No dia 16 de Abril de 1889,
nascia em Londres, capital da Inglaterra, um dos maiores gênios da história da
comédia no cinema mudo. Charles Spencer Chaplin. Uma das maiores contribuições que
Charles Chaplin imprimiu na sétima arte, especialmente nos primórdios do século 20, quando ela nem tinha completado uma década quando foi
apresentada a primeira vez em Paris no ano de 1895 pelos Irmãos Auguste(1862-1954)
e Louis Lumiere(1864-1948).
Foi no chamado humor físico, que se utiliza das quedas constantes dos
personagens, uso de objetos em cenas, nas caretas ou mesmo nas brigas de comidas que provocavam
o riso fácil no espectador. Também denominado de comédia pastelão. Um estilo de
humor que já existia desde os primórdios do teatro nos tempos da Grécia Antiga, que também é muito utilizado no circo pelos
palhaços e nos mímicos.
Chaplin foi um dos expoentes
e também precursores junto a Buster Keaton(1895-1966) e Harold Lloyd(1893-1971)(com
quem muitos cinéfilos fazem comparativos) desse estilo de comédia no cinema naquelas primeiras décadas do
século 20, quando a indústria era ainda muito tímida, ainda não havia
organização sindical entre os artistas e ele foi importante neste momento
também já que junto a Douglas Faribarks(1883-1939),
Mary Pickford(1892-1979) e D.W.Grifith(1875-1948) fundaram em 1919, a United
Artists. Os filmes ainda não tinham sequer áudio, portanto, o humor físico,
trazendo elementos com influências teatrais, circenses e também burlescos até aquele momento
foram muito importantes, especialmente depois que ele se mudou para a América.
Isso até que em 1927, o seu estilo próprio de comédia ficaria ameaçado quando era lançado O
Cantor de Jazz, o primeiro com áudio falado da história. Onde podia-se ouvir
as vozes dos atores dialogando. Já que antes disso, só era possível entender os
diálogos por meio da legenda em forma de letreiro que aparecia após o corte da
cena. Chaplin como gostava muito de trabalhar com mimica, foi bastante
resistente a esta ideia de incluir o áudio nos seus filmes. Especialmente no
seu célebre personagem Carlitos, também conhecido como Vagabundo que no
original é chamado The Tramp. Personagem que foi apresentado a primeira vez no
filme Corridas de Automóveis para Meninos(1914).
Por causa do
auge do cinema falado na década de 1930, não querendo que seu personagem
falasse, pois via que o charme dele não estava em falar, mas sim em gesticular.
Resolve aposentá-lo no filme Tempos Modernos(1936). Carlitos
representava bem a típica figura de um “andarilho pobretão, que possui todas as
maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro (gentleman), usando um fraque
preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número,
um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e - sua marca pessoal - um
pequeno bigode-de-broxa.”* O personagem tornou-se o alter ego do próprio
Chaplin. Com ele, Chaplin representou uma
forma bem sutil de fazer uma espécie de critica social a pessoa excluída
aludindo a um típico mendigo maltrapilho que existe em todo lugar, que foi
também uma das marcas importantes que ele imprimiu neste seu estilo de humor
bastante transgressor. O que gerou um desagrado muito grande, especialmente da
parte dos Mandachuvas da política americana que o consideravam um
comunista. A ponto de ser exilado dos EUA a partir da década de 1950 pela
política de caça às bruxas do
marcathismo, só voltou a pisar na América em 1972, para receber o Oscar
honorário. Foi morar na Suíça onde viveu
por longos vinte anos e lá passou seus últimos anos de vida, falecendo no Natal de 1977.
Nem
tudo na vida de Chaplin foi um mar de rosas, esta frase pode soar brega, mas é
dessa forma que posso descrever como foi a vida intima dele estava longe de ser uma perfeição, cheia de alegria como a
que ele mostrava nas telonas com seu Vagabundo. Visto sua infância conturbada,
abandonado pelo pai alcoólatra, quando sua mãe começou a sentir os primeiros
sinais de demência, ele acabou sendo mandado para um orfanato. E depois que
cresceu e virou o célebre artista,
encarou outros problemas maiores. Como as séries de casamentos fracassados com
as mais lindas atrizes com quem contracenou e teve uma longa prole de filhos. Neste
ano de 2019, em que Charles Chaplin completaria
130 anos se tivesse vivo que em sua homenagem comentarei especificamente
sobre um filme que aborda justamente toda a sua trajetória de vida e arte. O
filme em questão que vou comentar é o drama cine biográfico Chaplin(EUA,
Reino Unido, Japão, Itália, França, 1992). Com a direção do britânico Richard Attenborough(1923-2014), que já
carregava um longo currículo cinematográfico, especialmente como ator e também
produtor, o enredo do filme é todo conduzido de uma forma bem linear,
mostrando a ótica de Charles
Chaplin(Robert Downey Jr.) em primeira pessoa, já velho, com a idade muito
avançada morando em sua mansão na Suíça, conversando com George
Hayden(Antony Hopkins), o editor de sua autobiografia. É durante todo o correr
da história que somos apresentados a toda a trajetória dele, contada por ele
mesmo. Da sua pobre infância em Londres, de quando ele precisou ficar afastado
da sua mãe Hanna Chaplin(Geraldine Chaplin) quando esta começou os primeiros
sinais de demência. Logo depois, a história do filme mostra Chaplin na
adolescência sendo financiado por seu irmão mais velho Sidney Chaplin(Paul
Rhys), que o apresenta a um importante empresário Fred Karno(John Thaw), que ao
observar seu importante desempenho no humor físico resolve o contratar para sua companhia, onde lá vira uma grande atração de sucesso. É no
teatro britânico que ele flerta com a primeira mulher com quem se apaixonou e
acabou não sendo correspondido, a bailarina Hetty Kelly(Moira Kelly).
Logo depois, o enredo vai
apresentando Chaplin chegando na América, na então nascente Hollywood onde vai
atrás de Mack Sennet(Dan Aykroyd), o Rei das Comédias na época que se torna o
grande responsável por revelar o seu talento na sétima arte. Mostra também a
medida que ele foi crescendo, e resolveu ele mesmo junto de seu irmão Sidney
bancar os seus próprios filmes. Todos os bastidores das muitas produções que ele
dirigiu são bem reconstituídas na obra, assim como apresenta as diferentes
camadas de sua vida pessoal bastante conturbada, especialmente na parte mais
dramática quando ele se relacionava com
as mais lindas atrizes, consideradas grandes musas na época, as sexys symbols com
que ele contracenou em seus filmes, que geraram imensos episódios de escândalos.
Assim como em paralelo, ao que o filme biográfico retrata os muitos detalhes da vida de Chaplin, há a
subtrama de mostrar o então temido chefão do FBI, J. Edgar Hoover(Kevin Dunn)
fazendo muitas investigações para tentar provar que ele era comunista. As
constantes manchetes dos jornais mostrando suas acusações. Isso é apresentado até
o momento onde ele recebe de sua última esposa Oona O´Neal (Moira Kelly) a
noticia dentro do barco onde estava viajando de que foi banido dos EUA. A história do filme é concluída mostrando a
emocionante cena dele voltando a pisar os pés em solo americano após vinte anos
para Receber o Oscar Honorário pelo Conjunto da Obra na Cerimônia de Premiação
de 1972.
Richard Attenborough fez um
trabalho impecável ao elaborar o mote estético desse filme contando toda a trajetória do maior gênio da comédia,
pegando como base nos dois livros sobre
Chaplin, que são: Chaplin: Sua vida e arte
de autoria do crítico de cinema David Robinson, publicado em 1985 e no
livro Minha Autobiografia de autoria do próprio Chaplin que foi
publicada em 1964. Ao ter essas duas
fontes, ele conseguiu bolar bem todo o enredo seguindo toda uma boa
linearidade da história, retratando fielmente
todos os fatos da jornada de
Chaplin de sua ascensão e queda em Hollywood sendo descrita pelo próprio na
primeira pessoa do primeiro ao penúltimo ato,
colocando algumas pitadas de licenças poéticas para tornar a história
mais palatável ao público. Por exemplo, a figura do editor George Hayden
visitando sua mansão na Suíça para discutir questões a respeito de sua
autobiografia é um tipo ficcional criado com o intuito de representar o
espectador para ouvir a versão dele. Já no último ato, apesar de se mostrar
muito problemático já que passou a retratar ele retornando aos EUA após vinte anos que foi
banido para ser agraciado com o Oscar
Honorário pelo Conjunto da Obra, nota-se nesse momento que a narrativa já vai
perdendo um pouco de fôlego, ficando até maçante porque ele não seguiu mais o ritmo que vinha o
filme inteiro até ali que era ser apresentado na primeira pessoa pelo Chaplin.
Todo aquele momento passou a ser reconstituído pela terceira pessoa. Mas que
mesmo assim, não consegue tirar a emoção da obra. Além da maneira como ele
estruturou o roteiro, também há de se destacar o incrível e primoroso design de
produção da direção artística, especialmente na fotografia, nos figurinos, nas
caracterizações, nas maquiagens, na cenografia perfeitamente reconstituindo cada época. Da Londres periférica suja do final do século
19 para o começo do século 20, mostrando o glamour da Hollywood em seus
primórdios, este perfeitos apuros técnicos renderam ao filme três premiações ao BAFTA. Além de contar com a participação de um elenco brilhantemente
estelar. Robert Downey Jr. Vivendo o protagonista mostrou-se muito crível, na
época ele já era uma estrela em ascensão. Desempenhou muito bem em cena o
personagem com suas diferentes camadas, dos maneirismos para incorporar Chaplin encenando
o Vagabundo, passando pelas constantes crises de sua conturbada vida pessoal em
uma série de casamentos fracassados, uma vida dramática imperfeita que contrastava com o talento para a alegria que ele em cena transmitia nas
telonas que o tornava tão perfeito e idolatrado no mundo todo. Inclusive Downey
Jr. Foi premiado com o BAFTA** de melhor
ator.
Além do perfeito trabalho de figurino, caracterização e maquiagem que o
tornaram perfeitamente idêntico ao Chaplin, especialmente a medida que ele vai
envelhecendo para que ele pudesse compor bem o personagem em cada detalhe da cena. Há de frisar que este foi um dos últimos bons papeis que ele fez
em sua fase Pré-Homem de Ferro, já que anos depois ele enfrentaria uma fase
conturbada com sérios problemas pessoais com as drogas e o álcool, que o levou
a muitas idas e vindas para a cadeia, que fez sua carreira parar na lama, até
finalmente conseguir se recuperar e se
reerguer após estrelar o Homem de Ferro. Outras participações estelares no
filme que também merecem destaque por interpretarem nomes de gente
importante na Hollywood do começo do século 20 com quem Chaplin conheceu e
trabalhou são para Dan Aykroyd(astro de Caça-Fantasmas) na pele
de Mack Sennet(1880-1960), o Rei das Comédias que foi responsável por revelar a
carreira de Chaplin assim que ele chegou a Hollywood. Marisa Tomei(curiosamente no mesmo ano em que participou
deste filme ela também ganhava o Oscar
de melhor atriz coadjuvante pelo filme Meu
Primo Vinny). Vivendo a atriz Mabel Normand(1892-1930), uma das musas
dos filmes de Charles Chaplin, Penélope Ann Miller vivendo Edna Purviance(1895-1958),
outra também musa recorrente dos filmes de Chaplin. Kevin Kline vivendo o galã
Douglas Fairbaks, que foi muito amigo pessoal de Chaplin e que junto a ele
ajudaram a fundar a United Artisits.
Diane Lane na pele de Paulette Goddard(1910-1990), uma das grandes atrizes que
estrelou os seus filmes e com quem ele manteve uma conturbada relação amorosa. A então jovem desconhecida Mila Jovovich(Tinha protagonizado
antes De Volta a Lagoa Azul, mas se tornaria uma futura estrela após protagonizar O Quinto Elemento e a franquia Resident
Evil dirigida pelo seu marido Paul W.S.Anderson) na pele da atriz Mildred Harris(1901-1944), a primeira esposa de
Chaplin. Para completar a seleção de elenco estelar que aparece no filme, não
posso deixar de destacar a participação
do grande veterano Antony Hopkins que
mostrou um brilhante desempenho como George Hayden, o fictício editor da
autobiografia de Charles Chaplin que cumpriu bem no filme uma função de representar o espectador ouvindo
a sua versão detalhada relatando toda a
sua trajetória em primeira pessoa até o
fim do penúltimo ato do filme. Além
disso, o filme também contou no elenco com a participação de Geraldine Chaplin,
filha de Charles Chaplin, interpretando brilhantemente no filme
sua avô Hanna Chaplin. Moira Kelly, que se dividiu em duas para
interpretar os papeis de duas diferentes mulheres com quem ele se
apaixonou, da primeira Hett Kelly quando contracenava no teatro em Londres, até
chegar a última Oona O´Neal(1925-1991) que foi sua companheira até a sua morte.
O filme também contou no elenco com a participação de talentosos atores britânicos, como Paul Rhys que
desempenhou muito bem o papel de Sidney Chaplin, o irmão mais velho de Charles
Chaplin, que foi muito importante para sua carreira. Sidney podia não ter o
mesmo talento artístico que Charles tinha, em compensação tinha talento para mexer com dinheiro, com finanças,
e ele foi responsável por empreender sua carreira do teatro ao cinema. Também
destacar a participação de John Thaw(1942-2002) no papel de Fred Karno(1866-1941),
um empresário, dono de uma companhia teatral que revelou o talento de Chaplin. E
Debora Moore(filha de Roger Moore, o segundo James Bond no cinema ) na pele da atriz
Lita Grey(1908-1995) que foi outra que além de estrelar os filmes de Chaplin,
foi também sua esposa e manteve um relacionamento complicado. Fora também outros
nomes pouco conhecidos que interpretam nomes importantes como Maria Pitillo na
pele da queridinha da América e uma das fundadoras da United Artisits Mary Pickford
e Kevin Dunn como o temido chefão do FBI que não tirava o olho de Chaplin J.Edgar
Hoover(1895-1972). No Balanço Geral, posso descrever que o drama cine biográfico de
Chaplin cumpriu muito bem o propósito de nos apresentar um pouco mais sobre o grande gênio da comédia, numa perspectiva narrativa descrita pelo próprio protagonista, muito além do
que conhecemos como o talentoso artista do riso. Assim como serve como um bom exemplo de cinema de arte, que homenageia o próprio cinema. Recomendo.
*https://pt.wikipedia.org/wiki/Charlie_Chaplin
**Abreviação de British
Academy of Film and Television Art(Academia Britânica de Artes do Cinema e da
Televisão) uma variante do Oscar no Reino Unido.
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