terça-feira, 13 de dezembro de 2022
O NATAL MALUCO DE ERNEST (ERNEST SALVA O NATAL) (1988) - DUBLADO
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
60 ANOS DE 007.
No mês de Outubro de
1962, era lançado o primeiro filme da franquia do maior espião que até hoje é
uma referência em elegância, em automóveis, e principalmente no bom gosto por
bebidas e mulheres. Estou referindo-me
ao agente secreto britânico James Bond, também conhecido como 007, o
único homem do mundo que tem licença para matar.
Um homem a quem mulher
nenhuma resisti ao seu charme e poder de sedução. James Bond, com seu jeito
charmoso de se apresentar, tendo um bordão que virou sua outra marca registrada:
“Meu Nome é Bond, James Bond”. Virou a maior referência em tudo o que se
pode imaginar.
O maior agente secreto da
história do cinema chega aos 60 anos, mantendo a boa forma para continuar
enfrentando os mais diferentes perigos, todos eles liderados por homens com
ideias megalomaníacas de querer dominar a humanidade, além-claro, de mostrar
muito vigor para manejar armas e dirigir os mais diferentes modelos de
carros com design de última geração e
manter um fogo para levar cada mulher bonita para a cama, as popularmente
conhecidas como Bond Girl. Assim é como posso descrever o agente secreto que o
cinema já conheceu.
Foi com 007 contra o
Satânico Dr. No( Dr.No, Reino Unido, 1962), que acompanhamos os primeiros
passos do agente secreto mostrar ao mundo a que veio, e já deixando sua
importante marca.
Inspirado num personagem literário criado pelo
britânico Ian Fleming(1908-1964), um escritor
que já foi Oficial da Inteligência Naval, onde daí estaria explicado de onde ele tirou a sua inspiração para criar o famoso sedutor James Bond.
Produzido por Harry
Saltzman(1915-1994) e Albert “Cubby” R. Brocolli(1909-1996). Contando com a
direção do britânico Terence Young(1915-1994). O primeiro a dirigir a franquia
de 007. Além desse, Young dirigiria posteriormente, mais dois filmes do agente
secreto: Moscou Contra 007(From Russia With Love, Reino Unido, 1963)
e 007 Contra a Chantagem Atômica(Thunderball,
Reino Unido, 1965).
Depois de Terence Young,
a bem-sucedida franquia cinematográfica do agente secreto que tem licença para
matar, passaria pelas mãos de outros diretores: como Guy Hamilton(1962-2016),
Lewis Gilbert(1920-2018), Peter R. Hunt(1925-2002), John Glen, Martim Campbell,
Roger Spottiswoode, Michael Apted(1941-2021), Marc Foster, Sam Mendes e mais recentemente com Gary
Fukunaga, que dirigiu 007- Sem Tempo Para Morrer (No time to die, Reino
Unido, EUA, 2021), que marcou a despedida de Daniel Craig do papel de James
Bond que estava desde Cassino Royale(EUA, Reino Unido, 2006).
Mostrando que o agente
secreto continua inteiro e em boa forma para enfrentar os mais diferentes
perigos, para assim cumprir sua missão.
E por fim, estrelado pelo escocês Sean Connery(1930-2020),
o primeiro ator a dar vida ao sedutor agente secreto, que gostava além de belas
mulheres, gostava também de tomar um
bom Dry Martini, batido, mas não mexido.
Além desse, Connery
estrelaria mais cinco filmes da franquia
de 007, e que depois desse, seria por outros atores, como o
australiano George Lazenby em apenas um filme,
o britânico Roger Moore(1927-2017) em sete, o britânico-galês Timonty Dalton em apenas dois, o irlandês
Pierce Brosnan em quatro, e o americano Daniel Craig, que fez cinco filmes e
até o momento o Eon Productions não definiu qual novo ator para assumir o papel
do próximo filme, nem mesmo qual a previsão para o lançamento do vigésimo-sexto filme da longeva franquia
007.
No histórico primeiro
filme de James Bond, o agente também conheceu a primeira mulher que seria sua
grande aventura amorosa Honey Rider, vivida pela suíça Ursula Andress, uma das
mulheres mais bonitas e consideradas símbolo sexual nos anos 1960, por causa
desse filme.
Essa marcante
personagem deu origem termo Bond Girl.
Que são especificamente referente às belas mulheres, sejam elas heroínas
indefesas, aliadas, ou mesmo quem sabe
as que tentam seduzir o agente em busca de informações, cumprindo a missão de infiltradas, a mando das pessoas
a quem 007 investiga, não importa estão
sempre prontas para lhe hipnotizar, o
magnetizar com utilizando o poder do charme e da sedução para atraí-lo para o
perigo.
E não foram sós as
personagens que passaram a serem
apropriadamente denominadas assim, como também as mais de 50 diferentes
atrizes, que já deram vida para as mais diversas mulheres que despertaram o
fetiche, o sexy appeal em 007.
Além de Úrsula Andress,
outras incontáveis atrizes das variadas nacionalidades que interpretaram as parceiras sexuais de
James Bond, foram: Daniela Bianchi, Honor Blackman(1925-2020), Claudine
Auger(1941-2019), Akiko Wakabayashi, Diana Rigg(1938-2020), Angela
Scoular(1945-2011) Jill St. John, Jane Seymor,
Carole Bouquet, Cassandra Harris(1948-1991), Halle Berry, Eva Green,
Molly Peters(1942-2017), Barbara Bach entre outras diversas atrizes.
A provável inspiração de
Ian Fleming para criar essa bela diversidade de mulheres sedutoras, que
despertam muita sensualidade erótica não só para 007, mas também para outros
marmanjos que as deliciam nas cenas picantes, teria sido originada quando
Fleming conheceu uma bela mulher cujo nome era Muriel Wright, uma modelo
financeiramente independente, que tinha
entre seus múltiplos passatempos pilotar, esquiar e jogar polo.
Fleming a conheceu em
1935, e foi por quem manteve uma sólida relação amorosa, até o momento em
que Muriel morreu, vítima de um ataque
aéreo em 1944, durante os combates da Segunda Guerra Mundial, a morte dela o
deixou bastante inconsolado, e nas
definições do próprio Fleming, Muriel
era: “ excepcionalmente bela”.
Além disso, era também:
“muito boa para ser verdade”.
E não bastando isso, ele
também a definia da seguinte forma a importância que Muriel tinha para
ele: "Tem a pretensão de ser o exemplo da espécie: dócil e pouco exigente, bonita mas inocente,
vivendo ao ar livre, fisicamente forte,
implicitamente vulnerável sem
reclamar e, em seguida,
tragicamente morta, antes ou pouco depois de seu casamento.”
Fora a trilha sonora
característica desde a trilha instrumental clássica e antológica música do primeiro filme
que lançou a franquia de 007 nas telonas.
Tocada magistralmente por
John Barry(1933-2011) e sua Orquestra. Não tem como não ouvi-la e associar ao
sedutor agente secreto salvando o mundo e ao mesmo tempo seduzindo cada mulher que vem a sua frente.
John Barry criou uma excelente instrumentação tão divina, que se tornou até
hoje a grande marca registrada do personagem.
E dos artistas pops como
Matt Monroe(1930-1985), Shirley Bassey,
Tom Jones, Nancy Sinatra, Paul McCartney, Lulu, Carly Simon, Sheena Easton,
Rita Collidge, Duran Duran, A-há, Tina Turner, Sherly Crown, Madona, Chris Cornell(1964-2017),
Adele e Billie Eilish no último filme da
franquia até o momento que emprestaram suas vozes para compor a trilha sonora
de cada na abertura característica mostrando as silhuetas femininas dançando de
forma muito sensual.
E o que falar dos tantos de tralhas tecnológicas, de carros conversíveis para encarar cada perigo e sair ileso das ameaças dos diversos tipos de vilões que o sedutor agente já teve de enfrentar, e era cada um mais excêntrico, mais mirabolante com uma ideia megalomaníaca e sempre acompanhados de capangas mal encarados. Do primeiro filme, o Dr. Julius No(Joseph Winserman) em 007 Contra o Satânico Dr. No(Dr. No, Reino Unido, 1962) até o recente Safin(Ramin Malek) em 007-Sem tempo para morrer(No time no die, EUA, Reino Unido, 2021).
Sendo cada um representado na pele de tantos
talentosos atores das mais diferentes nacionalidades como o canadense Joseph
Winserman( 1918-2009), o havaiano de descendência nipônica Harold
Sakata(1920-1982), o alemão Gert Fröde(1913-1988), o italiano Adolfo
Celi(1922-1986), o americano de descendência grega Telly Savalas(1922-1994), os também americanos
Putter Smith e Bruce Glover, o também
americano de origem africana Yaphet Kotto(1939-2021) o francês Hervé
Villenchaize(1943-1993), o mexicano Benicio Del Toro, o espanhol Javier Bardem,
o dinamarquês Mads Mikelsen dentre os muitos
atores britânicos que fizeram grandes vilões na franquia 007 como Robert
Shaw(1927-1978), Donald Pleasense(1919-1995), Charles Gray(1928-2000) Christopher
Lee(1922-2015), Julian Glover, Michael Gorthard(1939-1992), Sean Bean dentre vários outros das mais variadas
nacionalidades que já representaram vilões, do mesmo modo em relação as atrizes que fizeram as bond
girls.
Enfim, que venham mais 60
anos para 007.
quarta-feira, 28 de setembro de 2022
80 ANOS DE TIM MAIA
No dia 29 de setembro de 1942, nascia no Rio de
Janeiro, no dia de São Sebastião, Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido como
Tim Maia. Para lembrar a data em que ele completaria 80 anos, comentarei sua
cinebiografia.
No filme Tim Maia (Brasil, 2014), somos
apresentados às diferentes fases da vida do Tim (Robson Nunes jovem e Babu
Santana na maturidade) da sua infância na Tijuca, ajudando sua grande família a
entregar marmita. Tim Maia era penúltimo da numerosa prole dos 20 filhos de
Altino Maia e Maria Imaculada Maia. Era chamado de Tião Marmita, apelido que
detestava.
Nessa
passagem inicial do filme é mostrado como ele desde criança já tinha adquirido
o aspecto físico bem rechonchudo, ainda mais quando era mandado a ajudar a
família entregando marmitas, e por assumir essa função terminava aproveitando
para comer às escondidas a comida dos clientes. Também ganha destaque sua
formação escolar em um colégio católico.
No decorrer da passagem do tempo, o filme vai
mostrando um Tim Maia mais crescido e com o aspecto físico mais roliço no final
da década de 1950, sonhando alto com sua carreira musical. Foi graças a um padre da escola onde estudava
que ele conseguiu adquirir seu primeiro instrumento. Também é nessa fase da
vida dele que realiza suas primeiras tentativas de conseguir viver sua tão sonhada
carreira musical, formando duas diferentes bandas.
Nessa época também é mostrado como foi o
relacionamento dele com duas importantes figuras da música brasileira, Roberto
Carlos (George Saruma) e Erasmo Carlos (Tito Navile), e o pioneirismo da Jovem
Guarda, um importante movimento musical surgido nessa época influenciado pelo
rock americano. Também o mostra formando junto com esses dois amigos a banda The
Sputniks. O cenário da época certamente deve trazer um pouco de nostalgia
aos que tem mais de 50 anos. Esse é também o momento em que Tim Maia vivencia
sua primeira tentativa de se lançar como cantor no programa de auditório do famoso
apresentador de TV Carlos Imperial (Luís Lobianco), que, naqueles primórdios da
televisão, com a extinta TV Tupi (1950-1980), poderia ser comparado a
comunicadores como Faustão e outros do gênero.
É também nessa fase de sua juventude Tim Maia apresenta
os primeiros traços de sua personalidade intempestiva, que se tornaria a grande
responsável por, em diferentes momentos da sua vida, queimar sua carreira na
música.
No momento em que retorna ao Brasil, descobre
como a carreira musical de seus antigos parceiros dos Sputniks, Roberto
Carlos e Erasmo Carlos, eles estavam se tornando grandes mercadorias lucrativas
para muitas gravadoras brasileiras, no auge da Jovem Guarda. Nessa época, Tim
Maia precisou penar para conseguir virar o cantor que se tornaria futuramente.
Mais para frente, o filme mostra o cantor já bem estabelecido mercadologicamente,
havendo inclusive uma forte sacralização em torno dele.
É no cenário da fase dourada que foi nos anos
1970 que o filme mostra detalhes curiosos dos bastidores das canções que ele
gravou. Além disso, mostra um pouco da sua relação amorosa com Janaína (Alinne
Moraes). Interessante perceber nessa época, como, na mesma medida e proporção,
ele conseguiu grandes sucessos, como também grandes fracassos, sua vida bem
porra-louca nas festas onde bebia e se drogava excessivamente e envolvido nos
episódios controversos. Um desses momento foi quando inventou de aderir à seita
religiosa dos Racionais, comandada por Manuel Jacinto Coelho (Nando Cunha),
onde terminou tentando doutrinar seus fãs gravando um álbum que lhe custou sua
carreira. Isso sem falar no seu perfil irascível, que o fez entrar em sérios
conflitos com gravadoras, somados ao afastamento de alguns de seus amigos, de
sua amada. Sua genialidade musical contrastava demais com sua personalidade
difícil que o levava a viver um estilo de vida um tanto controverso.
O filme contou com a direção de Mauro Lima,
também encarregado de escrever o roteiro em conjunto com Antônia Pellegrino, cuja
base foi a biografia Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia, publicado
em 2007, escrito pelo jornalista e produtor musical Nelson Motta. Pelo que pude constatar do filme sobre a vida
do cantor Tim Maia, ele procura esmiuçar ao máximo possível todos os diferentes
momentos da sua carreira: da ascensão e queda, passando por fases bem
controversas, também mostrando seu talento musical, contrastando com o ser
humano cheio de muitos defeitos como qualquer pessoa comum. Ou seja, são as
várias faces de um mesmo Tim Maia, ainda que com algumas licenças poéticas,
para poder seguir algumas convenções narrativas para fins dramatúrgicos.
Assim, houve alguns momentos que acabaram
ficando de fora do filme, logicamente para o filme não ficar muito cansativo.
Inclusive, senti falta de alguns detalhes de sua vida íntima na representação
da figura paterna com os filhos Leo e Carmelo Maia. Assim como também não chegaram explorar suas
outras amizades e parcerias musicais com cantores como Jorge Ben Jor, Gal Costa,
Sandra de Sá ou mesmo outros episódios bem controversos de algumas malandragens
que lhes custaram muitas dívidas.
Enfim, o que posso definir do filme biográfico sobre Tim Maia, é que ele é excelente para se conhecer um pouco melhor do nosso contexto musical, sobretudo pra gente valorizar mais a cultura brasileira. O filme apresenta um excelente trabalho no design de produção com uma estética retrô com a fotografia, cenografias e belíssimos figurinos que reconstituem bem cada momento histórico do cenário musical vivenciado pelo Tim. Tudo impecável.
Passando pela sua infância e começo da
juventude, durante os anos 1950, adentrando pelos anos 1960, após sua passagem
em solo americano, e retornando deportado ao Brasil, após estourar com a Soul music,
nos anos 1970, e cair no fundo do poço; e após retomar ao sucesso até chegar ao
final dos anos 1990, já muito debilitado pelos excessos da vida que o levaram a
passar mal no seu último show, em 08 de março de 1998, e falecer dias depois. Tudo
isso criando todo um clima de nostalgia para quem conheceu muitas das suas
diferentes fases tão bem reconstituídas no filme.
O elenco do filme é incrível, com destaque para
Robson Nunes e Babu Santana, que estão perfeitos encarnando o papel do cantor
em diferentes momentos da vida.
Robson Nunes está excelente apresentando um Tim
Maia mais jovem sonhando alto com sua carreira artística e tendo uma forte
ligação com o Roberto Carlos e já mostrando os primeiros sinais da sua
personalidade explosiva. Babu Santana está perfeito no papel do Tim Maia mais maduro
e com a carreira musical estabelecida. Sua perfeita empostação de voz o deixa
quase idêntico ao cantor.
É curioso imaginar que os dois artistas que
encarnam com perfeição no filme um Tim Maia com idades tão diferentes, o
primeiro bem adolescente e o segundo um homem com mais de 30 anos; na vida real,
têm uma diferença de idade de apenas três anos. Destaco ainda a excelente interpretação
de outros atores que são rostos bem conhecidos do grande público, o galã global
Cauã Reymond é um deles, que está brilhante no papel do cantor Fábio. Aliás, é esse
personagem quem assume a função de ser o fio condutor da história ao fazer a
narrativa em off na segunda pessoa. Alinne Moraes está ótima no papel da Janaína,
que parece representar o papel de mulheres interesseiras que gostam de dar em
cima de algum famoso para tentar se dar bem. Ela aqui foi condensada na figura
de outras mulheres com quem Tim se relacionou ao longo da vida.
O filme
ainda conta com ótimas participações de rostos conhecidos de novelas globais
que sabem como aproveitar os tempos de presença de cada um na trama. Destaque
para George Saruma representando Roberto, com uma interpretação dos seus
maneirismos que às vezes beira ao caricato, parecendo representar o cantor para
um quadro de humor. Uma cena marcante é quando o personagem destrata Tim Maia no
seu camarim. Luís Lobianco faz uma representação excelente do Carlos Imperial (1935-1992),
importante comunicador dos primórdios da TV com aquele seu perfil malandro.
Também vale mencionar as participações de Laila Zaid como Susi, amiga porra-louca
da Janaina; Nando Cunha, no papel de Manuel Jacinto Coelho (1903-1991), imponente
líder espiritual da seita dos Racionais na qual Tim Maia, cometendo a maior
escorregada da sua vida; Edson Cardoso, o ex-dançarino do conjunto musical de axé É o Tchan!, popularmente conhecido como Jacaré, representa um segurança
que barra Tim Maia em um show de Roberto Carlos. Também merecem destaque as
participações internacionais de atores americanos que aparecem na passagem de
Tim pelos EUA, dentre outros.
Quando Tim Maia faleceu, eu tenho de confessar nessa
época conhecia pouco ou mesmo quase nada a respeito do seu nível de sua importância
para a música brasileira; eu era só um garotinho de apenas 12 anos. No entanto,
lembro da cobertura que a imprensa fez de sua última internação e da comoção
causada por sua morte.
Na época do seu falecimento, ele já não
figurava mais tanto como o artista mais lucrativo, como acontecera décadas
antes; já não tinha mais suas músicas ocupando as paradas de sucesso das rádios
brasileiras nem era visto se apresentando com frequência nos populares
programas de auditório da TV. Um dos motivos envolvia o fato de que
naturalmente, para a geração jovem do final dos anos 1990, ele já figurava como
um artista sinônimo de “brega”, ou, no dizer da gíria jovem atual, cringe.
Naquele contexto do final do século 20 em que
sequer sonhávamos em ouvir música facilmente pelas mídias digitais como Youtube
e Sportfy, essa era uma quase realidade distante de ficção cientifica. Nós
ainda ouvíamos pelas mídias físicas, o pequeno Compact Disc (CD), foi quem
passou a substituir o grande Long Play (LP), também chamado por vinil ou
popularmente aqui no Brasil de bolacha, que foi extinto do mercado na época.
Ainda existiam as pequenas fitas K7, mais acessível às camadas populares.
Os estilos musicais que simbolizavam o modismo para
essa geração do final dos anos 1990 eram: a axé music, o sertanejo e o pagode,
gêneros que atraíam o gosto popular, cujos artistas de cada um desses gêneros figuravam
segundo o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) como os mais lucrativos para o mercado fonográfico
brasileiro na época. Do mesmo modo que também havia os jovens que se
aventuravam a curtir mais o estilo underground
dos sons experimentais da onda pop/rock do Skank, Jota Quest, Raimundos, Pato
Fu, Charlie Brown Jr., que conquistaram seu espaço no mercado fonográfico brasileiro graças à influência da MTV Brasil, que
simbolizava muito a cara jovem.
Como se vê, a concorrência na época era grande
e fez Tim Maia perder seu espaço, tanto que os últimos álbuns que ele lançou de
forma independente, com sua própria gravadora, a Vitória Regia, figuraram entre
os que mais tiveram vendas baixas. Como se isso não fosse o bastante, em
consequência da sua personalidade explosiva, já era apresentado naquele momento
como uma persona non grata no showbusiness nacional. Ele já se encontrava com a sua reputação
manchada por ter brigado com Deus e o mundo, como ele mesmo descreve numa cena
do filme. Criou desafetos com as gravadoras, com os empresários que já o haviam
agenciado e estes se sentiam lesados pelo não cumprimento dos compromissos,
moveram uma onda processos na justiça contra ele. Também criou desafetos com
músicos que perderam a paciência com ele sempre pedindo para parar de executar
uma canção, por viver reclamando do som ou mesmo da falta de retorno no áudio ao acompanhá-lo nos
seus shows e ensaios. E, para piorar sua situação, ele ainda enfrentou
problemas com a Receita Federal por não ter declarado seus impostos. Isso tudo o
levou à falência. Tanto que ele chegou ao fundo do poço; meses antes dessa sua
última apresentação, durante as festividades do Réveillon de 1997, recebeu da
justiça uma ordem de confisco do seu imóvel e dos seus bens, em consequência das
dívidas acumuladas até aquele momento.
Isso sem falar que a própria saúde dele também
já se encontrava bastante fragilizada,
em consequência do seu estilo desregrado de viver. Com 55 anos e pesando 142 Kg,
Tim Maia estava sentindo os efeitos da cobrança que os excessos alimentares, misturado
com as bebidas e com drogas nas noitadas que costumava promover em sua casa, representaram
para ele naquele momento um fim melancólico da sua potente voz.
Como diz o velho ditado: “Morre o artista, mas
sua obra fica”. E as canções de Tim Maia serão lembradas para sempre.
terça-feira, 23 de agosto de 2022
PACTO BRUTAL-O ASSASSINATO DE DANIELA PEREZ
Na tarde de quinta-feira, 11 de agosto de 2022,
terminei de assistir ao documentário Pacto brutal: o assassinato de Daniela
Perez (Brasil, 2022). Uma produção original da HBO Max dirigida por Tatiana
Issa e Guto Barra, em cinco episódios, aborda o assassinato da jovem atriz
Daniela Perez pelo seu colega de elenco da novela De Corpo e Alma (Brasil,
1992-1993), Guilherme de Pádua. O crime aconteceu no dia 28 de dezembro de 1992.
Coincidentemente, terminei de assistir o documentário no dia em que ela completaria
52 anos.
Eu era muito criança na época em que esse crime
ocorreu, estava com sete anos, mas lembro vagamente dos telejornais noticiando
o nome dela. Principalmente da última novela que participou, em que representou
a Yasmin e Guilherme de Pádua, seu assassino, interpretava o Bira, o seu par
romântico.
Por mais estranho que possa parecer o que vou
dizer, eu não recordava tanto deles em cena nessa novela; o que durante muito
tempo carreguei como lembrança foi a ousadia de o folhetim apresentar em
horário nobre, o antigo horário das oito, homens fazendo strip-tease num local
frequentado só por mulheres, o popular Clube das Mulheres, que estava
muito em alta na época, o qual contava com Victor Fasano, no auge da beleza e
da boa forma atlética, o famoso garoto-propaganda da marca de desodorante Avanço, representando um stripper. O núcleo
do qual Victor fazia parte contava com a participação de um cara que fazia um
apresentador do clube e que atuava nessa função também na vida real, o sócio e fundador do Clube das Mulheres , o
saudoso Marcos Manzano (1959-2020).
Outra coisa que eu me recordo dessa novela é a
estreia de Cristiana Oliveira na Globo, após estourar como a Juma Marruá na
versão original de Pantanal (Brasil, 1990), da extinta Rede Manchete. Sua
personagem, Paloma, era do núcleo de Daniela Perez, que representava sua irmã. Paloma
vivia um romance proibido com o Diogo, personagem do saudoso Tarcísio Meira (1935-2021),
um cara em crise no casamento. O casal era embalado pela canção italiana
Caruso, interpretada por Lucio Dalla (1943-2012). A atriz, inclusive, participa do
documentário dando seu depoimento.
Enfim, essas são as poucas coisas que eu me
recordo dessa novela tão assimilada ao crime brutal do assassinato de uma jovem
e talentosa atriz por um colega de elenco.
A respeito do documentário, o que posso dizer é
que ele é bem produzido. De maneira impecável, eles conseguem conduzir a
história tendo como fio condutor a mãe de Daniela, a novelista Glória Perez,
autora da novela em que a filha atuava na época do crime, que vai se
intercalando com as entrevistas e os depoimentos de muitos nomes importantes do
judiciário que investigaram o caso. Das pessoas próximas à Daniela, como um dos
representantes da classe artística, destaca-se o ator Raul Gazolla, que é viúvo
da atriz.
O documentário traz uma reconstituição das
horas que antecederam o crime, quando ela foi vista pela última vez na Globo, saindo
dos estúdios Tycoon, onde era gravada a novela antes da existência do Projac, e
imagens de arquivos. O canalha do Guilherme de Pádua não aparece dando
depoimento, ainda bem, pois muita coisa ali foi baseada nos autos do processo;
pois certamente ele daria uma nova versão para tentar confundir ainda mais a
justiça e colocar a culpa em sua então esposa e cúmplice no crime bárbaro,
Paula Thomaz. Esta, tão desprezível quanto Guilherme de Pádua, também não participa
do documentário. As únicas coisas que dá para ouvir da boca deles estão nos
arquivos das reportagens de telejornalismo que cobriam o caso.
O documentário esclarece como Guilherme de
Pádua havia sido selecionado para representar o Bira, o par romântico da Yasmim,
papel de Daniela Perez, que inicialmente era para ser do hoje deputado federal
Alexandre Frota, que não pôde aceitar o convite na época porque não foi
liberado da novela em que estava ainda atuando, Perigosas Peruas (Brasil,
1992). Frota aparece no documentário junto com outros atores, Raul Gazolla; Fábio
Assunção, que contracenava com Dani na novela fazendo seu outro par romântico;
Eri Johnson, que também contracenava com a atriz na novela. Outros atores
também dão seu depoimento: Stênio Garcia, que interpretava o pai de Yasmin, e
Cristiana Oliveira, que fazia o papel de sua irmã.
Mauricio Mattar, que não compunha o elenco da
novela, traça um perfil de Guilherme de Pádua quando contracenou com ele numa
peça chamada Blue Jeans, dirigida por Wolf Maia. A peça ainda contava
com Fábio Assunção e Alexandre Frota no elenco, os quais também dizem como era
conviver com Guilherme antes do crime, ressaltando seu comportamento estranho.
Fábio Assunção lembra um momento em que Guilherme de Pádua, representando um
policial que o prendia, chegou a machucá-lo de verdade. “Ele fazia um policial,
então ele me prendia, tinha que me bater, mas era ensaio. E ele me deu um soco
em cena. Foi na minha garganta, aquilo deu uma discussão enorme. Achei até que
ia ficar com algum problema na voz”, diz o ator.
O documentário mostra a passagem de Guilherme de Pádua pelo grupo teatral homoerótico dos Leopardos, no qual ingressou no final dos 1980 ao chegar no Rio de Janeiro (ele nasceu em Belo Horizonte). Ele se envergonha de ter participado do grupo e nessa época já mostrava um perfil egoísta, psicótico, narcisista. Foi nesse grupo conheceu a mulher que seria sua futura esposa e cúmplice no assassinato, Paula Thomaz. Ela também já demonstrava um comportamento estranho e possessivo. Capazes de fazer até um pacto macabro e dos mais bizarros. Foi essa a inspiração para o título do documentário.
O documentário traz ainda o depoimento de
muitos dos profissionais que trabalharam nos bastidores da novela (maquiadora, cameraman,
figurinista), todos ali relatando que Guilherme de Pádua agia sempre de forma
estranha e vivia perseguindo Daniela, por não se conformar com o pouco destaque
do seu personagem.
Há também o depoimento da filha de Hugo da
Silveira, já falecido, importante testemunha que passava pela estrada próxima ao
matagal onde foi encontrado o corpo da atriz; ele anotou a placa dos dois
carros ali parados.
Em alguns momentos nos deparamos com imagens de
arquivos com muitos representantes da classe artística clamando nas portas das
delegacias por justiça pelo assassinato de Daniela Perez, alguns desses
artistas já são falecidos, como é o caso Guilherme Karan (1958-2016), Marilu
Bueno (1940-2022), que na novela De Corpo e Alma fazia o papel da mãe de
Yasmim, personagem da Daniela Perez. Outras personalidades que aparecem nas
imagens de arquivos e também são falecidas: o jornalista Marcelo Rezende (1951-2017),
famoso apresentador de programas policialescos; o documentário mostra sua cobertura
do caso como repórter em matéria para a Rede Globo.
A jornalista Sandra Moreyra (1954-2015) também
aparece nas imagens de arquivos, entrevistando Daniela Perez quando a atriz
estava se preparando para fazer o papel da Yasmim na novela, comentando suas
expectativas em relação à personagem. Outra personalidade, essa recém-falecida,
que é mostrada nas imagens de arquivo do documentário, é Jô Soares (1938-2022),
em seu antigo talk show do SBT, o Jô Soares Onze e Meia (1988-1999),
quando entrevista a autora Glória Perez, esta desabafa sobre a impunidade. Em
outro momento, traz imagens do grupo dos Leopardos, fazendo performances
sexuais das quais participava o assassino Guilherme de Pádua.
Há também o depoimento do irmão de Daniela
Perez, o advogado Rodrigo Perez, relatando a ferida aberta com a morte brutal
da irmã, uma ferida que ainda não cicatrizou. O documentário não mencionou o
outro irmão de Daniela, o caçula Rafael Perez, que nasceu com uma síndrome rara
que afetou o seu desenvolvimento mental. Rafael faleceu dez anos depois da irmã,
em novembro de 2002, aos 25 anos, vítima de problemas intestinais.
Enfim, sobre esse tipo de produção, é
necessário que se tenha nervos de aço e muito preparo psicológico para digerir
todo o teor barra pesada que a obra expõe, desde os depoimentos emocionantes
até a foto da perícia mostrando o corpo da Daniela mutilado. Para quem gosta
dessa estética de true crime e tem estômago para conseguir ver até o fim e não
se sentir revoltado com a impunidade do caso, recomendo o documentário. Passados
trinta anos desse crime bárbaro, os monstros que assassinaram a Daniela Perez
estão soltos por aí. O Guilherme de Pádua virou pastor evangélico e está sempre
posando de santinho.
Mas se
você for sensível demais e se emociona muito fácil, acho melhor não se arriscar
a ver.