A PROFESSORA MALUQUINHA DO ZIRALDO
IN MEMORIAM.
(1932-2024)
Este texto nunca foi publicado, por esse motivo não estranhe a data referente a 2022.
Na
manhã de sábado, 15 de Outubro de 2022, data especialmente dedicada ao Dia do
Professor, dei uma conferida no filme Uma Professora, Muito Maluquinha(Brasil,
2011).
A
sua história se ambienta no interior de Minas Gerais, durante a década de 1940.
É nesse lugar que a professora Catarina Roque(Paolla Oliveira), sobrinha do
Monsenhor Aristides(Chico Anysio), um respeitado sacerdote na região, utiliza-se de um modelo de metodologia
diferenciado para despertar os seus pequenos alunos a terem interesse pelo saber de uma forma mais
dinâmica.
Ensinando,
por exemplo, sobre o Egito numa sessão
de cinema de propriedade do
excêntrico Sêo Floriano(Ziraldo) vendo
Cleópatra.
Ou
mesmo fazendo uma aula de campo com as crianças, ensinando geografia na
companhia de Mário(Max Fercondini), que representa uma das figuras dos
respeitados intelectuais da região, sempre acompanhado nos botecos de seus inseparáveis companheiros
boêmios Pedro Poeta(Rodrigo Pandolfo) e
Rodolfo Valentino(Ricardo Pereira).
Esse
tipo de metodologia alternativo de
Catarina vai desagradar um grupo de professoras invejosas da instituição, como
as comandadas por Lúcia(Claudia Ventura) que
prezam pelo engessado modelo conservador que vão pressionar o novo diretor a
assumir o controle da instituição, Padre Beto(Joaquim Lopes) recém-chegado da
cidade, que vai terminar precisando acatar a decisão de expulsa-la da
instituição. Uma notícia que deixa seus alunos muito tristes. A ponto de
terminar com ela deixando a cidade.
O
filme contou com a direção de André Alves Pinto e César Rodrigues, inspirado na obra homônima do Ziraldo(1932-2024),
publicado em 1995 pela Editora Melhoramentos.
Ziraldo
é também autor de um clássico infantil O Menino Maluquinho, obra que
também ganhou uma adaptação para cinema em 1995. E que recentemente ganhou uma
versão animada pela Netflix.
O
que mais me chamou a atenção nesse filme, é que diferente de outros títulos que
já abordaram a temática dedicada ao trabalho do professor como exemplos: Ao Mestre, Com
Carinho(To Sir, With Love, Reino Unido, 1967), Meu Mestre, Minha Vida(Lean
On Me, EUA, 1989), Sociedade dos Poetas Mortos(Dead Poets, Society, EUA,
1989), Adorável Professor(Mr.
Holland Opus, EUA, 1995), A língua das mariposas(La Lengua de las
mariposas, Espanha, 1999), Coach Carter-Treino para a Vida(Coach Carter,
EUA, 2005) O Triunfo(The Ron Clark Story, EUA, 1994) dentre outros que tentam dar muito enfoque em
exaltar uma imagem romantizada da
profissão do docente com aquele ar heroico ao encarar os desafios que
envolve lecionar para uma turma que não colabora e tentar parecer um
estimulador mesmo enfrentando percalços da direção não colaborar.
O
que não é o caso desse filme, mesmo porque ele
mesmo indo mais pro caminho do
lúdico em nenhum momento carrega essa
pretensão.
Aqui
o que a professora Catarina procurou mostrar de uma forma não muito ortodoxa, uma
metodologia alternativa de dinâmica de despertar o interesse pelo saber dos
alunos, numa instituição rígida dirigida por padres, o que fará ela entrar em
conflito com o Padre Beto, diretor da instituição e de outras professoras que
aderem ao tradicionalismo.
E
observam sua metodologia moderna como um tanto
transgressora. Ainda numa época como a que
que o filme retrata, que foram os anos 1940, cujo modo de vida social era
naquele conservadorismo patriarcal num
ambiente de hábitos provincianos do povo interiorano.
O
filme conta em seu elenco com a presença de muitos rostos conhecidos, populares
da Tv como Paolla Oliveira protagonizando
Catarina Roque, a professora maluquinha do título, representa de forma
magnifica o papel demonstrando muito
carisma que consegue cativar o público. Em especial na dinâmica dela com os
seus alunos.
Elisa
Pinheiro representa brilhantemente o
papel da Miriam, amiga inseparável de Catarina, fazendo aquele típico perfil tagarela, fofoqueira como é típico da cidade
pequena.
Também
mencionar a participação do veterano mestre do humor Chico Anysio(1931-2012)
que no filme fez um trabalho magnífico como o Monsenhor Aristides,
figura respeitada na região, uma verdadeira autoridade. Tio da protagonista, sujeito
bondoso, a quem a protagonista nutre um respeito e nutre também por ele um afeto paterno, que na obra representa uma função muito
importante de mostrar a forte influência da Igreja Católica dentro do ensino
brasileiro e também a conexão do trabalho docente ser visto como um
sacerdócio, ainda mais que na Instituição que Catarina leciona é dirigida por
um sacerdote. O que pode ser explicado
que na própria história da formação do
Brasil Colonial, os nossos primeiros educadores foram padres.
Chico
Anysio já se encontrava com sua saúde fragilizada na época em que participou
desse filme, o que também pode ser sentido pela própria maneira em que seu
personagem demonstra tossindo constantemente e termina falecendo. Chico Anysio faleceu
pouco tempo após o filme ser lançado nos
cinemas em 23 de Março de 2012 com 81 anos de idade após enfrentar uma série de
internações. Sendo este um dos seus
últimos trabalhos em audiovisual, antes
de falecer ele ainda participou do filme A Hora e a vez de Augusto Matraga(Brasil,
2011).
Outra
menção do elenco vai para Caio Manhente que representa Luisinho, que compõe o
núcleo infantil dos alunos de Catarina. Ele é o que mais se destaca, por
assumir a função de ser o fio condutor da narrativa, já que a história tem
início com ele acordando e se preparando para ir à escola, onde faz a narrativa
em off, nos apresentando a professora Catarina.
Tem
um momento no filme que apresenta bem sua interessante subtrama dele ser
importunado pelos colegas fazendo bullying com ele, quando essa palavra ainda
não existia na década de 1940 onde o filme se ambienta.
Mas, enfim, há esse momento fora da escola,
onde os meninos o xingam de capiau, que é como no dialeto mineiro se faz
referência ao caipira, o habitante do campo. E o Luisinho reflete essa figura
popular do típico menino do campo, que frequenta uma conceituada escola
elitizada comandada por padres.
Fora também outras participações de outros grandes
astros da TV como Joaquim Lopes na pele do Padre Beto, o jovem sacerdote recém-chegado a cidade que assume a função de ser o novo diretor da
instituição onde Catarina leciona.
Simbolizando bem a representação do tradicional ensino religioso católico no Brasi.
O
elenco também conta com Max Fercondini, Ricardo Pereira e Rodrigo Pandolfo que
representam no filme o papel dos jovens boêmios Mário, Pedro e Rodolfo que nutrem paixões platônicas pela Catarina.
Outra
menção do elenco vai para Claudia Ventura, representando a Lúcia, que compõe o núcleo da das professoras que morrem de inveja de Catarina, que são
aquelas que seguem a metodologia tradicionalista e engessada.
Elas
brilham em cena compondo no humor físico fazendo um monte de
caras e bocas e nas movimentações corporais com ar teatralizado que chega dar
aquele ar excentricamente cômico para simbolizar o perfil babaca de cada uma e
remeter bem ao estilo caricato cartunesco bem característico do humor de
Ziraldo.
Também
mencionar a participação de Fernando Alves Pinto, o sobrinho do Ziraldo que no filme faz o papel do misterioso
Cigano que aparece vendendo alguns produtos exóticos em sua carroça. E do próprio Ziraldo fazendo uma ponta no
filme como o Sêo Floriano, o pitoresco dono sala de cinema da cidade. E que cede uma
sessão exclusiva para os alunos de Catarina.
Além
das menções do brilhante elenco, destaco também o trabalho crível do design de
produção que por ter como locação se eu não tiver enganado foi em São João Del
Rey, que compõe um dos municípios mineiros que se destaca por preservar o seu
patrimônio histórico e cultural com os antigos prédios coloniais bem
preservados. Eu já tive o privilégio de conhecer o local numa viagem de férias
que fiz a Minas Gerais em 2017.
E
foi muito gratificante, uma verdadeira viagem no tempo. E nesse aspecto a
produção soube como explorar cada lugar
para servir de cenografia para o filme. Aliado as caracterizações vintage dos personagens com os figurinos que
reproduzem o modo típico de vestir da década de 1940. Uns de aspecto um tanto pitoresco, que chegam a remeter ao estilo bem caracteristicamente
lúdico da estética cômica cartunesca do Ziraldo, até porque ele é um talentoso
desenhista.
Tudo
isso ajudou a compor o aspecto escapista bucólico que a obra transmiti de forma
magnifica. Para quem se interessar, o
filme têm disponível na Netflix.
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