quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

CRÍTICA AO FILME UM HERÓI DE BRINQUEDO(1996)

 

FILME NATALINO SOBRE UM BONECO DE SUPER-HERÓI.

Sempre que alguém ouve falar no nome de  Arnold Schwarzenegger, o que vem assimilado na cabeça de muita gente logo de cara   é com certeza os clássicos filmes de ação com explosão e pancadaria, onde ele eternizou muitos dos tipos machões durões, heróis  brucutus que metiam medo  em qualquer um que tentasse se meter no seu caminho.





Com ele representando  sempre o tipo durão, com aquele porte atlético parrudo, ele que já foi Mister Universo e halterofilista,  dificilmente imaginaríamos vê-lo estrelando um filme de comédia com temática natalina com ar mais Family Friendly, engana-se, pois, não é que ele se enveredou sim por este caminho e a prova disso está no filme Um Herói de Brinquedo( Jingle All the Way, EUA, 1996).




 

Nesta curiosa comédia natalina que conta com o  fortão de Hollywood como protagonista. Nele, o famoso astro dos filmes de ação, terá de encarar  como grande desafio que irá exigir muito mais do que uma boa briga física   com arma como ele está acostumado a fazer como os durões heróis brucutus que sozinho acabou com um exército inteiro como já aconteceu, por exemplo, quando ele fez John Matrix  no filme Comando Para Matar(Commando, EUA, 1985) que eu assistia bastante quando passava na TV Globo.  Nesse filme Schwarzenegger, vai  encarar  uma longa jornada  na pele de Howard  Langston para procurar o brinquedo que representava a grande febre da criançada chamado de Turbo Man. O enredo gira em torno de Langston,  um homem de vida comum, um importante empresário que de tão envolvido no trabalho passa a desenvolver as características tipicamente   comportamentais de um Workaholic(denominação para definir  os viciados em trabalho).




É por causa de  sua rotina exaustiva no trabalho que ele tem tido  pouco tempo para seu filho Jamie(Jake Loyd), inclusive chegando atrasado a aula de caratê dele, perdendo até de apreciar ele ser premiado com uma faixa azul.  Será nessa situação que gerará o gancho para criar todo o molde da trama que é quando Howard para compensar essa mancada com seu filho resolve prometer presenteá-lo com qualquer coisa que ele lhe pedir no Natal. É quando Jake pede para o pai comprar o boneco sensação do momento  chamado de Turbo Man que a coisa vai pegar fogo.





Porque será  a partir daí que  inicia-se a grande odisseia  de Howard para procurar esse boneco em um monte de  lojas onde suas vendas foram estouradas e não bastando isso ele também terá que encarar  pela frente muitos desafios para conseguir o tão sonhado presente do filho.

Ainda mais quando irá se deparar com Myron Larabee(Sinbad) um carteiro e pai também desesperado como ele é que gerará motivos para confusões e disputas, cujas circunstâncias o levaram a ser escolhido para o ser o próprio herói de brinquedo Turbo Man num carro alegórico durante uma parada natalina. Fora que ele fica bastante nervoso quando observar o seu desagradável vizinho Ted Maltin(Phil Hartman) cercando sua esposa Liz(Rita Wilson) depois dela ficar irritada com ele por  ter esquecido o presente do filho Jamie(Jake Lloyd), o que afeta sua relação com ela.






A obra contou com a direção de Brian Levant, que já carregava no currículo filmes bem com esta abordagem divertida no estilo  Family Friendly, que foram grandes sucessos de bilheteria e sendo os mais marcantes dos anos 1990, alguns até que marcaram minha infância,  foi da  direção dele, por exemplo, o segundo filme  da série O Pestinha(Problem Child, EUA, 1990) que foi O Pestinha 2,(Problem Child 2, EUA  1991) o primeiro filme da série Beethoven estrelado pelo cão da raça São Bernardo que no Brasil ganhou o título de Beethoven-O Magnifico (EUA, 1992) e Os Flintstones (The Flintstones, EUA, 1994), adaptada da famosa série animada dos anos 1960  da Hanna-Barbera sobre uma família vivendo  na Idade da Pedra. E contou entre seus produtores executivos com  Chris Columbus que assim como  Brian Levant, ele também já carregava no currículo cinematográfico em dirigir  produções de sucesso  nessa pegada, que também marcaram minha infância,  dentre estes merece a menção os filmes da série Esqueceram de Mim, estreladas pelo ex-astro mirim Macaulay Culkin que foram Esqueceram de Mim(Home Alone, EUA,1990) e Esqueceram de Mim 2-Perdido em Nova York (Home Alone 2: Lost in the New York, EUA, 1992). Sendo também dele outro clássico  Family Friendly e muito marcantes  da década de 1990 que foi Uma Babá Quase Perfeita (Mrs. Doubtfire, EUA, 1993).  E posteriormente também faria sucesso ao  dirigir os primeiros filmes da série Harry Potter que foram Harry Potter e a Pedra Filosofal(Harry Potter and the Philosopher's Stone, EUA, Reino Unido, 2001) e Harry Potter e a Câmara Secreta(Harry Potter and the Chamber of Secrets, EUA, Reino Unido, 2002). Ambos tiveram a ideia para o filme inspirados no fenômeno  da venda de brinquedos dos Power Rangers, famosa série de um grupo de heróis coloridos produzidos pela Saban Enterteniment, que eram adaptações americanas das séries japonesas denominadas de tokusatsu de uma longa franquia chamada de Super Sentai, produzidas pela japonesa Toei Company. Inspirados nisso, eles resolveram criarem a figura do brinquedo do herói Turbo Man simbolizado como um macguffin na história para satirizar em forma de comédia a representação comercial do natal e os valores materiais, criticando o consumismo desenfreado.  





Além de contar com  Schwarzenegger no elenco, que antes desse também já tinha se enveredado pela comédia em filmes como: Irmãos Gêmeos(Twins, EUA, 1988), Um Tira no Jardim de Infância(Kindergarten Cop, EUA, 1990) e Júnior(Junior,EUA,1994). Que nesse filme desempenhou um trabalho incrível no papel do pai babaca do Howard, um homem negligente com a família e que resolve compensar essa mancada materialmente. O elenco também contou com a participação de Phill Hartman, grande ator de comédia que representou muito bem  na obra o papel de Ted Maltin, o sujeito mala, desagradável e  chato  vizinho de Howard, um cara viúvo pai de um filho pequeno, que vive cercando a Liz, esposa de Howard para dissimular sua real intenção que é ficar com ela, principalmente por se aproveitar da proximidade com  ela que  está passando por um momento delicado com sua relação com Howard. O desempenho dele em cena foi excelente se fosse hoje, ele hoje se caracterizaria como alguém com perfil de stalker. Esse mesmo que um ano e meio   depois do lançamento do filme,  protagonizaria uma grande tragédia envolvendo a conturbada relação dele com sua esposa Brynn Omdahl com quem tiveram brigas constantes e numa dessas brigas  resultou no seu assassinato por ela a tiros ocorrido no dia 27 de Maio de 1998 na época, Hartman  estava com 49 anos. Posteriormente ao seu assassinato, ele teve seu nome inserido  na Calçada da Fama de Hollywood em 2014.




Também merece menção a participação de Jake Lloyd, então na época com apenas seis representando no filme o papel do Jaime, o filho de Howard. Do mesmo jeito que Phill Hartman enfrentou uma tragédia que lhe tirou a vida posterior ao lançamento da obra.  Ele que futuramente foi o escolhido para protagonizar o Anakin Skywalker na franquia prequel de Star Wars intitulado de Star Wars:Episódio 1-A Ameaça Fantasma(Star Wars:Episode 1-The Phantom Menace,EUA,1999), também enfrentou sérios problemas trágicos posteriores, já que a péssima  recepção  da crítica  ao filme na época do lançamento   trouxe-lhe  consequências emocionais difíceis de lidar, dentre estas, os traumas  psicológicos.  Foi  por causa dos bullyings sofridos na escola em consequência dessa sua participação em Star Wars. Que o afetou demais sua vida adulta, principalmente depois do que aconteceu em 2015 quando  se envolveu numa perseguição policial  dirigindo perigosamente nas ruas da cidade de Charleston, na Carolina do Sul, onde  foi detido, ficou preso e para piorar recebeu o diagnóstico de esquizofrênico. Pesado não. Também não posso esquecer  de mencionar no elenco as participações de David Adkins que é mais conhecido como Sinbad que no filme representou brilhantemente o papel de Myron, um sujeito que criava bem um contraponto  a Howard como antagonista, principalmente no aspecto social,  já que Howard simboliza a típica figura  do  cara da classe média alta que vive numa correria para ir atrás do brinquedo do Turbo Man para presentear o filho como compensação  as suas ausências. Já Myron representou bem a figura de um cara completamente fodido, o retrato do trabalhador proletariado, um carteiro  que é um tipo que vai concorrer diretamente com Howard para comprar aquele brinquedo para presentear seu filho também numa caçada de gato e rato. Ele já demonstra bem este perfil afetado  e desagradável ao ser inserido numa cena onde todo estão numa loja de brinquedo e solta um bom timming cômico ao criticar de forma ácida a situação ridícula que a   visão comercial do Natal proporcionava. Ao pesquisar sobre o ator no google, soube que recentemente ele sofreu de um derrame cerebral,  triste não.



   Outros nomes que estão no filme são de   Rita Wilson, esposa de Tom Hanks, ficou ótima na pele da Liz Langston, esposa de Howard, desempenhou bem o papel dela como um tipo sutilmente fútil na visão de valorizadora dos bens materiais, principalmente na cena final quando se enfurece por Howard esquecer o seu presente e um tanto ingênua ao não perceber que estava sendo stalkeada por Ted e do grande astro da comédia  James Belushi, irmão do falecido comediante John Belushi(1949-1982), que fez uma participação excelente como o Papai Noel de um Shopping bastante irreconhecível até pela caracterização que mete Howard em uma armadilha com uma quadrilha de Papais Noel que se especializaram em exportar brinquedos falsificados para o mercado negro.

Eu lembro quando vi este filme na época que foi lançado, eu era um garotinho com 11 anos, que estava curtindo férias com minha família em João Pessoa-PB. Havia me divertido bastante com a obra,  e lembro dos investimentos em massa feitos aqui no Brasil com as publicidades dos cartões de créditos,  quando dei uma revisitada muito anos depois já adulto  quando passou na TV, pude bem observar como ela conseguiu se manter bem engraçada e divertida e reparar nessa mensagem crítica que não tinha reparado antes. Posso simplesmente  descrever como ela envelheceu bem.

Principalmente ao fato do   filme carregar uma abordagem bem  atemporal  ao mostrar figuras de pais como Howard que buscam compensar a ausência e  falta de tempo aos filhos dando-lhe   bens materiais com uma sútil  crítica a visão capitalista-mercadológica do Natal pelo padrão American Way of Life. Outra característica típica da comemoração natalina dos americanos retratada no filme  que pode gerar estranheza para nós brasileiros além do que obviamente envolve a representação climática invernal, mostrando o povo caminhando nas ruas nevadas, patinando no lago gelado, todos agasalhados, com as crianças brincando na neve formando as bolas de neves e esculpindo os bonecos e com as casas super enfeitadas de iluminação e com os pinheiros naturais enfeitados naturalmente como árvores de natal. Outra característica típica do natal celebrado pelos americanos que podem parecer estranho para nós brasileiros é no desfile carnavalesco que ocorre já nos minutos finais da obra em seu ponto de virada, onde Howard se fantasia acidentalmente de Turbo Man num carro alegórico em uma  grande avenida movimentada.

O curioso é que as suas  filmagens ocorreram  em Minnesota e em Saint-Paul por cinco semanas, também chamada de cidade-gêmeas, onde inclusive no filme foi usado de uma licença poética de ser ambientado numa só cidade. O uso das licenças poéticas também são explorados em  outras situações absurdas e até nonsenses. Mais curioso mesmo é que o título original da obra  é Jingle All the Way que se refere ao famoso trecho de uma das  mais antigas  canções natalinas que é sempre reproduzida pelos americanos nessa importante data  festiva, principalmente quando a sua  indústria fonográfica investe pesado em colocar os nomes famosos da música pop para gravar álbuns natalinos nessa época e tirar alguma casquinha para sair lucrando com esta data festiva,   o famoso “Jingle Bell, Jingle Bell, Jingle All the way”, composta em 1857 por James Lord Pierpont(1822-1893) cujo o título original da canção é One Horse Open Sleigh, que simboliza bem o  costume característico de como é a celebração natalina do americano,  que no Brasil ganhou uma versão intitulada de Bate o Sino adaptada e composta pelo radialista Evaldo Rui(1913-1954). Que foi gravada pela primeira vez em 1941 por João Dias(1927-1996). Para nós brasileiros não faria muito sentido para o contexto da trama, o que para o americano talvez sim,  e a escolha da  adaptação para  traduzir o título em português BR como Um Herói de Brinquedo foi bastante acertado, pois foi o que mais se encaixava a proposta da trama.

Enfim, posso concluir que Um Herói de Brinquedo é uma ótima obra natalina que tem sua relevância. Não só como um bom produto de diversão, mas também como reflexão, principalmente no que envolve a transmissão dos bons valores familiares e no que envolve  sutilmente refletir na critica ao consumismo desenfreado ao qual essa data festiva  se tornou bastante assimilada.

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