Outro
dia conferi pelo acaso na Amazon Prime Vídeo ao filme animado Os Doze
Trabalhos de Asterix( Les Douze
Travaux d'Astérix,França, 1976) inspirada no famoso
herói gaulês das histórias em quadrinhos
criado em 1959 na revista Pilote pela dupla
René Goscinny(1926-1977) e Albert Uderzo(1927-2020) que são os diretores
desse filme. Onde Uderzo também colaborou como roteirista ao lado de Pierre
Watrin(1918-1990) e codirigido por Pierre Tchernia(1928-2016).
Livremente
inspirada na saga mítica do herói semideus grego Héracles que com a dominação
do Império Romano eles passaram a adotar um culto aos deuses gregos modificando
seus nomes e Héracles virou Hércules e foi daí que originou a saga dos Doze Trabalhos de Hércules.
É
bom deixar claro que quando Hércules surgiu nos tempos da Grécia Antiga, foram
nos lendários relatos orais que foram se espalhando até surgirem artistas como
artesãos que começaram a criar gravuras e esculturas de Hércules e escrivães
que começaram a redigir poemas em pergaminhos.
Esses mesmos que séculos depois quando um inventor alemão
chamado Johanes Guthemberg(1400-1468)
inventou a máquina da prensa no século 15, e deram origem as
publicações dos livros e os antigos textos em pergaminhos escritos no grego
arcaico foram sendo traduzidos é que foram sendo difundidos. É bom lembrar que
na Grécia Antiga ainda não havia esse negócio de direitos autorais.
Portanto,
a história do mítico herói Hércules já
era de domínio público muito antes de existir o conceito de direito
autoral.
Na
obra para quem gosta do estilo peculiar
de humor de Astérix que satiriza
o herói resistente a invasão romana na Gália, onde aqui mostra ele tendo esse desafio proposto pelo Imperador
Júlio César.
Ao
longo da narrativa acompanhamos Astérix acompanhado de seu inesperável
parceiro glutão Obélix cumprindo o desafio das Dozes Tarefas
sugeridas por Júlio César inspirado na saga de Hércules como o próprio se
mostra autoconsciente disso.
Eles
enfrentaram cada desafio que vão testá-los física e psicologicamente
enfrentando cada um que vão desde um
veloz corredor romano, um combate com gladiador germânico, se alimentarem num restaurante cheio de comida farta onde de hora
em hora é servido diferentes pratos, a
sedução das atraentes ninfas em sua ilha, encarar um prédio burocrático dentre
outros dos mais pitorescos que se pode imaginar com aquele característico humor
cartunesco das obras de Astérix.
Um
dos fatos curiosos a se comentar sobre
essa animação é que ele carrega como característica o fato de ser o único filme fosse em animação ou mesmo em live
action adaptado de Astérix cuja história foi originalmente criada para o
filme, Goscinny e Uderzo não pegaram de nenhuma história antes publicadas por eles em papel impressos que o adaptaram para cinema.
Do
mesmo jeito que também foi a única a animação de Astérix produzida
pelo Stúdio Idéfix, fundada em
1974, por seus criadores Goscinny e Uderzo, que anos depois o irmão de Albert Uderzo, Marcel Uderzo
publicou essa história em livro ilustrado numa série de doze livros ilustrados
para jovens leitores.
Provavelmente para
terem controle criativo sobre a obra e
também contou com a colaboração do editor
Georges Dargaud(1911-1990) fundador da
Dargaud, importante editora francesa de quadrinhos como cofundador da empresa que teve uma vida
curta.
Isso porque o Studio Idéfix encerrou
suas operações em 1978, um ano após o falecimento de Goscinny em 05 de Novembro
de 1977, com 51 anos após sofrer um
ataque cardíaco e nessa mesma data do fechamento da empresa lançaram o filme
animado inspirado no herói Lucky Luck, criação da HQ do belga Maurice de Bevere que assinava como
Morris(1923-2001) que é A Balada dos Daltons(Lucky Luke: The Ballad of
the Daltons, França, 1978) que foi um trabalho póstumo dirigido por Goscinny
que faleceu faltando pouco para concluir a história.
Antes
disso, houve a primeira adaptação animada de Astérix que foi Astérix,
O Gaulês(Astérix, Le Gaulois, França, 1967) essa obra foi dirigida pelo belga Ray Goossens(1924-2008) e foi
inspirado na primeira HQ de Astérix publicada em 1961.
Em
seguida veio Astérix e Cleópatra(Astérix et Cléopâtre, França,
1968), a segunda adaptação animada da HQ publicada em 1965, onde foi dirigido
pelo próprio Goscinny e Uderzo e contou com a codireção do americano Lee Payant(1924-1976). Essas duas produções contaram com a parceria da Dargaud e da
Belvision.
Depois
de Os Doze Trabalhos de Astérix, houve um longo hiato de 10 anos sem ter
uma nova produção inspirado no famoso
herói gaulês até ser produzido um novo filme animado de Astérix que foi Astérix e
a Surpresa de César(Astérix et la Surprise de César – França, 1985). Onde quem ficou encarregado da produção foi a Dargaud junto com a Les Productions René
Goscinny que contou com a direção dos irmãos Paul e Gäetan Brizzi.
Em
seguida veio outras séries de filmes animados como: Astérix entre os
Bretões(Astérix chez les Bretons, França, 1986),produção que contou com o
dedo da importante companhia de cinema francesa Gaumont, fundada em 1895 pelo
engenheiro Leon Gaumont(1864-1946) que teve o envolvimento de Pierre Tchenia
como roteirista e foi dirigido pelo ítalo-canadense Pino van
Lamsweerde(1940-2020).
Seguido
de Astérix e a Grande Luta(Astérix et le coup du menhir, França, 1989)
que contou com a direção de Philippe Grimmond e sem o envolvimento da mesma
equipe criativa.
Na
sequência vieram: Astérix Conquista a América(Astérix Conquers America,
França, 1994) que contou com a direção do alemão Gerhard Hann, Astérix e os
Vikings(Astérix et le Vikings, França, 2006) que contaram com a direção dos
dinamarqueses Jesper Møller e Stefan Fjeldmark, Astérix e O Domínio dos
Deuses(Astérix - Le Domaine des Dieux, França, Bélgica, 2014) com direção
de Alexandre Astier e Louis Clichy que marca a primeira produção animada de Astérix
a usar a técnica em 3D e Astérix e o
Segredo da Poção Mágica(Astérix: Le secret de la potion magique, França,
2018) que contou novamente com a direção de Astier e Clichy.
Isso
sem contar a série de filmes live actions que começou a partir do final dos
anos 1990 com Astérix e Obélix Contra César(Astérix & Obélix Contre
Cesar, França,1999) dirigido por Claude Zidi e contou com Christian Clavier
como Astérix, Gérard Depardieu como Obélix e o renomado cineasta
italiano Roberto Benigni como o temido imperador romano Júlio César.
Logo
em seguida veio: Astérix e Obélix: Missão Cleópatra(Asterix &
Obelix: Mission Cleopatra,França, 2002) este que contou com a direção de Alain Chabat que
no filme também representou Júlio César, que além de contar novamente no elenco
com Clavier e Depardieu repetindo os respectivos papeis de Astérix e Obélix,
também contou no elenco com a
participação da renomada atriz italiana Monica Bellucci que representa bem em cena a
mítica Rainha do Egito Cleópatra e amante de Júlio César emprestando da sua atraente beleza que também é baseado na
mesma obra que foi adaptada para a
animação em 1968.
Na
sequência tivemos: Astérix nos Jogos Olímpicos(Astérix aux Jeux olympiques, França, 2008) filme que
contou com a direção de Fréderic Forestier e Thomas Langmann, cujo elenco já
não contou com Christian Clavier como Astérix, seu papel nesse filme foi assumido por Clovis Cornilac e novamente
contou com Gerard Depardieu na pele do Obélix.
Que
também contou no elenco com a
participação de Jean-Pierre
Cassel(1932-2007), pai do ator Vincent Cassel que já foi casado com a atriz Monica Bellucci a mesma que representou
Cleópatra no filme anterior.
E
nesse filme fez o Druida Panoramix cuja participação
marcou o seu papel póstumo e mencionar a participação do veterano e cultuado galã
do cinema francês Alain Delon(1935-2024) que no filme representou Júlio César.
Depois
veio: Astérix e Obélix: Deus Salve a Britannia (Astérix & Obélix: Au
Service de Sa Majesté, França, 2012) onde nesse ainda contou novamente com
Gérard Depardieu representando o Obélix e já o Astérix foi trocado novamente
por Edoard Baer, já o papel do sempre temido Imperador Júlio César foi representado por
Fabrice Luchini.
E mencionar a participação da veterana musa
francesa Catherine Deneuve muito lembrada pelo clássico filme da nouvelle
vague A Bela da Tarde(Belle de
Jour, França, 1967) do diretor espanhol Luis Buñuel(1900-1983) que nesse filme
representou a Rainha Cordélia da
Grã-Bretanha e por fim tivemos o mais
recente: Astérix e Obélix: O Reino do Meio( Astérix et Obélix: l'Empire du Milieu,
França, 2023) que contou com a direção de Guilhaume Canet que também foi
responsável por representar o Astérix, já que quem ficou encarregado do
Obélix foi Gilles Lellouche, Vincent Cassel, o ex-marido de Monica Bellucci que
fez Cleópatra em Astérix e Obélix: Missão Cleópatra (2002) e é filho de
Jean-Pierre Cassel que fez o Druida Panoramix em Astérix e Obélix nos Jogos
Olímpicos (2008) participou do filme
representando Júlio César e com Marion Cotillard representando Cleópatra.
Até
o momento em que escrevo esse texto não há nenhuma notícia envolvendo alguma
nova produção relacionada a marca Astérix, fosse em animação ou mesmo em
live action.
A
produção dessa animação de Os Doze Trabalhos de Astérix usou uma técnica
que estava sendo muito usada pela
gigante Disney na época que é a xerografia.
A
xerografia foi uma técnica que revolucionou a animação da Disney, permitindo
que os desenhos dos artistas fossem transferidos diretamente para as
células. O processo foi testado pela primeira vez em A Bela Adormecida(1959),
mas foi usado em grande escala no curta-metragem Golias II e no filme 101
Dálmatas (1961).
“A
xerografia foi uma solução para o problema de transferir e tingir os desenhos
dos animadores manualmente nas células de animação, um processo caro e
demorado. A técnica permitiu que a Disney economizasse tempo e dinheiro, e
também de controlar o tamanho dos personagens e dos objetos fotocopiados.
O
processo xerográfico foi adaptado por Ub Iwerks, o desenhista que criou o
personagem Mickey Mouse. A técnica foi usada em praticamente todos os
filmes de animação da Disney até A Pequena Sereia(1989), quando os
computadores substituíram a necessidade de usar células.”
(Fonte:
Texto retirado do Google).
Depois
que Goscinny faleceu, Uderzo deu continuidade as criações de novas histórias do
gaulês, em 1979 ele publicou Astérix entre os Belgas, que marcou o
trabalho póstumo de Goscinny.
Em
1980, ele publica sua primeira história solo de Astérix que foi O
Grande Fosso assumindo a dupla função de roteirista e ilustrador.
Uderzo
deu continuidade as publicações de Astérix até ele declarar sua aposentadoria em 2009, na
época com 82 anos e já sentindo o peso do seu estado de saúde fragilizado. A última história que
Uderzo havia publicado antes de declarar sua aposentadoria foi Astérix e o
dia que o céu caiu pulicada em 2005.
Após declarar sua aposentadora Uderzo sofreu
de uma artrite reumatoide na mão direita que o fez passar por uma cirurgia
realizada em 2011.
Como
se pode observar a sua saúde já se encontrava fragilizada nos últimos tempos e com
o avançar da idade foi ficando cada vez mais comprometida até ele vir a falecer
em 24 de Março de 2020 com 92 anos, também como
consequência de um ataque cardíaco.
Um
fato que chama aqui a atenção é que sua morte ocorreu bem no momento que havia
sido decretado quarentena mundial por conta da pandemia do coronavírus, o que
fez muita gente remeter por mais
estranho que se possa parecer a sua criação, isso porque existe uma publicação
de Astérix intitulada de Astérix e a Transitálica publicada em 2017 mostrando
Astérix e seu parceiro Obélix
participando de uma corrida onde nessa disputa há um misterioso adversário mascarado com o
nome de Coronavírus, e que por conta da coincidência do nome se criou um clima
de provável profecia.
O
que não passa de uma simples coincidência, mesmo porque nessa HQ em questão são
de autorias de Jean-Yves Ferri como roteirista e
Didier Conrad como ilustrador que
passaram a assumir a autoria das HQs de Astérix a partir de 2013, onde a
primeira história criada por eles foi Astérix e os Pictos e Astérix e
a Transitálica marca a terceira produção criada por essa dupla.
A
vaga lembrança que eu carrego da primeira vez que eu tive contato uma história de Astérix foi quando li uns trechos de uma tira de Astérix contida
no meu livro didático escolar na minha fase escolar de Ensino Fundamental, na antiga
6ª Série que hoje equivale ao 7ª Ano,
durante a disciplina de história abordando o Império Romano. Onde
exemplificava bem o assunto de uma forma
bastante lúdica.
Das
que eu pude ler, principalmente que comprei de um amigo uns dez volumes publicado pela Record, posso
descrever que as histórias são fascinantes e que funcionam bem redondinhas,
fechadinhas, sem você tentar compreender as sequencias de continuidade da
coesão narrativa deles.
Independente
de qual você queira começar, cada uma funciona bem sem precisar compreender uma
cronologia dos fatos que antecederam cada história. Elas funcionam bem
isoladamente.
Seja
como for, cada uma é válida.
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