Na
Segunda-Feira, 03 de Outubro de 2016, feriado local em Natal-RN, um dia após a
campanha municipal para a prefeitura. Fui ao Midway Mall conferir na sala do
Cinemark ao fantasioso filme “O Lar das Crianças Peculiares”. Um dos fatores
que me motivaram a conferir ao filme é o fato dele pelo que pude pesquisar e
depois ler e assistir alguns comentários críticos a respeito da sua abordagem
de mostrar uma instituição que acolhe crianças dotadas de poderes sobre-humanos
em um mundo paralelo, um pouco inspirado nos arquétipos dos super-heróis, e
neste aspecto podemos bem nos lembrar de X-Men com pitadas mescladas a Harry
Potter. Além do fato de ser dirigido pelo Tim Burton, também foi um fator que
me despertou o interesse pelo filme. Pode parecer estranho o que coloquei
principalmente para os críticos mais experts e conservadores que ficam com um
pé atrás com este diretor, que é conhecido pelo gosto bizarro de trabalhar elementos
de comédia com ares sobrenaturais dentro de uma atmosfera gótica que dá o tom
da sua marca autoral, ainda mais que as suas inspirações e referencias para
este tipo de cinema foram nos filmes B do Ed Wood(1924-1978), a quem muitos
críticos o consideram a maior referencia como o pior diretor que já teve em Hollywood,
inclusive o próprio Burton o homenageou com um filme lançado em 1994 sendo
estrelado pelo seu parceiro desde “Edward-Mãos de Tesoura”(1990) Johnny Depp
que sempre roubava as cenas dos seus filmes com os tipos excêntricos e
irreverentes como é bem característico dos filmes de Burton. Que inclusive ficou
de fora deste filme. Assim como também
neste filme não contém a presença da sua ex-mulher, a atriz Helena
Bonham Carter que esteve presente em vários de seus filmes desde a versão dele de “Planeta dos
Macacos”(2001) e também ficou de fora o maestro Danny Elfman, velho parceiro de
Burton em criar as trilhas dos seus filmes desde que ele começou no cinema há
30 anos.
Mesmo
com a ausência destas importantes pessoas que ajudaram a alavancar sua carreira
no cinema, o filme atual não fica atrás em apresentar muitas das
características propriamente peculiares que o diretor transpõe em seus
trabalhos mais autorais. Principalmente para quem é fã do trabalho de Burton
deve gostar. A trama apresenta muitos
elementos peculiares que tem bem a cara do Tim Burton. Baseado em um romance de
Ransom Riggs, cuja inspiração para construir a sua história também é muito
peculiar pelo fato dele ser muito apaixonado por fotografia, principalmente pelas fotografias bizarras e foi com base
nisso que ele construiu o seu romance onde as fotografias bizarras serviam para
ilustrar as essências de cada cena e de cada personagem também. E Burton não
bobo nem nada, e também tem fascínio pelo bizarro pelas excentricidades e transmite
bem isso nos seus filmes. Além de gostar do tom escuro da fotografia. Esta
trama serviu então como um prato cheio para ele.
No
filme em questão, a trama gira em torno de Jacob Portman(Asa Butterfield) sendo
apresentado como um típico garoto comum
que vive entediado da sua vida. Isto até
o momento em que ocorre uma grande reviravolta quando o seu avô Abram
Portman(Terence Stamp) com quem ele era bastante afeiçoado morre misteriosamente
ao ser encontrado num mato, onde
suspeita-se que ele tenha sido devorado por alguma criatura misteriosa. É no seu leito de morte, que ele manda Jacob
ir para o orfanato da Senhorita Peregrine(Eva Green). É a partir deste momento
que começa a jornada de Jacob de ir atrás desse tal misterioso orfanato que seu
avô sempre lhe contava quando ele era um pouco menor. Para isto ele e seu pai
vão se deslocar até uma ilha, localizada em Gales no Reino Unido. Para
descobrirem o tal orfanato abandonado com crianças peculiares.
É
neste lugar que ocorrem situações muito bizarras, que fazem o povoado local desconfiarem
dele, sendo um estrangeiro. É passeando por um mato abandonado que ele lá
conhece as crianças peculiares da Senhorita Peregrine que o guiam ao orfanato. É
lá neste ambiente que Jacob mostra-se surpreso com o fato desde um bombardeio
nazista ocorrido em 1943, o ambiente do lar tem se mantido o mesmo, isto porque
a Senhorita Peregrine sempre mexia no relógio para voltar no tempo e permanecer
naquela época intacta. Mantendo eternamente a juventude das crianças e a beleza
jovial da Senhorita Peregrine. Neste local também Jacob mostra-se surpreso em
observar cada uma das crianças peculiares do lar, apresentando uma habilidade
incrível, dotada cada um de superpoderes. Os poderes de cada uma variavam tinha
uma menina que voava, uma que produzia fogo, um menino invisível, outro que
soltava abelhas sempre que abria a boca,
tinha uma menina com a boca na nuca que mastiga a comida por esta boca,
uns gêmeos com olhos de pedra, um menino que ao colocar uma lente no seu olho
reproduzia em forma de cinema os seus devaneios, dentre outros montes de
exemplos apresentado no filme. No decorrer da trama, a medida que a história
vai fluindo Jacob tem uma importante descoberta que o torna bastante cético por
parte da Senhorita Peregrine que é o fato dele ser um peculiar, assim como seu
avô foi.
Só
que Jacob não acredita muito que tenha potencial para ser um peculiar e isto
vai dificultando a situação deles, ainda com o perigo dos chamados etéreos, que
é como são chamados os peculiares malvados liderados pelo Barrow(Samuel L.
Jackson) gente monstruosa que se
tornaram sedentas por canibalismo após um experimento que não deu certo. E
nisso temos então uma grande aventura com muita magia nos esperando e com
muitas reviravoltas.
O
que posso avaliar do filme no aspecto técnico do roteiro me surpreendeu apesar
de quem aprecia os trabalhos do Tim Burton, o ache um tanto preguiçoso pelo
fato dele ficar comodamente sua zona de conforto. Criando tipos excêntricos e peculiares como o próprio
diretor costuma ser. O mesmo posso descrever a respeito do aspecto visual dos
cenários, dos figurinos e da fotografia que basicamente apresentam a sua marca
autoral em transpor uma viagem ao clima de pura aventura fantástica com muitos
toques de escapismo proporcionada pela brilhante magia dos efeito visuais.
Nestes aspectos ele cumpre bem sua função, ainda que em alguns momentos fique devendo
por não trabalhar no desenvolvimento da personalidade de cada personagem, e
quando não é isso também pode criar uma enorme incompreensão ao mexer com o
tempo criando vários furos no roteiro. Eu pessoalmente nunca fui muito fã dos
trabalhos do Tim Burton, principalmente nos que abordam o pesado teor sombrio
de insanidade e com elementos de
sobrenatural. Tirando alguns que eu assistia muito na televisão como “Os
Fantasmas se divertem”(1988), “Edward-Mãos de Tesoura”(1990), “Batman”(1989),
“Batman-O Retorno”(1992), o remake da “Fantástica Fábrica de Chocolate”(2005) e
a versão em live action de “Alice no Pais das Maravilhas”(2010). Foram os
poucos dele que eu assisti que eu realmente gostei. Apesar disso tenho de
reconhecer que ele sabe como fazer bons trabalhos, ainda que a critica
especializada tenha um pé atrás em
relação a isso. Talvez porque eu sempre tive uma de sensibilidade demais para
algumas cenas fortes.
No
balanço geral, o filme cumpre bem a função a qual se propôs. De apresentar toda
uma fantasia com todos os toques e elementos bem peculiares do Tim Burton. A
construção da cenografia do orfanato ficou
bastante impecável, juntando aos tons da maquiagens e os figurinos bem
irreverentes das crianças e da Senhorita Peregrine e a peruca branca do Barrow que fez ele ficar bem com aspecto
caricato de cientista louco dentre outros detalhes somados ao tom fotográfico escuro que é outra
marca do Tim Burton com algumas paletas de cores dos figurinos e a própria representação monstruosa dos
etéreos com um design de produção bem assustador acrescentam e enriquecem
bastante a atmosfera de fantasia ao qual o filme se propõe a ser e não passa
disso. O roteiro mesmo preguiçoso cumpre
bem a função de divertir, de fazer a pessoa entrar de cabeça no universo da sua
fantasia, trazendo muitos toques de licenças poéticas e com liberdades criativas da produção ao transpor
a obra do livro para o cinema. Do elenco destaco a bela Eva Green no papel da
Senhorita Peregrine, ela demonstra um bom entrosamento com o texto ao encarnar
as complexidades que a personagem apresenta e rouba as cenas com sua
versatilidade. Samuel L. Jackson como o vilão Barrow está excelente, desenvolve
bem as suas motivações para devorar as crianças. O veterano Terence Stamp
desempenha bem o papel do Abraham, o avô do Jacob, ainda que meio limitado pelo
roteiro. Por fim, destaco o Asa
Butterfield como o Jacob que demonstra um bom esforço para encarar a grande
responsabilidade de ser o protagonista da obra, com toda a responsabilidade nas
costa de tentar segurar o filme. Ainda que sozinho isto não é muito sentido,
basicamente o que segura mesmo o filme é o mistério do orfanato com as crianças
peculiares. Para finalizar posso descrever que o filme mesmo sendo uma pura
obra de ficção, com elementos fabulares representados tanto no cenário quanto
nos personagens. Ainda assim ele carrega um bom reflexo sutil a realidade,
principalmente na maneira como as crianças com estes poderes vivendo neste
orfanato sofrem da incompreensão social, o que levado para hoje com tamanhos
exemplos de intolerância que temos em vários lugares do mundo, isto o torna bem
atual. Ainda que sua proposta não seja de um filme realista. Se você for um bom
apreciador dos filmes do Tim Burton, e não se importar de entrar de cabeça na
sua fantasia, então recomendo ir ao cinema para conferir esta obra-prima dele. Se
não, principalmente se tiver muita
sensibilidade com cenas muito fortes, não recomendo ver este filme. Inclusive
após terminada a sessão que fui assistir na segunda-feira, eu estava próximo de
dois cara que estavam conversando sobre
o fato não ser muito recomendado para crianças assistirem. Mesmo sendo as
crianças as protagonistas. De fato, eu tenho de concordar com que eles estavam
falando.
Até pelo fato de ser um filme propriamente do Tim Burton e ele como é
conhecido pelo seu gosto fora do convencional em seus filmes, então não é de esperarmos ver muita fofura em cena. Além do
que o filme contém umas cenas fortes de suspense com provocações de susto e uma prática da canibalismo dos etéreos que
por si só já tornam o filme muito pesado. Se você tiver um filho pequeno que
for muito sensível a estes tipos de cenas, eu não recomendo você assistir acompanhado
dele. No geral, para você que gosta de apreciar os peculiares filmes do Tim Burton e não se
incomoda com nada de bizarro, então é filme é para você.
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