quinta-feira, 25 de agosto de 2016

QUATRO FILMES REFLEXIVOS QUE EU RECOMENDO



No dia 25 de Agosto, o Blog Breno Cinefilo completa 4 anos de vida. E para comemorar estes quatros invernos de atividade. Seleciono aqui quatro importantes filmes reflexivos, um pouco no estilo cabeça, recomendados por mim, para você assistir por um olhar aprofundado das coisas, com outros olhares. O curioso é que desses filmes que selecionei, nenhum é uma megaprodução de Hollywood. Na verdade, tratam-se de filmes bem multinacionais, sendo dois europeus e dois latinos-americanos. Então vamos as apresentações.







CINEMA PARADISO(1988)












Um primoroso filme italiano, dirigido por Giussepe Tornatore e com música de Ennio Morricone. Ganhador do Oscar de 1990 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Trata-se de uma comédia dramática que aborda de uma forma muito lúdica sua homenagem a sétima arte. Mostrando como o cinema influenciou e muito a vida  de Totô,  um garoto vivendo  sua infância onde é criado apenas pela viúva,  num cenário de uma Itália de meados da década de 1940 Pós-Segunda Guerra completamente arrasada e vive um forte de amizade pelo Alfredo, o projetista do  Nuovo Cinema Paradiso por quem ele se descobre apaixonado e foi por disso que Totô descobriu sua paixão pela sétima arte, que foi responsável por definir sua carreira na vida adulta. Filme magnifico que reflete bem o que nossas paixões de infância podem influenciar no caráter de nossa vida adulta. Assim como no exemplo do Totô(papel de Salvatore Casci na infância, Marco Leonardi na adolescência e Jacques Perrin já adulto), que ao crescer começar a trabalhar no cinema como projetista da sala do Nuovo Cinema Paradiso e ao chegar a uma certa idade adulta já tendo se tornado um celebre cineasta Totô retorna a sua pequena cidade para se despedir de Alfredo(Phillipe Noiret) e vê numa cena muito  tocante e melancólica o antigo prédio do Cinema Paradiso ser demolido. Uma sensação muito nostálgica, principalmente para quem mora aqui em Natal/RN e tem mais idade que eu  e viveu a fase áurea dos antigos  cinemas de bairro que tinha na capital. Coisa que pessoalmente eu não vivi em meus 31 anos de idade, cresci em uma época de completo declínio dos cinemas de bairro na capital, o único ainda ativo era o Rio Verde. Eu já fui da geração que cresceu com o surgimento dos cinemas de shoppings centers. Uma pena.






MORANGO E CHOCOLATE(1994)

 










Magnifico filme cubano, dirigido por Thomás Gutiérrez Alea(1928-1996), que representou um momento histórico muito importante para o cinema de Cuba, pois em 1995, ele foi o primeiro filme da ilha caribenha socialista a concorrer ao Oscar de Melhor Estrangeiro, perdendo para o russo “O Sol Enganador”. Este filme apesar do titulo sugerir, ele não se trata de uma história de romance açucarado, mas sim de uma comédia dramática onde  traz uma abordagem muito curiosa e densa  a respeito de como os cubanos lidam rotineiramente com o regime socialista castrista, que já comanda o pais  há 57 anos, sendo que desde 2008, a ilha é comandado por Raul Castro, irmão de Fidel Castro, que havia renunciado para tratamento médico, após longos 50 anos no cargo que conquistou após a Revolução Cubana ocorrida no final dos anos 1950.  A maneira bem sútil como o filme aborda através de três importantes personagens David, Diego e Nancy. Nos faz refletir de como é de verdade a sensação de viver num pais, onde quem é muito apaixonado pela doutrina esquerdista fica deslumbrado e maravilhado ao referir de forma romântica e utópica do comunismo castrista  como um exemplo na saúde e na educação sem desigualdades sociais, ainda que de forma mascarada na qual o filme aborda com um tom de critica social muito sutil.  Desde a maneira como ele aborda a prática do preconceito representado na figura do Diego(Jorge Perugorría), um produtor cultural e gay assumido, ele reflete bem esta camada social da ilha, que é bastante ignorada pelos adeptos do esquerdismo. Também traz uma sutil critica que reflete a forma como ocorre a educação no pais. Principalmente numa cena onde David(Vladimir Cruz) vai acompanhar Diego até a casa dele e fica pasmado ao ver a quantidade de livros censurados e dos quais ele faz uma leitura para ele com o som ligado as alturas para não ser delatado pelos vizinhos. Ou mesmo também a saúde, principalmente onde eles vão a Nancy(Mirta Ibarra) para o hospital e vemos a precariedade das transfusões de sangue.  Mostrando como um pais que forma profissionais competentes da saúde e exporta o serviço dos médicos para o mundo tenha equipamentos tão precários. Nanci por incrível que possa parecer representa a figura da delatora fiscal do regime castrista. Por este motivo é que ela nunca esclarece qual a sua real profissão.  Uma primorosa obra-prima para a gente analisar as coisas que a gente acredita como verdade com outros olhos. E principalmente refletir que o acesso ao conhecimento da maneira que for nos abre a cabeça. 





UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS(2007)





Este filme francês foi a última obra em vida de Claude Chabrol(1930-2010), um nome de peso do cinema na França, ainda mais por ter inaugurado o importante movimento revolucionário artístico que foi a Nouvelle Vague. Que influenciou outras inovações técnicas cinematográficas em todo mundo. Traz uma abordagem muito primorosa e também bastante densa, ao trazer uma reflexão de como é perigoso viver uma vida amorosa em triangulo amoroso. O sentimento não é algo que se brinca e o resultado pode ser bastante trágico. E isto pode ser sentido pela protagonista Gabrielle(Ludvigne Sagnier), uma linda jornalista que apresenta o programa do tempo, se envolve amorosamente com o escritor Charles Saint-Dennis(François Berlenad), um homem mais velho que ela e casado com uma relação muito intensa, que depois que este some da vida dela. Ela resolve se envolver com Paul Gaudens(Bernoit Magimel), um cara de família abastada importante, mas que tem sérios problemas mentais, e que não se sabe o porque nunca foi com a cara de Charles. Um filme muito profundamente denso, que nos leva a refletir justamente o quão perigoso é brincar com os sentimentos alheios. 






O PALHAÇO(2011)













Este filme brasileiro que é estrelado, dirigido e escrito pelo Selton Mello. Traz uma interessante e inusitada abordagem, principalmente no que diz respeito em ele aparentar ser uma comédia como bem o título sugere, ainda mais se utilizando do cenário lúdico e colorido do circo. Mas que na verdade está mais para um filme dramático. Isto porque a maneira como ele apresenta a vida  rotineira cigana  dos artistas circenses quando não estão se apresentando no picadeiro, que não é nada alegre, penando para sobreviverem com comida escassa, e muitas  vezes sem privacidade  e  com relacionamentos bem tumultuados. É neste cenário que somos  apresentados a outra face do circo, principalmente pela ótica do protagonista  Benjamim/Palhaço Pangaré(Selton Mello), que seguiu nesta carreira influenciado pelo seu pai Valdemar/Palhaço Puro Sangue(Paulo José). Que após tantos anos vivendo desta função  no circo entra numa crise existencial e resolve deixar o circo para viver uma vida comum. Uma tarefa que não vai ser das mais fáceis, mesmo porque ele vai encarar uma longa jornada de descobrir qual a sua verdadeira identidade, e para isso irá passar por cada diferente cartório burocrático.  Um filme bastante elogiado e premiado nos festivais, ele reflete bem nossa necessidade de sair da nossa zona  de conforto, e tentar de saber como usar o livre arbítrio para um momento de nossa crise existencial a gente se auto descobrir. Recomendo.


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