quinta-feira, 13 de novembro de 2025

A PÉSSIMA CINEBIOGRAFIA DO DONO DO BAÚ

 

Aproveitando o clima  que vamos ter uma nova cinebiografia de Silvio Santos(1930-2024) que é Silvio Santo Vem Ai(Brasil, 2025) com Leandro Hassum no papel principal.




Compartilho aqui a minha impressão sobre a cinebiografia dele lançada no ano passado estrelada por Rodrigo Faro que só tive a coragem de assistir no começo de 2025 na minha SmarTV.

Precisei constatar com meus próprios olhos, depois de assistir o quão ruim de verdade sem parecer que estou sendo uma Maria vai com as outras, como a cinebiografia Silvio (Brasil, 2024) é de um nível de mal gosto absurdo.





 Uma das coisas que posso resumir sobre a má qualidade dessa obra está no seu roteiro Frankestein que é centralizado no clima tenso de quando o apresentador foi mantido refém   pelo sequestrador de sua filha Patrícia Abravanel  na sua mansão  em 2001*. Onde vão ocorrendo flashback de sua vida que é editado de uma forma muito apressada.

Isto fora as atuações péssimas que são prejudicadas pelo texto e pela direção ruim.

A produção desse filme enfrentou uma longa jornada para ser concretizado, tudo isso começa quando  em 2018, as produtoras  desse filme: Moonshot Pictures e FJ Productions haviam  divulgado a notícia de que iriam fazer a cinebiografia do apresentador.  





Eles já haviam anunciado o nome de Rodrigo Faro para representar o papel do comunicador, que chegaram a receber a autorização dele em vida.

As gravações do filme estavam agendadas para começar em 2019 e estava programado para ser lançado em 2020.





Porém, em virtude do fatídico acontecimento da crise viral que o mundo enfrentou com a Pandemia de Covid-19, o filme precisou passar por uma série de adiamentos e de atrasos na produção, que envolveu inclusive a questão orçamentária.

Inicialmente o título se chamaria Silvio Santos-O Sequestro, para se focar justamente no episódio.

Foi nesse  interim de incertezas quanto a produção desse filme, que foi passando por mudanças na direção, e na equipe de roteiristas que foi lançada em 2022, a telebiografia de Silvio Santos O Rei da TV(Brasil, 2022-2023) para o serviço de streaming do Star Plus. Uma produção da Gullane Entretenimento que não por acaso, havia anunciado a produção  também em 2018, mesma data que a produtora do filme Silvio também fez o anuncio sobre a produção.





Depois de passados uns três anos sem muitas novidades sobre o longa, eis que para grande surpresa de todo mundo,   em abril de 2024 o trailer é finalmente apresentado pela distribuidora Imagem Filmes  e já gera uma repercussão bem negativa, principalmente pelo desempenho do Rodrigo Faro no papel do Silvio Santos com uma caracterização nada convincente e com a data marcada para o lançamento nos cinemas em 12 de setembro.

Eis que faltando poucos dias para o lançamento nos cinemas, ocorre   a notícia do falecimento do Silvio Santos em 17 de agosto e a produção sofreu  um outro adiamento, principalmente com as sessões testes que já estavam agendadas, mas que em respeito a memória do apresentador tiveram que ser adiadas, mas a data mesmo de lançamento  do filme permaneceu.

Todos esses fatores explicam bem como o filme estava mesmo fadado ao fracasso.

Num comparativo com a série biográfica do Star Plus que apresentou duas temporadas com oito episódios cada.

Posso descrever que a série O Rei da TV leva uma enorme vantagem ao  saber  bem como explorar e extrair diferentes camadas multidimensionais  a respeito do Silvio Santos, além do idolatrado apresentador que a gente via na televisão.

Algo que na cinebiografia Silvio isso peca muito. Por exemplo: a forma como na primeira temporada eles narram sua trajetória de uma maneira não linear tendo como ponto de partida  sendo ambientado na data de 1988 quando ele já o celebre dono do SBT enfrentou o problema do pólipo na garganta que o fez enfrentar uma delicada cirurgia, onde são mostrados flashbacks de sua humilde adolescência no bairro carioca se aventurando de camelô, corta e volta para a situação do Silvio enfrentando o problema na garganta, depois corta para apresentar a jornada do jovem galã na televisão e sua ascensão tanto como apresentador quanto como empresário entre as décadas de 1960 e 1970 com suas passagens pela TV Paulista e Globo.

E na segunda temporada, mostra sua trajetória sendo  centralizada com ele encarando o escândalo do seu Banco PanAmericano ocorrido em 2010 e mostrando sua jornada encarando a candidatura para a Presidência da República em 1989 e encarando uma forte concorrência com a Globo aos domingos e com o episódio do sequestro.

A maneira como O Rei da TV trabalhou bem o roteiro amarrado de uma forma coesa e explorou sua narrativa sem muita pressa para que o telespectador possa absorver as informações sobre muita coisa que mesmo sendo verídico e de conhecimento público sobre a vida de Silvio como comunicador, ainda assim foram impressos uns toques de licenças poéticas para poder render uma história mais palatável.

Fora o apuro técnico quanto ao conceito da estética retrô kitstch que reproduziu em paletas de cores quentes vibrantes e bem aberrantes  toda atmosfera brega nos figurinos e nas reproduções dos famosos programas de auditório.

Coisa que no caso do filme, não posso dizer o mesmo. A tremenda pressa que ele se mostra, deixa evidente um pouco a vergonha de assumir sua breguiçe.

O nível do texto e da direção é de qualidade tão questionável, que desperdiça muito boas atuações e fora que nada no filme acaba fazendo muito sentido.

Ele vai se perdendo ao mostrar os flashbacks da vida do apresentador ao mostrar seu encontro com Chico Anysio(1931-2012) na fila do teste para a Rádio que é mostrado de forma muito jogada dentre outros momentos muito mal trabalhados no filme.

Quando se centraliza demais na tensão do sequestro, apela demais para diálogos forçados a ponto de forçar muito a barra, principalmente na sua interação com o sequestrador.  

Dentre outras questões que o filme desperdiça muito em explorar sobre o icônico e mítico apresentador que sempre prezou muito em torno dele uma figura de homem sempre sorridente diante das câmeras, mas que fora do ar como empresário procurava agir de maneira séria, metódica, estratégica  e com muita frieza.

Ele como empresário já dividiu muito  as opiniões, principalmente como ele costumava se dialogar e se articular  com os políticos, mesmo nunca tendo exercido nenhum cargo político.  

Sua postura sempre foi apartidária a ponto dele chegar a deixar claro e  explicitamente exposto o seu puxa-saquismo a quem tivesse no comando da Presidência da República fosse da direita ou da esquerda, tanto que chegou a exibir por uns bons anos na grade de programação  do SBT o programa A Semana do Presidente com locução de Luiz Lombardi Netto(1940-2009), que por um bom tempo foi o seu parceiro oculto.

Se a gente lembrar que a sua concessão para criar o SBT veio das mãos dos militares, realmente dá para compreender o porquê dele dividir as opiniões. Essa sua habilidade era comparável a de uma raposa, no sentido de ser astuto, esperto e inteligente. Já que o animal como símbolo de sagacidade e habilidade de se adaptar e superar desafios de forma estratégica. Ou seja, o cara era uma raposa.

O filme termina com Silvio  finalmente sendo libertado graças a intervenção do então Governador de São Paulo Geraldo Alckimin, o atual Vice-Presidente de Lula e com a prisão do bandido Fernando Dutra Pinto(1979-2002) representado no filme por Johnnas Oliva, que não por acaso já o havia representado na segunda temporada de O Rei da TV.

Seis  meses após ser preso pelo crime, Fernando Dutra Pinto morreu no dia 2 de Janeiro de 2002,  vítima de uma parada cardíaca, enquanto estava preso no CDP(Centro de Detenção Provisória) do Belém. Um laudo conclusivo do Instituto Médico Legal apontou que Fernando morreu vítima de infecção generalizada provocada por um ferimento infeccionado e não devidamente tratado nas costas. Um relato de um preso afirma que Fernando teria sido torturado por carcereiros.

O filme por ser focado nele mantendo Silvio como refém em sua mansão, menciona rapidamente a libertação de Patrícia Abravanel onde ele contou com a colaboração do seu irmão Esdra Dutra Pinto, Marcelo Batista Santos, Tatiane Pereira e Luciana Santos Sousa que se apresentava como sua namorada apelidada de Jennifer. Que não são mostrados no filme.

Esses receberam uma condenação no dia 11 de Março de 2002, Esdra de 19 anos de pena de  prisão e já os outros três foram de 15 anos de cadeia.

Em Agosto de 2024, foi preso em flagrante pela Policia Federal por trafico de drogas, um dos envolvidos no sequestro Marcos Bezerra Santos, ao contrário desses, ele não foi logo preso. Passou um bom tempo foragido até que foi localizado em  Abril de 2003, foi preso e cumpriu pena.

Espero que com essa nova cinebiografia faça um trabalho mais respeitoso e apresenta uma história melhor trabalhada.

*Dez anos antes de vivenciar esse susto, Silvio Santos também passou por outro susto envolvendo um sequestro na família. Em Maio de 1992, sua irmã Sara Abravanel Soares(Sarita), que era a diretora regional do SBT no Rio de Janeiro, sofreu um sequestro onde foi mantida por 15 horas em um porta-malas e resgatada pela polícia sem que o resgate de US$ 500 mil fosse pago. Dois dos sequestradores foram condenados e já cumpriram suas penas, enquanto um terceiro ainda está na prisão. Sara é a caçula dos seis filhos do casal de judeus sefarditas Alberto Abravanel(1897-1976) nascido na Grécia e Rebeca Caro Abravanel(1907-1989) nascida na Turquia. Que vieram para o Brasil em 1924. Silvio nascido Senor era o primogênito. Quando Silvio morreu, ele além  de já não contar  mais com  os pais vivos, também já não contava mais vivo com dois dos seus irmão. Leon que também fez carreira como apresentador faleceu em 1982 aos 47 anos, em decorrência de um câncer. E Beatriz faleceu em 2006, aos 74 anos, vítima de complicações de um câncer. Sara junto a Henrique e Perla figuram como os únicos irmãos vivos do apresentador Silvio Santos até o momento em que escrevo esse texto.



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