Em
27 de Março de 1960, nascia no Rio de Janeiro, o cantor e compositor Renato
Manfredini Júnior. Mais conhecido artisticamente como Renato Russo, cuja origem
do sobrenome artístico ele escolheu como
homenagem a grandes intelectuais que
admirava como o filosofo inglês Bertrand Russel(1872-1970), além desses, também
admirava o filósofo suíço Jean Jacques Rosseau(1712-1778) e o pintor francês
Henri Rosseau(1844-1910). Carioca, nascido no berço de uma família de classe média, que se mudou para Brasília ainda adolescente, quando seu pai um funcionário do Banco do
Brasil foi transferido para lá. E foi na cidade símbolo do poder político,
então recém-construída por Oscar Niemayer(1907-2012) ainda no Governo de
Juscelino Kubitscheck(1902-1976) em 1960, mesmo ano que o cantor nasceu, para
servir como residência e reduto de todos os mandos e desmandos que os nossos
engravatados da política determinam como tudo vai funcionar para nossa população. Também serviu como o
reduto e o grande berço artístico para Renato Russo se lançar no meio musical. E
nada melhor do que lembrar dessa data em
que ele completaria 60 anos se tivesse vivo do que comentar sobre a sua cinebiografia
Somos Tão Jovens(Brasil, 2013).
O filme não é bem uma
cinebiografia do que se espera sobre o
Renato Russo, grande ícone de um estilo musical
transgressor e critico que marcou o Brasil dos anos 1980, principalmente para a sua legião de fãs que o
idolatram, o glorificam, criando toda uma santificação sobre ele que fica até complicado
distinguir o Renato como Artista para o
Renato intimamente como Ser Humano. Neste
filme tanto o diretor Antônio Carlos da Fontoura, quanto o roteirista Marcos
Bernstein optaram por criar na história um recorte mostrando um pouco de como
ele era antes de virar o idolatrado
artista. Eles se focaram em mostrar como era a vida comum dele na Brasília do
começo dos anos 1980. Nos apresentando um pouco do contexto sociocultural que inspirou
sua carreira. Nesse filme eles nos apresentam como era o seu estilo de vida
universitária numa família de classe
média, onde ajudava na renda familiar dando aulas de inglês. Os momentos íntimos dos ensaios, das
composições, as influências do movimento punk e rock progressivo. Os ensaios
com a primeira banda que tocou, o Aborto Elétrico, alguns conflitos com a família.
Especialmente seu pai que temia por ele não conseguir se sustentar como
artista, enfim.
O roteiro mesmo sendo muito raso e superficial,
principalmente para o que se espera de
uma cinebiografia de um importante ícone da música brasileira, ainda assim tem
seu méritos.
Quem
espera ele seguir uma linha cronológica de apresentar mais detalhes sobre a
vida dele no auge e no declínio da carreira, com certeza pode se decepcionar
com esta obra. Aqui não foi mostrado como foi sua infância no Rio até se mudar
aos 13 anos com sua família para Brasília. Do mesmo modo que o filme não explorou
de forma profunda a vida intima dele durante
o auge do seu sucesso, os excessos de sua vida mundana, principalmente quando extrapolava
no álcool e nas drogas e vivia em constantes esbornias e orgias. Também não mostrou as constantes
brigas de bastidores com seus companheiros da Legião Urbana Dado Villa-Lobos e
Marcelo Bonfá, não mostra como ele descobriu ser pai de seu único filho Giuliano
com uma mulher com quem ele só ficou, sequer isso é mostrado e do mesmo modo
que também não foi apresentado o
delicado o momento onde ele descobriu que havia adquirido a AIDS que culminou
em sua morte precoce aos 36 anos em 1996.
Pessoalmente eu não tive muito o
privilegio de acompanhar a carreira do Renato
Russo nesse auge do seu sucesso. Quando eu nasci em 1985, ele já estava estourando com a Legião Urbana e quando fui
crescendo foi na fase em que ele na banda já estava declinando no mundo do ShowBizz brasileiro, perdendo o seu espaço
para os artistas da Lambada, do Sertanejo, do Pagode e do ritmo baiano da Axé
Music e com a relação já gasta com a banda, resolveu se lançar em projetos
solos. E quando ele morreu, eu só tinha 11 anos e ainda não fazia ideia da
dimensão do que ele representou para a história da música brasileira, e do porque
ele se tornou e até hoje é uma grande referência. Ele estava dando início a sua
carreira solo naquele momento.
O filme embora apresente estes
problemas, ainda assim, mostra-se ser
bem apreciável com algumas tomadas de liberdade que a produção teve em imprimir licenças poéticas mesmo fazendo
este recorte sobre a vida de Renato Russo.
Um dos méritos do filme deve-se ao bom design de produção, principalmente
na reconstrução da Brasília do começo dos anos 1980. Os figurinos e as caracterizações
dos personagens estão excelentes. As tomadas de planos e enquadramentos dos
diferentes ângulos de Brasília também são magníficos. Fora o elenco cheio de
feras, como o Thiago Mendonça está absolutamente incrível na pele do Renato
Russo, num trabalho excelente de caracterização e de composição. Ele em cena incorporou brilhantemente todos os trejeitos do Renato
Russo e moldou todas as nuances e camadas dele. Marcos Breda na pele do Renato
pai também mostrou um desempenho excelente o representando como alguém preocupado com o
rumo, no inicio acaba apoia de forma reticente. Sandra Corveleoni na pele de
Dona Carmem, a mãe do Renato Russo desempenhou o seu lado acolhedor, apoiadora e conselheira. Por fim há de destacar
as sutis referências a outros artistas
com quem Renato Russo conheceria e fariam parte junto com ele do panteão do
Rock Nacional dos anos 1980. Também apresenta como ele foi conhecendo Dado
Villa-Lobos e Marcelo Bonfá que comporiam a Legião Urbana. Pena não ser mostrado
ele conhecendo Renato Rocha(1961-2015), o baixista que só conseguiu ingressar
na banda depois que eles assinaram um contrato com a gravadora EMI em 1984 e este
fato não é mostrado. A história dele é concluída
com ele e sua galera se preparando para irem ao Rio de Janeiro e fazerem uma
apresentação no Circo Voador. Onde foi lá que conseguiu ser apresentado e
introduzido ao mundo do showbiz
brasileiro. Renato Rocha foi o primeiro que se desligou da banda no final dos
anos 1980, após longas brigas internas dele com Renato Russo, Dado Villa-Lobos
e Marcelo Bonfá. Depois que virou um egresso da banda, se enveredou por outras
bandas, mas nos últimos de vida passou melancolicamente na miséria, mendigando
nas ruas, por causa do abuso do álcool e
das drogas até morrer em 2015.
No Balanço
Geral, Somos Tão Jovens trata-se de um excelente filme de drama
biográfico sobre um importante artista como o Renato Russo, pode não ser perfeito.
Visto o fato da obra ter explorado mais um recorte da vida dele de uma forma
mais branda antes de se tornar o celebre artista, mas mesmo assim explorou bem
outras camadas dele como ser humano. Onde mostrou bem que ele com seu talento como cantor e compositor ele era perfeito, mas
intimamente como pessoa, um ser humano, era tão imperfeito e cheio de defeitos como qualquer outro.