quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
RETROSPECTIVA 2020
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
CRÍTICA AO FILME UM HERÓI DE BRINQUEDO(1996)
FILME
NATALINO SOBRE UM BONECO DE SUPER-HERÓI.
Sempre
que alguém ouve falar no nome de Arnold Schwarzenegger, o que vem assimilado na cabeça de muita
gente logo de cara é com certeza os
clássicos filmes de ação com explosão e pancadaria, onde ele eternizou muitos
dos tipos machões durões, heróis brucutus que metiam medo em qualquer um que tentasse se meter no seu
caminho.
Com
ele representando sempre o tipo durão, com
aquele porte atlético parrudo, ele que já foi Mister Universo e halterofilista,
dificilmente imaginaríamos vê-lo
estrelando um filme de comédia com temática natalina com ar mais Family
Friendly, engana-se, pois, não é que ele se enveredou sim por este caminho e a
prova disso está no filme Um Herói de Brinquedo( Jingle All the
Way, EUA, 1996).
Nesta
curiosa comédia natalina que conta com o
fortão de Hollywood como protagonista. Nele, o famoso astro dos filmes
de ação, terá de encarar como grande
desafio que irá exigir muito mais do que uma boa briga física com arma como ele está acostumado a fazer como
os durões heróis brucutus que sozinho acabou com um exército inteiro como já
aconteceu, por exemplo, quando ele fez John Matrix no filme Comando Para Matar(Commando,
EUA, 1985) que eu assistia bastante quando passava na TV Globo. Nesse filme Schwarzenegger, vai encarar
uma longa jornada na pele de Howard Langston para procurar o brinquedo que
representava a grande febre da criançada chamado de Turbo Man. O enredo gira em
torno de Langston, um homem de vida comum,
um importante empresário que de tão envolvido no trabalho passa a desenvolver
as características tipicamente comportamentais de um Workaholic(denominação
para definir os viciados em trabalho).
É
por causa de sua rotina exaustiva no
trabalho que ele tem tido pouco tempo para
seu filho Jamie(Jake Loyd), inclusive chegando atrasado a aula de caratê dele,
perdendo até de apreciar ele ser premiado com uma faixa azul. Será nessa situação que gerará o gancho para
criar todo o molde da trama que é quando Howard para compensar essa mancada com
seu filho resolve prometer presenteá-lo com qualquer coisa que ele lhe pedir no
Natal. É quando Jake pede para o pai comprar o boneco sensação do momento chamado de Turbo Man que a coisa vai pegar
fogo.
Porque
será a partir daí que inicia-se a grande odisseia de Howard para procurar esse boneco em um
monte de lojas onde suas vendas foram
estouradas e não bastando isso ele também terá que encarar pela frente muitos desafios para conseguir o
tão sonhado presente do filho.
Ainda
mais quando irá se deparar com Myron Larabee(Sinbad) um carteiro e pai também
desesperado como ele é que gerará motivos para confusões e disputas, cujas
circunstâncias o levaram a ser escolhido para o ser o próprio herói de
brinquedo Turbo Man num carro alegórico durante uma parada natalina. Fora que
ele fica bastante nervoso quando observar o seu desagradável vizinho Ted
Maltin(Phil Hartman) cercando sua esposa Liz(Rita Wilson) depois dela ficar
irritada com ele por ter esquecido o
presente do filho Jamie(Jake Lloyd), o que afeta sua relação com ela.
A
obra contou com a direção de Brian Levant, que já carregava no currículo filmes
bem com esta abordagem divertida no estilo Family Friendly, que foram grandes sucessos de
bilheteria e sendo os mais marcantes dos anos 1990, alguns até que marcaram
minha infância, foi da direção dele, por exemplo, o segundo filme da série O Pestinha(Problem
Child, EUA, 1990) que foi O Pestinha 2,(Problem Child 2, EUA 1991) o primeiro filme da série Beethoven
estrelado pelo cão da raça São Bernardo que no Brasil ganhou o título de Beethoven-O
Magnifico (EUA, 1992) e Os Flintstones (The
Flintstones, EUA, 1994), adaptada da famosa série animada dos
anos 1960 da Hanna-Barbera sobre uma
família vivendo na Idade da Pedra. E
contou entre seus produtores executivos com Chris Columbus que assim como Brian Levant, ele também já carregava no
currículo cinematográfico em dirigir produções de sucesso nessa pegada, que também marcaram minha
infância, dentre estes merece a menção
os filmes da série Esqueceram de Mim, estreladas pelo ex-astro
mirim Macaulay Culkin que foram Esqueceram de Mim(Home Alone,
EUA,1990) e Esqueceram de Mim 2-Perdido em Nova York (Home Alone
2: Lost in the New York, EUA, 1992). Sendo também dele outro clássico
Family Friendly e muito marcantes da década de 1990 que foi Uma Babá Quase
Perfeita (Mrs. Doubtfire, EUA, 1993). E posteriormente também faria sucesso
ao dirigir os primeiros filmes da série
Harry Potter que foram Harry Potter e a Pedra Filosofal(Harry
Potter and the Philosopher's Stone, EUA, Reino Unido, 2001) e Harry
Potter e a Câmara Secreta(Harry Potter and the Chamber of Secrets, EUA,
Reino Unido, 2002). Ambos tiveram a ideia para o filme inspirados no
fenômeno da venda de brinquedos dos Power
Rangers, famosa série de um grupo de heróis coloridos produzidos pela
Saban Enterteniment, que eram adaptações americanas das séries japonesas
denominadas de tokusatsu de uma longa franquia chamada de Super Sentai,
produzidas pela japonesa Toei Company. Inspirados nisso, eles resolveram
criarem a figura do brinquedo do herói Turbo Man simbolizado como um macguffin
na história para satirizar em forma de comédia a representação comercial do
natal e os valores materiais, criticando o consumismo desenfreado.
Além
de contar com Schwarzenegger
no elenco, que antes desse também já tinha se enveredado pela comédia em filmes
como: Irmãos Gêmeos(Twins, EUA, 1988), Um Tira no Jardim de
Infância(Kindergarten Cop, EUA, 1990) e Júnior(Junior,EUA,1994).
Que nesse filme desempenhou um trabalho incrível no papel do pai babaca do
Howard, um homem negligente com a família e que resolve compensar essa mancada
materialmente. O elenco também contou com a participação de Phill Hartman,
grande ator de comédia que representou muito bem na obra o papel de Ted Maltin, o sujeito mala,
desagradável e chato vizinho de Howard, um cara viúvo pai de um
filho pequeno, que vive cercando a Liz, esposa de Howard para dissimular sua
real intenção que é ficar com ela, principalmente por se aproveitar da
proximidade com ela que está passando por um momento delicado com sua
relação com Howard. O desempenho dele em cena foi excelente se fosse hoje, ele hoje
se caracterizaria como alguém com perfil de stalker. Esse mesmo que um ano e
meio depois do lançamento do filme, protagonizaria uma grande tragédia envolvendo
a conturbada relação dele com sua esposa Brynn Omdahl com quem tiveram brigas
constantes e numa dessas brigas resultou
no seu assassinato por ela a tiros ocorrido no dia 27 de Maio de 1998 na época,
Hartman estava com 49 anos. Posteriormente
ao seu assassinato, ele teve seu nome inserido
na Calçada da Fama de Hollywood em 2014.
Também merece menção a participação de Jake Lloyd, então na época com apenas seis representando no filme o papel do Jaime, o filho de Howard. Do mesmo jeito que Phill Hartman enfrentou uma tragédia que lhe tirou a vida posterior ao lançamento da obra. Ele que futuramente foi o escolhido para protagonizar o Anakin Skywalker na franquia prequel de Star Wars intitulado de Star Wars:Episódio 1-A Ameaça Fantasma(Star Wars:Episode 1-The Phantom Menace,EUA,1999), também enfrentou sérios problemas trágicos posteriores, já que a péssima recepção da crítica ao filme na época do lançamento trouxe-lhe consequências emocionais difíceis de lidar, dentre estas, os traumas psicológicos. Foi por causa dos bullyings sofridos na escola em consequência dessa sua participação em Star Wars. Que o afetou demais sua vida adulta, principalmente depois do que aconteceu em 2015 quando se envolveu numa perseguição policial dirigindo perigosamente nas ruas da cidade de Charleston, na Carolina do Sul, onde foi detido, ficou preso e para piorar recebeu o diagnóstico de esquizofrênico. Pesado não. Também não posso esquecer de mencionar no elenco as participações de David Adkins que é mais conhecido como Sinbad que no filme representou brilhantemente o papel de Myron, um sujeito que criava bem um contraponto a Howard como antagonista, principalmente no aspecto social, já que Howard simboliza a típica figura do cara da classe média alta que vive numa correria para ir atrás do brinquedo do Turbo Man para presentear o filho como compensação as suas ausências. Já Myron representou bem a figura de um cara completamente fodido, o retrato do trabalhador proletariado, um carteiro que é um tipo que vai concorrer diretamente com Howard para comprar aquele brinquedo para presentear seu filho também numa caçada de gato e rato. Ele já demonstra bem este perfil afetado e desagradável ao ser inserido numa cena onde todo estão numa loja de brinquedo e solta um bom timming cômico ao criticar de forma ácida a situação ridícula que a visão comercial do Natal proporcionava. Ao pesquisar sobre o ator no google, soube que recentemente ele sofreu de um derrame cerebral, triste não.
Outros
nomes que estão no filme são de Rita Wilson, esposa de Tom Hanks, ficou ótima
na pele da Liz Langston, esposa de Howard, desempenhou bem o papel dela como um
tipo sutilmente fútil na visão de valorizadora dos bens materiais,
principalmente na cena final quando se enfurece por Howard esquecer o seu
presente e um tanto ingênua ao não perceber que estava sendo stalkeada por Ted
e do grande astro da comédia James
Belushi, irmão do falecido comediante John Belushi(1949-1982), que fez uma
participação excelente como o Papai Noel de um Shopping bastante irreconhecível
até pela caracterização que mete Howard em uma armadilha com uma quadrilha de
Papais Noel que se especializaram em exportar brinquedos falsificados para o
mercado negro.
Eu
lembro quando vi este filme na época que foi lançado, eu era um garotinho com
11 anos, que estava curtindo férias com minha família em João Pessoa-PB. Havia
me divertido bastante com a obra, e
lembro dos investimentos em massa feitos aqui no Brasil com as publicidades dos
cartões de créditos, quando dei uma
revisitada muito anos depois já adulto quando passou na TV, pude bem observar como
ela conseguiu se manter bem engraçada e divertida e reparar nessa mensagem crítica
que não tinha reparado antes. Posso simplesmente descrever como ela envelheceu bem.
Principalmente
ao fato do filme carregar uma abordagem
bem atemporal ao mostrar figuras de pais como Howard que
buscam compensar a ausência e falta de
tempo aos filhos dando-lhe bens
materiais com uma sútil crítica a visão
capitalista-mercadológica do Natal pelo padrão American Way of Life. Outra
característica típica da comemoração natalina dos americanos retratada no filme
que pode gerar estranheza para nós
brasileiros além do que obviamente envolve a representação climática invernal,
mostrando o povo caminhando nas ruas nevadas, patinando no lago gelado, todos
agasalhados, com as crianças brincando na neve formando as bolas de neves e
esculpindo os bonecos e com as casas super enfeitadas de iluminação e com os
pinheiros naturais enfeitados naturalmente como árvores de natal. Outra
característica típica do natal celebrado pelos americanos que podem parecer
estranho para nós brasileiros é no desfile carnavalesco que ocorre já nos
minutos finais da obra em seu ponto de virada, onde Howard se fantasia
acidentalmente de Turbo Man num carro alegórico em uma grande avenida movimentada.
O
curioso é que as suas filmagens
ocorreram em Minnesota e em Saint-Paul por
cinco semanas, também chamada de cidade-gêmeas, onde inclusive no filme foi
usado de uma licença poética de ser ambientado numa só cidade. O uso das
licenças poéticas também são explorados em
outras situações absurdas e até nonsenses. Mais curioso mesmo é que o título
original da obra é Jingle All the Way
que se refere ao famoso trecho de uma das mais antigas canções natalinas que é sempre reproduzida
pelos americanos nessa importante data festiva, principalmente quando a sua indústria fonográfica investe pesado em
colocar os nomes famosos da música pop para gravar álbuns natalinos nessa época
e tirar alguma casquinha para sair lucrando com esta data festiva, o
famoso “Jingle Bell, Jingle Bell, Jingle All the way”, composta em 1857 por
James Lord Pierpont(1822-1893) cujo o título original da canção é One Horse
Open Sleigh, que simboliza bem o costume
característico de como é a celebração natalina do americano, que no Brasil ganhou uma versão intitulada de Bate
o Sino adaptada e composta pelo radialista Evaldo Rui(1913-1954). Que foi
gravada pela primeira vez em 1941 por João Dias(1927-1996). Para nós brasileiros
não faria muito sentido para o contexto da trama, o que para o americano talvez
sim, e a escolha da adaptação para traduzir o título em português BR como Um
Herói de Brinquedo foi bastante acertado, pois foi o que mais se encaixava
a proposta da trama.
Enfim,
posso concluir que Um Herói de Brinquedo é uma ótima obra
natalina que tem sua relevância. Não só como um bom produto de diversão, mas
também como reflexão, principalmente no que envolve a transmissão dos bons
valores familiares e no que envolve sutilmente
refletir na critica ao consumismo desenfreado ao qual essa data festiva se tornou bastante assimilada.
sábado, 19 de dezembro de 2020
FILMES PARA VER NESTE NATAL: O GRINCH E O EXPRESSO POLAR
REVISITANDO
DOIS FILMES NATALINOS DO COMEÇO DO SÉCULO 21.
Nesse
clima natalino, para minha surpresa eu tive o privilégio de assistir a um filme
bastante diferente na Netflix que foi Tudo
Bem no Natal que Vem (Brasil,2020), uma produção nacional estrelada
pelo Leandro Hassum original da Netflix. Algo inédito no cinema brasileiro.
Também dei uma conferida na Netflix em dois filmes que eu já havia assistido
antes, mas que com outro olhar bem pude perceber quais diferenciais eles carregam após
minhas revisitada por elas. Os dois
títulos em questão tratam-se de O Grinch (How
the Grinch Stole Christmas,EUA,2000) e O Expresso Polar (The
Polar Express,EUA, 2004).
Ambas
produções americanas que trazem uma abordagem natalina usando logicamente pela
ótica do estilo American Way Of Life de como os americanos
costumam comemorar sua data natalina, em
especial no costume de brincar na neve, o que faz sentido pela verossimilhança
da localização geográfica do território ser próximo das calotas polares e como
neste período lá é a estação invernal, o
que torna bem comum o cinema apresentar os americanos esculpindo também os bonecos
de neve.
Ambas
também carregam em comum o fato de terem sido adaptações de obras literárias de
autores americanos e ambas foram lançadas
lá pelo ido dos anos 2000.
Mesmo
tendo a coincidência da mesma abordagem,
o mote da estrutura de história de ambas é completamente diferente.
Em O Grinch (How the Grinch Stole Christmas,EUA,2000), filme baseado no livro de Theodor Seuss Geisel, que costumeiramente assinava autoralmente como como Dr. Seuss(1904-1991) publicado em 1957.
Conta a história de uma criatura verde chamada de Grinch(Jim Carey) que
nutre um imenso ódio pelo Natal, isso porque ele desde a infância sofria muita
gozação da população da Cidade dos
Quem por ser diferente com uma
aparência feia de pele verde e peluda, já que foi trazido bebê por uma cegonha que
o deixou aos cuidados de duas senhoras. Durante sua infância nutriu uma forte
paixão por sua colega de classe Martha May Whovier(Christine Baranski), uma das
importantes e conceituadas damas do povoado dos Quem, quase uma socialite, onde
ela sempre desperta um flerte do Prefeito Augustus May Who(Jeffrey Tambor), uma
autoridade com porte físico
rechonchudo, cuja personalidade era de um
sujeito rude, arrogante, prepotente e muito vil e desprezível que conheceu o Grinch na infância quando foram
colegas de sala, onde lá ele era tipo um valentão que vivia o provocando
principalmente o seu rosto cheio de pêlo, em consequência desses bullyings
chegou a ponto dele viver odiando o Natal até chegar
a fase adulta, quando cresceu isolado do povoado vivendo como um ermitão numa
caverna na companhia de seu cachorro Max, que vive tentando sensibilizá-lo para
o natal.
Mas
ele se recusa a entregar-se ao
sentimento natalino, deixando seu coração diminuído. Ele se tornou uma figura
lendária na região que muita gente do povoado dos Quem passou a ter medo só de
ouvir falar no nome dele.
É
então que uma menina chamada Cindy(Taylor Momsen), filha do carteiro da Cidade
dos Quem Lou(Bill Irwin) resolve se arriscar a ir atrás do Grinch para usar de
sua pureza para tentar sensibilizá-lo. Uma ideia que toda a população dos Quem
se mostra contra e a confusão já está dada.
Já
com relação a O Expresso Polar(
The Polar Express, EUA, 2004), o filme assim
como O Grinch também foi inspirado num livro homônimo publicado em 1985,
cuja autoria é do também americano Chris Van Allsburgh, autor de
best-sellers que foram adaptados para o cinema como Jumanji (EUA,1995)
e Zathura (EUA,2005).
O
filme começa contando a história de um garoto que se aventura a andar num
expresso para ir conhecer o local onde mora o Papai Noel e onde são fabricados
os brinquedos favoritos, acompanhado de outras crianças e sendo conduzido por
um excêntrico condutor. Onde ao longo desse percurso ele vai se deparar com alguns perigos e entraves
em sua jornada pelo expresso para ir
chegar até o Papai Noel. Num mote com pegada meio road movie nos trilhos
nevados.
A
respeito de ambas as obras que abordam temáticas natalinas o que posso descrever de diferencial que elas
apresentam. O Grinch contou com a direção de Ron Howard, que aqui
enfrentou grandes problemas para a execução do seu trabalho nos bastidores, em especial, com as duas
empresas que negociaram a compra do direito de adaptação da obra que foram a
Universal Pictures e a Imagine Entertainment, já que eles só começaram a
negociar a compra do copyright da obra depois que Seuss faleceu em 1991, em vida, ele
sempre se posicionou contra a ideia de ver suas obras serem adaptadas por
Hollywood, com exceção de algumas produções animadas para TV. Depois da morte
do autor, Audrey Geisel(1921-2018) viúva
do autor foi quem se encarregou de negociar
com as duas empresas cinematográficas que estavam interessadas na produção, uma
negociação que acabou não sendo nada fácil. Já que além de aceitarem as altas exigências monetárias dela, como os US$ 5 milhões
de dólares em dinheiro, tendo 50% de ganho com o merchandising, 70% de ganhos
nas vendas dos livros e 4% da bilheteria. Tanto a Universal, quanto a Imagine
ao conseguirem negociar essa compra, tiveram
de ceder com a participação dela nas decisões
criativas a respeito da obra.
Uma
delas foi que ela exigia que o ator escolhido para representar O Grinch
tivesse uma estatura comparável ao personagem do livro, e ela então listou quatro nomes de grandes estrelas de sua
preferência estavam: Gene Hackman, Dustin Hoffman, Jim Carrey e Robin Williams.
Acabou que Jim Carey terminou sendo o escolhido, e foi uma boa escolha mesmo. Carrey
na época figurando como grande estrela de sucesso em filmes de comédia,
representou bem em cena o papel principal ainda que tenha ficado irreconhecível
pela caracterização bastante realista feita pelo maquiador Rick Baker que foi
toda desenvolvida usando pelos de iaque e com uma máscara bem orgânica que mostrava um
realismo bastante medonho de ver de tão feio que ficou. Carrey chegou a
enfrentar o grande inferno que foram os longos dias intensos de gravação, e que
para conseguir superar o transtorno ouvia muito Bee Gees quando tinha folga. No
entanto, o resultado acabou sendo compensador visto que o ator imprimiu bem ao
papel aqueles seus típicos maneiros característicos de representar explorando
muito do humor físico e nas caretas que sempre foram suas especialidades. Na
obra, ele imprimiu muito bem isso no personagem, principalmente na forma
excêntrica e irreverente dele agir afetado,
rude, grosseiro, mal-humorado e bastante
espalhafatoso. Há também de destacar a
participação do ator anão Josh Ryan Evans que representou bem no filme o papel
do Grinch criança que faleceu precocemente com 20 anos em 2002 em consequência de
uma doença cardíaca congênita.
Do mesmo jeito que o diretor Ron Howard enfrentou um trabalhão pesado com sua equipe para escolher uma boa locação para recriar a cenografia lúdica da Cidade dos Quem, as caracterizações e figurinos bem extravagantes e caricatos dos outros personagens que habitam o povoado também não foi das tarefas mais fáceis de serem produzidas. Juntando ao trabalho da pós-produção em fazer montagem e editar na parte de fotografia e arrumar umas boas paletas de cores que dessem um tom agradável ao filme, para tornar o filme bastante lúdico.
Um
ponto curioso a se observar é que todos os habitantes da Cidade dos Quem
ficaram com os narizes bem pontudos, um ar caricato e até bastante cartunesco. Com
exceção da menina Cindy, que na obra foi
representada por Taylor Momsen, então na época uma garotinha de apenas 6 anos,
que mostrou um bom talento artístico virando cantora depois que cresceu.
Quanto
a O Expresso Polar, obra contou com a direção de Robert
Zemeckis, diretor de longa carreira de filmes premiados. Este filme
proporcionou uma incrível sensação mágica com uma qualidade técnica ousada e
experimental de ser produzida completamente
em animação digital onde boa parte dos atores, como o astro Tom Hanks, as
crianças no expresso, os duendes e o Papai Noel terem ficado com uma aparência caricata
parecendo bonecos moldados para manequim, o que gerou até na época umas críticas
negativas. Na única vez que vi ao alugar em DVD quando ainda existia videolocadora,
lembro de ter me impressionado bastante, apesar da estranheza inicial. Ainda assim a qualidade artística do filme não
ficou tão prejudicado. O Expresso Polar foi o segundo filme que Tom Hanks estrelou do diretor
Robert Zemeckis 10 anos após ter protagonizado o histórico Forrest Gump-O Contador de Histórias(Forrest
Gump, EUA,1994) onde ganhou o Oscar de melhor ator e teve sua trilha sonora assinada
por Alan Silvestri que também fez a trilha sonora de Forrest Gump. Neste filme,
apesar de sua interpretação ter ficado um tanto artificial, ainda assim
ele mostrou uma boa desenvoltura para encanar os diferentes personagens ao
longo do filme. A meu ver, o filme conseguiu unir boa qualidade artística com a
qualidade técnica.
Mesmo
com suas estruturas e estéticas de histórias completamente diferentes,
ambos em comum trazem a abordagem do natal com aqueles toques de escapismo mais
fantasiosos e um tanto lúdicos, e ambas representam produções lançadas lá no
começo do século 21, que parece que foi ontem que estávamos naquela expectativa
para a chegada do Novo Milênio e sonhando com um mundo melhor. Que sério já se passaram vinte anos.
Analisando
a importância atemporal que cada uma representou e de legado depois de ter revisitado ambas estes dias na
Netflix nesse clima natalino, tipo O Grinch, eu lembro de assistir a primeira vez quando passou na TV e tinha gostado e ao dar uma revisitada nessa
obra pude constatar que a sua estética envelheceu bem, mesmo não tendo
apresentado nada de inovador, de conceitual, de experimental como foi no caso
de O Expresso Polar, lançado quatro anos depois. Principalmente
pelo texto apresentar muito mais do que uma abordagem escapista sobre a data
natalina com tom puramente divertido, também apresentou umas sutis críticas a
representação do natal como data comercial, que era uma coisa que o Grinch mais
detestava, não a sua representação de harmonia e união familiar, mais sim os apreços
pelas futilidades materiais e o Prefeito
Augustus mais simbolizava esse tipo de representação, do mesmo modo que a Martha também simbolizava e a boa da
população dos Quem também. Fora que também o filme abordou, muito antes desse
debate se tornar público sobre as consequências que a discriminação que ele
sofria na infância dentro da escola por ser diferente, e sofrendo de uma prática
abusiva de bullying de um menino valentão que ao virar adulto, se tornou a importante
autoridade da Cidade dos Quem. Ainda que
sutil, mas já mostrava que quando se renega a prática do bullying e quando são fechados os olhos as consequências
disso para a vítima na vida adulta podem serem horríveis e o Grinch representou
bem isso. Ainda mais pelo agravante fato
dele ter crescido como um descompensado
sem a presença de país e foi por umas senhoras muito desajustadas. O que fez
ele crescer insensível e com o coração gelado. E foi graças ao sentimento pueril da menina
Cindy, que fez voltar a sentir novamente o sentimento sensível que ele havia
ignorado.
Com
os efeitos práticos e com o tom da caracterização que fez Jim Carrey ficar com
uma aparência horrorosa e medonha, por essas e outras coloco que o filme
envelheceu bem. Já com relação à O Expresso Polar, ao revisitar
esta obra, pude constatar que o filme apresentou
um mote de história que tipo ok é bastante atemporal, é
emocionante, tem uns problemas ou outros quanto ao desenvolvimento de
personagens que enfim não afetam tanto a mensagem positiva do filme. No aspecto
de história até que a trama envelheceu bem, porém, no aspecto técnico experimental
dessa animação usada em CGI feita em cima
de atores reais, a coisa já muda de figura. E me dói o coração apesar de gostar muito desse filme e descrever
como nesse aspecto de efeitos especiais ele envelheceu mal. Dá para notar bem como aquilo ficou bastante
datado, principalmente em algumas movimentações, o que gera um tom fake. Talvez
isso seja consequência do próprio conceito do vale da estranheza que explica a
sensação que me causou ao revisitar essa obra.
Enfim,
posso concluir que mesmo com suas
diferenças, essas obras tem seus graus
de importâncias em trazer lindas mensagens positivas sobre esta data importante
que é o natal. Ainda mais num momento tão delicado com esta
desgraça de vírus da Covid-19 ameaçando mais vidas então e que esta festividade
desse anos 2020 vai ser marcada pela
situação mais atípica já vista na história
da humanidade.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
CRÍTICA AO FILME TUDO BEM NO NATAL QUE VEM( NETFLIX, 2020)
FILME NATALINO BRASILEIRO
Nesta
época de festas natalinas como é
dezembro, é comum a gente se deparar com muitas produções
cinematográficas que abordam sobre a temática do natal, a maioria é logicamente
de filmes americanos como duas que posso mencionar que conferi recentemente na
Netflix que eu já tinha visto antes como O Grinch e O
Expresso Polar que irei descrever minhas críticas e impressões ao dar
uma revisitada em outro texto. Mas dificilmente teria um uma produção
brasileira que abordasse esta temática até que nos deparamos com o filme
original da Netflix que é Tudo bem no Natal que Vem(Brasil,2020).
Sobre Tudo bem no Natal que Vem, trata-se de um filme brasileiro com temática natalina estrelada por Leandro Hassum que no filme protagoniza Jorge. Um cara que fica incomodado toda vez que chega o natal. Porque como ele faz justamente aniversário no dia do Natal. Ele fica se sentindo uma pessoa sem brilho por ter de concorrer com uma data onde todo mundo festeja o nascimento do Menino Jesus. É então que durante o festejo natalino de 2010 em sua casa, onde ele de repente recebe uma surpreendente revelação do avô de sua mulher Laura(Elisa Pinheiro) um velho que há tempos não fala e não desgruda o olho da TV chamado de Vô Nhanhão(Levi Ferreira) de que é para ele aproveitar o Natal, que horas depois ocorre um acidente, uma queda que Jorge sofre ao cair do telhado de sua mansão ao brincar sem muito ânimo e forçadamente de Papai Noel para sua família que faz ele sempre amanhecer na manhã do Natal do ano seguinte tendo se esquecido completamente do que ocorreu em sua vida ao longo do restante dos meses anteriores como se fosse uma maldição. Sofrendo uma amnésia. Este ciclo vicioso vai ocorrendo até momento que ele chegando a sua velhice e vendo seus filhos crescendo e descobrindo que alguns parentes já não estão mais presentes que ele vai se auto descobrir para tentar sair daquilo e procurar ter sua jornada de redenção. Com direção de Rodrigo Santucci, que já é um diretor com bastante familiaridade com o estilo de humor e maneirismo de interpretação do Leandro Hassum, alguns filmes de sucesso estrelado pelo ator foram dirigidos por ele, que tem no currículos as franquias cômicas de sucesso como Até que a sorte nos separe (2012-2015) e O Candidato Honesto (2014-2018) nessa produção nacional, o diretor teve o grande desafio de trazer uma temática natalina foi algo bastante ousado, visto que nunca um filme no Brasil explorou como costumar fazer os americanos por exemplo nessa época, tirando o exemplo do curta animado A Estrelinha Mágica (Brasil, 1988) que compõe a fase clássica das animações da Turma da Mônica lançados nos anos 1980, nosso cinema nunca teve essa tradição de fazer filmes com temáticas natalinas como os americanos fazem.
O que costumava ser frequente nessa época são os programas especiais na grade de TV Aberta. A produção do filme trabalhou bem no roteiro essa temática com toques bem caracteristicamente brasileiros ao imprimir muito da estética cômica popularesca, principalmente no texto cheio de piadas não muito sutis, completamente deselegantes com tipos representando os estereótipos dos malandros, do aproveitadores, com toques de humor pastelão, como o Luiz Claudio(Rodrigo Fagundes)cunhado de Jorge sempre lhe pedindo um empréstimo para algum negócio escuso dele ou mesmo a Márcia(Danielle Winits) amante de Jorge, com aquele estereótipo de mulher dissimulada, bem periguete ao mesmo tempo que apresenta muito acerto no timming dramático, principalmente no momento em que ele se depara com uma perda familiar importante vítima de uma doença que a medida que o tempo vai passando sem ele perceber ao longo dos dez anos no ciclo vicioso de ficar acordando sempre no dia do natal do ano seguinte.
Do mesmo modo como o design de produção representou bem isso, principalmente no caprichado trabalho dos figurinos e cortes de cabelos bregas dos personagens, principalmente no comecinho e que vai mudando ao longo da passagem de tempo, a cenografia e fotografia interna da mansão de Jorge apresentar muitos toques kitsch em seus jogos de luzes que aos poucos vai ganhando contornos mais modernos, clean e futuristas. Detalhes estes que diferenciam bastante dos padrões Hollywoodianos, em especial nas cenas externas que mostram Jorge enfrentando um transito caótico do Rio de Janeiro para fazer as compras de última hora para celebrar o Natal com a panorâmica da praia com a fotografia em paletas de cores solares. Bem característico do Brasil como “País Tropical Abençoado por Deus” como descrito na famosa canção de Jorge Bem Jor, já que seria improvável demais a obra retratar Jorge brincando na neve com os filhos pequenos e esculpindo bonecos como ocorre nos filmes americanos, mesmo porque isto seria uma grande inverossimilhança com a realidade brasileira, aqui numa época quente como a alta estação do verão ser retratado brincando na neve, ainda mais por não ser compatível com a nossa geografia localizado no hemisfério sul. Diferente dos americanos, que nessa época natalina lá costuma nevar e em seus filmes eles retratam bem essa característica, pelo fato de como o território americano geograficamente fica localizado no hemisfério norte e fica próximo das calotas polares, então por esse motivo ocorrer de nevar por lá, ainda mais que esta é a época da alta estação do inverno e ser comum retratarem eles brincando na neve e esculpindo um boneco. O que me lembra como curiosidade da época em que quando meus tios hospedaram durante um ano, uma jovem intercambista canadense chamada Kate entre o período de 2003-2004, lembro dela ter contado que durante as festividades do Natal de 2003, ela estranhando o nosso clima tropical contava que sentia falta de brincar com a neve.
Fora que também o filme apresentou no elenco
com participações estelares de alguns rostos conhecidos de muitos que já acompanharam
novelas da Rede Globo para dar aquela vitrine. Além de Leandro Hassum como
protagonista há de mencionar participações de Louise Cardoso, Raul Grazolla,
José Rubens Chachá, Danielle Winnits, Daniel Filho, Elisa Pinheiro está ótima no
papel da Laura, esposa de Jorge e
Rodrigo Fagundes na pele do Luiz Claudio, trabalhou o bem este timming cômico do
seu papel como o cunhado malandro e
espertalhão de Jorge que vive pedindo empréstimo
para ele fazer seus negócios escusos e
tenta posar de grã-fino o chamando de My Cunhayde, dando aquele
toque mais caracteristicamente brega,
cafona do que o próprio é. Num balanço
geral, é um filme interessante para quem gosta humor popularesco tipicamente
brasileiro com a temática natalina.
sábado, 12 de dezembro de 2020
BALANÇOS DA FASE 3 DO MCU:THOR RAGNAROK(2017 )
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
FILME UMA PROFESSORA, MUITO ESPECIAL(1981)- CRÍTICA
UMA COMÉDIA ROMANTICA DOS ANOS 1980
COM ALTAS DOSES DE SAFADEZAS.
Outro dia procurando pelo Google, ao fazer por mero acaso, uma pesquisa por curiosidade sobre a biografia da atriz holandesa Sylvia Kristel(1952-2012), a eterna estrela da série de filmes eróticos do estilo softcore Emmanuelle, me deparei com a indicação de um filme de comédia estrelado por ela, que eu tinha assistido apenas uma vez quando era criança que passou na TV lá pela década de 1990 e que lembro que tinha me impactado bastante pela ousadia e provocação e que carreguei por muito tempo, guardado no meu subconsciente. O título do filme em questão que estou me referindo trata-se de Uma Professora, Muito Especial(Private Lessons, EUA, 1981).
Ao dar uma revisitada nesta obra quando a descobri disponível completo sem dublagem e ainda mais, sem legendas numa plataforma digital de um site russo,
pude perceber com outros olhos agora depois de adulto uma grande estranheza de como o filme envelheceu mal, principalmente no
seu conceito estético muito datado e da
ousadia que o torna bastante inapropriado para ser produzido nos dias de hoje do politicamente correto pelo tom bastante
pervertido e sem nenhum pudor.
Na
obra em questão, Sylvia Kristel
representou o papel da Nicole Mallow, uma sexy governanta francesa, que ficou encarregada de
cuidar da mansão onde o seu milionário patrão Mr.Fillimore(Ron Foster) vai
fazer uma viagem a negócios e deixará seu único filho adolescente Philip “Philly”
Fillimore(Eric Brown), garoto órfão de mãe, aproveitando as férias de verão para tentar dar uns pegas nessa governanta e a mesma começa a
provocá-lo e os dois começam uma fogosa relação, onde o inseguro, acanhado e ingênuo garoto ao perder sua virgindade com ela, nem
sequer imagina que ela está de conluio para ser passado a perna pelo seu chofer Lester(Howard Hesserman). Ainda mais
quando ocorre de depois dele fazer o ato de transa com a Nicole, ela se fingi
de morta e conta com a ajuda dele para enterra-la em frente a mansão quando descobre que ela estava viva e então
fica claro que tudo não passava de uma pura armação promovida por Lester.
O
filme foi dirigido pelo britânico Alan
Myerson, com roteiro baseado no romance Philly, publicado em 1969, de autoria do
americano Dan Greenburg.
Como
já havia adiantado, ao revisitar a obra
depois de muito tempo, pude perceber bem com outro olhar como ela me impactou
novamente como da outra vez que vi quando eu era moleque, mas desta vez com meu
senso crítico pude perceber como esta obra envelheceu mal, principalmente no
que diz respeito a sua estética cômica bastante safadinha ao replicar os mesmos
elementos do que estavam em alta no cinema do começo dos anos 1980 para o nicho
do público adolescente da época.
Naquela
época onde estava em alta o mercado de home vídeo, depois do surgimento das
videolocadoras, que explorou bem este nicho juvenil com altas doses de
sacanagens e de putacharias seja na comédia ou mesmo no terror com produções de
baixos orçamentos. Este segmento
exploitation sexy tinha de certa
forma uma grande importância para o nicho juvenil. Já que servia como um modo
de escapismo, principalmente por
refletir bastante o contexto do cenário socioeconômico quanto a sensação pessimista que boa parte da geração jovem americana
sentia com relação ao futuro em como conseguiriam se inserirem no mercado de
trabalho se deparando com o alto índice de desemprego no país. Visto a triste
herança deixada pelo país nos anos 1970, ocasionado pela derrota das suas tropas no
Vietnã, o que deixou a reputação da maior potência mundial abalada, somados ao
Escândalo Watergate, que fez o então Presidente Richard Nixon renunciar e com a
crise do petróleo gerando um forte aumento no desemprego. Muito disso fez a jovem
geração americana se sentir frustrada e decepcionada com os seus rumos futuros,
ainda mais com a chegada da década de
1980, marcada como a “década perdida” começando a ser governada por
Ronald Reagan com suas ideias conservadoras. Que aumentou mais ainda a sensação
de pessimismo dessa geração, depois que foram surgindo novas ideias
corporativistas criada pela Geração Yuppie ao modernizar os modelos de negócios
com a comercialização dos computadores pessoais.
E
o filme aqui em questão trilhou bem este
segmento safadinho, replicando o que outros filmes do segmento voltado para o
nicho juvenil já faziam na época, para
servir como uma válvula de escape.
Um
dos motivos que me fez observar,
analisar e perceber como esta obra
envelheceu mal, está em três pontos que
aqui destaco:
1) A
forma como a protagonista Nicole se insinua sem o mínimo pudor para o Phillip,
um moleque que sequer tinha desenvolvido direito o seu corpo masculino e sendo
muito ingênuo, inseguro e inexperiente.
Quando se despe totalmente para ele a
ponto dele ao não resistir as suas investidas
começa a engatar um romance com ela e dessa relação cheia de muito fogo.
Phillip após transar com ela e perder a sua virgindade, resolve pedir Nicole uma
mulher com idade para ser sua mãe, em
casamento. Isso, mostrou o tamanho nível
de temeridade, repugnância, nojeira, podridão e de uma situação bastante escalafobética com relação ao fato da
obra criar uma romantização da pedofilia.
2) Outro
motivo que me fez perceber como esta obra envelheceu mal está no fato dela
criar uma representação bastante antiquada do conceito sobre classes sociais. Principalmente
no que diz respeito a elite ser sempre vista como a superior e dominante e o proletariado sempre inferior e dominada. Isto
na obra ficou evidente quando constatamos que por exemplo, o moleque Phillip
gosta de mostrar sua superioridade machista dominante de playboy rico para a Nicole, sua subalterna, sua serviçal,
sua empregada ao expô-la, exibi-la nos
mais diferentes lugares glamorosos e caros restaurantes que frequenta onde ele usufruindo do dinheiro do pai
ausente se sentindo o seu dono. Como se
ela fosse um troféu para ele. A Nicole como sua empregada e com quase idade para ser sua mãe, simboliza
bem a figura inferiorizada do
proletariado, tornando isso mais agravante do que a obra romantizar o
relacionamento pedofilo, é quanto a ela figurar como o estereotipo da
objetificação erótica da mulher de classe inferior submissa, mostrando como o
filme tentou romantizar a prática da escravidão sexual, do relacionamento
tóxico, abusivo e possessivo de Phillip
por ela. Nestes tempos em que a mentalidade
social mudou e os inferiores tem tido mais voz e o cinema tem prezado pela
representatividade, dentre estes, o exemplo do empoderamento feminino e este
tipo de coisa tem se tornado reprovável
pela opinião pública, este retrato da mentalidade social tradicional de patronato que esta obra representou ficou inadequado e
obsoleto.
3) Dentre
todos estes exemplos mencionados que
justificam bem o porquê que a meu ver
este filme envelheceu mal, também
carrega o fato de em todo o conjunto da obra ele apresenta muitos problemas,
principalmente no roteiro. Tirando a curiosidade do seu teor mais provocativo e ousado, a história em
si é bastante fraca, rasa, com todos personagens mal desenvolvidos. A protagonista
Nicole ficou tipo ok, bem razoável no
arco da trama, sendo representada pela Sylvia Kristel, a famosa estrela do
cinema erótico, cujo desempenho até que se mostrou bastante razoável, mediano,
cumpriu bem a função que já era de se
esperar para mostrar o despudor da sua personagem ainda que faltasse mais
camadas. Já o Phillip até que mostrou ter uma personalidade bem desenvolvida
com suas diferentes camadas, o jovem Eric Brown na época com apenas 16 anos bem
na idade correspondente ao seu personagem demonstrou um desempenho excelente no
papel e consegue segurar o filme nas costas com um ar pueril e destacando o seu sorriso de dentucinho. O mesmo não se
pode de dizer sobre o Sherman(Patrick Piccinini), o melhor amigo do Phillip, que nos primeiros momentos do filme
fica estabelecido ele como o melhor amigo e confidente do Phillip, um
coadjuvante bem caracterizado no arquétipo do alivio cômico no estereotipo de nerd
abobalhado como era visto na época sendo gordinho e de óculos. Porém, a partir
da segunda metade da história ele vai ficando sem importância alguma,
ficando completamente deslocado do ponto
central da trama, o garoto que o representou na obra Patrick Piccinini estava
com apenas 14 anos na época. Pior mesmo é o Lester, o chofer que foi desenhado como antagonista,
durante boa parte do filme ele aparece como um inútil, completamente jogado e
deslocado da história central fazendo uns olhares invejosos para o
Phillip quando fica observando este se envolvendo com a Nicole, sem muito destaque. Só a partir
do momento que a trama vai mudando de rumo depois que Nicole se fingi de morta
depois de transar com o Phillip é que ele ganha algum destaque quando resolve
ajudar Phillip a acobertar o corpo morto forjado da Nicole, ele se mostra mal-intencionado
numa motivação muito pífia de tão patética que provoca numa perseguição absurda
a ele. Ainda pior é o como pai do Phillip, o Mr. Filimore representou “bem” o pior
exemplo de figura paterna já vista numa
obra de cinema. Sendo pincelado como um
sujeito completamente inconsequente, relapso e temerário no momento em que se ausentou,
deixou o coitado do moleque ingênuo do Phillip sob os cuidados de seus
serviçais que se mostraram serem bastante mal-intencionados e cada com um caráter podres. Com uma
governanta completamente imoral,
devassa, libertina, pervertida, depravada, dissimulada, safadona que não
demonstrou nenhum pudor para ficar assediando e abusando sexualmente do garoto,
cometendo um crime sexual. Para piorar também há o chofer que cometeu uma dupla
cumplicidade de ao ver a governanta assediando o garoto não a denunciar, pior
fez chantagem em acobertar a morte
forjada da Nicole. Fora que também no próprio aspecto técnico, o filme apresenta muitos elementos de uma estética datada, que simboliza bem a atmosfera contemporânea dos anos 1980 com características mais para o estilo camp representados
no modo de vestir, dos cortes de
cabelos, dos carros, da cenografia, das paletas de cores na fotografia e a trilha musical dos cantores pop tocadas em
algumas cenas mais contemplativas, uma em especial que destaco é Lost in
Love da dupla Air Supply que acabou dando um tom muito novelesco a
obra, a ponto de ter ficado brega. Junte a isso com muitas situações absurdas que
beiram ao humor nonsense, como numa cena de perseguição a Lester onde o
Sherman, garoto menor de idade dirigir ou mesmo eles colocarem o treinador de
tênis do Phillip como detetive. Fora os closes anatômicos que exploram na atriz
Sylvia Kristel quando ela se despe para o Phillip, mostrando bem como o filme
não tinha mesmo o mínimo de pudor.
Enfim,
diante de todos estes fatores que eu apresentei depois da minha constatação,
acredito eu que dificilmente este filme vai figurar na lista top da critica
especializada como um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. Fora
a escolha do título em português que representa bem um desrespeito a categoria das mulheres docentes.
É
preciso colocar aqui que Sylvia Kristel, protagonista da obra, por causa do estigma que sempre a acompanhou
de figurar como a eterna musa erótica, a glorificada sex symbol, que ao mesmo tempo que a trouxe fama, também representou um mal interno para ela de não conseguir representar outros papeis mais relevantes, o que fez cair
nas armadilhas de uma vida desregrada, se viciando no álcool, nas drogas, o que
prejudicou bastante sua saúde mental, passou por dois atribulados casamentos, nos anos seguintes que esteve no ostracismo,
passou a viver uma vida modesta em Amsterdã, pintando quadros e enfrentando uma
longa batalha contra o câncer até morrer em 2012 aos 60 anos de idade, vitimada
por um AVC.
Recentemente,
houve uma polêmica aqui no Brasil quanto a acusação pública de pedofilia da
ex-apresentadora infantil Xuxa Meneghel que começou quando o jornalista e
apresentador de um programa da linha
policialesca chamado Sikêra Júnior a
atacava constantemente pelo filme Amor, Estranho Amor(Brasil,
1982)que ela estrelou antes de virar a famosa apresentadora infantil onde na obra, ela faz uma garota de programa
que se insinua e transa com um garoto,
e ela numa reportagem de um programa declarou recomendou verem o filme,
ela que sempre tentou por anos impedir
judicialmente a circulação da fita. Eu consegui ver este filme a um tempo atrás
quando estava disponível no Youtube e em comparação a este aqui, carrega um
nível de putacharias bem mais superiores do que este, com nível de agravamento
maior.