UMA COMÉDIA ROMANTICA DOS ANOS 1980
COM ALTAS DOSES DE SAFADEZAS.
Outro dia procurando pelo Google, ao fazer por mero acaso, uma pesquisa por curiosidade sobre a biografia da atriz holandesa Sylvia Kristel(1952-2012), a eterna estrela da série de filmes eróticos do estilo softcore Emmanuelle, me deparei com a indicação de um filme de comédia estrelado por ela, que eu tinha assistido apenas uma vez quando era criança que passou na TV lá pela década de 1990 e que lembro que tinha me impactado bastante pela ousadia e provocação e que carreguei por muito tempo, guardado no meu subconsciente. O título do filme em questão que estou me referindo trata-se de Uma Professora, Muito Especial(Private Lessons, EUA, 1981).
Ao dar uma revisitada nesta obra quando a descobri disponível completo sem dublagem e ainda mais, sem legendas numa plataforma digital de um site russo,
pude perceber com outros olhos agora depois de adulto uma grande estranheza de como o filme envelheceu mal, principalmente no
seu conceito estético muito datado e da
ousadia que o torna bastante inapropriado para ser produzido nos dias de hoje do politicamente correto pelo tom bastante
pervertido e sem nenhum pudor.
Na
obra em questão, Sylvia Kristel
representou o papel da Nicole Mallow, uma sexy governanta francesa, que ficou encarregada de
cuidar da mansão onde o seu milionário patrão Mr.Fillimore(Ron Foster) vai
fazer uma viagem a negócios e deixará seu único filho adolescente Philip “Philly”
Fillimore(Eric Brown), garoto órfão de mãe, aproveitando as férias de verão para tentar dar uns pegas nessa governanta e a mesma começa a
provocá-lo e os dois começam uma fogosa relação, onde o inseguro, acanhado e ingênuo garoto ao perder sua virgindade com ela, nem
sequer imagina que ela está de conluio para ser passado a perna pelo seu chofer Lester(Howard Hesserman). Ainda mais
quando ocorre de depois dele fazer o ato de transa com a Nicole, ela se fingi
de morta e conta com a ajuda dele para enterra-la em frente a mansão quando descobre que ela estava viva e então
fica claro que tudo não passava de uma pura armação promovida por Lester.
O
filme foi dirigido pelo britânico Alan
Myerson, com roteiro baseado no romance Philly, publicado em 1969, de autoria do
americano Dan Greenburg.
Como
já havia adiantado, ao revisitar a obra
depois de muito tempo, pude perceber bem com outro olhar como ela me impactou
novamente como da outra vez que vi quando eu era moleque, mas desta vez com meu
senso crítico pude perceber como esta obra envelheceu mal, principalmente no
que diz respeito a sua estética cômica bastante safadinha ao replicar os mesmos
elementos do que estavam em alta no cinema do começo dos anos 1980 para o nicho
do público adolescente da época.
Naquela
época onde estava em alta o mercado de home vídeo, depois do surgimento das
videolocadoras, que explorou bem este nicho juvenil com altas doses de
sacanagens e de putacharias seja na comédia ou mesmo no terror com produções de
baixos orçamentos. Este segmento
exploitation sexy tinha de certa
forma uma grande importância para o nicho juvenil. Já que servia como um modo
de escapismo, principalmente por
refletir bastante o contexto do cenário socioeconômico quanto a sensação pessimista que boa parte da geração jovem americana
sentia com relação ao futuro em como conseguiriam se inserirem no mercado de
trabalho se deparando com o alto índice de desemprego no país. Visto a triste
herança deixada pelo país nos anos 1970, ocasionado pela derrota das suas tropas no
Vietnã, o que deixou a reputação da maior potência mundial abalada, somados ao
Escândalo Watergate, que fez o então Presidente Richard Nixon renunciar e com a
crise do petróleo gerando um forte aumento no desemprego. Muito disso fez a jovem
geração americana se sentir frustrada e decepcionada com os seus rumos futuros,
ainda mais com a chegada da década de
1980, marcada como a “década perdida” começando a ser governada por
Ronald Reagan com suas ideias conservadoras. Que aumentou mais ainda a sensação
de pessimismo dessa geração, depois que foram surgindo novas ideias
corporativistas criada pela Geração Yuppie ao modernizar os modelos de negócios
com a comercialização dos computadores pessoais.
E
o filme aqui em questão trilhou bem este
segmento safadinho, replicando o que outros filmes do segmento voltado para o
nicho juvenil já faziam na época, para
servir como uma válvula de escape.
Um
dos motivos que me fez observar,
analisar e perceber como esta obra
envelheceu mal, está em três pontos que
aqui destaco:
1) A
forma como a protagonista Nicole se insinua sem o mínimo pudor para o Phillip,
um moleque que sequer tinha desenvolvido direito o seu corpo masculino e sendo
muito ingênuo, inseguro e inexperiente.
Quando se despe totalmente para ele a
ponto dele ao não resistir as suas investidas
começa a engatar um romance com ela e dessa relação cheia de muito fogo.
Phillip após transar com ela e perder a sua virgindade, resolve pedir Nicole uma
mulher com idade para ser sua mãe, em
casamento. Isso, mostrou o tamanho nível
de temeridade, repugnância, nojeira, podridão e de uma situação bastante escalafobética com relação ao fato da
obra criar uma romantização da pedofilia.
2) Outro
motivo que me fez perceber como esta obra envelheceu mal está no fato dela
criar uma representação bastante antiquada do conceito sobre classes sociais. Principalmente
no que diz respeito a elite ser sempre vista como a superior e dominante e o proletariado sempre inferior e dominada. Isto
na obra ficou evidente quando constatamos que por exemplo, o moleque Phillip
gosta de mostrar sua superioridade machista dominante de playboy rico para a Nicole, sua subalterna, sua serviçal,
sua empregada ao expô-la, exibi-la nos
mais diferentes lugares glamorosos e caros restaurantes que frequenta onde ele usufruindo do dinheiro do pai
ausente se sentindo o seu dono. Como se
ela fosse um troféu para ele. A Nicole como sua empregada e com quase idade para ser sua mãe, simboliza
bem a figura inferiorizada do
proletariado, tornando isso mais agravante do que a obra romantizar o
relacionamento pedofilo, é quanto a ela figurar como o estereotipo da
objetificação erótica da mulher de classe inferior submissa, mostrando como o
filme tentou romantizar a prática da escravidão sexual, do relacionamento
tóxico, abusivo e possessivo de Phillip
por ela. Nestes tempos em que a mentalidade
social mudou e os inferiores tem tido mais voz e o cinema tem prezado pela
representatividade, dentre estes, o exemplo do empoderamento feminino e este
tipo de coisa tem se tornado reprovável
pela opinião pública, este retrato da mentalidade social tradicional de patronato que esta obra representou ficou inadequado e
obsoleto.
3) Dentre
todos estes exemplos mencionados que
justificam bem o porquê que a meu ver
este filme envelheceu mal, também
carrega o fato de em todo o conjunto da obra ele apresenta muitos problemas,
principalmente no roteiro. Tirando a curiosidade do seu teor mais provocativo e ousado, a história em
si é bastante fraca, rasa, com todos personagens mal desenvolvidos. A protagonista
Nicole ficou tipo ok, bem razoável no
arco da trama, sendo representada pela Sylvia Kristel, a famosa estrela do
cinema erótico, cujo desempenho até que se mostrou bastante razoável, mediano,
cumpriu bem a função que já era de se
esperar para mostrar o despudor da sua personagem ainda que faltasse mais
camadas. Já o Phillip até que mostrou ter uma personalidade bem desenvolvida
com suas diferentes camadas, o jovem Eric Brown na época com apenas 16 anos bem
na idade correspondente ao seu personagem demonstrou um desempenho excelente no
papel e consegue segurar o filme nas costas com um ar pueril e destacando o seu sorriso de dentucinho. O mesmo não se
pode de dizer sobre o Sherman(Patrick Piccinini), o melhor amigo do Phillip, que nos primeiros momentos do filme
fica estabelecido ele como o melhor amigo e confidente do Phillip, um
coadjuvante bem caracterizado no arquétipo do alivio cômico no estereotipo de nerd
abobalhado como era visto na época sendo gordinho e de óculos. Porém, a partir
da segunda metade da história ele vai ficando sem importância alguma,
ficando completamente deslocado do ponto
central da trama, o garoto que o representou na obra Patrick Piccinini estava
com apenas 14 anos na época. Pior mesmo é o Lester, o chofer que foi desenhado como antagonista,
durante boa parte do filme ele aparece como um inútil, completamente jogado e
deslocado da história central fazendo uns olhares invejosos para o
Phillip quando fica observando este se envolvendo com a Nicole, sem muito destaque. Só a partir
do momento que a trama vai mudando de rumo depois que Nicole se fingi de morta
depois de transar com o Phillip é que ele ganha algum destaque quando resolve
ajudar Phillip a acobertar o corpo morto forjado da Nicole, ele se mostra mal-intencionado
numa motivação muito pífia de tão patética que provoca numa perseguição absurda
a ele. Ainda pior é o como pai do Phillip, o Mr. Filimore representou “bem” o pior
exemplo de figura paterna já vista numa
obra de cinema. Sendo pincelado como um
sujeito completamente inconsequente, relapso e temerário no momento em que se ausentou,
deixou o coitado do moleque ingênuo do Phillip sob os cuidados de seus
serviçais que se mostraram serem bastante mal-intencionados e cada com um caráter podres. Com uma
governanta completamente imoral,
devassa, libertina, pervertida, depravada, dissimulada, safadona que não
demonstrou nenhum pudor para ficar assediando e abusando sexualmente do garoto,
cometendo um crime sexual. Para piorar também há o chofer que cometeu uma dupla
cumplicidade de ao ver a governanta assediando o garoto não a denunciar, pior
fez chantagem em acobertar a morte
forjada da Nicole. Fora que também no próprio aspecto técnico, o filme apresenta muitos elementos de uma estética datada, que simboliza bem a atmosfera contemporânea dos anos 1980 com características mais para o estilo camp representados
no modo de vestir, dos cortes de
cabelos, dos carros, da cenografia, das paletas de cores na fotografia e a trilha musical dos cantores pop tocadas em
algumas cenas mais contemplativas, uma em especial que destaco é Lost in
Love da dupla Air Supply que acabou dando um tom muito novelesco a
obra, a ponto de ter ficado brega. Junte a isso com muitas situações absurdas que
beiram ao humor nonsense, como numa cena de perseguição a Lester onde o
Sherman, garoto menor de idade dirigir ou mesmo eles colocarem o treinador de
tênis do Phillip como detetive. Fora os closes anatômicos que exploram na atriz
Sylvia Kristel quando ela se despe para o Phillip, mostrando bem como o filme
não tinha mesmo o mínimo de pudor.
Enfim,
diante de todos estes fatores que eu apresentei depois da minha constatação,
acredito eu que dificilmente este filme vai figurar na lista top da critica
especializada como um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. Fora
a escolha do título em português que representa bem um desrespeito a categoria das mulheres docentes.
É
preciso colocar aqui que Sylvia Kristel, protagonista da obra, por causa do estigma que sempre a acompanhou
de figurar como a eterna musa erótica, a glorificada sex symbol, que ao mesmo tempo que a trouxe fama, também representou um mal interno para ela de não conseguir representar outros papeis mais relevantes, o que fez cair
nas armadilhas de uma vida desregrada, se viciando no álcool, nas drogas, o que
prejudicou bastante sua saúde mental, passou por dois atribulados casamentos, nos anos seguintes que esteve no ostracismo,
passou a viver uma vida modesta em Amsterdã, pintando quadros e enfrentando uma
longa batalha contra o câncer até morrer em 2012 aos 60 anos de idade, vitimada
por um AVC.
Recentemente,
houve uma polêmica aqui no Brasil quanto a acusação pública de pedofilia da
ex-apresentadora infantil Xuxa Meneghel que começou quando o jornalista e
apresentador de um programa da linha
policialesca chamado Sikêra Júnior a
atacava constantemente pelo filme Amor, Estranho Amor(Brasil,
1982)que ela estrelou antes de virar a famosa apresentadora infantil onde na obra, ela faz uma garota de programa
que se insinua e transa com um garoto,
e ela numa reportagem de um programa declarou recomendou verem o filme,
ela que sempre tentou por anos impedir
judicialmente a circulação da fita. Eu consegui ver este filme a um tempo atrás
quando estava disponível no Youtube e em comparação a este aqui, carrega um
nível de putacharias bem mais superiores do que este, com nível de agravamento
maior.
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