Quem como eu, costuma
ler textos críticos sobre televisão escrito por colunistas de sites especializados já deve
ter ouvido falar de uma expressão chamada de Mundo Cão. Usada para
definir de forma pejorativa as situações apelativamente absurdas, ridículas,
sensacionalistas ou mesmo da mais pura baixaria usadas como recurso para atrair
mais audiência. Esta nomenclatura tem origem
no título de um filme italiano do gênero shockumentary¹ lançado em 1962
que perdeu a Palma de Ouro em Cannes para o brasileiro O Pagador de Promessas. O
filme continha cenas “de depravação e perversidade, recolhidas em vários países.”²
Com o intuito de fazer chocar e conseguiu. A partir disso, a nomenclatura de
Mundo Cão passou a ser associado a tudo de mais chocante e apelação a baixaria
para fazer um circo dos horrores passou a ser adotado no vale tudo pela
audiência dos programas de televisão, principalmente os de apelo popular com
tom agressivo.
Esse mesmo nome usado para
denominar esta situação absurda é o que também dá título ao filme brasileiro do gênero
suspense dirigido por Marcos Jorge. A trama de Mundo Cão(Bra, 2016) gira
em torno do técnico do Departamento de Combate a Zoonoses(Doenças infecciosas transmitidas dos
animais para os seres humanos) Santana(Babu Santana)um homem de vida pacata,
avesso as confusões. Que adora dividir entre a família formada por sua esposa
Dilza(Adriana Esteves) e os dois filhos Isaura e João(Thainá Duarte e Vini
Carvalho) com seu hobby de tocar bateria. Acontece que sua tranquilidade ficará
ameaçada logo após ele capturar um rottweiller que estava apavorando os alunos
de uma escola pública. Logo após ele capturar este cachorro e leva-lo para o
Departamento de Zoonose, passados três dias que o dono não tinha aparecido, ele
resolve então cumprir o procedimento de sacrificar o cachorro, um pouco antes
de ser sancionada a lei que proibia o sacrifico de animais abandonados que
passou a valer a partir de 2008. Acontece que poucas horas após cumprir este procedimento, o dono do
rottweiller aparece, e para o seu azar o
sujeito trata-se de um ex-policial que que faz fortunas com negócios escusos
chamado Nené(Lázaro Ramos), que desde a premissa do filme o apresentando
primeiramente num bar soltando seus dobermanns para atacar o dono do
estabelecimento por lhe passar a perna,
já demostrava que o sujeito não era flor
que se cheire.
Será a partir daquele momento
após sacrificar o rottweiller de Nené no Departamento de Zoonoses que a vida sossegada do Santana não será mais
a mesma. Isso porque Nené passa a atormentar a sua vida sequestrando o seu
filho João. Deixando ele e toda a sua
família preocupados, indo de delegacia em delegacia para procurar algo
sinal de vida do garoto. Como se não bastasse toda essa desgraça na sua vida,
ocorre de sua esposa Dilza morrer acidentada por um ônibus em um trânsito em
movimento. Será a partir disso que sua vida irá mudar completamente com este ponto de virada da trama onde
resolve fazer justiça com as próprias mãos. Planejando sequestrar Nené, fazê-lo comer o
pão que o diabo amassou e depois executá-lo, coisa ao qual ele se acovarda.
A direção do Marcos Jorge
consegue mostrar uma boa condução da história ao saber como aliar ao texto, conseguindo colocar uma boa dose de suspense com teor bem
barra pesada, com pitadas dramáticas e com levezas cômicas.
Aliado também ao bom elenco afiado
e bem escalados para trabalharem no filme,
o Babu Santana como Santana desempenha bem as diferentes camadas que ele
protagoniza na história de um cara pacato, boa praça, zeloso pela família,
caseiro, que tem sua vida mudada do avesso após matar o rottweiller cujo dono é um sujeito que não é flor que se
cheire e passa a atormentar sua vida a ponto dele ficar um obsessivo por vingança,
após os trágicos acontecimentos do sequestro de seu filho e da morte de sua
esposa Dilza, ele consegue transmitir bem ao público quais são as motivações para o
que está fazendo, a ponto de não ser a mais correta possível. Já Adriana
Esteves como Dilza, desempenha perfeitamente
no papel da típica figura da simples mulher do lar, recatada,
evangélica temente a Deus e mãe conservadora
preocupada e zelosa no filme de uma forma magistral, especialmente no momento
em que ela no desespero de buscar João, seu filho desparecido, ocorre dela
sofrer um acidente de ônibus e isto lhe tira a vida e o fim de seu arco na trama mostra uma enorme
para o ponto de virada que faz o Santana resolver ir atrás para fazer justiça
com as próprias mãos. Lázaro Ramos como o antagonista Nené mostra um bom desempenho no papel, colocando
ares de sutilezas no personagem, mesmo quando ele age de forma agressiva. Onde
a gente entende as suas motivações mesmo que também não fosse a mais correta possível.
Ele desempenha muito muitas camadas ao personagem, principalmente quando ele
mantém o pequeno João, o filho de Santana como seu refém. Ele muito espertamente
resolve para este se mostrar agradável ao menino o leva para o estádio de futebol
para assistir ao jogo do mesmo time que eles torcem, o Palmeiras.
Também destacar para o menino Vini
Carvalho como o pequeno João, filho caçula do Santana que se torna o alvo
do Nené para ser sequestrado, ele desempenha brilhantemente o papel
especialmente quando tem de chorar a
gente nota as lágrimas escorrendo dos seus olhos. A Thainá Duarte como a Isaura,
filha adolescente de Santana, também está brilhante no papel. Especialmente
após a segunda metade, no ponto de virada em que sua mãe morre sem ver o retorno
do João, que ela resolve ficar muda e se comunicar com a linguagem de sinais ou
em libras, usada para surdos. Ela se mostrará a grande surpresa para o ato
final. E para fechar o elenco, destacar para a participação de Paulinho Serra, ator
da nova safra de comediantes fazendo umas pontas bem engraçadas como o
companheiro do Santana no Departamento de Zoonoses com boas tiradas cômicas para dar uma leveza
ao tom barra pesada do filme.
No balanço geral, Mundo Cão trata-se de um filme que apresenta
um bom mote barra pesada que pode ser
que não agrade a todo mundo, especialmente no que envolve umas motivações muito
absurdamente fúteis e muitas vezes banais que geraram uma grande tempestade em
copo d´água na vida e que resultou em grandes tragédias, a ponto de ocasionar
um ciclo sem fim de violência. No caso Santana
se vingar de Nené por ter trazido a grande a desgraça em sua vida depois que
este matou o seu rottweiller. Ele bem reflete o que na realidade tem ocorrido com
o que a gente de vez em quando se depara constantemente nos noticiários sensacionalista
sobre violência dos crimes mais banais por motivos torpes e fúteis que levam
uma pessoa praticar, e nos tempos como os de hoje temos visto nas redes sociais
as pessoas não se tolerarem mais por suas diferenças, especialmente no atual
clima de incerteza do nosso atual cenário político e especialmente nesse ano eleitoral
onde todo mundo por suas paixões convicções e paixões partidárias doentias fazem
de tudo para conflitar com quem não pensa igual a ele e resolve não querer
falar mais com esta pessoa. Gerando assim novas ondas de intolerâncias.
E este filme aborda bem isso,
da forma mais escancarada possível.
¹N.T. Palavra
inglesa sem tradução no português que serve bem para definir “um tipo de gênero
de filmes documentais, algumas vezes parecidos com documentários de ficção,
representando temas e cenas sensacionalistas.”
Consultoria: Wikipédia:
²N.T. Trecho extraído do site
da Academia Brasileira de Letras em texto de Zuenir Ventura de sua matéria no
jornal O Globo, 30 de Abril de 2016.
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