No
dia 25 de Agosto, o Blog Breno Cinefilo completa 4 anos de vida. E para
comemorar estes quatros invernos de atividade. Seleciono aqui quatro
importantes filmes reflexivos, um pouco no estilo cabeça, recomendados por mim,
para você assistir por um olhar aprofundado das coisas, com outros olhares. O curioso é que desses filmes
que selecionei, nenhum é uma megaprodução de Hollywood. Na verdade, tratam-se
de filmes bem multinacionais, sendo dois europeus e dois latinos-americanos.
Então vamos as apresentações.
Um
primoroso filme italiano, dirigido por Giussepe Tornatore e com música de Ennio
Morricone. Ganhador do Oscar de 1990 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Trata-se
de uma comédia dramática que aborda de uma forma muito lúdica sua homenagem a
sétima arte. Mostrando como o cinema influenciou e muito a vida de Totô, um garoto vivendo sua infância onde é criado apenas pela
viúva, num cenário de uma Itália de
meados da década de 1940 Pós-Segunda Guerra completamente arrasada e vive um
forte de amizade pelo Alfredo, o projetista do Nuovo Cinema Paradiso por quem ele se descobre
apaixonado e foi por disso que Totô descobriu sua paixão pela sétima arte, que
foi responsável por definir sua carreira na vida adulta. Filme magnifico que
reflete bem o que nossas paixões de infância podem influenciar no caráter de
nossa vida adulta. Assim como no exemplo do Totô(papel de Salvatore Casci na infância,
Marco Leonardi na adolescência e Jacques Perrin já adulto), que ao crescer
começar a trabalhar no cinema como projetista da sala do Nuovo Cinema Paradiso
e ao chegar a uma certa idade adulta já tendo se tornado um celebre cineasta
Totô retorna a sua pequena cidade para se despedir de Alfredo(Phillipe Noiret)
e vê numa cena muito tocante e
melancólica o antigo prédio do Cinema Paradiso ser demolido. Uma sensação muito
nostálgica, principalmente para quem mora aqui em Natal/RN e tem mais idade que
eu e viveu a fase áurea dos antigos cinemas de bairro que tinha na capital. Coisa
que pessoalmente eu não vivi em meus 31 anos de idade, cresci em uma época de
completo declínio dos cinemas de bairro na capital, o único ainda ativo era o
Rio Verde. Eu já fui da geração que cresceu com o surgimento dos cinemas de
shoppings centers. Uma pena.
MORANGO
E CHOCOLATE(1994)
Magnifico
filme cubano, dirigido por Thomás Gutiérrez Alea(1928-1996), que representou um
momento histórico muito importante para o cinema de Cuba, pois em 1995, ele foi
o primeiro filme da ilha caribenha socialista a concorrer ao Oscar de Melhor
Estrangeiro, perdendo para o russo “O Sol Enganador”. Este filme apesar do
titulo sugerir, ele não se trata de uma história de romance açucarado, mas sim
de uma comédia dramática onde traz uma
abordagem muito curiosa e densa a
respeito de como os cubanos lidam rotineiramente com o regime socialista
castrista, que já comanda o pais há 57
anos, sendo que desde 2008, a ilha é comandado por Raul Castro, irmão de Fidel
Castro, que havia renunciado para tratamento médico, após longos 50 anos no
cargo que conquistou após a Revolução Cubana ocorrida no final dos anos 1950. A maneira bem sútil como o filme aborda através
de três importantes personagens David, Diego e Nancy. Nos faz refletir de como
é de verdade a sensação de viver num pais, onde quem é muito apaixonado pela doutrina
esquerdista fica deslumbrado e maravilhado ao referir de forma romântica e utópica
do comunismo castrista como um exemplo
na saúde e na educação sem desigualdades sociais, ainda que de forma mascarada
na qual o filme aborda com um tom de critica social muito sutil. Desde a maneira como ele aborda a prática do
preconceito representado na figura do Diego(Jorge Perugorría), um produtor
cultural e gay assumido, ele reflete bem esta camada social da ilha, que é
bastante ignorada pelos adeptos do esquerdismo. Também traz uma sutil critica que
reflete a forma como ocorre a educação no pais. Principalmente numa cena onde David(Vladimir
Cruz) vai acompanhar Diego até a casa dele e fica pasmado ao ver a quantidade
de livros censurados e dos quais ele faz uma leitura para ele com o som ligado
as alturas para não ser delatado pelos vizinhos. Ou mesmo também a saúde,
principalmente onde eles vão a Nancy(Mirta Ibarra) para o hospital e vemos a
precariedade das transfusões de sangue.
Mostrando como um pais que forma profissionais competentes da saúde e exporta
o serviço dos médicos para o mundo tenha equipamentos tão precários. Nanci por
incrível que possa parecer representa a figura da delatora fiscal do regime
castrista. Por este motivo é que ela nunca esclarece qual a sua real profissão.
Uma primorosa obra-prima para a gente
analisar as coisas que a gente acredita como verdade com outros olhos. E
principalmente refletir que o acesso ao conhecimento da maneira que for nos
abre a cabeça.
UMA
GAROTA DIVIDIDA EM DOIS(2007)
Este
filme francês foi a última obra em vida de Claude Chabrol(1930-2010), um nome
de peso do cinema na França, ainda mais por ter inaugurado o importante
movimento revolucionário artístico que foi a Nouvelle Vague. Que influenciou
outras inovações técnicas cinematográficas em todo mundo. Traz uma abordagem
muito primorosa e também bastante densa, ao trazer uma reflexão de como é
perigoso viver uma vida amorosa em triangulo amoroso. O sentimento não é algo que se
brinca e o resultado pode ser bastante trágico. E isto pode ser sentido pela
protagonista Gabrielle(Ludvigne Sagnier), uma linda jornalista que apresenta o
programa do tempo, se envolve amorosamente com o escritor Charles Saint-Dennis(François
Berlenad), um homem mais velho que ela e casado com uma relação muito intensa,
que depois que este some da vida dela. Ela resolve se envolver com Paul
Gaudens(Bernoit Magimel), um cara de família abastada importante, mas que tem
sérios problemas mentais, e que não se sabe o porque nunca foi com a cara de
Charles. Um filme muito profundamente denso, que nos leva a refletir justamente
o quão perigoso é brincar com os sentimentos alheios.
O
PALHAÇO(2011)
Este
filme brasileiro que é estrelado, dirigido e escrito pelo Selton Mello. Traz
uma interessante e inusitada abordagem, principalmente no que diz respeito em
ele aparentar ser uma comédia como bem o título sugere, ainda mais se
utilizando do cenário lúdico e colorido do circo. Mas que na verdade está mais para
um filme dramático. Isto porque a maneira como ele apresenta a vida rotineira cigana dos artistas circenses quando não estão se
apresentando no picadeiro, que não é nada alegre, penando para sobreviverem com
comida escassa, e muitas vezes sem privacidade e com relacionamentos bem
tumultuados. É neste cenário que somos apresentados a outra face do circo,
principalmente pela ótica do protagonista Benjamim/Palhaço Pangaré(Selton Mello), que
seguiu nesta carreira influenciado pelo seu pai Valdemar/Palhaço Puro
Sangue(Paulo José). Que após tantos anos vivendo desta função no circo entra numa crise
existencial e resolve deixar o circo para viver uma vida comum. Uma tarefa que
não vai ser das mais fáceis, mesmo porque ele vai encarar uma longa jornada de
descobrir qual a sua verdadeira identidade, e para isso irá passar por cada
diferente cartório burocrático. Um filme
bastante elogiado e premiado nos festivais, ele reflete bem nossa necessidade
de sair da nossa zona de conforto, e
tentar de saber como usar o livre arbítrio para um momento de nossa crise
existencial a gente se auto descobrir. Recomendo.
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