Aproveitando
o clima que vamos ter uma nova
cinebiografia de Silvio Santos(1930-2024) que é Silvio Santo Vem Ai(Brasil,
2025) com Leandro Hassum no papel principal.
Compartilho
aqui a minha impressão sobre a cinebiografia dele lançada no ano passado
estrelada por Rodrigo Faro que só tive a coragem de assistir no começo de 2025
na minha SmarTV.
Precisei
constatar com meus próprios olhos, depois de assistir o quão ruim de verdade
sem parecer que estou sendo uma Maria vai com as outras, como a cinebiografia Silvio
(Brasil, 2024) é de um nível de mal gosto absurdo.
Uma das coisas que posso resumir sobre a má
qualidade dessa obra está no seu roteiro Frankestein que é centralizado no
clima tenso de quando o apresentador foi mantido refém pelo
sequestrador de sua filha Patrícia Abravanel na sua mansão
em 2001*. Onde vão ocorrendo flashback de sua vida que é editado de uma
forma muito apressada.
Isto
fora as atuações péssimas que são prejudicadas pelo texto e pela direção ruim.
A
produção desse filme enfrentou uma longa jornada para ser concretizado, tudo
isso começa quando em 2018, as produtoras
desse filme: Moonshot Pictures e FJ
Productions haviam divulgado a notícia
de que iriam fazer a cinebiografia do apresentador.
Eles
já haviam anunciado o nome de Rodrigo Faro para representar o papel do
comunicador, que chegaram a receber a autorização dele em vida.
As
gravações do filme estavam agendadas para começar em 2019 e estava programado
para ser lançado em 2020.
Porém,
em virtude do fatídico acontecimento da crise viral que o mundo enfrentou com a
Pandemia de Covid-19, o filme precisou passar por uma série de adiamentos e de
atrasos na produção, que envolveu inclusive a questão orçamentária.
Inicialmente
o título se chamaria Silvio Santos-O Sequestro, para se focar justamente
no episódio.
Foi
nesse interim de incertezas quanto a
produção desse filme, que foi passando por mudanças na direção, e na equipe de
roteiristas que foi lançada em 2022, a telebiografia de Silvio Santos O Rei
da TV(Brasil, 2022-2023) para o serviço de streaming do Star Plus. Uma
produção da Gullane Entretenimento que não por acaso, havia anunciado a
produção também em 2018, mesma data que
a produtora do filme Silvio também fez o anuncio sobre a produção.
Depois
de passados uns três anos sem muitas novidades sobre o longa, eis que para
grande surpresa de todo mundo, em abril
de 2024 o trailer é finalmente apresentado pela distribuidora Imagem
Filmes e já gera uma repercussão bem
negativa, principalmente pelo desempenho do Rodrigo Faro no papel do Silvio
Santos com uma caracterização nada convincente e com a data marcada para o
lançamento nos cinemas em 12 de setembro.
Eis
que faltando poucos dias para o lançamento nos cinemas, ocorre a notícia do falecimento do Silvio Santos em
17 de agosto e a produção sofreu um
outro adiamento, principalmente com as sessões testes que já estavam agendadas,
mas que em respeito a memória do apresentador tiveram que ser adiadas, mas a
data mesmo de lançamento do filme
permaneceu.
Todos
esses fatores explicam bem como o filme estava mesmo fadado ao fracasso.
Num
comparativo com a série biográfica do Star Plus que apresentou duas temporadas
com oito episódios cada.
Posso
descrever que a série O Rei da TV leva uma enorme vantagem ao saber bem como explorar e extrair diferentes camadas
multidimensionais a respeito do Silvio
Santos, além do idolatrado apresentador que a gente via na televisão.
Algo
que na cinebiografia Silvio isso peca muito. Por exemplo: a forma como
na primeira temporada eles narram sua trajetória de uma maneira não linear
tendo como ponto de partida sendo
ambientado na data de 1988 quando ele já o celebre dono do SBT enfrentou o
problema do pólipo na garganta que o fez enfrentar uma delicada cirurgia, onde
são mostrados flashbacks de sua humilde adolescência no bairro carioca se
aventurando de camelô, corta e volta para a situação do Silvio enfrentando o
problema na garganta, depois corta para apresentar a jornada do jovem galã na
televisão e sua ascensão tanto como apresentador quanto como empresário entre
as décadas de 1960 e 1970 com suas passagens pela TV Paulista e Globo.
E
na segunda temporada, mostra sua trajetória sendo centralizada com ele encarando o escândalo do
seu Banco PanAmericano ocorrido em 2010 e mostrando sua jornada encarando a
candidatura para a Presidência da República em 1989 e encarando uma forte
concorrência com a Globo aos domingos e com o episódio do sequestro.
A
maneira como O Rei da TV trabalhou bem o roteiro amarrado de uma forma
coesa e explorou sua narrativa sem muita pressa para que o telespectador possa
absorver as informações sobre muita coisa que mesmo sendo verídico e de
conhecimento público sobre a vida de Silvio como comunicador, ainda assim foram
impressos uns toques de licenças poéticas para poder render uma história mais
palatável.
Fora
o apuro técnico quanto ao conceito da estética retrô kitstch que reproduziu em
paletas de cores quentes vibrantes e bem aberrantes toda atmosfera brega nos figurinos e nas
reproduções dos famosos programas de auditório.
Coisa
que no caso do filme, não posso dizer o mesmo. A tremenda pressa que ele se
mostra, deixa evidente um pouco a vergonha de assumir sua breguiçe.
O
nível do texto e da direção é de qualidade tão questionável, que desperdiça
muito boas atuações e fora que nada no filme acaba fazendo muito sentido.
Ele
vai se perdendo ao mostrar os flashbacks da vida do apresentador ao mostrar seu
encontro com Chico Anysio(1931-2012) na fila do teste para a Rádio que é
mostrado de forma muito jogada dentre outros momentos muito mal trabalhados no
filme.
Quando
se centraliza demais na tensão do sequestro, apela demais para diálogos
forçados a ponto de forçar muito a barra, principalmente na sua interação com o
sequestrador.
Dentre
outras questões que o filme desperdiça muito em explorar sobre o icônico e
mítico apresentador que sempre prezou muito em torno dele uma figura de homem
sempre sorridente diante das câmeras, mas que fora do ar como empresário
procurava agir de maneira séria, metódica, estratégica e com muita frieza.
Ele
como empresário já dividiu muito as
opiniões, principalmente como ele costumava se dialogar e se articular com os políticos, mesmo nunca tendo exercido
nenhum cargo político.
Sua
postura sempre foi apartidária a ponto dele chegar a deixar claro e explicitamente exposto o seu puxa-saquismo a
quem tivesse no comando da Presidência da República fosse da direita ou da
esquerda, tanto que chegou a exibir por uns bons anos na grade de programação do SBT o programa A Semana do Presidente
com locução de Luiz Lombardi Netto(1940-2009), que por um bom tempo foi o seu
parceiro oculto.
Se
a gente lembrar que a sua concessão para criar o SBT veio das mãos dos
militares, realmente dá para compreender o porquê dele dividir as opiniões. Essa
sua habilidade era comparável a de uma raposa, no sentido de ser astuto,
esperto e inteligente. Já que o animal como símbolo de sagacidade e habilidade
de se adaptar e superar desafios de forma estratégica. Ou seja, o cara era uma
raposa.
O
filme termina com Silvio finalmente
sendo libertado graças a intervenção do então Governador de São Paulo Geraldo
Alckimin, o atual Vice-Presidente de Lula e com a prisão do bandido Fernando
Dutra Pinto(1979-2002) representado no filme por Johnnas Oliva, que não por
acaso já o havia representado na segunda temporada de O Rei da TV.
Seis meses após ser preso pelo crime, Fernando
Dutra Pinto morreu no dia 2 de Janeiro de 2002, vítima de uma parada
cardíaca, enquanto estava preso no CDP(Centro de Detenção Provisória) do
Belém. Um laudo conclusivo do Instituto Médico Legal apontou que Fernando
morreu vítima de infecção generalizada provocada por um ferimento infeccionado
e não devidamente tratado nas costas. Um relato de um preso afirma que
Fernando teria sido torturado por carcereiros.
O
filme por ser focado nele mantendo Silvio como refém em sua mansão, menciona
rapidamente a libertação de Patrícia Abravanel onde ele contou com a
colaboração do seu irmão Esdra Dutra Pinto, Marcelo Batista Santos, Tatiane
Pereira e Luciana Santos Sousa que se apresentava como sua namorada apelidada
de Jennifer. Que não são mostrados no filme.
Esses
receberam uma condenação no dia 11 de Março de 2002, Esdra de 19 anos de pena
de prisão e já os outros três foram de
15 anos de cadeia.
Em
Agosto de 2024, foi preso em flagrante pela Policia Federal por trafico de
drogas, um dos envolvidos no sequestro Marcos Bezerra Santos, ao contrário
desses, ele não foi logo preso. Passou um bom tempo foragido até que foi
localizado em Abril de 2003, foi preso e
cumpriu pena.
Espero
que com essa nova cinebiografia faça um trabalho mais respeitoso e apresenta
uma história melhor trabalhada.





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