Se você perguntar a qualquer pessoa se ela curte cinema nacional? A resposta óbvia seria não, por achar as produções nacionais muito inferiores das hollywoodianas. O que não é para menos, do jeito que nossa produção audiovisual sofre por depender de órgãos governamentais para captar recursos e patrocínios de empresas públicas e privadas para entrar no processo de pré e pós-produção, é portanto compreensível que uma boa parte da população brasileira veja com forte preconceito a nossa produção nacional, eu mesmo tive este tipo de preconceituosa sobre a nossa produção audiovisual. Especialmente se a gente for analisar a nossa história cinematográfica que foi bastante prejudicada por diferentes governos, como a ditadura, por exemplo, que atrapalhou nossa produção audiovisual com a censura e para driblar a censura tivemos de nos adequar produções de baixo orçamento e de apelo popular como foram as pornochanchadas que contaram como grandes estrelas astros do alto escalão da Rede Globo. E logo depois no Governo Collor onde ele prejudicou a nossa produção ao cortar as verbas e as captações de recursos foi então que passamos por período negro de nossa produção nacional.
Só a partir de meados dos anos
1990, que é quando tivemos a retomada foi que a produção do cinema nacional
conseguiu voltar a ganhar o respeito dos brasileiros que não se tinha antes,
especialmente na boa qualidade das histórias e nos enquadramentos de cenas.
Porque vamos dizer que a pornochanchada ajudou a criar uma horrível imagem de piada do nosso cinema. Já que praticamente
não havia história, era só ir na sacanagem.
E se há um exemplo de filme nacional que se pode destacar
como um exemplo de história horrível especialmente pelo tempo que levou ficando
vintes anos no limbo devido aos constantes problemas na produção que ocasionou na má fama que o seu diretor levou de picareta,
sonegador fiscal por mau uso dos recursos captados para o filme em questão que é Chatô-O Rei do Brasil(Brasil, 2015).
A jornada desse problemático filme
ter levado um longo tempão para ser concluído e só então chegar aos cinemas após
duas décadas de incertezas. Tem inicio quando em 1995 o diretor Guilherme
Fontes, na época um ator cuja carreira estava em alta na Rede Globo por vim de
uma sequencia de novelas de sucesso como Mulheres
de Areia(1993) e A Viagem(1994),
foi atrás de captar recursos para adaptar o livro homônimo do jornalista
Fernando Morais publicado em 1994, um expert e grande referência em escrever livros
biográficos sobre grandes personalidades brasileiras. Guilherme ficou bastante apaixonado
ao ler este livro do jornalista que contava a trajetória do grande magnata da comunicação
no Brasil Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello(1892-1968), vulgo
conhecido como Assis Chateaubriand. Considerado o Cidadão Kane Brasileiro, um
homem que ao mesmo que era respeito como jornalista e também empresário da comunicação,
criador dos Diários Associados, da Rádio Tupi e da pioneira e já extinta TV
TUPI. Também foi visto como um sujeito bastante polêmico, especialmente nas
controversas posições politicas ao qual tanto criticava em seu jornal. Nascido
em Umbuzeiro, na Paraíba. Batizado de Francisco de Assis, em referência ao fato
de ter nascido no dia 04 de Outubro, dia dedicado ao santo e o Chateaubriand é
de origem na homenagem que seu pai Francisco José tinha pelo poeta francês Francois-René
de Chateaubriand(1768-1848) que tem uma linda frase reflexiva que diz respeito às
ciências e aos sentimentos: “As ciências explicam tudo para a inteligência e
nada para o coração”. Formado jornalista
e magistrado, Chatô também atuou como político,
mecenas e também tornou-se membro da
Academia Brasileira de Letras. Por trás da figura imponente de um magnata da comunicação que ele transmitia,
também havia a figura de um sujeito com uma personalidade muito egocêntrica,
autoritária, ainda por cima um mulherengo e que
pouco ligava para a família. Ou seja, sua vida pessoal estava longe de ser um
exemplo de perfeição, o que contrastava
com a sua mítica imagem de o poderoso chefão das comunicações brasileiras. Longe
de ser uma perfeição está também no que pode se descrever sobre este filme que
retrata a sua biografia.
A começar pelo fato da maneira
como a trama foi construída é bastante confusa, uma verdadeira colcha de retalhos.
A bagunça fica evidente desde o começo, onde pela premissa podemos bem
observar uma grande confusão da narrativa não-linear que começa mostrando o Chatô(Marco
Ricca) numa limusine vendo a coroação da Rainha Elizabeth II, em seguida, temos
o corte para a cena dele no hospital e nisso temos umas variedades situações
aleatoriamente confusas, como por exemplo de repente ele está participando de
um programa de auditório onde está passando por uma espécie de tribunal para ser
julgado em um tom muito galhofa e canastrão. Depois a trama vai rapidamente
apresentando fatos da vida do Chatô, de sua humilde infância no interior da Paraíba,
passando por sua vida adulta sonhando alto em trabalhar como jornalista e ser
proprietário de seu próprio meio de comunicação, dos seus momentos de glória e
queda, a trama vai oscilando muito no
tom a ponto de ficar um filme muito Frankstein. Hora fica cômico demais, especialmente
quando mostra Chatô agindo em situações muito absurdas, hora também fica muito dramático
a ponto de não conseguir encontrar a dose certa e muitas delas até inverossimilhantes
demais dentro do contexto apresentado na obra. Muito disso consequência dos problemas de
edição, devido a este limbo durante a produção onde ele adiou algumas datas de filmagens,
fora também o fato do texto está bastante deslocado com as situações
apresentadas nas cenas e todo este atraso de vinte anos de lançamento ocasionou
de Guilherme Fontes ficar com o nome sujo na praça, já que o Tribunal de Contas
da União o acusou de sonegação fiscal e como multa teve de devolver a boa parte
do que foi investido, o que resultou no atraso de lançamento deste filme e gerou
até suspeita que isto não passava de uma pura picaretagem.
Parece que Guilherme Fontes
errou bastante a mão ao se arriscar em dirigir uma produção dessa magnitude, ainda
mais sendo uma cinebiografia de uma pessoa importante como Assis Chateaubriand.
A quantidade de erros crassos de produção é tão grande de tão tosco e absurdo que ficou. Como se não bastasse o roteiro
confuso com uma narrativa não linear,
com um texto cheio de diálogos confusos e fora de tom, mesclado a edição cheia de cenas muito retalhadas e a própria atmosfera
indefinida utilizando-se do exagero da extravagancia, que são frutos da
liberdade criativas que Guilherme Fontes não soube como executar. A sensação que dá é que a ideia
no papel se mostrava perfeito, mas na
hora da execução terminou ficando bastante problemático. Fora também que o
filme apresentou um ritmo bastante fragmentado, com trechos acelerados e outros
lento demais a ponto de ficar entediante e a falta de contextualização, especialmente
nos momentos importantes da História do Brasil que contou com a colaboração de
Chatô, como o seu controverso relacionamento de amizade com Getúlio Vargas(1882-1954),
então Presidente do Brasil deixam o espectador bastante deslocado e confuso dentro
daquele contexto apresentado no filme, a ponto de gerar aquele estranhamento de
pensar assim: será que de fato aquilo aconteceu na vida do Chatô? Outro
problema também terrível do roteiro, foi na maneira como foi construída a
personalidade do próprio Chatô, sendo ele representado de uma forma muito extravagante,
beirando ao ridículo de tão estereotipado e caricato que ficou a ponto mais
parecer uma versão satírica. Marco Ricca na pele do Chatô até que não ficou
ruim no papel, ele bem se esforça para desempenhar todas as nuances e camadas que
envolvem a complexidade de uma figura como Chatô. O grande problema está é na
maneira como o texto mal construiu a personalidade dele, a ponto de na forma caricata
como ele representou Chatô, principalmente nos momentos de raiva, agindo como um típico nordestino arretado, cabra
da peste, pegando no facão e com uma fonética de sotaque carregado fez ele mais
parecer uma patética representação de imitação barata em um típico programa humorístico. Além de Marco Ricca, o elenco do
filme também contou com um elenco estelar, formado por alguns Star Talents de novelas da Rede Globo, como
por exemplo, Paulo Betti na pele do Getúlio Vargas onde ele desempenha uma
personalidade dele como um sujeito bastante articulado e como sabia agir como
uma verdadeira raposa na política, apesar de em alguns momentos poder-se notar
um jeito forçado e até beirando ao caricato que faz ele mais parecer um
comediante fazendo sátira do Getúlio. Mesmo contando com a presença destes, não mostram peso suficiente
para segurarem o filme, que carrega uma estética bastante fragmentada a ponto
de ficar muito confuso com tantas colchas de retalhos que foram feitas, a ponto
de se observar muitas mudanças de tom e
com as edições confusas então nem se fala. Hora ele apresenta uma cena do Chatô
em coma que tem momentos que cria um clima do tom bastante pesado pela carga dramática, de repente
eles cortam para o momento do devaneio de Chatô de auditório onde o cenário
colorido das paletas de cores muda completamente o tom indo para o humor
galhofa, canastrão, extravagante em um ambiente com toque bem carnavalescos, toda
esta tosquice apresentada no filme me
faz chegar a conclusão dele representar a maior vergonha alheia do cinema nacional
de todos os tempos.
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