Na noite de Quarta-Feira, 10 de Setembro de 2014, fui
conferir um interessante filme blockbusther no Shopping Midway Mall aqui de
Natal/RN, um pouco fora dos padrões de todos que até agora eu conferi ao longo
desses semestres de 2014. Enquanto muitos críticos reclamam de falta de
criatividade e de originalidade dos roteiristas de Hollywood por digamos assim estes
optarem pelo comodismo de investir em produções do passado e criar uma nova roupagem
para o público de agora, como é o caso dos heróis dos quadrinhos ou também quem
sabe do exemplo de Robocop, Planeta dos Macacos e Godzilla que são reboots de
filmes clássicos de muitas décadas de distancia, ou também da franquia Transformer
que é nada mais, nada menos do que uma versão live action de seres robóticos de
outro planeta que foram inspiradas numa linhagem de brinquedos da Hasbro que
foi sucesso entre a criançada dos anos 1980 e inspirou uma série animada e 20
anos depois ressurgiu como um filme autoral do Michael Bay, dos catálogos
inspirados em best-seller literários ainda mais depois dos fenômenos das
franquias Harry Potter e O Senhor dos Anéis no começo da década de 2000 e até
mesmo do próprio exemplo da franquia de Os Mercenários, que utiliza de reunir os
brutamontes astros dinossauros dos filmes de ação para fazer um típico filme clichê feito para macho com direito a muita porrada, pancadaria, tiroteio e explosão.
Nesse quesito de falta de originalidade e criatividade não é
o ponto forte que eu poderia descrever sobre a minha impressão de “Lucy”.
Desse filme admito que basicamente eu não esperava muita
coisa, não tinha muita expectativa de achar que esse seria o cinemão para se assistir comendo
pipoca com refrigerante. Mesmo porque o
filme pelos trailers que fui conferindo anteriormente senti que ele traria uma
característica de ser o tipo de filme tipicamente complexo com uma abordagem bem
padronizada para um filme cabeça. Minha
principal motivação para assistir ao filme era por causa da Scarlett Johansson
que protagoniza a personagem titular da obra, se ela já me surpreendia fazendo
excelentes coreografias de lutas como a Viúva Negra em quase todos os catálogos
da Marvel Studios, nesse então ela se superou e me surpreendeu bastante. Aproveitando
esse gancho da Viúva Negra, foi meio que justamente por causa da sua personagem
do Universo Marvel que também me motivou a ir ver o filme, já que quando
acompanhei as noticias de divulgação do filme em diferentes sites,
coincidentemente estava também surgindo noticias de outros sites ligados ao universo
do entretenimento cinematográfico ou mesmo de quadrinhos sobre os rumores de
fazer um filme solo dela ao estilo dos spin-offs formado por outros heróis que
geraram o primeiro filme dos Vingadores como Homem de Ferro, Hulk, Thor e
Capitão América. Uma ideia que não seria tão ruim visto que a personagem já
está bem estabelecida dentro das duas fases do Universo Marvel Cinematográfico,
mas mesmo assim há da parte de alguns críticos seja de quadrinhos ou mesmo de
cinema que olham com certa razão de verem esta ideia um tanto quanto arriscada,
mesmo porque se formos parar para pensar e analisar que o passado dela a
condena, ela surgiu primeiro como vilã, sendo inimiga do Homem de Ferro na
primeira revista em que apareceu em uma publicação de 1964 e era uma alegoria
aos tempos de Guerra Fria, e ela
representava o arquétipo de uma grande nação inimiga dos EUA, a União Soviética e simbolizava o pavor, o
pânico mundial da prática da espionagem da temida agencia russa KGB. E
como a Viúva Negra faz parte da galeria dos vilões vira-casaca da cultura pop
nerd, isso por si só já gera o grande risco a respeito da tentativa de fazer um
spin-off da heroína nos cinemas poder virar um tremendo fiasco nas bilheterias
assim como já aconteceu a exemplo de
outras heroínas de quadrinhos que foram para as telonas como a
SuperGirl(1984) , a Mulher-Gato(2004) e a Electra(2005), o fator de risco aumenta ainda mais se provavelmente a Scarlett Johansson topar o repetir o papel
neste spin-off onde com certeza a Marvel teria de renegociar o seu milionário
cachê . Ainda mais que na atualidade a atriz figura entre as mais valorizadas
no mercado hollywoodiano. Enfim, mas isso é assunto para eu abordar em
meu outro blog, nesse momento a minha análise não é sobre ela como a Viúva
Negra, mas sim como a personagem titular de “Lucy”.
Posso começar descrevendo que é basicamente a atriz que segura
o filme inteiro, numa trama bem dirigida e roteirizada pelo francês Luc Besson,
inclusive quem já conferiu outros filmes de ação do diretor com protagonistas
femininas como exemplos que posso aqui citar são Nikita(1990) e O Quinto
Elemento(1997), vai com certeza observar que neste em questão, a heroína titular também carrega muita característica da autoria do diretor.
Procurando ao máximo nesta minha descrição não entregar
muito spoiler, como já adiantei acima o filme usa de uma interessante abordagem
cabeça tornando-se didático ao extremo no que se refere principalmente a abordagem
sobre a questão da capacidade cerebral humana. E por
essa proposta que a narrativa do filme vai sendo conduzida. E por este excesso de didatismo posso até
ousar em descrever que o filme não tem muita daquela previsibilidade.
A trama começa com a personagem titular agindo de forma bem
bobinha e ingênua, ela é apresentada vivendo em Taiwan conversando com o
namorado dela na frente de um prédio comercial onde ele vive insistindo para
ela levar uma maleta para o dono do prédio Jang(Chon Min-Sik) e a Lucy insisti em não querer colaborar porque argumenta estar
muito atarefada para fazer os seus trabalhos de faculdade, o que sugere que ela
devia estar residindo lá como uma intercambista. Este seu namorado que aparece
dialogando com ela bem no inicio do filme mostra já de cara para o espectador não
ser um ser sujeito boa praça, porque há alguns momentos em que a Lucy chega a
questionar o porquê dele não levar pessoalmente a tal maleta para o dono do
prédio, a ponto dele ficar enrolando ela inventando mil desculpas esfarpadas
para não entregar pessoalmente até chegar ao ponto do cara resolver tomar a
atitude extrema de fazê-la entregar esta maleta para o dono do local forçada, algemando
o objeto na mão dela. E a própria Lucy
sem muita opção acaba tendo que fazer este favor sem imaginar tão ingenuamente
do perigo que a estar esperando, e isto termina ficando muito claro para o
espectador. É a partir do momento em que quando a Lucy entra no prédio e pede
para o recepcionista chamar o dono do prédio para fazer a entrega daquilo desta
maleta a mando de seu então namorado. Que tem inicio todo clima tenso de suspense
do filme, porque nesta hora ela ao olhar na vidraça da portaria seu amado então
ser morto a tiros na sua frente é que vai se dando conta da gravidade do perigo
da situação onde se envolveu. E será no
momento que os capangas a levam para a sala dele onde lá ela termina sendo
espancada ao extremo e quando estes a fazem se submeter a tomar uma droga azul
para ela servir como mula, pessoa que carregam os quilos de pó da droga
injetada no corpo para fazer o translado da logística da droga para não serem
notados pela fiscalização nos aeroportos, junto a outros caras é então vai
tomando outro rumo inesperado na vida dela principalmente no momento em que
quando é mandada para uma sala isolada cria nela um grande efeito de alucinação
corporal e cerebral que faz ela logo após perceber que tinha super capacidades de
poderes cerebrais.
É neste momento em que a droga lhe confere super capacidades
de poderes além do limite, chegando ao ponto da construção da personalidade vai
se desenvolvendo e sendo modificada, ela deixar de ser a mocinha frágil,
bobinha e ingênua e vai se transformando numa máquina mortífera que de minuto a
minuto a medida que seu cérebro vai chegando a porcentagens maiores de poder,
ela vai adquirindo capacidades que segundos atrás nem fazia ideia que tinha, que vai desde da
capacidade de luta corporal dando muita porrada, bom manejo de arma e boa logística na balística disparando em todos os caras da máfia chinesa até chegar a
capacidade cerebral de poder controlar tudo em um simples toque de mágica.
E a grande reviravolta na sua vida irá ocorrer a sua jornada de tentar
investigar o que lhe aconteceu. Curioso observar que o filme mesmo não sendo
uma adaptação de quadrinho, é uma trama cujo roteiro como bem descrevi acima
tem muito da originalidade autoral do Luc Besson, ainda assim ela tem uma certa
referencia de HQ, pela maneira muito
clichê como ela assim como alguns exemplos de super-heróis como Homem-Aranha
adquirem os poderes superficialmente e se tornam até descritos como
sobre-humanos. Apesar dela ter essa
referencia quadrinesca, ainda assim ela
carrega como grande diferença com relação a maioria das super-heroínas de HQ é o fato dela mesmo ao adquirir os superpoderes e desenvolver sua
personalidade a tornando forte a ponto
de tirar suas capacidades emotivas, ela mostra não necessitar criar um chamativo traje cheio de adereços coloridos e cujo
design destacasse algumas partes do corpo como as curvas, os seios ou mesmo os
quadris e o seu decote reproduzisse um típico modelo de maiô parecido como os
usados pelas atletas da ginastica olímpica, das artistas circenses ou mesmo das
dançarinas de strip-tease, a ponto
delas ficarem visualmente com um tosco tom carnavalesco para empurrá-las a serem sensuais ao extremo ponto de virarem as mulheres fatais sex symbols para fetiches eróticos masculinos. No caso da Lucy
ela mostra não precisar depender de nada disso. Em nenhum momento o Besson
necessitou construir sua heroína assim como a Nikita de despertar a
sensualidade extrema. E eu não acho sinceramente que o filme tenha sido produzido
com a intenção de virar mais uma franquia de filme estrelada pela Scarlett
Johansson, mesmo porque como a construção da história já tem uma narrativa bem
fechada pela imprevisibilidade dos rumos que a protagonista vai tomando assim
que o superpoder vai consumindo ela e como também aborda de maneira muito
reflexiva a questão da capacidade cerebral humana, inclusive recheando com
imagens que fazem o espectador ás vezes voar que de alguma forma ou de outra
exigem uma atenção maior para o espectador compreender que tipo de alegoria
aquelas imagens como de animais, de catástrofes naturais entre outros infinitos
exemplos tem relação com as situações em que a Lucy está passando. Ainda mais
quando no filme em questão há momentos em que o foco das cenas vai fugindo da
personagem titular em questão, principalmente no momento em que entra a abordagem
de teor muito acadêmico para tentar dar uma abalizada no didatismo excessivo já
muito carregado no filme que é quando entra em cena os debates científicos do
Dr. Samuel Norman, que é interpretado pelo veterano Morgan Freeman, que em
alguns momentos meio que sem querer acaba roubando as cenas ao apresentar ele
palestrando numa faculdade sobre suas pesquisas que envolve justamente a
proposta da abordagem do filme. O
personagem prova justamente o que descrevi sobre o excesso de didatismo carregado
demais no filme, que é tentar ser bem explicadinho. Que em alguns momentos
termina chegando ao ponto de torna-lo de certo modo um tanto tedioso.
Posso pontuar que neste filme o Morgan Freeman consegue cumprir
bem a função que simboliza o seu papel, que é a de ser um mero coadjuvante expectador,
mas que procura também ser bem útil ao protagonista como ele já bem mostrou
fazendo o Lucius Fox na trilogia Batman-O Cavaleiro das Trevas(2005-2012) do
Christopher Nolan, fora ele o filme ainda carrega outros recheios de
personagens secundários que são vividos
por atores cujos rostos não são muito
conhecido do público e que estão ali
puramente para enfeite sem ter muito aprofundamento assim como também a própria
protagonista não demonstra ter muito aprofundamento, principalmente como era
sua vida antes de toda aquela circunstancia. Desses o que eu pessoalmente achei bastante
entediante e irritante é a amiga de Lucy com quem ela divide o quarto em Taiwan,
porque tipo na única cena ela aparece, fala demais umas coisas tão bobinhas
dando a entender que foi empurrada com a intenção de dar aquela suavizada
cômica no clima muito intenso e complexo que o filme carrega chegando ao ponto
de torna-se muito insossa, chatinha e desnecessária. Esta foi a única coisa do
filme que me incomodou já o resto mesmo tendo uma abordagem cientificamente
cabeça ao extremo não me incomodou tanto porque ainda assim o filme consegue despertar muitos questionamentos,
levantar opiniões diversas sobre esta coisa da capacidade do cérebro humano
entre outras infinitas questões.
No balanço geral, eu simplesmente posso colocar que gostei
bastante do filme, principalmente pela abordagem cientificamente didática que
termina dando uma típica característica de filme cabeça, como já me surpreendi
bastante com o excelente desempenho da Scarlett Johansson como a personagem
titular, aonde a cada cena ela vai conseguindo moldar bem todas as nuances
em que a personagem vivencia a medida que o cérebro dela vai ficando
poderosamente ilimitado.
O diretor Luc Besson soube bem como construir uma trama original
que consegue despertar o espectador a muitos questionamentos, o filme carrega
lindos efeitos visuais e especais fotográficos que dão todo aquele tom mágico e
um pouco quadrinesco também a abordagem cientificamente complexa da obra, assim
como a tensão da narrativa é até bem construída como eu pude assim sentir. Um
fato curioso sobre o excesso de didatismo do qual eu pontuei acima que a obra carrega,
é que como se só não bastasse mostrar tanto debate cientifico de estourar os
neurônios de cada espectador ele ainda procura deixar claro a associação do
nome da personagem a outra Lucy, o fóssil de uma fêmea pré-histórica descoberta
na Etiópia em 1974 pelo antropólogo americano Donald Johanson, que só para
esclarecer ele não é pai da atriz-protagonista da obra e nem tem vinculo
parental algum com ela. O mais curioso
deste fóssil foi dele ter recebido este nome por causa da famosa canção da
banda inglesa Beatles chamada “Lucy in the
Sky with Diamond” que foi lançada comercialmente em 1967 no álbum “Sgt.
Pepper´s Lonely Hearts Club”, esta canção estava tocando no local e no momento
onde estava havendo a escavação em um gravador, e depois de investigar que era
uma fêmea. E como se não bastasse tanta explosão de neurônio dentro de um único
filme, ele ainda mostra a personagem titular ficando extremamente poderosa pelo
efeito da droga injetada nela e não por acaso a famosa canção da banda inglesa
que inspirou o nome do fóssil que inspirou o filme, cuja autoria é de John Lennon
(1940-1980) e Paul McCartney já foi acusado de aludir a uma droga com a sigla
de LSD, pela coincidência das suas iniciais de L de Lucy, S de Sky, e D de
Diamond formarem juntas as siglas referentes a este tipo de droga que é na
verdade a sigla da palavra alemã “Lysergsäurediethylamid”, que na tradução em português
“Dietiamída do Ácido Lisérgico”. Já dá para entender que por si só, o filme
exige assistir mais de uma vez para compreender a dimensão do surrealismo das
suas abordagens. De resto, o filme seja por diferentes quesitos técnicos, seja
de roteiro ou mesmo na parte visual estética o filme consegue carregar uma boa
originalidade. É carregado de muitas
licenças poéticas, porque venhamos e convenhamos a ideia de uma pessoa como ela
carregar a droga ingerida em seu organismo e adquirir poderes sobre-humanos
seria muito improvável de acontecer na realidade, onde inclusive percebi um provável
furo de roteiro numa cena onde a Lucy ainda em Taiwan entra num hospital armada
com uma metralhadora, com certeza numa situação dessas qualquer um que ver uma
pessoa como ela caminhando expondo uma
arma bem notada como esta já uma
causa uma sensação de pânico, não é o que acontece quando ela entra no local e
caminha livremente com o objeto sem ser notada por ninguém no hospital e o mais
intrigante de tudo isso, é ninguém ali ao percebe-la com a arma mostrar alguma
reação a ponto de chamar a segurança, como seria com certeza natural de
acontecer. Bom, simplesmente o que posso definir de Lucy é isso, um filme bem
cabeça. Recomendo para quem gosta de filmes com esta abordagem cheia de
didatismo como eu descrevi e que surpreenda aconselho sim assistir porque ela
vai conseguir intrigar pela imprevisibilidade, agora se você não gosta muito de
muita cabeça demais, prefere assistir a filmes que não faça você raciocinar
tanto então nem perca seu tempo gastando o ingresso para este vá assistir sei
lá Mercenários 3 que ainda está passando nos cinemas e não tem a preocupação do
didatismo cientifico apresentado em Lucy.
FONTE:
Efeito Lucy:
http://legiaodosherois.virgula.uol.com.br/2014/10-viloes-que-resolveram-virar-casaca.html/10
REVISTA MUNDO ESTRANHO-ALMANAQUE CURIOSO DOS VILÕES DE HQS E MANGÁS, EDITORA ABRIL-SÃO PAULO/SP,2014.
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