terça-feira, 23 de julho de 2019

RESENHA DE TURMA DA MÔNICA-LAÇOS(2019)


Na noite de Domingo, 22 de Julho de 2019, fui finalmente conferir, depois de semanas adiando ao filme Turma da Mônica-Laços(Brasil, 2019). 













Filme inspirado na famosa personagem dos quadrinhos brasileiro, criado pelo Mauricio de Souza. Que carrega uma história muito curiosa de que os personagens todos começaram surgindo separadamente em tirinhas de jornais no final da década de 1950 e começo dos anos 1960. O primeiro a surgir foi o Cebolinha cuja principal característica era o seu cabelo espetado e sempre falar as palavras trocando as fonéticas do r pelo l fruto de um problema chamado dislalia. 









Fora a sua genialidade de planos infalíveis de atormentar a Mônica. Segundo o próprio Mauricio, a inspiração para a criação do Cebolinha foi na figura de seu amigo de infância do tempo que morava em Mogi das Cruzes/SP,  que tinha o cabelo espetado e por esse cabelo espetado era chamado pelo apelido de Cebolinha. Já o Cascão que que veio depois, com sua característica nada higiênica de aversão a água que ele também se inspirou em um amigo  de sua infância em Mogi das Cruzes que detestava tomar banho e vivia sujo. Já a Mônica só surgiria mesmo a partir de 1963, depois de receber muitas queixas de suas leitoras reclamando da falta de meninas  o que gerou esta necessidade. 









O que representou um desafio enorme para ele já que havia criado até então só meninos inspirados nos amigos  com quem convivia na infância. Como ele não brincava com meninas foi um tanto difícil. Foi então que veio a ideia dele se inspirar em sua própria filha chamada Mônica com aparência de gorducha, dentuça, briguenta e com seu coelhinho de pelúcia, o Sansão. De quem ela usa como seu instrumento de defesa, principalmente contra o Cebolinha que vive sempre caçoando  a pobrezinha da Mônica, praticando bullying com ela, principalmente quando mexe com o seu coelhinho Sansão. E por fim a Magali, a última a compor o quarteto da Turma da Mônica cuja característica principal  é o seu apetite voraz que a torna muito comilona, principalmente de uma melancia e nunca engordar. A principal característica da  Magali é  ter uma preferência alimentar  por uma boa melancia, o Mauricio de Sousa também se inspirou em sua outra filha, não por acaso também chamada de Magali e também boa apreciadora de melancias. O surgimento da Magali primeiro nas tirinhas dos jornais da Folha de São Paulo do mesmo modo como foi com o Cebolinha e outros posteriores  ocorreu a partir de 1964.  Só muito posteriormente, mais precisamente entre as décadas de 1970 e 1980 é que cada uma  das tirinhas de jornais foi ganhando as revistas. A Turma da Mônica foi sendo impressa  para as revistas propriamente dita primeiro pelo selo da Editora Abril a partir da década de 1970 e durou até meados da década de 1980, passando pela Editora Globo que durou entre o fim dos anos 1980 até meados dos anos 2000 e   até atualmente chegar a Editora Panini Comics que as públicas desde 2007. Com cada membro ganhando suas revistas próprias, que foi ganhando proporções gigantes e o próprio criador transformou suas criações num verdadeiro empreendimento comercial, com muito licenciamento de bonecos, camisas, lancheiras, produtos alimentícios e que foi exportado para o mundo todo. Ou seja, a Turma da Mônica virou o ícone da cultura pop. No filme em questão que contou com a direção do Daniel Rezende, em seu segundo longa de diretor, antes já carrega no currículo trabalhos em outras produções como em Cidade de Deus(Brasil, 2002), por exemplo, onde era editor e montador. 









Foi quem assumiu a dura tarefa de trazer os personagens queridos por gerações das páginas dos gibis para as telonas interpretado por crianças reais, cuja escolha do casting infantil para formar o quarteto protagonista da obra  não foi das tarefas mais fáceis. Foram inúmeras crianças inscritas para fazer longas audições até conseguirem definir as crianças finalmente escolhidas para os respectivos papeis. Fora também o desafio de trazer o estilo de humor físico caracteristicamente cartunesco para a realidade poderia não funcionar, além do que  os formatos de cada história nas HQs  eram muito curtas e não poderiam render tanto para durarem meia de hora de filme. Foi neste aspecto que ele pegou como referência para adaptar  o arco da HQ Turma da Mônica-Laços, uma graphic novel escrita pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi onde inclusive eu recentemente comprei  esta edição antes de ver o filme durante a  Feira da 8º Edição do Cuscuz HQ ocorrido  no final de Junho aqui em Natal/RN.




Em capa dura, com um estilo bem diferenciado e mais caprichado de traço e de história bem diferente do habitual das edições mensais. O mote dessa HQ que foi incluído no filme envolve a jornada aventuresca  da turminha em busca do Floquinho o cão verde do Cebolinha que deu chá de sumiço, o que deixou o pobre do Cebolinha muito deprimido e com ajuda de seus inseparáveis amigos é que eles decidem irem se aventurar na perigosa floresta do parque do Limoeiro para resgatar o Floquinho das mãos do sequestrador. Que não só ele, mas também  havia sequestrado outros cães para um plano muito maldoso que envolvia usá-los como cobaias para o mercado negro de fabricação de um cosmético. Basicamente é disso que a trama do filme apresenta.  As quatro crianças protagonistas incorporam muito bem em cena seus respectivos papeis, mostrando até um bom entrosamento em cena e convencendo que já eram amigos que se conheciam desde as fraldas. A primeira vista, quando o filme começa mostrando elas se dialogando pode até parecer bastante estranho, principalmente para alguém que como eu em algum momento da infância carrega a memória afetiva de ter assistido a  algum desenho animado da Turma da Mônica ao qual ficou bastante assimilado as vozes caricatas das crianças sendo dubladas por adultos, especialmente o Cebolinha que foi dublado por uma mulher ouvi-las falando pode gerar esta estranheza. Um detalhe  menor que não atrapalha tanto a experiencia  do filme. A Giulia Benite como a Mônica incorporou muito bem em cena as suas típicas características essenciais  do temperamento briguento, principalmente quando é provocada pelo Cebolinha. Ela foi a que ficou mais parecida com  a personagem das HQs, especialmente no  corte de cabelo e no vestir-se de vermelho e com uma prótese dentária para ficar bem dentuça. 









Já o Kevin Vechiatto como Cebolinha incorporou  bem em cena  a essência característica do menino que além de atormentar a Mônica, também vive falando errado, trocando as fonéticas do r pelo l pelas frases ditas  e com seu egocentrismo de planos infalíveis para tirar a Mônica do sério e também na dramaticidade do personagem. Mesmo que a caracterização dele em cena não pareça remeter tão fiel ao Cebolinha dos quadrinhos, tipo ele aparece com o cabelo espetado como  nas páginas da HQ. No entanto, os cabelos espetados do Cebolinha nas HQs mais pareciam só fios bem curtíssimos, o que dava um aspecto dele ser careca. Já no filme o personagem ficou cabeludo, pelo menos no modo de vestir e na essência ele ficou fiel. Laura Rauseo como a Magali incorporou perfeitamente a personagem com sua típica  característica de comilona, principalmente por não resistir a uma melancia  como é nos quadrinhos e ficou perfeitamente caracterizada como a personagem, especialmente no corte de cabelo e na maneira de vestir. E por fim, do núcleo protagonista vale destacar Gabriel Moreira na pele do Cascão que ficou também perfeito, especialmente na maneira como ele desempenhou bem o seu pavor pela água o que faz ele ficar sempre sujo e por isso mesmo detestar tomar banho. Do mesmo modo como o Cebolinha, ele pode não ter ficado com a caracterização 100% idêntica ao personagem da HQ, especialmente no corte de cabelo dele crespo em contraste ao corte de cabelo mais militar do personagem nas HQs ou mesmo colocar uns sujinhos nas bochechas. Mas pelo menos, no aspecto do vestir e da personalidade este ai ficou bem idêntico mesmo ao personagem das HQs. Fora o núcleo  principal que são as crianças protagonistas, o elenco também conta em seu casting adulto com as participações ilustríssima de grandes estrelas da televisão, especialmente das novelas. Paulo Vilhena como Seu Cebola, pai do Cebolinha está perfeitamente  incrível incorporando o jeito cômico bem abobalhado como o personagem é nos quadrinhos, um bom amadurecimento dele que deixou de lado já há muito tempo o rótulo de galã  teen. Outra estrela ilustre também presente no filme é Monica Iozzi, atriz representante da nova geração do humor brasileiro, egressa do extinto programa CQC da Band no filme interpretando a Dona Luísa, mãe da Mônica também desempenha o papel perfeitamente, especialmente na sua caracterização bem caricata.  Outro participação ilustre que também merece destaque é  para o Rodrigo Santoro como o Louco, o famoso amigo imaginário do Cebolinha. O ator incorporou perfeitamente a essência  do personagem com todos os  maneirismos de humor físico como ele justamente é nas HQs. Um tipo transgressor, e com toques bem afetados que faz as coisas mais improváveis de acontecer num trabalho crível de caracterização que o deixou bastante  idêntico ao personagem nos quadrinhos. Um tipo bem contrasta aquela visão rotulada do tipo  sedutor galã de novelas  com sex appeal e rotulado de símbolo sexual. Apesar da passagem dele no filme não existir especificamente no mote dessa HQ ao qual o enredo do filme  foi baseado, ele é o que se pode descrever como um filler, ou seja, um enchimento na história para colocar mais fluidez e ela poder ser conduzida de forma bem orgânica.  






Muito disso resultado, das tomadas de liberdades que o diretor e a produção optaram por imprimir como suas licenças poéticas. Além disso, outro ponto que diferencia o filme do arco desta HQ especifica é que na primeira cena que mostra a Mônica perseguindo o Cebolinha e o Cascão nas ruas do Limoeiro, na HQ é mostrado os dois fantasiados, o Cebolinha de Peter Pan e o Cascão de Capitão Gancho, estes adereços que mais para frente carregavam um bom proposito narrativo já que eles usariam esta encenação teatral para enganar o sequestrador e libertar o Floquinho e os cãezinhos que ele mantinha como reféns para servirem para o mercado negro. O que no filme isso acabou sendo descartado, dentre outras passagens que só mesmo lendo a HQ para saber. Do mesmo jeito que a maneira como eles cenograficamente conseguiram criar  o  fictício Bairro do Limoeiro onde reside a Mônica e sua turminha com uns toques bastante lúdicos e escapistas dos quadrinhos um tanto destoante e inverossímil da realidade, especialmente na fotografia usando paletas de cores vibrantes e na própria caracterização bem caricata e colorida  de todos os personagens, não só dos protagonistas, mas também dos secundários como os pais, os vizinhos, os garotos do outro, o pipoqueiro, o sorveteiro, enfim, trazendo  ares um tanto provinciano. Que em alguns momentos traz até um tom nostálgico que remete a época em que criança podia brincar na rua, o que não tem sido visto atualmente em consequência da insegurança e também da própria modernidade.  O filme a todo instante apresenta muitos momentos de easter eggs referenciais, especialmente no texto que brinca muito com coisas que nas HQs eram vistas de forma muito ridícula pelos leitores. Há também muitas cenas onde eles enquadram nos quartos das crianças os bonecos do  elefante verde  Jotalhão por exemplo. A participação do cameo do próprio Mauricio de Sousa aparecendo como jornaleiro em Banca de Jornal cheia de revistas da própria Mônica, numa verdadeira poluição visual de metalinguagem. A maneira como foi concebida digitalmente a caracterização do Floquinho real ficar verde em cena como é nos quadrinhos ficou um trabalho primoroso, o que seria difícil demais se fosse manualmente com uma tinta que poderia trazer uma reação alérgica a ele. Em um balanço geral, posso concluir que gostei bastante do filme, me surpreendeu achei muito divertido, especialmente na cena onde o sequestrador do Floquinho ligar o rádio para ouvir Deslizes do Fagner fazendo uma representação de dança ridícula onde até mesmo as crianças ao observarem não conseguem segurar a risada. A única coisa que mais me incomodou no filme foi no ritmo apressado  deles colocarem nos minutos de filmes criarem um clima de romance muito forçado da Mônica com o Cebolinha.  Que só fica subentendido, não ocorre de forma banal. Mesmo assim achei forçado demais. De resto, posso concluir que é um excelente filme e que vale a pena o ingresso para valorizar a nossa produção cinematográfica nacional.

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