Ainda
aproveitando o clima do filme Ainda Estou Aqui (Brasil, 2024) que está
repercutindo lá fora abordando sobre a temática sensível da Ditadura Militar no
Brasil.
Recomendo
assistirem a outra obra interessante que
também aborda essa temática indigesta
que no caso me refiro ao filme Marighella(Brasil,2021)
que aborda a brutalidade com que a Ditadura Militar oprimiu o povo brasileiro
contando a trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella(1911-1969). Um dos
mártires da Ditadura. Principalmente porque ele esteve envolvido na luta armada, o
que o tornava bastante perigoso para o Regime.
A
trama acompanha a jornada de Marighella(Seu Jorge) num recorte mostrando a sua
conturbada vida rotineira na ilegalidade, onde vive longe do convívio de sua
esposa Clara(Adriana Esteves) e do seu
filho Carlinhos nos dias que antecedem ao seu assassinato ocorrido no dia 4 de
Novembro de 1969 onde estava sendo perseguido e caçado pelos militares, e
organizando os assaltos naquele tenso clima de insegurança.
Nessa
obra dirigida por Wagner Moura, com roteiro adaptado da biografia Marighella:
O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo de Mário Magalhães que é assinado pelo
próprio diretor em conjunto com Felipe Braga.
Eles
optaram por explorar em suas 2 horas e 35 minutos de duração, o recorte da vida
do Marighella como um guerrilheiro combatente dos militares até os seus últimos
momentos de vida vivendo uma vida bandida sendo procurado pelos militares.
Mas
a vida de Marighella, não se restringia só a isso, pois ele também fez carreira
literária na poesia. Para saber mais sobre a sua trajetória, na Netflix tem disponível o
documentário Marighella(Brasil, 2012), que conta com a direção de Isa Grinspum
Ferraz, uma sobrinha de Carlos Marighella, na verdade, ela é sobrinha de
sua esposa Clara onde, portanto, Marighella era seu tio por afinidade.
Conta com a participação de Lázaro Ramos como
narrador, onde apresenta sua vida comum na capital baiana de onde nasceu filho
de um imigrante italiano com uma baiana
preta descendente dos escravos sudaneses.
A
produção estava prevista para ser lançada em 2019, mas devido ao imbróglio com
a ANCINE, envolvendo uma prática de censura do governo de Jair Bolsonaro e
agravado pela crise viral com a pandemia de Covid-19, a produção só conseguiu
estrear em 2021.
Foram
tomadas algumas licenças poéticas ao reconstituir o
que de fato foi verídico e o que foi inventado na maneira como eles o
retrataram.
A
matéria do site da revista Veja, de
5 Novembro de 2021, quando o filme foi lançado, listou cinco pontos verídicos apresentado no
filme, mas que foram ficcionalizados para caráter dramatúrgico que vou
reproduzir abaixo:
1)Baleado
no cinema e preso na frente do filho.
O
atentado contra Marighella dentro de um cinema aconteceu de forma similar ao
retratado no filme, mas com algumas liberdades poéticas no contexto. No livro
Por Que Resisti à Prisão, ele conta que havia marcado um encontro com a
zeladora de seu prédio para pegar algumas roupas, já que havia fugido do local
dias antes, durante uma invasão da polícia. Vendo que ela estava sendo seguida,
entrou no cinema para confundir os policiais, “visando receber no interior do
salão, ás escuras, o embrulho que ela trazia”. Lá dentro, recebeu o pacote, mas
o local foi invadido pelas forças de segurança, que o balearam no peito depois
de gritos de “abaixo à ditadura”. Segundo as publicações da época, ele de fato
lutou, desarmado, por minutos a fio com os policiais. Rendido, foi levado para
a rua, onde um jornalista do Correio da Manhã registrou a prisão, como mostra o
filme. Não há indícios, porém, que o filho Carlinhos estivesse assistindo a
tudo do carro, nem eram da criança as roupas que levava a zeladora, que no
filme é mandada fugir do local sem entrar no cinema. Outra diferença é que, no
relato de Marighella, os policiais interromperam a sessão e acenderam as luzes
assim que entraram no cinema, enquanto o filme mostra os agentes com lanternas
abordando o homem com o filme rodando de fundo.
2)
Fitas
gravadas e promessa ao único filho.
Logo
no começo do filme, Marighella, em maio de 1964, nada com o filho Carlinhos,
que aparenta ter entre 10 e 12 anos. Com o recente golpe militar, ele diz ao
menino que ele precisará ir pra Bahia morar com a mãe por questão de segurança,
mas promete que voltará a vê-lo antes que complete 15 anos. Carlinhos realmente
costumava nadar com o pai, e voltou a morar com a mãe em Salvador, mas a
promessa nunca aconteceu-na verdade, em 1964, ele já era um rapaz de 16 anos, e
não uma criança pequena, como mostra o longa. O filme ainda usou outra
liberdade poética com o menino: as fitas que Marighella grava para o filho, na
esperança de que elas cheguem até o garoto um dia, nunca existiram. O recurso
serviu para apresentar ao espectador a vida e os valores do biografado.
3)
Tom
de pele
Uma
das primeiras polêmicas que despontaram com o filme diz respeito ao tom de pele
do guerrilheiro, mais claro do que o de Seu Jorge, negro retinto. Nas redes
sociais, os críticos do longa acusaram a a produção de retratar um branco como
sendo preto, mas a realidade é mais complexa do que isso. Neto de escravos
sudaneses, Marighella é fruto do relacionamento da baiana Maria Rita do
Nascimento, negra e filha de escravos, com o imigrante italiano Augusto
Marighella, um homem branco. A miscigenação deu a ele um tom de pele mais claro
— próximo ao de Mano Brown, primeira escolha de Wagner Moura para o papel-próximo
ao de Mano Brown, primeira escolha de Wagner Moura para o papel — e ele
costumava se descrever como um “mulato baiano”, termo hoje considerado
pejorativo. Nas redes sociais, o biógrafo Mario Magalhães respondeu à polêmica
dizendo que os inimigos de Marighella sabiam que ele não era branco. “Em
1947, o deputado Marighella criticou um colega que levara um carro (a
“Baronesa”) da Câmara para a Bahia. Altamirando Requião reagiu: ‘Não permito
que elementos de cor, como V. Ex.se intrometam no meu discurso”, escreveu
Magalhães no Twitter, citando um episódio de racismo enfrentado por Mariguella.
3)
Expulsão
do Partido Comunista (PCB)
Em determinada cena da produção, Marighella
aparece falando com Jorge Salles, um jornalista membro do PCB que o alerta
sobre a posição contrária do partido à luta armada e que ele acabaria expulso. A passagem é verídica: em uma edição de
janeiro de 1968 do jornal Voz Operária, o PCB discorre sobre as resoluções de
seu 6º congresso, feito em dezembro do ano anterior, e ratifica a expulsão de
Carlos Marighella e de uma série de
outros membros que “participaram de atividades fraccionistas”. Maior organização
de esquerda da época, o PCB defendia uma “transição pacífica” para o socialismo
e a resistência à ditadura por meios constitucionais, como o voto no MDB e a
participação de seus membros em sindicatos. Parte dos militantes, porém,
descontentes com a “covardia” e “apatia” — como descreve Marighella no filme
—perante o golpe de 64 e a repressão militar, deixaram o partido e se juntaram
a núcleos de guerrilha como a Ação Libertadora Nacional, fundada por Marighella
depois de sua expulsão.
4)
Invasão
das rádios e manifesto divulgado.
De
fato, em 1969, a ALN usou as torres de rádio para burlar a censura e invadir o
sinal da Rádio Nacional, como mostra o longa, mas não foi Marighella quem leu o
texto. Embora o manifesto “Ao Povo Brasileiro” tenha sido escrito por ele em
junho, meses antes do ocorrido, foi o estudante Gilberto Luciano Belloque quem
emprestou a voz para a gravação transmitida via rádio em agosto. Ao contrário
do que mostra o filme, a transmissão foi feita pela manhã, e não no período da
noite. O jornalista Hermínio Sacchetta publicou o texto na íntegra na edição da
manhã do Diário da Noite e, como mostra o longa, acabou preso pelos militares.
5)
Morte:
versão oficial vs versão do filme.
Quando
Marighella foi morto, em 4 de novembro de 1969, ele era considerado pelos
militares como “o inimigo número 1 do Brasil”. Naquele dia, como mostra o
filme, dois padres que ajudavam a ALN marcaram — torturados e sob a mira do
revólver — um encontro com Marighella que resultaria em sua morte. Segundo a
narrativa oficial, descrita pela Operação bandeirantes (Oban), o guerrilheiro
chegou ao local e recebeu voz de prisão, mas correu para o carro e “fez menção
de sacar, de dentro de uma pasta, duas armas que estavam nela”. Ele, então, foi
alvejado por metralhadoras e “caiu dentro do carro”, na posição e local onde foi fotografado horas
depois. Uma perícia feita posteriormente pela Comissão Nacional da Verdade,
porém, indica que Marighella foi alvejado já dentro do veículo, sem troca de
tiro — versão reproduzida pelo longa — e morreu com um tiro à queima roupa. “O
tiro que atingiu Marighella na região torácica, provavelmente o último, foi
efetuado a curtíssima distância (menos de oito centímetros), através do vão
formado pela abertura da porta direita do veículo, numa ação típica de
execução”, conclui o documento. No longa, a distância é um pouco maior, e
Marighella é acertado por mais de cinco tiros, número constatado pela perícia.
Posso
concluir que cinebiografia sobre Carlos Marighella o retratando como o
perseguido politico na Ditadura Militar, é uma interessante obra que serve bem
para retratar como as consequências da brutalidade da Ditadura são sentidas até
hoje.
Um
tema indigesto, mas muito relevante para entender como o nosso Estado
Brasileiro é bastante omisso quanto as práticas violentas feitas pelos
militares. E que por muito tempo negaram essa prática criminosa, isso é algo
que incomoda demais a extrema-direita fascista brasileira que idolatra
torturadores como o próprio Jair Bolsonaro que mostrou sua idolatria ao Coronel
Carlos Brilhante Ustra(1932-2015), o responsável
por cometer torturas na Ditadura.
No
seu elenco, o filme conta com Seu Jorge como protagonista que faz uma brilhante
representação do Marighella encarando as dificuldade de viver na
clandestinidade, Adriana Esteves
representa bem a companheira de Marighella Clara vivendo uma vida incertezas
com o marido na clandestinidade e sem o seu convívio.
Também
conta com as participações de Bruno
Gagliasso, que no filme representa brilhantemente o papel do Agente Lúcio, o caçador de Marighella,
personagem ficcionalizado na história
que equivale ao torturador real Sérgio Paranhos Fleury(1933-1979), um sujeito agressivos
que não mede esforços para usar da violência bruta.
Vale
menção também as participações de Herson
Capri como o jornalista Jorge Salles que no filme ele condensa diferentes
figuras de figuras de jornalistas com quem Marighella foi muito próximo e foram
seus aliados. Humberto Carrão como Humberto, um companheiro de luta armada de
Marighella, que condensa no filme os seus diferentes companheiros da vida real.
Bella Camero como Bella faz uma
representação condensada dos diferentes membros da Ação Libertadora Nacional.
Há
também de mencionar as participações de Luiz Carlos Vasconcellos que no filme
representa Almir, outro aliado de Marighella equivalendo a figura real de
Joaquim Cãmara Ferreira(1913-1970), Jorge Paz como Jorge que equivale a Virgílio
Gomes da Silva(1933-1969), estes que
estiveram envolvidos no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick(1908-1983).
Henrique Vieira como Frei Henrique equivalente ao frade dominicano Fernando de
Brito(1936-2019) que era um dos aliados contra os militares.
Assim
como mencionar a participação do americano naturalizado brasileiro Charles
Paraventi que no filme representa o papel do Bob que simboliza a participação
passiva dos americanos no Golpe Militar.
Enfim,
posso concluir que a cinebiografia Marighella, é um filme muito relevante
para esse momento turbulento que vive o Brasil.
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