sábado, 17 de agosto de 2024

EM MEMÓRIA A SILVIO SANTOS: O REI DA TV

 

A TELEBIOGRAFIA DE SILVIO SANTOS.

 

Que Silvio Santos é uma unanimidade em proporcionar diversão para o brasileiro com seu estilo animado de apresentar que é inigualável, disso não pode se questionar. Porém, há outras facetas pouco conhecidas que a série do serviço de streaming Star+ tem mostrado e vem causando polêmicas, trata-se de O Rei da TV (Brasil, 2022).



Antes de comentar sobre a série, começo primeiramente comentando que o ex-executivo da Globo,  José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, em sua autobiografia intitulada O Livro do Boni (Casa da Palavra, 2011), descreve lá que desde que  acompanhou o surgimento da TV no Brasil nos anos 1950,  sempre a via  com essa atmosfera de circo para proporcionar uma diversão para os brasileiros sem precisar sair de casa, que nos faz esquecer um pouco da nossa dura realidade de cada dia.  

O que digamos faz até sentido essa aura de escapismo circense proporcionada pela  TV em todos os lares,  se a gente for analisar  que Chacrinha(1917-1988), por exemplo,  com seu irreverente estilo de se apresentar na TV todo trajado de forma extravagante, um tanto carnavalesco  era o que mais simbolizava esse raciocínio de Boni.

 O que também se consolidou quando na década de 1980 foram surgindo programas de auditórios infantis como os do palhaço Bozo, da  Xuxa, dentre outros  que traziam além de apresentações musicais dos populares artistas dos mais variados estilos, também proporcionou a aura de circo trazendo o espetáculo de malabaristas, trapezistas, mágicos, palhaços, enfim.





E Silvio Santos sempre soube bem  como explorar isso na TV. E a série em seus oitos episódios explora isso de forma fascinante.

A sua narrativa não segue uma linearidade  cronológica sobre a vida pública e privada de Silvio Santos.




Desde o primeiro episódio a gente vai conhecendo a história de Silvio cujo ponto de partida  nos primeiros minutos como o já famoso dono do SBT com a história se passando em 1988.

Onde somos apresentado  ao Silvio(Representado nesse momento por José Rubens Chachá) começando a apresentar o seu programa e de repente a ter um problema na garganta que o impede de falar, chamado de pólipo.




Ai tem início ao conturbado  período de sua vida em que ele precisou enfrentar uma delicada cirurgia na garganta que podia afetar as suas cordas vocais a ponto de fazê-lo perder a voz.

O que o deixa apreensivo, é nessas horas que temos um corte de cena mostrando  um flashback que retorna a 1945 mostrando o garoto Silvio Santos quando era chamado simplesmente de Senor Abravanel(Representado por Guilherme Reis nessa fase) em sua humilde vida comum  na Travessa da Lapa de onde nasceu em 12 de Dezembro de  1930, no Rio de Janeiro, numa família simples, onde ele sendo filho primogênito de pai grego e mãe turca  constituída também de  cinco irmãos.




Onde lá nesse ambiente muito humilde,  mostra ele observando um ambulante usando um truque para vender canetas, e ao observa-lo  começa a mostrar suas habilidades para começar a mostrar traquejo e expertises para o negócio e para a comunicação.

E ao quase ser flagrado por um policial, e vendo o talento artístico dele  o sugere ingressar no rádio.





Depois vai voltando ao tempo presente do final dos anos 1980 ao longo dos episódios seguintes da série.

Nesse interim vamos conhecendo outras figuras importantes na vida de Silvio Santos, principalmente quando ele começa no entretenimento, primeiro quando ingressa no rádio, vai para a TV, onde conheceu Manuel de Nóbrega(Cacá Carvalho), seu parceiro de quem foi apresentado ao Baú da Felicidade.




 Sua passagem pela TV Paulista, depois pela Rede Globo e já como dono do SBT em cada momento muito pitoresco.

 E na situação em que ele vai encarar uma delicada cirurgia que para suprir ausência, ele decide colocar o jovem Gugu Liberato(Paulo Nigro).  E detalhes poucos explorados sobre sua vida intima em família são explorados na série.




Essa série de drama biográfico da Star+ foi produzida pela produtora Gullane Entretenimento, conta com o envolvimento de oito produtores-executivos assinando a produção e teve o texto escrito por sete roteiristas e contou com a direção de três diretores.

Que procuraram contar a trajetória do maior comunicador  ainda que se utilizando de licenças poéticas para fins dramatúrgicos.




Até porque a própria história de Silvio Santos é cheia de muitos mistérios  em torno dele. Visto que ele nunca foi de dar entrevistas, nunca participava de tantos eventos de festas  e sempre procurava preservar a visão alegre em torno dele e a vida intima de sua família.

Em nenhum momento sentimos uma sensação chapa branca na obra, isso porque  como a produção não foi autorizada por Silvio Santos, com certeza, tanto ele quanto a família não permitiriam apresentar mostrar situações  onde Silvio Santos se mostrou um cara errático,  babaca, tendo reações explosivas,  principalmente com relação a sua primeira mulher Cidinha(Roberta Gualda) mãe de Cintia e Silvia.


Com quem ele consumido pelo trabalho, vivia ausente, e foi bastante escroto de para criar uma imagem galanteadora na TV com o público feminino, escondia que já era casado, o que deixava Cidinha deprimida.

E nos momentos onde espertamente ele procurava se utilizar da sua expertise com o dinheiro para sair pela tangente em situações nada agradáveis pelas quais ele já vivenciou tanto como apresentador e como empresário. 

Como o momento que mostra ele bajulando um militar numa clara referência ao General João Batista Figueredo(1918-1999), para conseguir a concessão de sua emissora.

O que difere bastante com relação ao que eu  tinha visto  no livro  A Fantástica História de Silvio Santos(EB, 2000) biografia de autoria do jornalista Arlindo Silva(1923-2011), onde este por já ter trabalhado por vinte anos como assessor de imprensa do apresentador, apresenta naquela obra um  ar tendencioso em exaltar demais, com ares de santificação,  as virtudes de Silvio Santos como patrão, a ponto de passar pano.

 Isso não ocorre em relação a esta série biográfica, que aqui expõe e não passar pano em mostrar  como o  endeusado  Silvio Santos da TV,  fora do ar  está longe de figurar como um santinho.

Isso  gerou grande polêmica entre a família Abravanel, que se mostrou descontente com o resultado do que a série apresentou por justamente não ter autorização deles.

Se tivesse provavelmente teria que ser chapa branca, passando pano em não mostrar situações delicadas onde o Dono do Baú agiu de má fé se mostrando babaca.  

É bom lembrar  que a obra, apesar do caráter   biográfico sobre o mais importante apresentador da TV brasileira, trata-se de uma ficção e que foram incorporados muitos elementos de licenças poéticas para fins mais dramatúrgicos.

Dentre os pontos que posso destacar do roteiro é a forma como ela surpreende para quem é  da geração como eu que nasceu por volta anos 1980 e cresceram se habituando  a ver Silvio Santos comandando a programação de domingo da emissora na  qual ele é o dono, o SBT(Sistema Brasileiro de Televisão), cuja característica sempre foi proporcionar um estilo de programação  ao gosto popular,  com toques de breguices, seja  com programas que promoviam gincanas com a plateia como o Topa Tudo Por Dinheiro e premiar com alguma graninha com direito a um aviãozinho de dinheiro, onde inclusive é apresentado na série a pessoal real que criava aqueles aviõezinhos de dinheiro, um concurso musical como o Show de Calouros, programas para promover encontros amorosos, como o Em Nome do Amor, ou mesmo games shows como o Tentação   que trazia como participantes os clientes do Baú da Felicidade ou sorteios do título de capitalização TeleSena.

Ou mesmo, promovendo o assistencialismo com a Porta da Esperança que sempre se encerrava com um ator representando Jesus Cristo com uma voz grave de um locutor representando Deus com a mensagem: “Paz, amor, fé, esperança, luz e união não são apenas palavras. Você tem certeza que já fez tudo que podia pelo seu semelhante? Pense bem, pois um dia vamos nos encontrar. E eu gostaria muito de poder chamá-lo de MEU FILHO!”, eu confesso que  quando menino  me assustava quando via aquilo passando na TV num cenário escuro e com a luz em volta do rosto do Jesus Cristo, trazendo aquele tom  um tanto kitsch.

Não só isso me assustava, como também a música da chamada nos intervalos do SBT do Emergência 911 (Rescue 911, EUA, 1989-1996), uma série documental apresentado por William Shatner, astro da série Star Trek, apresentando os trabalhos pelo serviço telefônico  prestado para salvar vidas para a população americana, que o SBT adquiriu para exibir no Brasil.

 Ou mesmo quando o Gugu em seu Domingo Legal, entrava no sério assunto jornalístico envolvendo cobertura de tragédia, a música de fundo com aquele clima pesado de suspense me assustava que foi composta pelo músico grego Vangelis(1943-2022), o mesmo responsável por compor músicas para cinema.

O que me remete à quando eu era pequeno e  costumava visitar a casa dos  meus falecidos  avôs paternos aos domingos, lá mostrava eles sintonizando no SBT vendo algum programa qualquer de Silvio Santos.

Pode-se se surpreender com a série  apresentar a passagem de Silvio Santos pela Globo,  o animador cujo  perfil sempre visto como popular numa emissora elitista por ter uma programação refinada e que prezava pelo Padrão Globo de  Qualidade  ou mesmo se surpreender que Silvio Santos já  comandou  a Record TV.

Para quem como eu cresceu conhecendo a Record de propriedade do bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus, nem sequer imagina que ela nem sempre foi de propriedade dos pastores da Universal.

Para se ter uma ideia, quando a Record foi inaugurada em 1953 pelo empresário Paulo Machado de Carvalho(1901-1992) a Universal ainda não existia e o seu fundador Edir Macedo, era apenas um garotinho com oito anos.

Pois bem, na série é apresentada esses dois momentos dele negociando com o Paulo Machado de Carvalho(Carlos Meceni) uma parte da venda da  Record e de quando Stanislaw(Leandro Ramos/Emilio de Mello)  seu contador lhe passar a perna vendendo para os bispos de uma igreja, cujo nome não é mencionado, talvez para evitar processo.

Do mesmo modo, que há em alguns momentos nos deparamos com situações nostálgicas, como numa cena mostrando o Dono do Baú vendo as filhas pequenas  na TV sintonizado na Xuxa da concorrente Globo, em vez do programa da sua emissora  comandado pelo palhaço Bozo, cujo nome não pôde ser mencionado por questões jurídicas envolvendo a propriedade intelectual do personagem, curiosamente quem produziu essa série foi a Gullane Entretenimento,  a mesma que fez o filme  Bingo-O Rei das Manhãs(Brasil, 2017) livremente inspirado na história de um dos homens que incorporou o palhaço Bozo na TV, Arlindo Barreto.

Há também algumas passagens que prestam uma singela homenagem  de alguns tipos marcantes da história da  emissora  do Dono do Baú em seus tempos áureos, aumentando também o ar nostálgico  como a presença da  Vovó Mafalda célebre palhaço  surgido no Programa do Bozo e que ganhou programas solo como a Sessão Desenho, tipo representado pelo saudoso Valentino Guzzo(1936-1998) que aparece num momento de divagação do Silvio Santos ao refletir sobre a idoneidade do Baú da Felicidade e aparece a Vovó Mafalda nesse momento  específico com um toque  escapista conversando sobre fraude com uma menina.

Ou mesmo a homenagem a Velha Surda, personagem da Praça é Nossa, comandada pelo filho de  seu parceiro Manuel de Nóbrega, Carlos Alberto de Nóbrega, esse famoso personagem do também saudoso Roni Rios(1936-2001) aparece nesse momento escapista de divagação sobre sua ruina.

Também ao longo da série vão aparecendo representações dos tipos mais célebres já saudosos que fizeram parte da emissora do Dono do Baú, como o Ronald Golias(1929-2005) que aparece num vídeo de depoimento dedicado  a Silvio Santos vestido como seu célebre personagem na Praça é Nossa, o Pacifico, ainda que no final dos 1980, ele ainda não era contratado do SBT, estava na Rede Bandeirantes(Band), fazendo o programa Bronco(1987-1990).

Mas enfim são licenças poéticas de uma obra ficcional fazer o quê?

Do mesmo modo que aparece o Pedro de Lara(1925-2007), o rabugento jurado do Show de Calouros, que na série foi representado por Ary França, mesmo não verbalizando em nenhum momento que aparece, ainda assim ficou muito bem caracterizado como o Pedro de Lara fazendo até umas ótimas movimentações físicas com trejeitos bem teatrais  que eram característicos do perfil serelepe dele.

Também aparece mais para o final a presença de Hebe Camargo(1929-2012), apresentadora pioneira da TV, e que naquele momento estava consolidada  no SBT. Uma rápida aparição da Elke Maravilha(1945-2016), célebre jurada do Chacrinha que se tornou jurada do Show de Calouros de Silvio Santos e uma rápida aparição da silhueta de  um locutor no primeiro episódio que eu acredito  deve fazer referência ao locutor  Luiz Lombardi Netto(1940-2009), o famoso Lombardi, uma espécie de parceiro “invisível” de Silvio Santos, já que os telespectadores só ouviam sua voz quando ele era chamado por Silvio Santos para fazer algum anúncio de patrocinador, de prêmios aos participantes ou qualquer coisa do tipo, mas nunca mostrava a cara.

 

Dentre os nomes do elenco a mencionar dessa série que mais me surpreenderam  que contou com bons atores, começo mencionando o nome dos três  que se revezam no papel  do Silvio em diferentes fases de sua vida  que são: Guilherme Reis representa bem o papel do Silvio Santos adolescente quando era chamado de Senor pela família e já mostrando seu perfil sonhador, Mariano Mattos que representa bem o papel do Silvio como jovem galã comandando e animando um circo com a  Caravana do Peru que Fala, apelido que veio do rádio por ele não parar de falar e ficava vermelho de vergonha e de quando estava casado com a Cidinha Abravanel(Roberta Gualda) e quando começou a ingressar na TV comandando um programa na TV Paulista e de sua passagem pela Globo e José Rubens Chachá que representou bem o Silvio Santos na idade madura por volta dos 58 anos, já como dono do SBT e casado com Iris Abravanel(Leona Cavalli), com quem aumentou a família com quatro filhas: Rebeca, Renata, Patrícia e Daniela.

Todos esses representaram bem o papel do Dono do Baú sem parecer  que estão fazendo imitação dele beirando ao caricato  como costumamos ver  nas representações dos comediantes em algumas esquetes de programas de humor, onde ele  é sempre imitado por causa do seu estilo próprio de dar uma risada, a forma como se comunica com a plateia ou mesmo seus cacoetes característico de comunicação.  

Aqui não, todos os três representaram bem  as diferentes camadas do mesmo Silvio Santos em diferentes momentos de sua vida.

Além desses, outros nomes a serem mencionados são os de Paulo Nigro como o Gugu Liberato(1959-2019) quando figurava como a jovem promessa de Sílvio Santos para sucedê-lo no SBT, o ator representa  bem a figura do apresentador com a caracterização do  corte característico de cabelo  liso e alourado e   vestido de terno azul que o fazia transparecer uma caricatura  de  eterno molecote  em forma de boneco com uma ótima subtrama dele mostrando aceitar  a proposta de ser contratado pela  Globo.

Mas o Silvio o convence a permanecer no SBT, onde mostra até o momento pitoresco dele junto com Gugu que realmente aconteceu pisando na Globo para falar pessoalmente com Roberto Marinho(Pascoal da Conceição).

 Roberta Gualda como a Cidinha, primeira mulher de Silvio Santos, brilha mostrando a situação dramática dela ser ignorada por Silvio e viver a sombra dele. Leona Cavalli como a Iris Abravanel a segunda esposa de Silvio Santos, brilha também no papel mostrando todo um ar de empoderamento na situação adversa que o SBT enfrentava na ausência do marido.  Cacá Carvalho, o eterno Jamanta da novela Torre de Babel(Brasil, 1998-1999) representando na série o papel do Manuel de Nóbrega(1913-1976) se mostra excelente  ao mostrar como o Silvio conheceu o famoso radialista e nutria uma forte relação de amizade, e por quem foi introduzido ao Baú da Felicidade de quem ele assumiu de uma forma retratada um tanto banal, mas que enfim. Tratava-se de licenças poéticas. Até porque o caráter dessa obra é meramente ficcional. A gente não está assistindo a um  documentário.

Outras atuações brilhantes  são de Leandro Ramos e Emilio de Mello, que fazem ótimas representações do Stanislaw, um tipo que não existia de fato, mas que foi condensado em diferentes figuras de contadores  com quem Silvio conheceu ao longo de sua trajetória.  

Outros nomes do elenco que também se revezam no mesmo papel assim como o protagonista são  Leandro Ramos representou bem o papel ao acompanhar Silvio em sua fase na Globo e Emilio de Mello o representou brilhantemente na fase de Silvio como dono do SBT ao mostrar o seu lado canalha ao apunhala-lo nas costas vendendo sua parte da Record para os bispos.

Também mencionar a presença  das atrizes Larissa Nunes e Cássia Damasceno que se revezam como a Cleusa, a produtora que é  o seu braço direito. Uma personagem que de fato não existiu, mas foi criada condensada na figura de diferentes produtores que já trabalharam para Silvio Santos. Aqui mostra ela acompanhando Silvio desde que ele começou na TV.

Larissa Nunes representando a Cleusa jovem quando Silvio a conheceu ainda na TV Paulista, com quem ele ao olhar para ela à primeira vista nutriu uma desconfiança simbolizando de uma forma sutil sua visão machista e racista.

 Um dos momentos onde posso destacar que ela brilha no papel é na cena dela apreciando uma festa na mansão do Silvio, fazendo companhia numa mesa a um bando de senhoras tagarelando um falatório sobre filhos, marido, vida doméstica e ela mostrando seu empoderamento diz que prefere se dedicar ao trabalho e noutro momento é  dando assistência a Cidinha doente, enquanto que Silvio vivia  atarefado. E já Cássia Damasceno defendeu bem a Cleusa na fase de Silvio como dono do SBT onde ela mostra uma importante  função de confiança, principalmente no momento delicado da ausência de Silvio enfrentando a cirurgia do pólipo na garganta  e ela precisa cuidar de chefiar a grade de  programação e enfrentar  entre os  problemas com os funcionários preocupados com os atrasos salariais. Tem uma cena que mostra bem esse momento.  

Também mencionar a participação  dos atores João Campos e Celso Frateschi que se revezam na pele do Rossi, o todo poderoso da Globo, uma clara referência ao Boni.  

João Campos defende bem o papel do Rossi jovem, mostrando um lado meio vilanesco  com quem Silvio vive se conflitando em sua passagem na Globo. E Celson Frateschi defende brilhantemente o papel do Rossi, na subtrama do Gugu negociando sua ida   a Globo.

Outra menção curiosa do elenco é de Pascoal da Conceição, que para quem tem mais ou menos a minha idade e assistia ao infantil  Castelo Rá-Tim-Bum(Brasil, 1994-1997) na TV Cultura nos anos 1990, deve se lembrar dele fazendo o excêntrico vilão Dr. Abobrinha, na série ele faz um brilhante desempenho do Roberto Marinho(1904-2003), magnata da comunicação e dono da Rede Globo.

Também faço menção a participação de Nizo  Neto, que para quem assistiu a Escolinha do Professor Raimundo(Brasil,1990-1995), criação do seu pai Chico Anysio(1931-2012), deve se lembrar dele como o Seu Ptolomeu e também pelo seu  trabalho na dublagem dando voz a grandes atores de Hollywood como Mathew Broderick no filme Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller´s Day Off, EUA, 1986) ou a personagens de desenhos  animados como o Presto de Caverna do Dragão. Na série, ele faz uma participação como o Teixeira, produtor da TV Paulista.

Para finalizar o elenco, menciono a participação de Claudio Marcio, representando Gonçalo Roque, o popular Roque parceiro de palco de Silvio Santos. Vê-lo em cena como o Roque está impagável, não tem como dar risada deles  principalmente pela maneira como ele aparece falando com uma voz fina, com uma cara jovial e com sua baixa estatura ficando a ponto de parecer  um moleque pré-adolescente em cena.

Posso descrever que O Rei da TV é uma ótima produção para conhecermos um pouco mais sobre a história da nossa TV brasileira, mostrando bem como ali nada é tão glamouroso como a gente imagina.

E apresentar uma outra faceta do mítico Silvio Santos que ele nunca costuma mostrar em público, como quando ele fica com raiva, ou mesmo quando ele chora. Na Tv, nós sempre vamos ver uma imagem sorridente dele com seu “Oi”, ou “Quem quer dinheiro”?, coisas desse tipo.

Até o  momento em que escrevo esse texto a produção da série*  já começou a gravar a segunda temporada que promete mostrar uma sensação um  tanto nostálgica para mim ao introduzir o arco de  Fausto Silva e retratar o período louco na história da TV brasileira nos anos 1990 que envolveu a guerra de audiência de domingo entre o Domingão do Faustão na Rede Globo e o Domingo Legal no SBT, onde valia de tudo pela audiência até apelar para sensacionalismo com as desgraças alheias trazendo um rapaz PCD(Pessoa com Deficiência) para ridiculariza-lo pela audiência como foi o Caso Latininho ou mesmo  apelar para o erotismo como o Gugu fazia com a sua  Prova da Banheira.

Período marcado pelo reinado da baixaria na TV.

 

 Dezembro de 2022.

Descanse em paz,

Silvio Santos,

(1930-2024).


       *Em Março de 2023, estreou a segunda temporada que se foca nessa fase da baixaria da TV durante os anos 1990 que o autor menciona.