sábado, 28 de novembro de 2020

RESENHA DE 2 FILHOS DE FRANCISCO(2005)

 

EM MEMÓRIA A SEU FRANCISCO CAMARGO

 

 

A notícia do falecimento de Seu Francisco Camargo(1937-2020), pai da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano na noite de  segunda-feira, 25 de Novembro de 2020, aos 83 anos de idade, após passar   dias internado depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória,  gerou uma grande comoção no Brasil inteiro. Mesmo ele não sendo um artista famoso como os filhos. E isto tem uma  explicação, muito disso se deve ao fato de que ele foi um homem muito importante para investir, incentivar  e impulsionar na carreira musical dos dois e os ajudou a alavancar no primeiro sucesso deles que foi com É O AMOR. Um homem simples do campo,  depois que os dois filhos ficaram nacionalmente famosos, ele sempre procurava se manter reservado longe dos holofotes públicos.




Isto mudou, quando ele teve sua história contada no filme 2 Filhos de Francisco(Brasil, 2005), que foi bastante lembrado durante as notícias que circularam pelo Google e Feed de notícias das redes sociais como  Facebook, Twitter e Instagram  durante a cobertura do seu enterro, onde alguns atores que fizeram parte  do elenco do filme manifestaram seus pêsames ao seu falecimento, onde foi a partir de então que ele acabou virando uma respeitada figura pública.

Coincidentemente, esta obra fez debutante em  2020, completando 15 anos que foi lançado e foi o grande fenômeno do cinema nacional. Sendo um grande campeão de bilheterias do cinema brasileiro na época.  






A obra aos olhos de hoje envelheceu bem, pelo fato de justamente tratar do tema universal sobre os valores familiares do ser humano. Contou com a direção de Breno Silveira, fazendo sua estreia como diretor principal, após vim de um longo currículo como diretor de fotografia em grandes produções nacionais   como: Carlota Joaquina-A Princesa do Brasil(1995),  Traição(1998), Gêmeas(1999),  Eu, Tu, Eles(2000) e O Homem do Ano(2003), fora as direções em campanhas publicitárias e nos videoclipes de grandes artistas musicais  brasileiros dos quais foi bastante premiado pela MTV e também  foi produtor associado do filme Casseta & Planeta: A Taça do Mundo é Nossa(2003).





Trata-se de um excelente filme, que mesmo sendo uma cinebiografia da mais importante dupla sertaneja do Brasil, se concentrou  mais o  protagonismo na figura de Francisco. Com roteiro escrito por Patrícia Andrade e Carolina Kotscho, o diretor chegou a confessar na posteridade que ficou muito receoso quanto a aceitar o convite para dirigir, visto que o estilo musical da dupla não era da preferência dele.




A trama aborda diferentes camadas sobre a trajetória da dupla, que começa na premissa quando Seu Francisco(Ângelo Antônio) trabalhando como lavrador e sua esposa Helena(Dira Paes) esperando a chegada  do primeiro filho Mirosmar, o primogênito que vai assinar futuramente como Zezé Di Camargo, em Pirenópolis, no sertão de Goiás em 1962.






Ele já mostrava um sonho quase que impossível e um tanto mirabolante, de transformar dois de seus nove filhos numa dupla sertaneja. Ele tenta botar em prática isso no seu primogênito e com o outro filho Emival. Ele presenteia Mirosmar com uma sanfona. Onde ele mostra os seus dotes artísticos ao fazer pequenas apresentações em feiras. Para eles conseguirem chegar ao topo de virar a mais consagrada dupla sertaneja ganhando rios de dinheiro não ocorreu   assim como num passe de mágicas da noite para o dia. Passaram por muitas provas e desafios.  Quando tentam se apresentarem num programa de rádio onde são chamados de Camargo & Camarguinho, são zombados pelo radialista e pela plateia ao cantarem uma canção exaltando a Ditadura Militar no Brasil. E o radialista os manda embora dizendo para  eles não cantarem aquela música jamais na rádio,  pelo medo dos militares invadirem a rádio e a tirarem do ar.





A vida modesta dele no campo irá mudar quando é mostrado ele brigando com seu sogro sobre o terreno, que faz ele tomar a decisão de se mudar na capital e lá fincar raízes ajudando a sustentar os nove  filhos como pedreiro numa construção civil, onde o pouco que ganhava procurava manter um padrão de vida dos mais confortáveis para ele, a esposa e os filhos. Enquanto Mirosmar e Emisval não desistem do sonho e tentam se apresentarem numa rodoviária, onde lá conhecem um empresário chamado Miranda(José Dumont), que ao observá-los cantando se oferece para agencia-los.  




Esse sugere uma modificação do nome da dupla, é durante o período da convivência deles com este agenciador, que ocorre uma grande tragédia que ocorre num acidente automobilístico quando Miranda estava retornando com os dois depois de uma apresentação. Neste acidente Emisval morre, e interrompe mais uma vez o sonho de seu Francisco de transformar os filhos em artistas de sucesso. 

Até que  com o passar do tempo, o filme vai se adiantando em sua rodagem mostrando Mirosmar(Marcio Kieling) já adulto, fazendo suas apresentações de sanfona em boates. Enquanto que seu irmão menor, Welson, que após crescer formaria dupla com ele, assinando como Luciano.




Nesta fase, somos apresentados a forma como Mirosmar foi sendo  apresentado a sua primeira mulher Zilú(Paloma Duarte). Depois vai se adiantando chegando a fase juvenil de Welson(Thiago Mendonça), um rapaz completamente imaturo da vida que tem um namoro em sua fase de colegial, desse namoro ele engravida da menina, enquanto que Mirosmar vai tentar a sorte em São Paulo-SP,  junto com sua esposa Zilú e as meninas.





É lá que Welson resolve também se mudar  após a desilusão amorosa, resolve construir sua vida lá em São Paulo, onde fica hospedado na casa de Mirosmar e lá começam a difícil batalha de tentarem conseguirem irem atrás de uma gravadora, com muitos percalços conseguem, gravam o primeiro LP, onde lá tem uma cena do produtor explicando para Zezé, que ele só garante o disco, mas não garante o sucesso.  Botando um balde de água fria.

Nos momentos finais, é mostrado eles voltando para Goiás, onde retornam à casa da família e mostram-se muito desiludidos, quase desistindo, quando então novamente Seu Francisco  resolve reforçar ligando num orelhão gastando suas fichas nas rádios para tocarem É O Amor, convence muita gente que para alegria termina com eles ouvindo na rádio É O Amor, liderando as paradas.




E assim a trama é concluída, como bem já adiantei, o mote da estrutura da história da obra,  se concentrou mais no protagonismo de Seu Francisco como o grande incentivador da carreira da dupla, ainda que de uma forma um tanto estranha  e questionável  como fazê-los engolir uma gema de ovo para ficarem com a voz afinada para cantarem. Mais do que basicamente, ser apenas uma cinebiografia da dupla.

O filme não apresentou o que viria acontecer como consequência para a dupla depois do sucesso de  É O AMOR, deles se tornando famosos no Brasil inteiro,  se apresentando constantemente  nos populares programas de auditório da TV e recebendo discos de ouro, prata, platina, diamante, estampando capas de revistas, sendo matérias de jornais, lotando em suas apresentações ou mesmo conhecendo e fazendo amizades com outras duplas sertanejas, como no caso dos seus conterrâneos, Leandro & Leonardo, que no filme aparece uma menção rapidamente a eles numa cena de Zezé numa loja de discos apreciando o LP da dupla. Estes  já estavam bombando na época que eles estavam surgindo com o primeiro sucesso  como dupla sertaneja na indústria fonográfica brasileira.





Também não apresentou as armadilhas que eles enfrentaram com o sucesso e  a fama tão almejada ganhando rios de dinheiro, como o pesadelo ocorrido em 1998 quando eles viram  seu irmão Wellignton Camargo, que na infância sofreu de uma poliomielite que o deixou paraplégico e esta passagem dele  é mostrada rapidamente  no filme, sofrendo um sequestro que durou longos  dias agonizantes.

Enfim, o enredo do filme se concentrou mais em apresentar a trajetória  do Seu Francisco, pai da dupla de  como ele foi o grande incentivador da carreira deles.

Num belíssimo trabalho de direção e roteiro, somados também ao trabalho impecável técnico do  design de produção, principalmente nas locações externas, como o cenário bucólico do sertão goiano, passando pela zona suburbana e as locações de São Paulo, onde em cada uma  foram bem trabalhadas diferentes  paletas de cores, onde cada uma criava bem um ambiente atmosférico, das cores mais quentes e estouradas ambientadas no sertão goiano, para as cores mais saturadas e frias das zonas suburbana.

Some-se isso as caracterizações dos figurinos, onde cada um simbolizou  bem a característica simplista de se vestir dos protagonistas que retratou  cada época que a obra vai se ambientando. Do jeito caracteristicamente  matuto do sertão, para o jeito mais suburbano da periferia da capital goiana e depois durante a estadia  paulista da dupla. Esse toques vintages fez com que a obra fosse  bem trabalhada na estética kitsch.

Some-se a isso também ao elenco estelar presente no filme, que contou em seu casting com nomes célebres de novelas como Ângelo Antônio na pele do seu Francisco agindo com a típica figura do matuto com  característica rústica.   O ator mostrou um bom desempenho dele como patriarca que sonhava alto em transformar os filhos em artistas. Dira Paes na pele da matriarca Helena, representou perfeitamente bem  ela como contraponto ao marido, tentando botá-lo com pés no chão no sonho mirabolante dele transformar os filhos em artistas.

Márcio Kielling, jovem ator egresso da novela teen Malhação, representou bem o Zezé Di Camargo adulto num lindo trabalho de composição. Paloma Duarte ficou ótima como a Zilú, primeira esposa do Zezé, muitos anos depois do lançamento desse filme eles separariam e atualmente Zezé está casado  com Graciele Lacerda.

Thiago Mendonça na pele do Luciano jovem imaturo, também se mostrou excelente, fora as rápidas participações especiais de feras como Lima Duarte na pele do Seu Benedito,  avô durão da dupla.  José Dummont como Miranda, o primeiro agenciador da dupla antes formada por seu falecido irmão Emisval. Jackson Antunes mostrando seus dotes de sanfoneiro numa cena de apresentação e os protagonistas mirins, em especial os que representaram a dupla sertaneja quando eram crianças. Dáblio Moreira ficou excelente na pele do Zezé Di Camargo e Wigor Lima como Luciano também esteve incrível.

Enfim, posso concluir que a obra traz uma abordagem bastante atemporal e emocionante sobre os valores familiares, principalmente para estes tempos tão conturbados ela merece ser vista e revista.

 

 

 

 

 

 

 

 


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