Martin Scorsese é um cineasta que nesse ano deu o que falar,
principalmente na polêmica declaração que fez sobre o que achava dos filmes de
super-heróis. Nos brinda com mais uma obra sua magnifica trabalhando com
personagens bem complexo como é o caso de O Irlandês(The
Irishman, EUA, 2019), produção da Netflix.
O seu tão comentado filme onde
aqui ele retoma uma das abordagens preferidas que envolve o submundo do crime
assumindo a dupla função de diretor e
produtor. Baseado na história de Frank Sheeran(1920-2003), vivido
magistralmente na tela por Robert De Niro. Um veterano da Segunda Guerra
Mundial, que passa a conhecer e entrar para o mundo do crime, na época em que
inusitadamente trabalhava como caminhoneiro responsável por entregar carnes aos
bares e restaurantes dominados pelas máfias. E será numa dessas entregas que
tem início o seu envolvimento no mundo
do crime que ele vai passar a ficar muito próximo de Russell Bufallino(Joe
Pesci), que através dele irá conhecer Jimmy Hoffa(Al Pacino) com quem passará a
prestar serviços sujos e abomináveis, como tirar a vida de gente friamente como um matador de aluguel da
máfia. A ponto disso modificar completamente sua personalidade por muito
tempo e logo após ser preso viver
abandonado pela família. A trama do filme
é narrada em primeira pessoa mostrando Sheeran já idoso vivendo recluso numa
clinica sob cuidados médicos, onde ele conta diretamente ao expectador como foi
toda a sua trajetória até ali. Principalmente no que envolve a participação da máfia
no meio politico americano, tanto nas eleições sindicais, quanto na de John
Kennedy para presidente em 1960. A ideia de um filme estar representando o
mundo do crime e pela ótica do criminoso como protagonista pode nos passar aquele
velho receio principalmente da parte de alguns purista deles quererem criar uma
ideia de romantização e glamourização
sobre a vida criminosa. A ponto de servir como péssimo exemplo para formar
novos bandidos. No caso de O Irlandês, eu pessoalmente não senti
nada disso. Aqui o diretor Martin Scorsese procurou representar toda as camadas
de um cara que ao entrar no caminho sem volta da criminalidade, ao mesmo tempo que
ganhou status vivendo de luxo ao ficar próximo de gente poderosa, após cometer muitas atrocidades matando friamente
cada um que desse mancada com ele, também descobriu o quão perigoso é aquilo a
ponto de ir para na prisão e passar o resto da vida solitário e abandonado pela
própria família.
O seu roteiro teve como fonte o livro de memórias O Irlandês: Os Crimes de Frank Sheeran a
Serviço da Máfia. De autoria do Charles
Brandt, advogado e investigador do caso. Que ao ser adaptado por Steven Zaillian
imprimiu algumas licenças poética para tornar a história mais cinematograficamente
mais palatável e dá mais dramaticidade. Como na cena mostrando Sheeran matando
Jimmy Hoffa dentro da residência dele. Se bem que ele havia desaparecido em
1975, e declarado morto em 1982. Até hoje o mistério do seu desaparecimento
permanece inconcluso.
Além de conter um roteiro bem escrito,
o filme também apresenta um ótimo design de produção. Especialmente na
caracterização do Robert De Niro bem rejuvenescido para representar as diversas
fases da vida de Sheeran em cada época bem datada. Não só nos figurinos, mas
também nas locuções que criam uma ótima atmosfera retrõ com ares bem vintage ao filme. E com um nível
de violência bruta e intensa.
O filme contém 3 horas e meia
de duração, para quem prefere ver adrenalina, ação, explosão e situações absurdas de um pipocão filme
blocbusther dos filmes de super-heróis.
Este filme com certeza não foi feito para agradar a este tipo de público. Principalmente
por acharem muito chato e tedioso a quantidade de diálogos muitos
expositivos que este filme apresenta. O ritmo vagaroso das cenas que apelam
para algumas contemplatividades como o plano sequencia sem cortes do começo do
filme passando pelos corredores da clínica onde Sheeran está internando que vai
nos direcionando a ele e o mesmo interagir com o público quebrando a quarta
parede para contar sua versão da história, como se ele estivesse palestrando ao
público numa videoconferência na narrativa em primeira pessoa e lá que ele vivenciou os seus últimos momentos de vida até sua morte em 2003, vitimado pelo câncer
aos 83 anos. Ou mesmo, nos
momentos em que quando somos apresentados a cada mafioso real com quem Sheeran vai sendo apresentado, aparece
umas legendas explicando os rumos reais de cada um teve, como as mortes que
sofreram por balas. Esse monte de didatismo apresentado na obra pode tender a
agradar quem apreciar e contempla um cinema de valor mais artístico e com um
estilo mais peculiarmente autoral de Martin Scorcese.
Num balanço geral, O Irlandês
trata-se de um bom exemplo de filme de arte que vai com certeza vai tender a despertar o interesse
nas premiações, com um personagem bastante complexo que representou bem os
perigos de entrar na vida criminosa e suas consequências. Num trabalho bem
casado entre direção e texto, e contando com um elenco de feras como além de
Robert DeNiro, também contou com Joe Pesci, Al Pacino, Harvey Keitel entre outros.
Se você um bom cinema de arte, não perca tempo corre na Netflix que está disponível
para você a hora que quiser.
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