ERA UMA VEZ....EM HOLLYWOOD-UMA ODE AO CINEMA NO ESTILO BEM
TARANTINO
Quentin
Tarantino, sempre quem ouve falar do nome desse diretor, com certeza deve assimilar
bastante ao seu peculiar estilo de trabalhar uma estética cinematográfica bem
fora do comum. Uma das principais características da sua estética autoral está
no formato da narrativa não-linear de contar uma história, a divisão por
capítulos como se parecessem uma leitura de livro, unindo ao roteiro com um
texto ácido, transgressor, anárquico, bastante sarcástico, com os diálogos bem
boca sujas dos seus personagens com boas
sacadas de humor referencias e cheio também de um alto teor de violência
extremamente gráfica beirando ao gore. E o seu mais
recente filme Era Uma Vez...Em Hollywood(Once Upon a Time....In
Hollywood, EUA, 2019), segue bem a cartilha do que ele já estabeleceu desde Pulp
Fiction(EUA, 1994) que representou um verdadeiro divisor de águas para
a sua carreira no cinema, juntando a isso a sua maneira, mas de forma brilhante
abordando a metalinguagem dedicada ao próprio cinema. Ou seja, sua paixão pela sétima arte.
No
filme, o diretor usou como base o fato que aconteceu em 1969, onde a atriz
Sharon Tate então na época com 26 anos, casada com o diretor Roman Polanski e
grávida de 8 meses. Foi brutalmente assassinada por uma irmandade comandada por
Charles Manson(1934-2017), que a mataram por engano, na verdade eles queriam
executar o produtor musical Terry Melcher(1942-2004), com quem Charles nutriu
uma forte mágoa e um rancor por este não
ter investido em sua carreira musical. E não foi só ela, como também eles
cometeram uma série de outros assassinatos depois, como o do Casal LaBianca. Estes assassinatos que neste ano de 2019
completaram 50 anos, são retratados neste mais novo filme do Tarantino, onde aqui ele não se preocupou
muito com a reconstituição da veracidade do fato como num formato de docudrama, mas sim se utilizando de muitas
licenças poéticas para poder construir a sua ótica narrativa. No filme, a gente acompanha a jornada de Rick
Dalton(Leonardo DiCaprio), um popular astro das séries de tv do gênero western, tentando se lançar em
Hollywood e sempre na companhia de seu inseparável dublê Cliff Booth(Brad Pitt),
é durante esta sua jornada que mostra ele tendo contando com Marvin Schwartz(Al
Pacino) um influente empresário do showbussines para agenciar sua carreira. Nisso é mostrado ele
morando numa luxuosa mansão dos artistas, onde ele se torna vizinho do casal
Roman Polanski e da Sharon Tate(Margot Robbie) e mostra também suas preparações
para encenar os filmes, entre elas a Cliff sendo treinado por Bruce Lee(Mike
Moh). Ao longo do filme é mostrado Rick Dalton tendo sua carreira alavancada
tendo sua carreira alavancada quando vai para a Itália estrela o western
spaghetti onde vira uma estrela em ascensão e Cliff se aventura em conhecer a temida
irmandade da Família Manson responsável pelo brutal assassinato da Sharon Tate,
no qual ele neste filme acaba sendo impedindo graças a intervenção de Rick e
Cliff.
A
maneira como Tarantino abordou a temática sobre a própria sétima arte, usando
de um evento verídico sem precisar
reconstituir o fato como aconteceu onde quem nos conduz a história são dois
protagonistas fictícios, no caso o Rick e seu duble Cliff. Aparecem alguns
personagens reais como Charles Manson, Bruce Lee, Sharon Tate dentre outros.
Mas que são muito pontuais. E quem já está bem familiarizado com estilo peculiarmente tarantinesco de fazer cinema, com a maneira não-linear como
ele conduz a narrativa com um texto ácido, com diálogos muito bem escritos cheio de sarcasmos, ironias, falando nos personagens
muito boca sujas dentre outros quesitos que se tornaram a marca do diretor.
Como o nível mais barra pesada e grotesco da violência gráfica beirando ao
gore. Tudo isso junto é bem explorado de
forma crível no filme, além dele justamente prestar uma singela homenagem ao
próprio cinema. A direção de arte do filme se utilizou de uma incrível estética
visual que bem remente aos formatos dos filmes dos anos 1960, com muitos
filtros e paletas de cores bem vibrantes, principalmente no destaque as cores
mais solares dos figurinos. Os figurinos também estão impecáveis, a cenografia brilhante
reproduzindo a atmosfera dos anos 1960. Destaque também para os carros com
aquele ar bem vintage e as cenografias dos bastidores das filmagens dos
westerns, um dos gêneros preferidos do Tarantino também ficaram impecáveis.
Fora também a trilha sonora bem contagiante que toca muitos sucessos dos anos
1960 a cada cena. No elenco merecem destaque Leonardo DiCaprio como Rick Dalton,
o astro dos western em busca do seu lugar ao sol em Hollywood. DiCaprio tem se mostrado bem amadurecido em
sua carreira, há muito tempo ele já
tinha deixado de ser só mitificado como o simples galãzinho que enlouquecia as
mulheres desde que foi revelado ao estrelado em Titanic(EUA,1997).
O ator mostrou uma completa entrega ao papel, mostrando a quantas ele assim
como Rick Dalton é capaz de fazer para incorporar e se entregar as nuances, e
todas as camadas a função de ator exige. Também merece destaque a participação
de Brad Pitt como o dublê Cliff Booth, um profissional que assume uma função
importante no cinema, pois é ele quem arrisca sua vida para fazer uma cena
perigosa que nenhum ator tem coragem de fazer.
O ator incorpora bem as nuances
do papel, principalmente na forte relação de amizade dele com Rick, além de incorporar
bem a nuance dele se sentir a sombra do
astro principal, e não tem o seu trabalho reconhecido. Um fato curioso a
mencionar é que estes dois astros principais da obra carregam em comum o fato
de já haverem trabalhado antes com Tarantino cada um em
filmes diferentes deste diretor. Brad Pitt participou de Bastardos
Inglórios(Inglorious Basterd, EUA, 2009) e Leonardo DiCaprio em Django
Livre(Django Unchained,EUA,2012). Além desses como protagonistas,
também merece destaque a participação da Margot Robbie como a Sharon Tate, a
atriz que teve sua vida ceifada pelo grupo da Família Manson, ela desempenha
bem o papel graças ao perfeito trabalho de caracterização, mesmo mostrando
alguns sinais de deslocamento da trama, não parece que o seu arco foi bem desenvolvido. Também merecem
destaque Mike Moh, vivendo Bruce Lee(1940-1973), grande astro do Kung Fu,
mostrando uma brilhante performance dele ensinando técnicas coreográficas de
luta aos dublês e numa composição de caracterização impressionante, mesmo
diante da polêmica causada pela família do Bruce Lee diante da maneira como ele
ficou representado no filme.
O veterano
e fera Al Pacino está incrível fazendo uma participação no filme como Marvin
Schwartz(1928-1997), ele existiu de verdade, foi um importante publicitário do
meio do showbussines e aparece em alguns momentos se reunido num bar com Rick
Dalton para discutir negócios sobre os filmes. Em um balanço geral, Era
Uma Vez....em Hollywood é um bom exemplo de filme que presta uma linda
homenagem ao cinema. No melhor estilo tarantinesco, mostrando que ainda mantém
muito boa forma e bom vigor para fazer filmes mais autorais, numa época como
nossa atual em que diretores do nível dele
tem perdido seu espaço para fazer filmes
mais autorais, mais intimistas para o
cinema blockbuster, mas ainda assim
podemos ter espaço para apreciar filmes de bons diretores que se preocupam em
contar uma boa história. Além do filme apresentar muitas referências e homenagens ao cinema dos
anos 1960, com muita dose de homenagem e referências, um dos momentos mais
incríveis do filme foi a festa na mansão
da Playboy, uma das mais importantes marcas de revistas masculinas no mundo,
criada por Hugh Hefner(1926-2017) em 1953. Onde lá aparece as famosas coelhinhas com seus característicos adereços que
simbolizam o coelho da marca da revista. Diante de tudo o que já foi descrito
posso concluir que Era Uma Vez...Em Hollywood é uma da melhores
obras-primas que já vi sobre o próprio cinema.
Valeu Breno como sempre uma arte de resenhar sobre a arte do Cinema.
ResponderExcluirObrigado.
Excluir