segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

RESENHA DE O TOURO FERDINANDO.



Na tarde de sábado, 13 de Janeiro de 2018, fui conferir no Shopping Midway Mall, a animação O Touro Ferdinando(Ferdinand,EUA,2017), dos Estúdios da Blue Sky, a mesma de A Era do Gelo, Robôs, Rio entre outros que contou com o dedo da direção do brasileiro Carlos Saldanha. 










Comentar sobre esta animação me provoca até certa nostalgia. Isto porque quando criança eu assistia muito a uma versão  animada da Disney,  em uma antiga fita VHS  que eu via  muito no aparelho de videocassete na fase pré-digital. Esta versão animada da Disney contida em minha fita VHS era em um formato de curta-metragem lançado em 1938, onde apresentava uma seleção de outros curtas clássicos da Disney lançado entre as décadas de 1930 e 1940. Esta nova versão em formato de longa-metragem assim como o curta animado clássico da Disney tem como base para o mote do enredo a mesma fonte, que é o romance do americano Munro Leaf(1905-1976) publicado em 1936. A diferença está um pouco na abordagem. No curta-animado da Disney, a trama explorava um Ferdinando mais carregado de escapismo lúdico, com toques mais ingênuos e inocentes o apresentando como um touro em um rancho  que quando filhote  diferenciava dos outros tourinhos, por gostar de cheirar as flores. Naquela história aparecia a mãe dele como uma vaca que tentava orientá-lo a ir brincar com os outros tourinhos. No desenrolar da trama  é mostrado ele já um touro crescido e preparado para as touradas, mas continuando com suas manias de cheirar as flores. Então aparece um bando de caras atrás de uns touros para levar e Ferdinando não estava nem ai, quando ao sentar numa flor com uma abelha, a ferroada dela o fez tomar uma reação bruta   que esta sim fez os caras o escolherem para ser um touro da arena. 









A história daquele curta se concluía quando ele foi mandado para arena e enfrentar a tourada,  e em nenhum momento sequer reagia ao toureiro a ponto de o deixa-lo zangado e desesperado e ele terminou chorando de esperneio. E terminava a história com Ferdinando voltando a velha árvore, onde costumava cheirar as flores. 














Já neste longa-metragem da Blue Sky, o enredo aqui apresenta o mesmo mote, mas com uma pegada bem diferente, onde ele se permitiu a explorar camadas que não foram mostradas no curta animado da Disney. Aqui temos a premissa de mostrar o protagonista vivendo num rancho ainda filhote, onde lá vive com seu pai e alguns companheiros tourinhos que vivem provocando o seu estilo diferente de não querer brigar, preferir cheirar as flores em vez de encarar os toureiros na arena. Aqui a trama preservou a essência do personagem com uma pegada bem diferente. No Rancho, ele vê seu pai passando por uma seleção para enfrentar a Arena e é escolhido, e não retorna nunca mais. O que faz ele tomar a decisão de sair daquele rancho. Então em sua fuga, ele cai num mato e é encontrado por um fazendeiro e sua filha Nina e o cachorro Paco que o acolhe em sua fazenda onde ele se diverte com sua filha que o trata como se ele fosse da família. Até que no momento em que ele cresce e vira um tourão, é que os rumos vão dando outros contornos, especialmente quando ele insisti em querer ir participar do tradicional Festival das Flores. Mas eles não deixam, mas mesmo assim Ferdinando foi e causou o maior rebuliço na Feira a ponto de causar uma tremenda calamidade pública. Sendo então mandado de volta ao velho rancho de onde tinha saído ainda filhote. Lá no rancho ele se depara com seus antigos companheiros touros Guapo, Valente e conhece novos companheiros. Também a atrapalhada cabra Lupe, o trio de ouriços Una, Dos, Cuatro e o trio de cavalos esnobes. 












Ao retornar neste local, Ferdinando terá a difícil missão de fazer de tudo para fugir de lá e não deixar que  os outros tenham o  trágico destino de morrer na Arena em combate com o toureiro ou vão para o abate, virando churrasquinho. É assim construída a sua saga pela liberdade. 













Eu pessoalmente gostei muito dessa nova pegada explorada no filme, colocando no protagonista um elemento campbeliano da jornada do herói por sua liberdade. Colocando uma abordagem mais moderna que diz bem respeito ao que ocorre no presente que as crianças com certeza poderão se identificar. Como, por exemplo, dele ser diferentes dos outros touros e ser achincalhado, humilhado, por não ser bruto e ser sensível e gostar das flores. Um bom reflexo do que ocorre com a prática da atual intolerância social ocorrida nas redes sociais, que fazem guerrinhas partidárias direitistas ou mesmo esquerdista a ponto de impor o seu ponto de vista mais correto e as coisas nem sempre são preto no branco. Que pode ser começado mais cedo do que se imagina com a prática dos bullying na escola.











O que deixa claro o fato do enredo transmitir bem uma mensagem de sutil critica social a prática da intolerância, coisa que o curta animado clássico da Disney não explorou tanto.  Ele também consegue transmitir uma linda mensagem sutil contra a prática das touradas na Espanha, e do que isso pode prejudicar o animal, mas sem precisar tomar partido da causa ecológica de entidades ambientais como a Sociedade Protetora dos Animais ou mesmo de Greenpeace.  Do mesmo modo, que consegue também transmitir uma linda mensagem sobre a amizade, sobre a união, e de você poder viver em harmonia com quem é diferente de você, e consegue ser bem tocante. 












Este desenho da Blue Sky pode estar longe de se igualar a estrutura da Pixar, no entanto consegue surpreender. A qualidade técnica do CGI usado para este desenho é brilhante, especialmente nos traços e nas movimentações dos frames dos rostos e dos corpos, que exploraram bem outras características que não tinha no curta animado da Disney. Especialmente com diálogos cantados e dançados. Os enquadramentos panorâmicos que exploram diferentes paisagens da Espanha são sensacionais, do cenário bucólico passando pela movimentada metrópole da capital Madri cria aquela sensação de você querer ir viajar para a Espanha. Se utilizando de licenças poéticas, já que afinal é muito improvável que animais de diferentes tipos e tamanhos saibam mexer em eletricidade e em tecnologia, a ponto de saberem dirigir um carro. Em um contexto geral, a animação O Touro Ferdinando vale pelo ingresso nestas férias.

Um comentário:

  1. Cada personagem é muito legal! Eu esperava ver uma animação bem feita e uma estória até triste e melancólica, mas do início ao fim o tom é positivo. Pais e filhos vão adorar os personagens e aprender preciosas lições de otimismo consciente, de bondade e amizade, enquanto se divertem a valer. Uma ótima pedida para as férias, vale o ingresso e a pipoca da família inteira. Honestamente, é um dos melhores filmes de animação que vi no ano passado. Envolvente desde os primeiros minutos, a sensível estória leva a gente a pensar sobre como encaramos nossa vida. É muito fácil se identificar com os personagens e seus dramas, e o mais surpreendente é que há tanto bom humor que o peso do contexto (um touro que tem como destino uma tourada não é nada mais do que uma alegoria da humanidade rumando para o final inevitável da morte) permanece como uma leve ameaça constante porém sem dominar os sentimentos do espectador.

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