Na
plena época de pandemia, que tivemos os cinemas fechados. Pipocaram notícias
sobre a divulgação da nova animação da Disney ambientada no Brasil. E muitos
canais no Youtube que falam de animação reagiram num clima de grande exagero de
glorificação.
O
que eles talvez não saibam é que nós mesmos aqui no Brasil, já produzimos
nossos próprios filmes de animação, mesmo que os recursos de produção sejam escassos e não aja tanto apelo
comercial como ocorre com uma grande marca como é a Disney. Se bem que a mesma
já havia explorado antes nas animações com os curtas estrelado pelo papagaio Zé
Carioca nos anos 1940.
Uma
dessas animações brasileiras em questão que assistir neste período de
quarentena da pandemia do coronavírus foi A Princesa e o Robô(Brasil,
1984). Produzida pelos estúdios da MSP, estrelado pela Turma da Mônica, criados
pelo Mauricio de Sousa. Que assisti passando pela página da Turma da Mônica que
sigo no Facebook.
Eu
lembro muito vagamente da única vez que
assisti a esta animação estrelada pelos clássicos personagens dos gibis
brasileiros, que compõe a chamada Era de Ouro das Animações da Turma da Mônica.
Eu
era bem criança e vi numa fita VHS no videocassete do antigo aparelho de tv
de tubo polegadas de tela quadrada que meu pai havia locado
para mim numa videolocadora. Nessa época, inclusive eu até tinha uma VHS da
Turma da Mônica, intitulada de A Rádio do Chico Bento(Brasil,
1989), que eu costumava ver bastante uma infinidade de vezes.
Que
foi uma versão em live action da Turma da Mônica estrelada não por crianças,
mas sim adultos fantasiados como os personagens crianças usando umas máscaras
como era nos parques, algo parecido como é na Disney com o Mickey Mouse e toda
sua turma.
E
quando revisitei essa obra anos depois, quando ficou disponível no Youtube,
confesso que senti um forte estranhamento, ainda com relação a versão cinematográfica
mais recente que foi Turma da Mônica-Laços(Brasil,2019). Onde
nessa obra foram representadas por crianças de verdade, ao contrário dessa
versão que eu vi no VHS da Rádio do Chico Bento, que em alguns
momentos dá uma certa vergonha alheia de vê adultos na pele de crianças que
fica parecendo algo meio Chaves até.
Bom,
mas voltando a comentar sobre A Princesa e o Robô, ao revisita-la
pude constatar como a obra se mostrou bastante impecável e de ótima qualidade
passados três décadas depois que foi
lançado.
Mesmo
que os recursos de produção na época,
década de 1980 para uma animação no Brasil inclusive, fossem bastante precários, principalmente se
a gente for comparar a gigante hollywoodiana na indústria da animação como a
Disney, por exemplo. Que aliás, durante essa época vivia sua pior fase chamada
de Era das Trevas.
E
naquela época a produção do cinema
nacional, ainda viveu aquela fase vista como vergonhosa da pornochanchada ou
quando não era isso, eram as comédias da trupe dos Trapalhões e
pouco depois entraria numa fase bastante
complicada durante o Governo Collor no começo dos anos 1990, que fechou
a Embrafilmes que deu fim as nossas produções,
e só retomamos ainda bastante timidamente em 1995 já durante o primeiro
mandato de Fernando Henrique Cardoso até chegar a outros bons patamares nas
décadas seguintes do século 21.
A
Princesa e o Robô mostrou ser um bom exemplo de filme que ousou
em apresentar um tipo de abordagem que
não é muito familiar a nós brasileiros e não tão explorados em versões live
actions e nessa versão em animação tornou isto bastante possível que é por meio
do escapismo da Space Opera, com inspiração da onda de Star Wars.
Normalmente estamos acostumados a investir nas
engessadas comédias popularescas estreladas por grandes estrelas da TV, das
novelas principalmente, representando aqueles típicos retratos do cotidiano
brasileiro representado sempre nas figura de um malandro, espertão seja da elite ou dos suburbanos. Que representam aquela típica fórmula
certeira do sucesso que é onde temos mais recursos.
E
no caso de A Princesa e o Robô, por ser uma história que contou
com a participação de personagens tipicamente cartunescos, se mostrou ser
possível esta abordagem mais alternativa
de um estilo de ficção cientifica como a
space opera, inspirado na onda da primeira franquia de Star Wars(1977-1983).
Um
dos fatores prováveis para nós brasileiros não nos familiarizarmos com este gênero
de ficção cientifica pode ser explicado
pelo próprio fato de sermos um país subdesenvolvido que tem um grande número de
analfabetos e como o ensino aqui é pouco valorizado, tanto que temos uns
canalhas, nojentos, vis, repugnantes de nossos atuais governantes ignorantes negacionistas que
infestam o Planalto Federal em Brasília cometem o genocídio com nossa população
com esta desgraça que é a COVID-19.
De
certa forma, a HQ da Turma da Mônica simboliza bem uma característica bem
tipicamente da criança brasileira que talvez muita gente não perceba, que é o
fato delas está no fato deles representarem um grupo de crianças que vivem no
mesmo bairro, ou seja, no fictício Bairro do Limoeiro onde brincam juntas ao ar livre na rua.
Coisa
que nos tempos atuais está cada dia mais
raro de acontecer, em virtude, principalmente da insegurança causada pela
criminalidade.
O
Bairro do Limoeiro nas histórias da HQ simboliza um retrato ainda que um tanto
escapista de um bairro tipicamente brasileiro, onde as crianças protagonistas
que residem lá formada pela Mônica, o Cebolinha, o Cascão e a Magali, mesmo com
suas diferenças de personalidades.
A Mônica apesar de ser a mais graciosa, também
tem uma personalidade temperamental e explosiva, principalmente quando é
provocada pelo Cebolinha. Já a Magali, a
comilona que carrega essa característica por sofrer de transtorno alimentar
O
Cebolinha é o que adora provocar a Mônica com seus planos infalíveis de tira-la
da liderança da rua, que no caso ele fala lua por ser dislálico, já o Cascão
que é cumplice do Cebolinha em seus planos infalíveis tem horror a tomar banho,
vive sujo já que é uma característica dele sofrer de hidrofobia.
Do
mesmo modo, também retratam bem isso nos lares familiares de cada uma, onde
elas ali vivem uma vida que não é tão glamorosa que pudesse caracterizar o
Limoeiro como um bairro nobre da elite brasileira, do mesmo jeito que não é
caracterizado como um bairro popular de comunidade periférica, suburbana, a
ponto deles simbolizarem um retrato da extrema pobreza brasileira.
Mas, sim, é um bairro que simboliza bastante o
retrato, o espelho de uma classe média mais próxima a minha ou
mesmo da sua, que não ostenta um padrão de vida glamuroso, elegante e luxuoso, ou do contrário, nem muito humilde, mas
desfrutam de um padrão de vida bastante confortável.
Cada
um desses personagens, Mauricio de Sousa criou de forma bastante intimista como
um retrato de pessoas reais do seu convívio.
Na
obra do filme em si, o grande protagonismo mesmo
não é nem tanto da Turminha do Limoeiro,
mas sim, do Robozinho em sua jornada para conquistar o coração da Princesa Mimi
do Planeta Cenorando, lugar em forma de
cenoura, que está ameaçada pelo Lorde Coelhão.
O Robozinho ao vir para a Terra, cai no Bairro
do Limoeiro e a Turminha formada pela Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e o
Anjinho vai carregar o grande desafio de ajudá-lo em sua jornada a voltar para
o seu planeta natal e enfrentar o Lorde
Coelhão e conseguir ficar com a Princesa Mimi. Numa pegada de conto de fadas
Disneys.
Ao
revisitar essa animação pude constatar como a qualidade da produção se mostrou
incrível e como envelheceu bem para os padrões limitados de produção de
animação aqui no Brasil, utilizando-se dos recursos primários não tão
sofisticados assim, mas que de todo jeito mostraram um trabalho incrível nos
traços, nas movimentações e nas paletas de cores idênticas aos
personagens cartunescos das Hqs clássicas.
Destacar
também a presença do casting de elenco que contou com a presença de boa parte
dos atores que passaram a darem as vozes padrões aos personagens nas animações
a partir desse filme que foi produzido no antigo estúdio de dublagem paulista
da Álamo que fechou suas portas em 2011. Apesar de se notar umas pequenas
falhas e cujos timbres de vozes em falsetes para os personagens ainda não
estavam acertados como nos acostumamos a ouvir.
Dentre
os principais estão a Marli Bortoleto como a Mônica, Angélica Santos como o
Cebolinha, Paulo Camargo como o Cascão e Elza Gonçalves como a Magali. Também
merecem menção do elenco de vozes originais: os nomes de Denise Simonetto(Primeira Voz da
Anri do Jaspion), fazendo a voz do Anjinho nesse filme, Orlando Viggiani(Voz do
Ryu do desenho Street Fighter dos anos
1990) fazendo a voz do Franjinha, André Luís foi a voz do Robozinho e Flora
Maria Fernandes foi a voz da Princesa Mimi e os falecidos Marthus
Mathias(1927-1995), eterna voz do Fred Flintstone, que no filme fez a voz do
Rei de Cenorando, pai da Princesa Mimi e Araken Saldanha(1928-2020), voz do
Mestre Ancião de Cavaleiros do Zodíaco dublando a voz do grande vilão da
história o Lorde Coelhão.
Bom,
para quem não teve a oportunidade de ver o filme A Princesa e o Robô,
esta animação brasileira de space opera
da Turma da Mônica, é só procurar pelo Youtube que ele se encontra disponível
completo.
Agosto de 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário