FILME
NATALINO SOBRE UM BONECO DE SUPER-HERÓI.
Sempre
que alguém ouve falar no nome de Arnold Schwarzenegger, o que vem assimilado na cabeça de muita
gente logo de cara é com certeza os
clássicos filmes de ação com explosão e pancadaria, onde ele eternizou muitos
dos tipos machões durões, heróis brucutus que metiam medo em qualquer um que tentasse se meter no seu
caminho.
Com
ele representando sempre o tipo durão, com
aquele porte atlético parrudo, ele que já foi Mister Universo e halterofilista,
dificilmente imaginaríamos vê-lo
estrelando um filme de comédia com temática natalina com ar mais Family
Friendly, engana-se, pois, não é que ele se enveredou sim por este caminho e a
prova disso está no filme Um Herói de Brinquedo( Jingle All the
Way, EUA, 1996).
Nesta
curiosa comédia natalina que conta com o
fortão de Hollywood como protagonista. Nele, o famoso astro dos filmes
de ação, terá de encarar como grande
desafio que irá exigir muito mais do que uma boa briga física com arma como ele está acostumado a fazer como
os durões heróis brucutus que sozinho acabou com um exército inteiro como já
aconteceu, por exemplo, quando ele fez John Matrix no filme Comando Para Matar(Commando,
EUA, 1985) que eu assistia bastante quando passava na TV Globo. Nesse filme Schwarzenegger, vai encarar
uma longa jornada na pele de Howard Langston para procurar o brinquedo que
representava a grande febre da criançada chamado de Turbo Man. O enredo gira em
torno de Langston, um homem de vida comum,
um importante empresário que de tão envolvido no trabalho passa a desenvolver
as características tipicamente comportamentais de um Workaholic(denominação
para definir os viciados em trabalho).
É
por causa de sua rotina exaustiva no
trabalho que ele tem tido pouco tempo para
seu filho Jamie(Jake Loyd), inclusive chegando atrasado a aula de caratê dele,
perdendo até de apreciar ele ser premiado com uma faixa azul. Será nessa situação que gerará o gancho para
criar todo o molde da trama que é quando Howard para compensar essa mancada com
seu filho resolve prometer presenteá-lo com qualquer coisa que ele lhe pedir no
Natal. É quando Jake pede para o pai comprar o boneco sensação do momento chamado de Turbo Man que a coisa vai pegar
fogo.
Porque
será a partir daí que inicia-se a grande odisseia de Howard para procurar esse boneco em um
monte de lojas onde suas vendas foram
estouradas e não bastando isso ele também terá que encarar pela frente muitos desafios para conseguir o
tão sonhado presente do filho.
Ainda
mais quando irá se deparar com Myron Larabee(Sinbad) um carteiro e pai também
desesperado como ele é que gerará motivos para confusões e disputas, cujas
circunstâncias o levaram a ser escolhido para o ser o próprio herói de
brinquedo Turbo Man num carro alegórico durante uma parada natalina. Fora que
ele fica bastante nervoso quando observar o seu desagradável vizinho Ted
Maltin(Phil Hartman) cercando sua esposa Liz(Rita Wilson) depois dela ficar
irritada com ele por ter esquecido o
presente do filho Jamie(Jake Lloyd), o que afeta sua relação com ela.
A
obra contou com a direção de Brian Levant, que já carregava no currículo filmes
bem com esta abordagem divertida no estilo Family Friendly, que foram grandes sucessos de
bilheteria e sendo os mais marcantes dos anos 1990, alguns até que marcaram
minha infância, foi da direção dele, por exemplo, o segundo filme da série O Pestinha(Problem
Child, EUA, 1990) que foi O Pestinha 2,(Problem Child 2, EUA 1991) o primeiro filme da série Beethoven
estrelado pelo cão da raça São Bernardo que no Brasil ganhou o título de Beethoven-O
Magnifico (EUA, 1992) e Os Flintstones (The
Flintstones, EUA, 1994), adaptada da famosa série animada dos
anos 1960 da Hanna-Barbera sobre uma
família vivendo na Idade da Pedra. E
contou entre seus produtores executivos com Chris Columbus que assim como Brian Levant, ele também já carregava no
currículo cinematográfico em dirigir produções de sucesso nessa pegada, que também marcaram minha
infância, dentre estes merece a menção
os filmes da série Esqueceram de Mim, estreladas pelo ex-astro
mirim Macaulay Culkin que foram Esqueceram de Mim(Home Alone,
EUA,1990) e Esqueceram de Mim 2-Perdido em Nova York (Home Alone
2: Lost in the New York, EUA, 1992). Sendo também dele outro clássico
Family Friendly e muito marcantes da década de 1990 que foi Uma Babá Quase
Perfeita (Mrs. Doubtfire, EUA, 1993). E posteriormente também faria sucesso
ao dirigir os primeiros filmes da série
Harry Potter que foram Harry Potter e a Pedra Filosofal(Harry
Potter and the Philosopher's Stone, EUA, Reino Unido, 2001) e Harry
Potter e a Câmara Secreta(Harry Potter and the Chamber of Secrets, EUA,
Reino Unido, 2002). Ambos tiveram a ideia para o filme inspirados no
fenômeno da venda de brinquedos dos Power
Rangers, famosa série de um grupo de heróis coloridos produzidos pela
Saban Enterteniment, que eram adaptações americanas das séries japonesas
denominadas de tokusatsu de uma longa franquia chamada de Super Sentai,
produzidas pela japonesa Toei Company. Inspirados nisso, eles resolveram
criarem a figura do brinquedo do herói Turbo Man simbolizado como um macguffin
na história para satirizar em forma de comédia a representação comercial do
natal e os valores materiais, criticando o consumismo desenfreado.
Além
de contar com Schwarzenegger
no elenco, que antes desse também já tinha se enveredado pela comédia em filmes
como: Irmãos Gêmeos(Twins, EUA, 1988), Um Tira no Jardim de
Infância(Kindergarten Cop, EUA, 1990) e Júnior(Junior,EUA,1994).
Que nesse filme desempenhou um trabalho incrível no papel do pai babaca do
Howard, um homem negligente com a família e que resolve compensar essa mancada
materialmente. O elenco também contou com a participação de Phill Hartman,
grande ator de comédia que representou muito bem na obra o papel de Ted Maltin, o sujeito mala,
desagradável e chato vizinho de Howard, um cara viúvo pai de um
filho pequeno, que vive cercando a Liz, esposa de Howard para dissimular sua
real intenção que é ficar com ela, principalmente por se aproveitar da
proximidade com ela que está passando por um momento delicado com sua
relação com Howard. O desempenho dele em cena foi excelente se fosse hoje, ele hoje
se caracterizaria como alguém com perfil de stalker. Esse mesmo que um ano e
meio depois do lançamento do filme, protagonizaria uma grande tragédia envolvendo
a conturbada relação dele com sua esposa Brynn Omdahl com quem tiveram brigas
constantes e numa dessas brigas resultou
no seu assassinato por ela a tiros ocorrido no dia 27 de Maio de 1998 na época,
Hartman estava com 49 anos. Posteriormente
ao seu assassinato, ele teve seu nome inserido
na Calçada da Fama de Hollywood em 2014.
Também merece menção a participação de Jake Lloyd, então na época com apenas seis representando no filme o papel do Jaime, o filho de Howard. Do mesmo jeito que Phill Hartman enfrentou uma tragédia que lhe tirou a vida posterior ao lançamento da obra. Ele que futuramente foi o escolhido para protagonizar o Anakin Skywalker na franquia prequel de Star Wars intitulado de Star Wars:Episódio 1-A Ameaça Fantasma(Star Wars:Episode 1-The Phantom Menace,EUA,1999), também enfrentou sérios problemas trágicos posteriores, já que a péssima recepção da crítica ao filme na época do lançamento trouxe-lhe consequências emocionais difíceis de lidar, dentre estas, os traumas psicológicos. Foi por causa dos bullyings sofridos na escola em consequência dessa sua participação em Star Wars. Que o afetou demais sua vida adulta, principalmente depois do que aconteceu em 2015 quando se envolveu numa perseguição policial dirigindo perigosamente nas ruas da cidade de Charleston, na Carolina do Sul, onde foi detido, ficou preso e para piorar recebeu o diagnóstico de esquizofrênico. Pesado não. Também não posso esquecer de mencionar no elenco as participações de David Adkins que é mais conhecido como Sinbad que no filme representou brilhantemente o papel de Myron, um sujeito que criava bem um contraponto a Howard como antagonista, principalmente no aspecto social, já que Howard simboliza a típica figura do cara da classe média alta que vive numa correria para ir atrás do brinquedo do Turbo Man para presentear o filho como compensação as suas ausências. Já Myron representou bem a figura de um cara completamente fodido, o retrato do trabalhador proletariado, um carteiro que é um tipo que vai concorrer diretamente com Howard para comprar aquele brinquedo para presentear seu filho também numa caçada de gato e rato. Ele já demonstra bem este perfil afetado e desagradável ao ser inserido numa cena onde todo estão numa loja de brinquedo e solta um bom timming cômico ao criticar de forma ácida a situação ridícula que a visão comercial do Natal proporcionava. Ao pesquisar sobre o ator no google, soube que recentemente ele sofreu de um derrame cerebral, triste não.
Outros
nomes que estão no filme são de Rita Wilson, esposa de Tom Hanks, ficou ótima
na pele da Liz Langston, esposa de Howard, desempenhou bem o papel dela como um
tipo sutilmente fútil na visão de valorizadora dos bens materiais,
principalmente na cena final quando se enfurece por Howard esquecer o seu
presente e um tanto ingênua ao não perceber que estava sendo stalkeada por Ted
e do grande astro da comédia James
Belushi, irmão do falecido comediante John Belushi(1949-1982), que fez uma
participação excelente como o Papai Noel de um Shopping bastante irreconhecível
até pela caracterização que mete Howard em uma armadilha com uma quadrilha de
Papais Noel que se especializaram em exportar brinquedos falsificados para o
mercado negro.
Eu
lembro quando vi este filme na época que foi lançado, eu era um garotinho com
11 anos, que estava curtindo férias com minha família em João Pessoa-PB. Havia
me divertido bastante com a obra, e
lembro dos investimentos em massa feitos aqui no Brasil com as publicidades dos
cartões de créditos, quando dei uma
revisitada muito anos depois já adulto quando passou na TV, pude bem observar como
ela conseguiu se manter bem engraçada e divertida e reparar nessa mensagem crítica
que não tinha reparado antes. Posso simplesmente descrever como ela envelheceu bem.
Principalmente
ao fato do filme carregar uma abordagem
bem atemporal ao mostrar figuras de pais como Howard que
buscam compensar a ausência e falta de
tempo aos filhos dando-lhe bens
materiais com uma sútil crítica a visão
capitalista-mercadológica do Natal pelo padrão American Way of Life. Outra
característica típica da comemoração natalina dos americanos retratada no filme
que pode gerar estranheza para nós
brasileiros além do que obviamente envolve a representação climática invernal,
mostrando o povo caminhando nas ruas nevadas, patinando no lago gelado, todos
agasalhados, com as crianças brincando na neve formando as bolas de neves e
esculpindo os bonecos e com as casas super enfeitadas de iluminação e com os
pinheiros naturais enfeitados naturalmente como árvores de natal. Outra
característica típica do natal celebrado pelos americanos que podem parecer
estranho para nós brasileiros é no desfile carnavalesco que ocorre já nos
minutos finais da obra em seu ponto de virada, onde Howard se fantasia
acidentalmente de Turbo Man num carro alegórico em uma grande avenida movimentada.
O
curioso é que as suas filmagens
ocorreram em Minnesota e em Saint-Paul por
cinco semanas, também chamada de cidade-gêmeas, onde inclusive no filme foi
usado de uma licença poética de ser ambientado numa só cidade. O uso das
licenças poéticas também são explorados em
outras situações absurdas e até nonsenses. Mais curioso mesmo é que o título
original da obra é Jingle All the Way
que se refere ao famoso trecho de uma das mais antigas canções natalinas que é sempre reproduzida
pelos americanos nessa importante data festiva, principalmente quando a sua indústria fonográfica investe pesado em
colocar os nomes famosos da música pop para gravar álbuns natalinos nessa época
e tirar alguma casquinha para sair lucrando com esta data festiva, o
famoso “Jingle Bell, Jingle Bell, Jingle All the way”, composta em 1857 por
James Lord Pierpont(1822-1893) cujo o título original da canção é One Horse
Open Sleigh, que simboliza bem o costume
característico de como é a celebração natalina do americano, que no Brasil ganhou uma versão intitulada de Bate
o Sino adaptada e composta pelo radialista Evaldo Rui(1913-1954). Que foi
gravada pela primeira vez em 1941 por João Dias(1927-1996). Para nós brasileiros
não faria muito sentido para o contexto da trama, o que para o americano talvez
sim, e a escolha da adaptação para traduzir o título em português BR como Um
Herói de Brinquedo foi bastante acertado, pois foi o que mais se encaixava
a proposta da trama.
Enfim,
posso concluir que Um Herói de Brinquedo é uma ótima obra
natalina que tem sua relevância. Não só como um bom produto de diversão, mas
também como reflexão, principalmente no que envolve a transmissão dos bons
valores familiares e no que envolve sutilmente
refletir na critica ao consumismo desenfreado ao qual essa data festiva se tornou bastante assimilada.
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