história ao saber como aliar ao texto,  conseguindo  colocar uma boa dose de suspense com teor bem barra pesada, com pitadas dramáticas e com levezas cômicas.









Aliado também ao bom elenco afiado e bem escalados para trabalharem no filme,  o Babu Santana como Santana desempenha bem as diferentes camadas que ele protagoniza na história de um cara pacato, boa praça, zeloso pela família, caseiro, que tem sua vida mudada do avesso  após matar o rottweiller  cujo dono é um sujeito que não é flor que se cheire e passa a atormentar sua vida a ponto dele ficar um obsessivo por vingança, após os trágicos acontecimentos do sequestro de seu filho e da morte de sua esposa Dilza, ele consegue transmitir  bem ao público quais são as motivações para o que está fazendo, a ponto de não ser a mais correta possível. Já Adriana Esteves como  Dilza, desempenha perfeitamente  no papel da  típica figura da simples mulher do lar, recatada, evangélica temente a Deus e mãe  conservadora preocupada e zelosa no filme de uma forma magistral, especialmente no momento em que ela no desespero de buscar João, seu filho desparecido, ocorre dela sofrer um acidente de ônibus e isto lhe tira a vida  e o fim de seu arco na trama mostra uma enorme para o ponto de virada que faz o Santana resolver ir atrás para fazer justiça com as próprias mãos. Lázaro Ramos como o antagonista  Nené mostra um bom desempenho no papel, colocando ares de sutilezas no personagem, mesmo quando ele age de forma agressiva. Onde a gente entende as suas motivações mesmo que também não fosse a mais correta possível. Ele desempenha muito muitas camadas ao personagem, principalmente quando ele mantém o pequeno João, o filho de Santana como seu refém. Ele muito espertamente resolve para este se mostrar agradável ao menino o leva para o estádio de futebol para assistir ao jogo do mesmo time que eles  torcem, o Palmeiras.






Também destacar para o menino  Vini  Carvalho como o pequeno João, filho caçula do Santana que se torna o alvo do Nené para ser sequestrado, ele desempenha brilhantemente o papel especialmente quando tem de  chorar a gente nota as lágrimas escorrendo dos seus olhos. A Thainá Duarte como a Isaura, filha adolescente de Santana, também está brilhante no papel. Especialmente após a segunda metade, no ponto de virada em que sua mãe morre sem ver o retorno do João, que ela resolve ficar muda e se comunicar com a linguagem de sinais ou em libras, usada para surdos. Ela se mostrará a grande surpresa para o ato final. E para fechar o elenco, destacar para a participação de Paulinho Serra, ator da nova safra de comediantes fazendo umas pontas bem engraçadas como o companheiro do Santana no Departamento de Zoonoses  com boas tiradas cômicas para dar uma leveza ao tom barra pesada do filme. 







No balanço geral, Mundo Cão trata-se de um filme que apresenta um bom  mote barra pesada que pode ser que não agrade a todo mundo, especialmente no que envolve umas motivações muito absurdamente fúteis e muitas vezes banais que geraram uma grande tempestade em copo d´água na vida e que resultou em grandes tragédias, a ponto de ocasionar um ciclo sem fim de violência.  No caso Santana se vingar de Nené por ter trazido a grande a desgraça em sua vida depois que este matou o seu rottweiller. Ele bem reflete o que na realidade tem ocorrido com o que a gente de vez em quando se depara constantemente nos noticiários sensacionalista sobre violência dos crimes mais banais por motivos torpes e fúteis que levam uma pessoa praticar, e nos tempos como os de hoje temos visto nas redes sociais as pessoas não se tolerarem mais por suas diferenças, especialmente no atual clima de incerteza do nosso atual cenário político e especialmente nesse ano eleitoral onde todo mundo por suas paixões convicções e paixões partidárias doentias fazem de tudo para conflitar com quem não pensa igual a ele e resolve não querer falar mais com esta pessoa. Gerando assim novas ondas de intolerâncias.



E este filme aborda bem isso, da forma mais escancarada possível.



¹N.T. Palavra inglesa  sem tradução no português  que serve bem para definir “um tipo de gênero de filmes documentais, algumas vezes parecidos com documentários de ficção, representando temas e cenas sensacionalistas.”  Consultoria: Wikipédia:




²N.T. Trecho extraído do site da Academia Brasileira de Letras em texto de Zuenir Ventura de sua matéria no jornal O Globo, 30 de Abril de 2016.

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