sábado, 19 de dezembro de 2020

FILMES PARA VER NESTE NATAL: O GRINCH E O EXPRESSO POLAR


REVISITANDO DOIS FILMES NATALINOS DO COMEÇO DO SÉCULO 21.

 

 

Nesse clima natalino, para minha surpresa eu tive o privilégio de assistir a um filme  bastante diferente na Netflix que foi Tudo Bem no Natal que Vem (Brasil,2020), uma produção nacional estrelada pelo Leandro Hassum original da Netflix. Algo inédito no cinema brasileiro. Também dei uma conferida na Netflix em dois filmes que eu já havia assistido antes, mas que com outro olhar  bem pude  perceber quais diferenciais eles carregam após minhas revisitada por elas.  Os dois títulos em questão tratam-se de O Grinch (How the Grinch Stole Christmas,EUA,2000) e O Expresso Polar (The Polar Express,EUA, 2004).











Ambas produções americanas que trazem uma abordagem natalina usando logicamente   pela ótica do estilo American Way Of Life de como os americanos costumam  comemorar sua data natalina, em especial no costume de brincar na neve, o que faz sentido pela verossimilhança da localização geográfica do território ser próximo das calotas polares e como neste período lá  é a estação invernal, o que torna bem comum o cinema apresentar os americanos esculpindo também os bonecos de neve.




Ambas também carregam em comum o fato de terem sido adaptações de obras literárias de autores americanos e  ambas foram lançadas lá pelo ido dos anos 2000.





Mesmo tendo a  coincidência da mesma abordagem, o mote da estrutura de história de ambas é completamente diferente.

Em O Grinch (How the Grinch Stole Christmas,EUA,2000), filme baseado no livro  de Theodor Seuss Geisel, que costumeiramente assinava autoralmente como  como Dr. Seuss(1904-1991) publicado em 1957.  










Conta a história de uma criatura verde chamada de Grinch(Jim Carey) que nutre um imenso ódio pelo Natal, isso porque ele desde a infância sofria muita gozação da população da  Cidade dos Quem   por ser diferente com uma aparência feia de pele verde e peluda, já que foi trazido bebê por uma cegonha que o deixou aos cuidados de duas senhoras. Durante sua infância nutriu uma forte paixão por sua colega de classe Martha May Whovier(Christine Baranski), uma das importantes e conceituadas damas do povoado dos Quem, quase uma socialite, onde ela sempre desperta um flerte do Prefeito Augustus May Who(Jeffrey Tambor), uma autoridade  com porte   físico rechonchudo, cuja personalidade era de um   sujeito rude, arrogante, prepotente  e muito vil e desprezível  que conheceu o Grinch na infância quando foram colegas de sala, onde lá ele era tipo um valentão que vivia o provocando principalmente o seu rosto cheio de pêlo, em consequência desses bullyings chegou   a ponto dele viver odiando o Natal até chegar a fase adulta, quando cresceu isolado do povoado vivendo como um ermitão numa caverna na companhia de seu cachorro Max, que vive tentando sensibilizá-lo para o natal.






Mas ele se recusa a entregar-se  ao sentimento natalino, deixando seu coração diminuído. Ele se tornou uma figura lendária na região que muita gente do povoado dos Quem passou a ter medo só de ouvir falar no nome dele.

É então que uma menina chamada Cindy(Taylor Momsen), filha do carteiro da Cidade dos Quem Lou(Bill Irwin) resolve se arriscar a ir atrás do Grinch para usar de sua pureza para tentar sensibilizá-lo. Uma ideia que toda a população dos Quem se mostra contra e a confusão já está dada.





Já com  relação a O Expresso Polar( The Polar Express, EUA, 2004),  o filme assim como O Grinch também foi  inspirado num livro homônimo publicado em 1985, cuja autoria é do também americano Chris Van Allsburgh, autor de best-sellers que foram adaptados para o cinema como Jumanji (EUA,1995) e Zathura (EUA,2005).

O filme começa contando a história de um garoto que se aventura a andar num expresso para ir conhecer o local onde mora o Papai Noel e onde são fabricados os brinquedos favoritos, acompanhado de outras crianças e sendo conduzido por um excêntrico condutor. Onde ao longo desse percurso  ele vai se deparar com alguns perigos e entraves  em sua jornada pelo expresso para ir chegar até o Papai Noel. Num mote com pegada meio road movie nos trilhos nevados.  





A respeito de ambas as obras que abordam temáticas natalinas  o que posso descrever de diferencial que elas apresentam. O Grinch contou com a direção de Ron Howard, que aqui enfrentou grandes problemas para a execução do seu trabalho  nos bastidores, em especial, com as duas empresas que negociaram a compra do direito de adaptação da obra que foram a Universal Pictures e a Imagine Entertainment, já que eles só começaram a negociar a compra do copyright da obra  depois que Seuss faleceu em 1991, em vida, ele sempre se posicionou contra a ideia de ver suas obras serem adaptadas por Hollywood, com exceção de algumas produções animadas para TV. Depois da morte do autor, Audrey Geisel(1921-2018)  viúva do autor  foi quem se encarregou de negociar com as duas empresas cinematográficas que estavam interessadas na produção, uma negociação que acabou não sendo nada fácil. Já que além de aceitarem as altas  exigências monetárias dela, como os US$ 5 milhões de dólares em dinheiro, tendo 50% de ganho com o merchandising, 70% de ganhos nas vendas dos livros e 4% da bilheteria. Tanto a Universal, quanto a Imagine ao conseguirem negociar essa compra,  tiveram de ceder com a participação dela  nas decisões criativas a respeito da obra.



Uma delas foi que ela exigia que o ator escolhido para representar O Grinch tivesse uma estatura comparável ao personagem do livro, e ela então listou  quatro nomes de grandes estrelas de sua preferência estavam: Gene Hackman, Dustin Hoffman, Jim Carrey e Robin Williams. Acabou que Jim Carey terminou sendo o escolhido, e foi uma boa escolha mesmo. Carrey na época figurando como grande estrela de sucesso em filmes de comédia, representou bem em cena o papel principal ainda que tenha ficado irreconhecível pela caracterização bastante realista feita pelo maquiador Rick Baker que foi toda desenvolvida usando pelos de iaque e  com uma máscara bem orgânica que mostrava um realismo bastante medonho de ver de tão feio que ficou. Carrey chegou a enfrentar o grande inferno que foram os longos dias intensos de gravação, e que para conseguir superar o transtorno ouvia muito Bee Gees quando tinha folga. No entanto, o resultado acabou sendo compensador visto que o ator imprimiu bem ao papel aqueles seus  típicos maneiros  característicos de representar explorando muito do humor físico e nas caretas que sempre foram suas especialidades. Na obra, ele imprimiu muito bem isso no personagem, principalmente na forma excêntrica e irreverente  dele agir afetado, rude, grosseiro, mal-humorado  e bastante espalhafatoso.  Há também de destacar a participação do ator anão Josh Ryan Evans que representou bem no filme o papel do Grinch criança que faleceu precocemente com 20 anos em 2002 em consequência de uma doença cardíaca congênita. 






Do mesmo jeito que o diretor Ron Howard enfrentou um trabalhão pesado com sua equipe para escolher uma boa locação para recriar a cenografia lúdica da Cidade dos Quem, as caracterizações e figurinos bem extravagantes e caricatos  dos outros personagens que habitam o povoado também não foi das tarefas mais fáceis de serem produzidas. Juntando ao trabalho da pós-produção em fazer montagem e editar na parte de fotografia e arrumar umas boas paletas de cores que dessem um tom agradável ao filme, para tornar o filme bastante lúdico.

Um ponto curioso a se observar é que todos os habitantes da Cidade dos Quem ficaram com os narizes bem pontudos, um ar caricato e até bastante cartunesco. Com exceção da menina Cindy, que na obra  foi representada por Taylor Momsen, então na época uma garotinha de apenas 6 anos, que mostrou um bom talento artístico virando cantora depois que cresceu.





Quanto a O Expresso Polar, obra contou com a direção de Robert Zemeckis, diretor de longa carreira de filmes premiados. Este filme proporcionou uma incrível sensação mágica com uma qualidade técnica ousada e experimental de ser  produzida completamente em animação digital onde boa parte dos atores, como o astro Tom Hanks, as crianças no expresso, os duendes e o Papai Noel  terem ficado com uma aparência caricata parecendo bonecos moldados para manequim, o que gerou até na época umas críticas negativas. Na única vez que vi ao alugar em DVD quando ainda existia videolocadora, lembro de ter me impressionado bastante, apesar da estranheza inicial.  Ainda assim a qualidade artística do filme não ficou tão prejudicado. O Expresso Polar foi o segundo  filme que Tom Hanks estrelou do diretor Robert Zemeckis 10 anos após ter protagonizado o histórico  Forrest Gump-O Contador de Histórias(Forrest Gump, EUA,1994) onde ganhou o Oscar de melhor ator e teve sua trilha sonora assinada por Alan Silvestri que também fez a trilha sonora de Forrest Gump. Neste filme, apesar de sua interpretação ter ficado um tanto artificial, ainda assim ele  mostrou uma boa desenvoltura  para encanar os diferentes personagens ao longo do filme. A meu ver, o filme conseguiu unir boa qualidade artística com a qualidade técnica.





Mesmo com suas  estruturas  e estéticas de histórias completamente diferentes, ambos em comum trazem a abordagem do natal com aqueles toques de escapismo mais fantasiosos e um tanto lúdicos, e ambas representam produções lançadas lá no começo do século 21, que parece que foi ontem que estávamos naquela expectativa para a chegada do Novo Milênio e sonhando com um mundo melhor.  Que sério já se passaram vinte anos.







Analisando a importância atemporal que cada uma  representou e de legado  depois de ter revisitado ambas estes dias na Netflix nesse clima natalino, tipo O Grinch, eu lembro de  assistir  a primeira vez quando passou na TV e  tinha gostado e ao dar uma revisitada nessa obra pude constatar que a sua estética envelheceu bem, mesmo não tendo apresentado nada de inovador, de conceitual, de experimental como foi no caso de O Expresso Polar, lançado quatro anos depois. Principalmente pelo texto apresentar muito mais do que uma abordagem escapista sobre a data natalina com tom puramente divertido, também apresentou umas sutis críticas a representação do natal como data comercial, que era uma coisa que o Grinch mais detestava, não a sua representação de harmonia e união familiar, mais sim os apreços pelas futilidades materiais  e o Prefeito Augustus mais simbolizava esse tipo de representação, do mesmo modo  que a Martha também simbolizava e a boa da população dos Quem também. Fora que também o filme abordou, muito antes desse debate se tornar público sobre as consequências que a discriminação que ele sofria na infância dentro da escola por ser diferente, e sofrendo de uma prática abusiva de bullying de um menino valentão que ao virar adulto, se tornou a importante autoridade da Cidade dos Quem.  Ainda que sutil, mas já mostrava que quando se renega a prática do bullying  e quando são fechados os olhos as consequências disso para a  vítima na vida adulta  podem serem horríveis e o Grinch representou bem isso.  Ainda mais pelo agravante fato  dele ter crescido como um descompensado sem a presença de país e foi por umas senhoras muito desajustadas. O que fez ele crescer insensível e com o coração gelado.  E foi graças ao sentimento pueril da menina Cindy, que fez voltar a sentir novamente o sentimento sensível que ele havia ignorado.




Com os efeitos práticos e com o tom da caracterização que fez Jim Carrey ficar com uma aparência horrorosa e medonha, por essas e outras coloco que o filme envelheceu bem. Já com relação à O Expresso Polar, ao revisitar esta obra, pude constatar que  o filme apresentou  um mote de  história que tipo ok é bastante atemporal, é emocionante, tem uns problemas ou outros quanto ao desenvolvimento de personagens que enfim não afetam tanto a mensagem positiva do filme. No aspecto de história até que a trama envelheceu bem, porém, no aspecto técnico experimental  dessa animação usada em CGI feita em cima de atores reais, a coisa já muda de figura. E me dói o coração  apesar de gostar muito desse filme e descrever como nesse aspecto de efeitos especiais  ele envelheceu mal.  Dá para notar bem como aquilo ficou bastante datado, principalmente em algumas movimentações, o que gera um tom fake. Talvez isso seja consequência do próprio conceito do vale da estranheza que explica a sensação que me causou ao revisitar essa obra.

Enfim, posso concluir  que mesmo com suas diferenças, essas obras  tem seus graus de importâncias em trazer lindas mensagens positivas sobre esta data importante que é o natal.   Ainda mais num momento tão delicado com esta desgraça de vírus da Covid-19 ameaçando mais vidas então e que esta festividade desse anos 2020  vai ser marcada pela situação mais  atípica já vista na história da humanidade.

 

 


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