sexta-feira, 27 de março de 2020

SOMOS TÃO JOVENS PARA LEMBRAR OS 60 ANOS DO RENATO RUSSO


Em 27 de Março de 1960, nascia no Rio de Janeiro, o cantor e compositor Renato Manfredini Júnior. Mais conhecido artisticamente como Renato Russo, cuja origem do sobrenome artístico ele  escolheu como homenagem  a grandes intelectuais que admirava como o filosofo inglês Bertrand Russel(1872-1970), além desses, também admirava o filósofo suíço Jean Jacques Rosseau(1712-1778) e o pintor francês Henri Rosseau(1844-1910). Carioca, nascido no berço de uma família  de classe média,  que se mudou para Brasília ainda adolescente,   quando seu pai um funcionário do Banco do Brasil foi transferido para lá. E foi na cidade símbolo do poder político, então recém-construída por Oscar Niemayer(1907-2012) ainda no Governo de Juscelino Kubitscheck(1902-1976) em 1960, mesmo ano que o cantor nasceu, para servir como residência e reduto de todos os mandos e desmandos que os nossos engravatados da política determinam como tudo vai funcionar  para nossa população. Também serviu como o reduto e o grande berço artístico para Renato Russo se lançar no meio musical. E  nada melhor do que lembrar dessa data em que ele completaria 60 anos se tivesse vivo do que comentar sobre a sua cinebiografia Somos Tão Jovens(Brasil, 2013).





                O filme não é bem uma cinebiografia do  que se espera sobre o Renato Russo, grande ícone  de um estilo musical transgressor e critico que marcou o Brasil  dos anos 1980,    principalmente para a sua legião de fãs que o idolatram, o glorificam, criando toda uma santificação sobre ele que fica até complicado distinguir o Renato como  Artista para o Renato  intimamente como Ser Humano.   Neste filme tanto o diretor Antônio Carlos da Fontoura, quanto o roteirista Marcos Bernstein optaram por criar na história um recorte mostrando um pouco de como ele era  antes de virar o idolatrado artista. Eles se focaram em mostrar como era a vida comum dele na Brasília do começo dos anos 1980. Nos apresentando um pouco do contexto sociocultural que inspirou sua carreira. Nesse filme eles nos apresentam como era o seu estilo de vida universitária  numa família de classe média, onde ajudava na renda familiar dando aulas de inglês.  Os momentos íntimos dos ensaios, das composições, as influências do movimento punk e rock progressivo. Os ensaios com a primeira banda que tocou, o Aborto Elétrico, alguns conflitos com a família. Especialmente seu pai que temia por ele não conseguir se sustentar como artista, enfim.

       O roteiro mesmo sendo muito raso e superficial,   principalmente para o que se espera de uma cinebiografia de um importante ícone da música brasileira, ainda assim tem seu méritos. 




        Quem espera ele seguir uma linha cronológica de apresentar mais detalhes sobre a vida dele no auge e no declínio da carreira, com certeza pode se decepcionar com esta obra. Aqui não foi mostrado como foi sua infância no Rio até se mudar aos 13 anos com sua família para Brasília. Do mesmo modo que o filme não explorou  de forma profunda a vida intima dele durante o auge do seu sucesso, os excessos de sua vida mundana, principalmente quando extrapolava no álcool e nas drogas e vivia em constantes esbornias e  orgias. Também não mostrou as constantes brigas de bastidores com seus companheiros da Legião Urbana Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, não mostra como ele descobriu ser pai de seu único filho Giuliano com uma mulher com quem ele só ficou, sequer isso é mostrado e do mesmo modo que também não foi apresentado  o delicado o momento onde ele descobriu que havia adquirido a AIDS que culminou em sua morte precoce aos 36 anos em 1996.

           Pessoalmente eu não tive muito o privilegio de acompanhar a carreira do  Renato Russo nesse auge do seu sucesso. Quando eu nasci em 1985, ele já estava  estourando com a Legião Urbana e quando fui crescendo foi na fase em que ele na banda  já estava declinando no mundo do  ShowBizz brasileiro, perdendo o seu espaço para os artistas da Lambada, do Sertanejo, do Pagode e do ritmo baiano da Axé Music e com a relação já gasta com a banda, resolveu se lançar em projetos solos. E quando ele morreu, eu só tinha 11 anos e ainda não fazia ideia da dimensão do que ele representou para a história da música brasileira, e do porque ele se tornou e até hoje é uma grande referência. Ele estava dando início a sua carreira solo naquele momento. 






           O filme embora apresente estes problemas, ainda assim,  mostra-se ser bem apreciável com algumas tomadas de liberdade que a produção teve  em imprimir licenças poéticas mesmo fazendo este recorte sobre a vida de Renato Russo.  Um dos méritos do filme deve-se ao bom design de produção, principalmente na reconstrução da Brasília do começo dos anos 1980. Os figurinos e as caracterizações dos personagens estão excelentes. As tomadas de planos e enquadramentos dos diferentes ângulos de Brasília também são magníficos. Fora o elenco cheio de feras, como o Thiago Mendonça está absolutamente incrível na pele do Renato Russo, num trabalho excelente de caracterização e de composição. Ele  em cena incorporou  brilhantemente todos os trejeitos do Renato Russo e moldou todas as nuances e camadas dele. Marcos Breda na pele do Renato pai também mostrou um desempenho excelente  o representando como alguém preocupado com o rumo, no inicio acaba apoia de forma reticente. Sandra Corveleoni na pele de Dona Carmem, a mãe do Renato Russo desempenhou o seu lado acolhedor,  apoiadora e conselheira. Por fim há de destacar as sutis referências  a outros artistas com quem Renato Russo conheceria e fariam parte junto com ele do panteão do Rock Nacional dos anos 1980. Também apresenta como ele foi conhecendo Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá que comporiam a Legião Urbana. Pena não ser mostrado ele conhecendo Renato Rocha(1961-2015), o baixista que só conseguiu ingressar na banda depois que eles assinaram um contrato com a gravadora EMI em 1984 e este fato não é mostrado. A história  dele é concluída com ele e sua galera se preparando para irem ao Rio de Janeiro e fazerem uma apresentação no Circo Voador. Onde foi lá que conseguiu ser apresentado e introduzido  ao mundo do showbiz brasileiro. Renato Rocha foi o primeiro que se desligou da banda no final dos anos 1980, após longas brigas internas dele com Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Depois que virou um egresso da banda, se enveredou por outras bandas, mas nos últimos de vida passou melancolicamente na miséria, mendigando nas ruas,  por causa do abuso do álcool e das drogas até morrer  em 2015. 





     No Balanço Geral, Somos Tão Jovens trata-se de um excelente filme de drama biográfico sobre um importante artista como o Renato Russo, pode não ser perfeito. Visto o fato da obra ter explorado mais um recorte da vida dele de uma forma mais branda antes de se tornar o celebre artista, mas mesmo assim explorou bem outras camadas dele como ser humano. Onde mostrou bem que ele com seu talento  como cantor e compositor ele era perfeito, mas intimamente como pessoa, um ser humano, era tão imperfeito e  cheio de defeitos como qualquer outro.

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