segunda-feira, 30 de novembro de 2020

FILME UMA PROFESSORA, MUITO ESPECIAL(1981)- CRÍTICA

 

UMA COMÉDIA ROMANTICA DOS ANOS 1980

COM ALTAS DOSES DE SAFADEZAS.

 

 

 

Outro dia procurando pelo Google, ao fazer por mero acaso,  uma pesquisa por curiosidade  sobre a biografia da  atriz holandesa Sylvia Kristel(1952-2012), a eterna estrela da série de filmes eróticos do estilo softcore Emmanuelle,  me deparei com a indicação de  um filme de comédia estrelado por ela, que eu tinha assistido apenas uma vez quando  era criança que passou na TV lá pela década de 1990  e que lembro que tinha me impactado bastante pela ousadia e provocação e que carreguei por muito tempo, guardado no meu subconsciente. O título do  filme em questão que estou me referindo trata-se de Uma Professora, Muito Especial(Private Lessons, EUA, 1981).  




Ao dar uma  revisitada nesta obra  quando a  descobri disponível completo sem dublagem e  ainda mais, sem legendas  numa plataforma digital de um site russo, pude perceber com outros olhos agora depois de  adulto uma grande estranheza de  como o filme envelheceu mal, principalmente no seu  conceito estético muito datado e da ousadia que o torna bastante inapropriado para ser produzido nos dias de hoje  do politicamente correto pelo tom bastante pervertido e sem nenhum pudor.




Na obra em questão,  Sylvia Kristel representou o papel  da  Nicole Mallow, uma sexy  governanta francesa, que ficou encarregada de cuidar da mansão onde o seu milionário patrão Mr.Fillimore(Ron Foster) vai fazer uma viagem a negócios e deixará seu único filho adolescente Philip “Philly” Fillimore(Eric Brown), garoto órfão de mãe,  aproveitando  as férias de verão para tentar dar  uns pegas nessa governanta e a mesma começa a provocá-lo e os dois começam uma fogosa relação, onde o inseguro,  acanhado e ingênuo  garoto ao perder sua virgindade com ela, nem sequer imagina que ela está de conluio para ser passado a perna pelo seu  chofer Lester(Howard Hesserman). Ainda mais quando ocorre de depois dele fazer o ato de transa com a Nicole, ela se fingi de morta e conta com a ajuda dele para enterra-la em frente a mansão  quando descobre que ela estava viva e então fica claro que tudo não passava de uma pura armação promovida por Lester.





O filme foi dirigido pelo britânico  Alan Myerson, com roteiro  baseado no romance Philly,  publicado em 1969, de autoria do americano  Dan Greenburg.

Como já havia adiantado,  ao revisitar a obra depois de muito tempo, pude perceber bem com outro olhar como ela me impactou novamente como da outra vez que vi quando eu era moleque, mas desta vez com meu senso crítico pude perceber como esta obra envelheceu mal, principalmente no que diz respeito a sua estética cômica bastante safadinha ao replicar os mesmos elementos do que estavam em alta no cinema do começo dos anos 1980 para o nicho do público adolescente da época.







Naquela época onde estava em alta o mercado de home vídeo, depois do surgimento das videolocadoras, que explorou bem este nicho juvenil com altas doses de sacanagens e de putacharias seja na comédia ou mesmo no terror com produções de baixos orçamentos. Este segmento  exploitation sexy   tinha de certa forma uma grande importância para o nicho juvenil. Já que servia como um modo de  escapismo, principalmente por refletir bastante o contexto do cenário  socioeconômico  quanto a sensação pessimista  que boa parte da geração jovem americana sentia com relação ao futuro em como conseguiriam se inserirem no mercado de trabalho se deparando com o alto índice de desemprego no país. Visto a triste herança deixada pelo país nos anos 1970,  ocasionado pela derrota das suas tropas no Vietnã, o que deixou a reputação da maior potência mundial abalada, somados ao Escândalo Watergate, que fez o então Presidente Richard Nixon renunciar e com a crise do petróleo gerando um forte  aumento no desemprego. Muito disso fez a jovem geração americana se sentir frustrada e decepcionada com os seus rumos futuros, ainda mais  com a chegada da década de 1980, marcada como a “década perdida” começando a ser governada por Ronald Reagan com suas ideias conservadoras. Que aumentou mais ainda a sensação de pessimismo dessa geração, depois que foram surgindo novas ideias corporativistas criada pela Geração Yuppie ao modernizar os modelos de negócios  com a  comercialização dos computadores pessoais.

E o filme aqui em questão trilhou  bem este segmento safadinho, replicando o que outros filmes do segmento voltado para o nicho juvenil  já faziam na época, para servir como uma válvula de escape.

Um dos motivos que me fez  observar, analisar e perceber  como esta obra envelheceu mal, está  em três pontos que aqui destaco:

1)  A forma como a protagonista Nicole se insinua sem o mínimo pudor para o Phillip, um moleque que sequer tinha desenvolvido direito o seu corpo masculino e sendo muito ingênuo,  inseguro e inexperiente. Quando  se despe totalmente para ele a ponto dele ao não resistir as suas investidas  começa a engatar um romance com ela e dessa relação cheia de muito fogo. Phillip após transar com ela e perder a sua virgindade, resolve pedir Nicole uma mulher com idade para ser sua mãe,  em casamento. Isso, mostrou o tamanho nível  de temeridade,   repugnância,  nojeira, podridão e de uma situação bastante  escalafobética com relação  ao fato da   obra criar  uma romantização da pedofilia.

2)  Outro motivo que me fez perceber como esta obra envelheceu mal está no fato dela criar uma representação bastante antiquada do conceito sobre classes sociais. Principalmente no que diz respeito a elite ser sempre vista como a superior e   dominante e o  proletariado sempre inferior e dominada. Isto na obra ficou evidente quando constatamos que por exemplo, o moleque Phillip gosta de mostrar sua superioridade machista dominante de playboy rico  para a Nicole, sua subalterna, sua serviçal, sua empregada ao expô-la, exibi-la  nos mais diferentes lugares glamorosos e caros restaurantes que frequenta   onde ele usufruindo do dinheiro do pai ausente se sentindo  o seu dono. Como se ela fosse um troféu para ele. A Nicole como sua empregada  e com quase idade para ser sua mãe, simboliza bem a figura inferiorizada  do proletariado, tornando isso mais agravante do que a obra romantizar o relacionamento pedofilo, é quanto a ela figurar como o estereotipo   da objetificação erótica da mulher de classe inferior submissa, mostrando como o filme tentou romantizar a prática da escravidão sexual, do relacionamento tóxico,  abusivo e possessivo de Phillip por ela. Nestes tempos em que a mentalidade  social mudou e os  inferiores  tem tido mais voz e o cinema tem prezado pela representatividade, dentre estes, o exemplo do empoderamento feminino e este tipo de coisa  tem se tornado reprovável pela opinião pública,  este retrato da  mentalidade  social tradicional de patronato  que esta obra representou ficou inadequado e obsoleto.

3)  Dentre todos estes exemplos mencionados  que justificam bem  o porquê que a meu ver este filme  envelheceu mal, também carrega o fato de em todo o conjunto da obra ele apresenta muitos problemas, principalmente no roteiro. Tirando a curiosidade do seu teor  mais provocativo e ousado, a história em si  é bastante fraca,  rasa, com todos  personagens mal desenvolvidos. A protagonista Nicole ficou  tipo ok, bem razoável no arco da trama, sendo representada pela Sylvia Kristel, a famosa estrela do cinema erótico, cujo desempenho até que se mostrou bastante razoável, mediano, cumpriu bem a função que já  era de se esperar para mostrar o despudor da sua personagem ainda que faltasse mais camadas. Já o Phillip até que mostrou ter uma personalidade bem desenvolvida com suas diferentes camadas, o jovem Eric Brown na época com apenas 16 anos bem na idade correspondente ao seu personagem demonstrou um desempenho excelente no papel e consegue segurar o filme nas costas com um ar pueril e  destacando  o seu sorriso de dentucinho. O mesmo não se pode de dizer sobre o Sherman(Patrick Piccinini), o melhor amigo do  Phillip, que nos primeiros momentos do filme fica estabelecido ele como o melhor amigo e confidente do Phillip, um coadjuvante bem caracterizado no arquétipo  do alivio cômico no estereotipo de nerd abobalhado como era visto na época sendo gordinho e de óculos. Porém, a partir da segunda metade da história ele vai ficando sem importância alguma, ficando  completamente deslocado do ponto central da trama, o garoto que o representou na obra Patrick Piccinini estava com apenas 14 anos na época. Pior mesmo é o Lester,  o chofer que foi desenhado como antagonista, durante boa parte do filme ele aparece como um inútil, completamente jogado e deslocado da história central fazendo uns olhares invejosos  para o  Phillip quando fica observando este se envolvendo  com a Nicole, sem muito destaque. Só a partir do momento que a trama vai mudando de rumo depois que Nicole se fingi de morta depois de transar com o Phillip é que ele ganha algum destaque quando resolve ajudar Phillip a acobertar o corpo morto forjado da Nicole, ele se mostra mal-intencionado numa motivação muito pífia de tão patética que provoca numa perseguição absurda a ele. Ainda pior é o como pai do Phillip, o Mr. Filimore representou “bem” o pior exemplo de  figura paterna já vista numa obra de cinema. Sendo pincelado  como um sujeito completamente inconsequente,  relapso e temerário no momento em que se ausentou, deixou o coitado do moleque ingênuo do Phillip sob os cuidados de seus serviçais que se mostraram serem bastante mal-intencionados  e cada com um caráter podres. Com uma governanta completamente imoral,  devassa, libertina, pervertida, depravada, dissimulada, safadona que não demonstrou nenhum pudor para ficar assediando e abusando sexualmente do garoto, cometendo um crime sexual. Para piorar também há o chofer que cometeu uma dupla cumplicidade de ao ver a governanta assediando o garoto não a denunciar, pior fez  chantagem em acobertar a morte forjada da Nicole. Fora que também no próprio aspecto  técnico, o filme apresenta muitos elementos  de uma estética datada, que simboliza bem  a atmosfera contemporânea  dos anos 1980 com  características mais para o estilo camp representados no  modo de vestir, dos cortes de cabelos, dos carros, da cenografia, das paletas de cores na fotografia e  a trilha musical dos cantores pop tocadas em algumas cenas mais contemplativas, uma em especial que destaco é Lost in Love da dupla Air Supply que acabou dando um tom muito novelesco a obra, a ponto de ter ficado brega. Junte a isso com muitas situações absurdas que beiram ao humor nonsense, como numa cena de perseguição a Lester onde o Sherman, garoto menor de idade dirigir ou mesmo eles colocarem o treinador de tênis do Phillip como detetive. Fora os closes anatômicos que exploram na atriz Sylvia Kristel quando ela se despe para o Phillip, mostrando bem como o filme não tinha mesmo o mínimo de pudor.

 





Enfim, diante de todos estes fatores que eu apresentei depois da minha constatação, acredito eu que dificilmente este filme vai figurar na lista top da critica especializada como um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. Fora a escolha do título em português que representa bem um desrespeito  a categoria das mulheres docentes.

É preciso colocar aqui que Sylvia Kristel, protagonista da obra,  por causa do estigma que sempre a acompanhou de figurar como a eterna musa erótica, a glorificada sex symbol, que ao mesmo tempo que a trouxe fama, também representou um mal interno para ela de não conseguir  representar  outros papeis mais relevantes, o que fez cair nas armadilhas de uma vida desregrada, se viciando no álcool, nas drogas, o que prejudicou bastante sua saúde mental, passou por dois atribulados casamentos,    nos anos seguintes que esteve no ostracismo, passou a viver uma vida modesta em Amsterdã, pintando quadros e enfrentando uma longa batalha contra o câncer até morrer em 2012 aos 60 anos de idade, vitimada por um AVC.

Recentemente, houve uma polêmica aqui no Brasil quanto a acusação pública de pedofilia da ex-apresentadora infantil Xuxa Meneghel que começou quando o jornalista e apresentador  de um programa da linha policialesca chamado Sikêra  Júnior a atacava constantemente pelo filme Amor, Estranho Amor(Brasil, 1982)que ela estrelou antes de virar a famosa apresentadora infantil  onde na obra, ela faz uma garota de programa que se insinua e  transa com um  garoto,  e ela numa reportagem de um programa declarou recomendou verem o filme, ela que sempre  tentou por anos impedir judicialmente a circulação da fita. Eu consegui ver este filme a um tempo atrás quando estava disponível no Youtube e em comparação a este aqui, carrega um nível de putacharias bem mais superiores do que este, com nível de agravamento maior.

 

 

 

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