quarta-feira, 26 de abril de 2017

ANÁLISE CRÍTICA DO FILME BARBARELLA(1968)
























   Inspirado na obra em quadrinho do francês Jean-Claude Forrest(1930-1998). Cuja primeira publicação saiu em 1962.  Ela fez uma grande revolução no mercado de quadrinhos na época,  sendo  responsável pelo surgimento de uma nova leva de quadrinhos eróticos femininos, produzido por desenhistas europeus, criando assim uma “Era de Ouro” dos quadrinhos eróticos europeus. Na onda dela vieram Valentina, Jodele entre outras no mercado de quadrinhos eróticos.























O filme apresenta uma atmosfera muito envolvente onde logo de cara pode se notar bem a essência dela e  o tamanho reflexo que ela bem  representava  para o cenário da época revolucionária e conturbada  que surgiu como foi a década de 1960 no mundo. Mesmo o cenário sendo  surreal, no espaço com aqueles toques de escapismo bem sci fi, o roteiro trazia muitos elementos que bem refletiam principalmente para a juventude rebelde da época como por exemplo, o movimento hippie, a música da contra cultura e a revolução sexual muitas coisas que a tornaram uma grande sex symbol daquela época. Mostrando a heroína flutuando em sua nave fazendo striptease ao som de uma envolvente balada com bons arranjos da época tocadas pela banda The Glitterhouse, que também contou  com a produção musical  de Bob Crewe(1930-2014) responsável por cantar "An Angel is love" nas cenas dos créditos finais  do filme,  a parte musical  também contou com a colaboração de Charles Fox, do francês  Michel Magne(1930-1984), James Campbell(1932-2010)   e de Geoff Love(1917-1991) responsáveis pelos arranjos instrumentais de cada cena.
















Dirigido pelo francês Roger Vadim(1928-2000), diretor do consagrado E Deus Criou a Mulher(1956), estrelada pela sensual Brigitte Bardot. Com roteiro de Terry Southern(1924-1995), famoso na época pelo seu estilo de escrita satírico. Com a produção do italiano Dino de Laurentiis(1919-2010),  responsável por ter comprado os direitos autorais, para adaptação ao cinema. Por fim estrelada pela bela Jane Fonda, filha do ator Henry Fonda(1905-1982), e irmã do também ator Peter Fonda, que por causa da personagem viraria uma símbolo sexual, e também, esposa do diretor Roger Vadim.  Curioso analisar que antes do papel ficar com  Jane Fonda, outras duas belas atrizes europeias,  que eram também  consideradas as símbolos sexuais, musas nos  anos 1960,  como a francesa Brigitte Bardot, ex de Vadim,  e a italiana Sofia Loren tinham  sido  as escaladas para protagonizar  Barbarella, mas ambas acabaram recusando. E foi ao saber disso, que Vadim entusiasmado, conseguiu convencê-la a aceitar o papel.  Pode se dizer que a junção destes diferentes elementos, foram os responsáveis por terem transformado o filme numa obra-prima do Cult movie, apesar do fracasso das bilheterias na época, mas serviu inclusive de referências para a cultura pop, como por exemplo,  a banda inglesa Duran Duran, tirou o seu nome em referencia ao vilão do filme, vivido pelo ator  Milo O´Shea(1926-2013), inclusive fizeram uma música chamada de Eletric Barbarella para o seu Medazzaland lançado em 1997. Conquistando a admiração de muitos fãs do gênero, chegando  a considerar esse filme uma obra-prima cult.  Posso descrever sobre o filme,  ele foi bastante inovador para a época, conseguindo transpor a uma atmosfera única, mesclando  pitadas de comédias, cenas de tiroteio espacial, e muita, mas muita imaginação criativa, para uma época de recursos tecnológicos tão escassos para se trabalhar na construção dos cenários gravados tudo no  chroma key e depois fazer a montagem e a edição de cada cena mesmo não sendo nada sofisticado e limitado, eles souberam como brincar com a arte  do surrealismo do cenário escapista espacial, com pitadas psicodélicas nesse filme, com direito a algumas pitadas de erotismo. Eu posso definir que Barbarella é de todas as heroínas das HQs, é a que tem mais apelo erótico, do qual ela consegue se manter de forma atemporal. Ainda que não seja um bom exemplo de filme de heroína a quem muitos esperam ver, por causa do tom sexista, ainda mais nesse tempo presente de valor ao empoderamento feminino e do politicamente correto, mesmo assim vale a pena dá uma conferida neste filme, pelo menos pela curiosidade.   


















Sobre o formato do seu  enredo,   ele até que trazia uma proposta bem interessante e que prometia ser envolvente, ainda trazendo um toque detetivesco para a personagem, que remetia as bond girls dos filmes de James Bond naquele ambiente futurista espacial.  Barbarella foi encarregada pelo seu chefe  a missão de investigar o desaparecimento do cientista Duran Duran. 



   

















É durante esta sua jornada detetivesca, que acompanhamos ela passar pela situações mais imprevisíveis e inusitadas possíveis,  principalmente depois que a sua nave sofre uma pane, e cai num planeta habitado por seres de comportamento um tanto bizarro, é então que a coisa vai ocorrendo por um outro patamar, que para uns pode não fazer nenhum sentido. Por este motivo recomendo ver este filme  com a cabeça aberta,  para assim vocês poderem entrar no clima da viagem cósmica a que o filme se propõe e principalmente no que ela representava para a época. Se você tiver um olhar muito atento vai poder perceber que do inicio ao fim ela troca constantemente de vestuário. Numa dessa situações ocorre quando sua nave entra em pane e cai em um planeta desconhecido.  Onde lá vai se deparar com situações bem inusitadas, peculiares e bizarras. 















Como o fato de ser abordado por duas meninas gêmeas falando um idioma estranho.  Estas meninas jogam uma pedra na cabeça dela que a faz cair. E no que ela cai, as duas a levam para um local onde se concentram outras crianças gêmeas como elas. E essas crianças nada boazinhas a amarram num pilar para ela ser devorada por uns bonecos assassinos, numa cena muito tensa. Por sorte, aparece um caçador chamado Mark Hand(Ugo Tognazzi) e este cara lhe dar uma carona para ela voltar a sua nave e lhe indica o caminho até um reino chamado Sogo,  localizado no subterrâneo daquele planeta, e ao cair lá e com sua nave quebrada, ela conhece outros inusitados amigos em sua jornada para procurar o Dr. Duran Duran. Como o Professor Ping(Macel Marceau) responsável por consertar a sua nave quebrada, o anjo cego Pygar(John Phillip Law), o atrapalhado revolucionário Dildano(David Hemmings) que quer acabar com a tirania da Rainha Negra(Anita Pallenberg) e tem uma cômica e inusitada cena de sexo com a protagonista, assim como a Rainha Negra que se apresenta para ela como uma caçadora de recompensas e o próprio Duran Duran que lhe é apresentado num momento importante que gera todo o ponto da reviravolta da trama. Digo isto porque, no momento em que ele é apresentado no filme, ele é sujeito que trabalha para a Rainha Negra, mas depois se descobri qual o real plano que ele planeja um golpe de estado com um plano bem mirabolante usando as lavas do Maximos para criar um apocalipse em Sogo. 





   








O formato da trama  do filme pode não fazer nenhum sentido a primeira  vista, é um tanto quanto bagunçado,  mas de todo jeito é preciso deixar que ele seja apreciado com a cabeça aberta, para poder compreender como era a visão da época viajando na atmosfera cósmica ao qual a crítica não gostou, mas com o tempo foi virando referência cult,  curiosamente além de já mencionar a banda inglesa Duran Duran ter o seu nome em referência ao vilão e criaram uma canção  chamada Eletric Barbarella em homenagem a heroína. O filme também serviu para outra inspiração musical, no  caso do videoclipe da canção Put Yourself in my place lançado em 1994 da australiana Kylie Minogue onde ela representa uma astronauta  fazendo  um striptease até ficar completamente pelada  na sua espaçonave em órbita espacial  assim como a Barbarella  fazia na abertura do filme, um fato curioso sobre esta cantora é que ela nasceu em 1968, mesmo ano que Barbarella era lançado nos cinemas.






















Mesmo não sendo um exemplo de obra-prima cinematográfica do gênero  de ficção científica, principalmente pela precariedade da produção que foi produzido nos estúdios do produtor Dino de Laurentiis em Roma e as caracterizações de alguns personagens beiram um pouco ao ridículo do cafona de tão brega que ficaram junto a tosqueira do cenário de Sogo ao ponto de parecerem muito mais uma alegoria carnavalesca em um circo de quinta categoria ou mesmo um teatro burlesco do que um filme aventuresco  de ficção científica. Ainda assim é um filme que tem seus méritos, principalmente pelo elenco.  Além de contar com a bela Jane Fonda como protagonista, desempenhando razoavelmente bem a personagem, principalmente no jeito da ingenuidade mesclado com uma sensualidade mais sutil e usando suas deduções detetivescas mais cômicas, meio pastelão. Ainda que aqui ela esteja um pouco aquém do esperado mesmo assim ela até que se esforça para fazer a Barbarella poder sustentar a trama. O filme também com uma variedade de atores multinacionais para interpretar algumas camadas de personagens nas subtramas apresentadas no filme. O francês Marcel Marceau(1923-2007), famoso mundialmente como  mímico no papel do Professor  Ping mostra um bom desempenho no papel dentro do limite imposto pelo roteiro mostrando um tom sereno com sua versatilidade para se tornar o aliado dela, o italiano Ugo Tognazzi(1922-1990) responsável pelo papel do caçador Mark Hand desempenha razoavelmente bem o papel desse sujeito que se aproveita para transar com a heroína, mas cuja importância para o arco da construção do enredo foi bastante irrelevante. O irlandês Milo O´Shea no papel do vilão Duran Duran, surpreende neste filme principalmente quando ocorre a reviravolta no climax do enredo dele ser a grande ameaça. O britânico David Hemmings(1941-2003) no papel do atrapalhado revolucionário Dildano o representa de uma forma bem caricata,  beirando ao ridículo.  A italiana Anita Pallenberg fazendo a Rainha de Sogo faz uma excelente interpretação da personagem principalmente nas diferentes facetas que ela se apresenta para a Barbarella, por fim, destaco o americano John Phillip Law(1937-2008), no papel do anjo cego  Pygar que o representa bem   de uma forma mais dramática, as vezes parecendo um pouco canastrão, talvez pela imposição do roteiro. Mas mesmo assim, pode se notar pela expressão facial serena dele um convencimento ao papel. 







   








Num balanço geral, Barbarella pode não ser dos melhores exemplos de obras-primas adaptados de quadrinhos, pode também não ser o melhor exemplo de filme estrelado por uma heroína, ou mesmo ser o melhor exemplo de um filme do gênero ficção científica. Mas, de todo jeito é uma obra que tem o mérito de ser bem atemporal e ter por assim dizer despertado o interesse ao escapismo espacial. Curioso imaginar que naquela mesma época que o filme foi lançado nos cinema, foi também a época que o até hoje cultuado  filme de Stanley Kubrick(1928-1999) 2001-Uma Odisseia no Espaço chegava aos cinemas e trouxe um legado maior ao gênero da ficção ao qual pode se assim que muitos anos mais tarde, por exemplo, George Lucas bebeu dessa fonte ao criar a sua célebre franquia de Star Wars e no ano seguinte, o mundo ficava pasmado com a chegada do Homem a Lua.




  
FONTE:
BARBARELLA 50 ANOS, MAS COM CORPINHO DE 25, Matéria da edição de Maio de 2012 da Revista Playboy.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Barbarella_%28filme%29
https://en.wikipedia.org/wiki/Electric_Barbarella

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