segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

MARIGHELLA: O MÁRTIRE DA DITADURA

 

Ainda aproveitando o clima do filme Ainda Estou Aqui (Brasil, 2024) que está repercutindo lá fora abordando sobre a  temática sensível da Ditadura Militar no Brasil.




Recomendo assistirem a outra obra  interessante que também aborda  essa temática indigesta que no caso me refiro  ao filme Marighella(Brasil,2021) que aborda a brutalidade com que a Ditadura Militar oprimiu o povo brasileiro contando a trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella(1911-1969). Um dos mártires da Ditadura. Principalmente  porque ele esteve envolvido na luta armada, o que o tornava bastante perigoso para o Regime.

A trama acompanha a jornada de Marighella(Seu Jorge) num recorte mostrando a sua conturbada vida rotineira na ilegalidade, onde vive longe do convívio de sua esposa Clara(Adriana Esteves)  e do seu filho Carlinhos nos dias que antecedem ao seu assassinato ocorrido no dia 4 de Novembro de 1969 onde estava sendo perseguido e caçado pelos militares, e organizando os assaltos naquele tenso clima de insegurança.  




Nessa obra dirigida por Wagner Moura, com roteiro adaptado da biografia Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo de Mário Magalhães que é assinado pelo próprio diretor em conjunto com Felipe Braga.

Eles optaram por explorar em suas 2 horas e 35 minutos de duração, o recorte da vida do Marighella como um guerrilheiro combatente dos militares até os seus últimos momentos de vida vivendo uma vida bandida sendo procurado pelos militares.




Mas a vida de Marighella, não se restringia só a isso, pois ele também fez carreira literária na poesia. Para saber mais sobre a sua  trajetória, na Netflix tem disponível o documentário Marighella(Brasil, 2012), que conta com a direção de  Isa Grinspum Ferraz, uma sobrinha de Carlos Marighella, na verdade, ela é sobrinha de sua esposa Clara onde, portanto, Marighella era seu tio por afinidade.

 Conta com a participação de Lázaro Ramos como narrador, onde apresenta sua vida comum na capital baiana de onde nasceu filho de um imigrante  italiano com uma baiana preta descendente dos escravos sudaneses.




A produção estava prevista para ser lançada em 2019, mas devido ao imbróglio com a ANCINE, envolvendo uma prática de censura do governo de Jair Bolsonaro e agravado pela crise viral com a pandemia de Covid-19, a produção só conseguiu estrear em 2021.

Foram  tomadas  algumas licenças poéticas ao reconstituir o que de fato foi verídico e o que foi inventado na maneira como eles o retrataram.

A matéria do  site da revista Veja, de 5 Novembro de 2021, quando o filme foi lançado,  listou cinco pontos verídicos apresentado no filme, mas que foram ficcionalizados para caráter dramatúrgico que vou reproduzir abaixo:

1)Baleado no cinema e preso na frente do filho.

O atentado contra Marighella dentro de um cinema aconteceu de forma similar ao retratado no filme, mas com algumas liberdades poéticas no contexto. No livro Por Que Resisti à Prisão, ele conta que havia marcado um encontro com a zeladora de seu prédio para pegar algumas roupas, já que havia fugido do local dias antes, durante uma invasão da polícia. Vendo que ela estava sendo seguida, entrou no cinema para confundir os policiais, “visando receber no interior do salão, ás escuras, o embrulho que ela trazia”. Lá dentro, recebeu o pacote, mas o local foi invadido pelas forças de segurança, que o balearam no peito depois de gritos de “abaixo à ditadura”. Segundo as publicações da época, ele de fato lutou, desarmado, por minutos a fio com os policiais. Rendido, foi levado para a rua, onde um jornalista do Correio da Manhã registrou a prisão, como mostra o filme. Não há indícios, porém, que o filho Carlinhos estivesse assistindo a tudo do carro, nem eram da criança as roupas que levava a zeladora, que no filme é mandada fugir do local sem entrar no cinema. Outra diferença é que, no relato de Marighella, os policiais interromperam a sessão e acenderam as luzes assim que entraram no cinema, enquanto o filme mostra os agentes com lanternas abordando o homem com o filme rodando de fundo. 

2) Fitas gravadas e promessa ao único filho.

Logo no começo do filme, Marighella, em maio de 1964, nada com o filho Carlinhos, que aparenta ter entre 10 e 12 anos. Com o recente golpe militar, ele diz ao menino que ele precisará ir pra Bahia morar com a mãe por questão de segurança, mas promete que voltará a vê-lo antes que complete 15 anos. Carlinhos realmente costumava nadar com o pai, e voltou a morar com a mãe em Salvador, mas a promessa nunca aconteceu-na verdade, em 1964, ele já era um rapaz de 16 anos, e não uma criança pequena, como mostra o longa. O filme ainda usou outra liberdade poética com o menino: as fitas que Marighella grava para o filho, na esperança de que elas cheguem até o garoto um dia, nunca existiram. O recurso serviu para apresentar ao espectador a vida e os valores do biografado. 

 

3) Tom de pele

Uma das primeiras polêmicas que despontaram com o filme diz respeito ao tom de pele do guerrilheiro, mais claro do que o de Seu Jorge, negro retinto. Nas redes sociais, os críticos do longa acusaram a a produção de retratar um branco como sendo preto, mas a realidade é mais complexa do que isso. Neto de escravos sudaneses, Marighella é fruto do relacionamento da baiana Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos, com o imigrante italiano Augusto Marighella, um homem branco. A miscigenação deu a ele um tom de pele mais claro — próximo ao de Mano Brown, primeira escolha de Wagner Moura para o papel-próximo ao de Mano Brown, primeira escolha de Wagner Moura para o papel — e ele costumava se descrever como um “mulato baiano”, termo hoje considerado pejorativo. Nas redes sociais, o biógrafo Mario Magalhães respondeu à polêmica dizendo que os inimigos de Marighella  sabiam que ele não era branco. “Em 1947, o deputado Marighella criticou um colega que levara um carro (a “Baronesa”) da Câmara para a Bahia. Altamirando Requião reagiu: ‘Não permito que elementos de cor, como V. Ex.se intrometam no meu discurso”, escreveu Magalhães no Twitter, citando um episódio de racismo enfrentado por Mariguella.

 

3) Expulsão do Partido Comunista (PCB)

 Em determinada cena da produção, Marighella aparece falando com Jorge Salles, um jornalista membro do PCB que o alerta sobre a posição contrária do partido à luta armada e que ele acabaria expulso.  A passagem é verídica: em uma edição de janeiro de 1968 do jornal Voz Operária, o PCB discorre sobre as resoluções de seu 6º congresso, feito em dezembro do ano anterior, e ratifica a expulsão de Carlos Marighella  e de uma série de outros membros que “participaram de atividades fraccionistas”. Maior organização de esquerda da época, o PCB defendia uma “transição pacífica” para o socialismo e a resistência à ditadura por meios constitucionais, como o voto no MDB e a participação de seus membros em sindicatos. Parte dos militantes, porém, descontentes com a “covardia” e “apatia” — como descreve Marighella no filme —perante o golpe de 64 e a repressão militar, deixaram o partido e se juntaram a núcleos de guerrilha como a Ação Libertadora Nacional, fundada por Marighella depois de sua expulsão.  

 

 

 

 

 

4) Invasão das rádios e manifesto divulgado.

De fato, em 1969, a ALN usou as torres de rádio para burlar a censura e invadir o sinal da Rádio Nacional, como mostra o longa, mas não foi Marighella quem leu o texto. Embora o manifesto “Ao Povo Brasileiro” tenha sido escrito por ele em junho, meses antes do ocorrido, foi o estudante Gilberto Luciano Belloque quem emprestou a voz para a gravação transmitida via rádio em agosto. Ao contrário do que mostra o filme, a transmissão foi feita pela manhã, e não no período da noite. O jornalista Hermínio Sacchetta publicou o texto na íntegra na edição da manhã do Diário da Noite e, como mostra o longa, acabou  preso pelos militares. 

 

 

5) Morte: versão oficial vs versão do filme. 

Quando Marighella foi morto, em 4 de novembro de 1969, ele era considerado pelos militares como “o inimigo número 1 do Brasil”. Naquele dia, como mostra o filme, dois padres que ajudavam a ALN marcaram — torturados e sob a mira do revólver — um encontro com Marighella que resultaria em sua morte. Segundo a narrativa oficial, descrita pela Operação bandeirantes (Oban), o guerrilheiro chegou ao local e recebeu voz de prisão, mas correu para o carro e “fez menção de sacar, de dentro de uma pasta, duas armas que estavam nela”. Ele, então, foi alvejado por metralhadoras e “caiu dentro do carro”, na  posição e local onde foi fotografado horas depois. Uma perícia feita posteriormente pela Comissão Nacional da Verdade, porém, indica que Marighella foi alvejado já dentro do veículo, sem troca de tiro — versão reproduzida pelo longa — e morreu com um tiro à queima roupa. “O tiro que atingiu Marighella na região torácica, provavelmente o último, foi efetuado a curtíssima distância (menos de oito centímetros), através do vão formado pela abertura da porta direita do veículo, numa ação típica de execução”, conclui o documento. No longa, a distância é um pouco maior, e Marighella é acertado por mais de cinco tiros, número constatado pela perícia.

Posso concluir que cinebiografia sobre Carlos Marighella o retratando como o perseguido politico na Ditadura Militar, é uma interessante obra que serve bem para retratar como as consequências da brutalidade da Ditadura são sentidas até hoje.

Um tema indigesto, mas muito relevante para entender como o nosso Estado Brasileiro é bastante omisso quanto as práticas violentas feitas pelos militares. E que por muito tempo negaram essa prática criminosa, isso é algo que incomoda demais a extrema-direita fascista brasileira que idolatra torturadores como o próprio Jair Bolsonaro que mostrou sua idolatria ao Coronel  Carlos Brilhante Ustra(1932-2015), o responsável por cometer torturas na Ditadura.





No seu elenco, o filme conta com Seu Jorge como protagonista que faz uma brilhante representação do Marighella encarando as dificuldade de viver na clandestinidade,  Adriana Esteves representa bem a companheira de Marighella Clara vivendo uma vida incertezas com o marido na clandestinidade e sem o seu convívio.

Também conta com  as participações de Bruno Gagliasso, que no filme representa brilhantemente  o papel do Agente Lúcio, o caçador de Marighella,  personagem ficcionalizado na história que equivale ao torturador real Sérgio Paranhos Fleury(1933-1979), um sujeito agressivos que não mede esforços para usar da violência bruta.  




Vale menção também  as participações de Herson Capri como o jornalista Jorge Salles que no filme ele condensa diferentes figuras de figuras de jornalistas com quem Marighella foi muito próximo e foram seus aliados. Humberto Carrão como Humberto, um companheiro de luta armada de Marighella, que condensa no filme os seus diferentes companheiros da vida real.  Bella Camero como Bella faz uma representação condensada dos diferentes membros da Ação Libertadora Nacional.

Há também de mencionar as participações de Luiz Carlos Vasconcellos que no filme representa Almir, outro aliado de Marighella equivalendo a figura real de Joaquim Cãmara Ferreira(1913-1970), Jorge Paz como Jorge que equivale a Virgílio Gomes da Silva(1933-1969),  estes que estiveram envolvidos no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick(1908-1983). Henrique Vieira como Frei Henrique equivalente ao frade dominicano Fernando de Brito(1936-2019) que era um dos aliados contra os militares.

Assim como mencionar a participação do americano naturalizado brasileiro Charles Paraventi que no filme representa o papel do Bob que simboliza a participação passiva dos americanos no Golpe Militar.

Enfim, posso concluir que a cinebiografia Marighella, é um filme muito relevante para esse momento turbulento que vive o Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário