segunda-feira, 8 de abril de 2024

ANIMAÇÃO DO MENINO MALUQUINO(2022).

 

A ANIMAÇÃO DO MENINO MALUQUINHO.

 

Durante o mês Outubro de 2022, comecei a dar uma assistida  na série animada nacional da Netflix O Menino Maluquinho(Brasil, 2022), baseado na obra de Ziraldo(1932-2024).




Nessa animação que conta com 26 episódios, uma produção da Chatrone, cuja equipe encarregada de transpor o famoso personagem literário  para a animação contou com: Carina Schulze e Arnaldo Branco que assinam o roteiro.  Beto Gomez e Michele Massagli que assinam a direção. A direção de arte é encarregada por Beta Kruger e Walkir Fernandes, conta com Gustavo Suzuki como roteirista-chefe e  a direção da animação é da Fits.

Nessa animação, somos apresentados as peraltices de Maluquinho em sua vida rotineira em casa e na escola.




Acompanhado de seu inseparável  parceiro Bocão, ele vai fazer mil peraltices que até mesmo Deus dúvida.

Posso descrever que uma das coisas que mais me chamou a atenção é na qualidade da animação, toda fluida e feita de forma artesanal explorando diferentes paletas de cores no modelo de traço  mais tradicional de 2D, que difere do conceito que nos habituamos a ver nos últimos tempos com o 3D das animações da Pixar, por exemplo.






O que faz os personagens ficarem bem com um aspecto cartunesco que remete bem ao traço característico da estética  do próprio Ziraldo. E como animação se utiliza bem da linguagem da inércia para explorar bem o nível pantomino de humor físico trazendo umas licenças poéticas.





Eu tive o privilégio de conhecer essa obra famosa do Ziraldo, que foi publicado em 1980, primeiramente por meio da adaptação cinematográfica que foi lançada em 1995. Que contou com o envolvimento do próprio autor  no conceito do roteiro e até parece uma referência a outras criações dele como as revistas da Turma do Pereré que aparece numa cena do Maluquinho numa banca de jornal em frente à escola.





E também contou com o envolvimento do seu filho Antônio Pinto, que foi o responsável por compor a trilha sonora que contou também com a participação dos ilustres Milton Nascimento e  Rita Lee(1947-2023) cantando a canção-tema do filme:

Vida de Moleque é vida boa,

       Vida de Menino é Maluquinha

       É Bentes-altas rouba bandeira

       Tudo que é bom é brincadeira

Onde depois eu cheguei a ganhar um livro dos meus pais do Menino Maluquinho, que tem um teor até bem profundo, especialmente no estilo da estética literária e ilustrativa característica dele.





Da qual também cheguei a apreciar em algumas charges animadas curtas que apareciam nos intervalos dos filmes da Globo e apreciei também outra adaptação de sua obra  para o cinema que foi Uma Professora Muito Maluquinha(Brasil, 2011).

Posso descrever que essa adaptação em desenho animado da Netflix  vale a pena ser conferido.

Em memória de:

Ziraldo Alves Pinto.

N. 24 de Outubro de 1932.

M.06 de Abril de 2024.

 

 

 

 

 

sábado, 6 de abril de 2024

UMA PROFESSORA, MUITO MALUQUINHA EM MEMÓRIA DE ZIRALDO

 

A PROFESSORA MALUQUINHA  DO ZIRALDO

IN MEMORIAM.

(1932-2024)

Este texto nunca foi publicado, por esse motivo não estranhe a data referente a 2022.  


Na manhã de sábado, 15 de Outubro de 2022,  data especialmente dedicada ao Dia do Professor, dei uma conferida no filme Uma Professora, Muito Maluquinha(Brasil, 2011).



A sua história se ambienta no interior de Minas Gerais, durante a década de 1940. É nesse lugar  que a professora  Catarina Roque(Paolla Oliveira), sobrinha do Monsenhor Aristides(Chico Anysio), um respeitado sacerdote na região,   utiliza-se de um modelo de metodologia diferenciado para despertar os seus pequenos alunos  a terem interesse pelo saber de uma forma mais dinâmica.

Ensinando, por exemplo,  sobre o Egito numa sessão de cinema de propriedade  do excêntrico  Sêo Floriano(Ziraldo) vendo Cleópatra.

Ou mesmo fazendo uma aula de campo com as crianças, ensinando geografia na companhia de Mário(Max Fercondini), que representa uma das figuras dos respeitados intelectuais da região, sempre acompanhado  nos botecos de seus inseparáveis companheiros boêmios  Pedro Poeta(Rodrigo Pandolfo) e Rodolfo Valentino(Ricardo Pereira).

Esse tipo de metodologia alternativo  de Catarina vai desagradar um grupo de professoras invejosas da instituição, como as comandadas por Lúcia(Claudia Ventura)   que prezam pelo engessado modelo conservador que vão pressionar o novo diretor a assumir o controle da instituição, Padre Beto(Joaquim Lopes) recém-chegado da cidade, que vai terminar precisando acatar a decisão de expulsa-la da instituição. Uma notícia que deixa seus alunos muito tristes. A ponto de terminar com ela deixando a cidade.

O filme contou com a direção de André Alves Pinto e César Rodrigues,    inspirado na obra homônima do Ziraldo(1932-2024), publicado em 1995 pela Editora Melhoramentos.

Ziraldo é também autor de um clássico infantil O Menino Maluquinho, obra que também ganhou uma adaptação para cinema em 1995. E que recentemente ganhou uma versão animada pela Netflix.  

O que mais me chamou a atenção nesse filme, é que diferente de outros títulos que já abordaram a temática dedicada ao trabalho do  professor como exemplos: Ao Mestre, Com Carinho(To Sir, With Love, Reino Unido, 1967), Meu Mestre, Minha Vida(Lean On Me, EUA, 1989), Sociedade dos Poetas Mortos(Dead Poets, Society, EUA, 1989),  Adorável Professor(Mr. Holland Opus, EUA, 1995), A língua das mariposas(La Lengua de las mariposas, Espanha, 1999), Coach Carter-Treino para a Vida(Coach Carter, EUA, 2005) O Triunfo(The Ron Clark Story, EUA, 1994)  dentre outros que tentam dar muito enfoque em exaltar uma imagem romantizada da  profissão do docente com aquele ar heroico ao encarar os desafios que envolve lecionar para uma turma que não colabora e tentar parecer um estimulador mesmo enfrentando percalços da direção não colaborar.

O que não é o caso desse filme, mesmo porque  ele  mesmo  indo mais pro caminho do lúdico  em nenhum momento carrega essa pretensão.  

Aqui o que a professora Catarina procurou mostrar de uma forma não muito ortodoxa, uma metodologia alternativa de dinâmica de despertar o interesse pelo saber dos alunos,  numa instituição rígida  dirigida por padres, o que fará ela entrar em conflito com o Padre Beto, diretor da instituição e de outras professoras que aderem  ao tradicionalismo.

E  observam  sua metodologia moderna como um tanto transgressora.  Ainda numa época como a que que o filme retrata, que foram os anos 1940, cujo modo de vida social era naquele conservadorismo patriarcal  num ambiente de hábitos provincianos do povo interiorano.

O filme conta em seu elenco com a presença de muitos rostos conhecidos, populares da Tv como Paolla Oliveira protagonizando  Catarina Roque, a professora maluquinha do título, representa de forma magnifica  o papel demonstrando muito carisma que consegue cativar o público. Em especial na dinâmica dela com os seus alunos.  

Elisa Pinheiro representa brilhantemente  o papel da Miriam, amiga inseparável de Catarina, fazendo aquele típico perfil  tagarela, fofoqueira como é típico da cidade pequena.

Também mencionar a participação do veterano mestre do humor Chico Anysio(1931-2012) que no filme fez um trabalho magnífico como o Monsenhor     Aristides, figura respeitada na região, uma verdadeira autoridade. Tio da protagonista, sujeito bondoso, a quem a protagonista nutre um respeito e nutre  também por ele um afeto paterno, que  na obra representa uma função muito importante de mostrar a forte influência da Igreja Católica dentro do ensino brasileiro  e também a  conexão do trabalho docente ser visto como um sacerdócio, ainda mais que na Instituição que Catarina leciona é dirigida por um sacerdote. O  que pode ser explicado que  na própria história da formação do Brasil Colonial, os nossos primeiros educadores foram padres.

Chico Anysio já se encontrava com sua saúde fragilizada na época em que participou desse filme, o que também pode ser sentido pela própria maneira em que seu personagem demonstra tossindo  constantemente  e termina falecendo. Chico Anysio faleceu pouco tempo após  o filme ser lançado nos cinemas em 23 de Março de 2012 com 81 anos de idade após enfrentar uma série de internações.  Sendo este um dos seus últimos trabalhos em audiovisual,  antes de falecer ele ainda participou do filme A Hora e a vez de Augusto Matraga(Brasil, 2011).

Outra menção do elenco vai para Caio Manhente que representa Luisinho, que compõe o núcleo infantil dos alunos de Catarina. Ele é o que mais se destaca, por assumir a função de ser o fio condutor da narrativa, já que a história tem início com ele acordando e se preparando para ir à escola, onde faz a narrativa em off, nos apresentando a professora Catarina.

Tem um momento no filme que apresenta bem sua interessante subtrama dele ser importunado pelos colegas fazendo bullying com ele, quando essa palavra ainda não existia na década de 1940 onde o filme se ambienta.

 Mas, enfim, há esse momento fora da escola, onde os meninos o xingam de capiau, que é como no dialeto mineiro se faz referência ao caipira, o habitante do campo. E o Luisinho reflete essa figura popular do típico menino do campo, que frequenta uma conceituada escola elitizada comandada por padres.

    Fora também outras participações de outros grandes astros da TV como Joaquim Lopes na pele do Padre Beto, o  jovem sacerdote recém-chegado a cidade  que assume a função de ser o novo diretor da instituição onde Catarina leciona.  Simbolizando bem a representação do tradicional  ensino religioso católico no Brasi.  

O elenco também conta com Max Fercondini, Ricardo Pereira e Rodrigo Pandolfo que representam no filme o papel dos jovens  boêmios Mário, Pedro e Rodolfo  que nutrem paixões  platônicas pela Catarina.

Outra menção do elenco vai para Claudia Ventura,  representando a Lúcia,  que compõe o núcleo da das professoras  que morrem de inveja de Catarina, que são aquelas que seguem a metodologia tradicionalista e engessada.   

Elas  brilham em cena  compondo no humor físico fazendo um monte de caras e bocas e nas movimentações corporais com ar teatralizado que chega dar aquele ar excentricamente cômico para simbolizar o perfil babaca de cada uma e remeter bem ao estilo caricato cartunesco bem característico do humor de Ziraldo.

Também mencionar a participação de Fernando Alves Pinto, o sobrinho do  Ziraldo que no filme faz o papel do misterioso Cigano que aparece vendendo alguns produtos exóticos em sua carroça.  E do próprio Ziraldo fazendo uma ponta no filme como o Sêo Floriano, o pitoresco  dono sala de cinema da cidade. E que cede uma sessão exclusiva para os alunos de Catarina.

Além das menções do brilhante elenco, destaco também o trabalho crível do design de produção que por ter como locação se eu não tiver enganado foi em São João Del Rey, que compõe um dos municípios mineiros que se destaca por preservar o seu patrimônio histórico e cultural com os antigos prédios coloniais bem preservados. Eu já tive o privilégio de conhecer o local numa viagem de férias que fiz a Minas Gerais em 2017.

E foi muito gratificante, uma verdadeira viagem no tempo. E nesse aspecto a produção soube  como explorar cada lugar para servir de cenografia para o filme. Aliado as caracterizações vintage  dos personagens com os figurinos que reproduzem o modo típico de vestir da década de 1940. Uns de  aspecto um tanto  pitoresco, que chegam  a remeter ao estilo bem caracteristicamente lúdico da estética cômica cartunesca do Ziraldo, até porque ele é um talentoso desenhista.

Tudo isso ajudou a compor o aspecto escapista bucólico que a obra transmiti de forma magnifica.  Para quem se interessar, o filme têm disponível na Netflix.