domingo, 1 de setembro de 2019

ERA UMA VEZ....EM HOLLYWOOD-UMA ODE AO CINEMA NO ESTILO BEM TARANTINO



ERA UMA VEZ....EM HOLLYWOOD-UMA ODE AO CINEMA NO ESTILO BEM TARANTINO


Quentin Tarantino, sempre quem ouve falar do  nome desse diretor, com certeza deve assimilar bastante ao seu peculiar estilo de trabalhar uma estética cinematográfica bem fora do comum. Uma das principais características da sua estética autoral está no formato da narrativa não-linear de contar uma história, a divisão por capítulos como se parecessem uma leitura de livro, unindo ao roteiro com um texto ácido, transgressor, anárquico, bastante sarcástico, com os diálogos bem boca sujas  dos seus personagens com boas sacadas de humor  referencias  e cheio também de um alto teor de violência extremamente gráfica beirando ao gore. E  o  seu mais recente filme Era Uma Vez...Em Hollywood(Once Upon a Time....In Hollywood, EUA, 2019), segue bem a cartilha do que ele já estabeleceu desde Pulp Fiction(EUA, 1994) que representou um verdadeiro divisor de águas para a sua carreira no cinema, juntando a isso a sua maneira, mas de forma brilhante abordando a metalinguagem dedicada ao próprio cinema.  Ou seja, sua paixão pela sétima arte. 














No filme, o diretor usou como base o fato que aconteceu em 1969, onde a atriz Sharon Tate então na época com 26 anos, casada com o diretor Roman Polanski e grávida de 8 meses. Foi brutalmente assassinada por uma irmandade comandada por Charles Manson(1934-2017), que a mataram por engano, na verdade eles queriam executar o produtor musical Terry Melcher(1942-2004), com quem Charles nutriu uma forte mágoa e um  rancor por este não ter investido em sua carreira musical. E não foi só ela, como também eles cometeram uma série de outros assassinatos depois, como o do Casal LaBianca.  Estes assassinatos que neste ano de 2019 completaram 50 anos, são retratados neste mais novo filme do  Tarantino, onde aqui ele não se preocupou muito com a reconstituição da veracidade do fato  como num formato de  docudrama, mas sim se utilizando de muitas licenças poéticas para poder construir a sua ótica narrativa. No filme,  a gente acompanha a jornada de Rick Dalton(Leonardo DiCaprio), um popular  astro das séries de tv  do gênero western, tentando se lançar em Hollywood e sempre na companhia de seu inseparável dublê Cliff Booth(Brad Pitt), é durante esta sua jornada que mostra ele tendo contando com Marvin Schwartz(Al Pacino) um influente empresário do showbussines para  agenciar sua carreira. Nisso é mostrado ele morando numa luxuosa mansão dos artistas, onde ele se torna vizinho do casal Roman Polanski e da Sharon Tate(Margot Robbie) e mostra também suas preparações para encenar os filmes, entre elas a Cliff sendo treinado por Bruce Lee(Mike Moh). Ao longo do filme é mostrado Rick Dalton tendo sua carreira alavancada tendo sua carreira alavancada quando vai para a Itália estrela o western spaghetti onde vira uma estrela em ascensão e Cliff se aventura em conhecer a temida irmandade da Família Manson responsável pelo brutal assassinato da Sharon Tate, no qual ele neste filme acaba sendo impedindo graças a intervenção de Rick e Cliff. 




A maneira como Tarantino abordou a temática sobre a própria sétima arte, usando de um evento verídico  sem precisar reconstituir o fato como aconteceu onde quem nos conduz a história são dois protagonistas fictícios, no caso o Rick e seu duble Cliff. Aparecem alguns personagens reais como Charles Manson, Bruce Lee, Sharon Tate dentre outros. Mas que são muito pontuais. E quem já está bem familiarizado com  estilo peculiarmente tarantinesco  de fazer cinema, com a maneira não-linear como ele conduz a narrativa com um texto ácido, com diálogos muito bem escritos  cheio de sarcasmos, ironias, falando nos personagens muito boca sujas dentre outros quesitos que se tornaram a marca do diretor. Como o nível mais barra pesada e grotesco da violência gráfica beirando ao gore.  Tudo isso junto é bem explorado de forma crível no filme, além dele justamente prestar uma singela homenagem ao próprio cinema. A direção de arte do  filme se utilizou de uma incrível estética visual que bem remente aos formatos dos filmes dos anos 1960, com muitos filtros e paletas de cores bem vibrantes, principalmente no destaque as cores mais solares dos figurinos. Os figurinos também estão impecáveis, a cenografia brilhante reproduzindo a atmosfera dos anos 1960. Destaque também para os carros com aquele ar bem vintage e as cenografias dos bastidores das filmagens dos westerns, um dos gêneros preferidos do Tarantino também ficaram impecáveis. 





Fora também a trilha sonora bem contagiante que toca muitos sucessos dos anos 1960 a cada cena. No elenco merecem destaque Leonardo DiCaprio como Rick Dalton, o astro dos western em busca do seu lugar ao sol em Hollywood.  DiCaprio tem se mostrado bem amadurecido em sua carreira, há muito tempo ele  já tinha deixado de ser só mitificado como o simples galãzinho que enlouquecia as mulheres desde que foi revelado ao estrelado em Titanic(EUA,1997). O ator mostrou uma completa entrega ao papel, mostrando a quantas ele assim como Rick Dalton é capaz de fazer para incorporar e se entregar as nuances, e todas as camadas a função de ator exige. Também merece destaque a participação de Brad Pitt como o dublê Cliff Booth, um profissional que assume uma função importante no cinema, pois é ele quem arrisca sua vida para fazer uma cena perigosa que nenhum ator tem coragem de fazer. 






O ator incorpora bem as nuances do papel, principalmente na forte relação de amizade dele com Rick, além de incorporar  bem a nuance dele se sentir a sombra do astro principal, e não tem o seu trabalho reconhecido. Um fato curioso a mencionar é que estes dois astros principais da obra carregam em comum o fato de  já haverem  trabalhado antes com Tarantino cada um em filmes diferentes deste diretor. Brad Pitt participou de Bastardos Inglórios(Inglorious Basterd, EUA, 2009) e Leonardo DiCaprio em Django Livre(Django Unchained,EUA,2012). Além desses como protagonistas, também merece destaque a participação da Margot Robbie como a Sharon Tate, a atriz que teve sua vida ceifada pelo grupo da Família Manson, ela desempenha bem o papel graças ao perfeito trabalho de caracterização, mesmo mostrando alguns sinais de deslocamento da trama, não parece que o seu  arco foi bem desenvolvido. Também merecem destaque Mike Moh, vivendo Bruce Lee(1940-1973), grande astro do Kung Fu, mostrando uma brilhante performance dele ensinando técnicas coreográficas de luta aos dublês e numa composição de caracterização impressionante, mesmo diante da polêmica causada pela família do Bruce Lee diante da maneira como ele ficou representado no filme.   





O veterano e fera Al Pacino está incrível fazendo uma participação no filme como Marvin Schwartz(1928-1997), ele existiu de verdade, foi um importante publicitário do meio do showbussines e aparece em alguns momentos se reunido num bar com Rick Dalton para discutir negócios sobre os filmes. Em um balanço geral, Era Uma Vez....em Hollywood é um bom exemplo de filme que presta uma linda homenagem ao cinema. No melhor estilo tarantinesco, mostrando que ainda mantém muito boa forma e bom vigor para fazer filmes mais autorais, numa época como nossa atual em que diretores do  nível dele  tem perdido seu espaço para fazer filmes mais autorais, mais intimistas  para o cinema blockbuster,  mas ainda assim podemos ter espaço para apreciar filmes de bons diretores que se preocupam em contar uma boa história. Além do filme apresentar  muitas referências e homenagens ao cinema dos anos 1960, com muita dose de homenagem e referências, um dos momentos mais incríveis do filme  foi a festa na mansão da Playboy, uma das mais importantes marcas de revistas masculinas no mundo, criada por Hugh Hefner(1926-2017) em 1953. Onde lá aparece as famosas  coelhinhas com seus característicos adereços que simbolizam o coelho da marca da revista. Diante de tudo o que já foi descrito posso concluir que Era Uma Vez...Em Hollywood é uma da melhores obras-primas que já vi sobre o próprio cinema.

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