sábado, 6 de outubro de 2018

CHATÔ- O REI DO BRASIL-O POLÊMICO FILME ATRASADO PELA BUROCRACIA.




Se você perguntar a qualquer pessoa se ela curte cinema nacional? A resposta óbvia seria não, por achar as produções nacionais   muito inferiores das hollywoodianas. O que não é para menos, do jeito que nossa produção audiovisual sofre por depender de órgãos governamentais para captar recursos e patrocínios de empresas públicas e privadas para entrar no processo de pré e pós-produção, é portanto compreensível que uma boa parte da população brasileira veja com forte preconceito a nossa produção nacional, eu mesmo tive este tipo de preconceituosa sobre a nossa produção audiovisual. Especialmente se a gente for analisar a nossa história cinematográfica que foi bastante prejudicada por diferentes governos, como a ditadura, por exemplo, que atrapalhou nossa produção audiovisual com a censura e para driblar a censura tivemos de nos adequar produções de baixo orçamento e de apelo popular como foram as pornochanchadas que contaram como grandes estrelas astros do alto escalão da Rede Globo. E logo depois no Governo Collor onde ele prejudicou a nossa produção ao cortar as verbas e as captações de recursos foi então que passamos por período negro de nossa produção nacional. 






Só a partir de meados dos anos 1990, que é quando tivemos a retomada foi que a produção do cinema nacional conseguiu voltar a ganhar o respeito dos brasileiros que não se tinha antes, especialmente na boa qualidade das histórias e nos enquadramentos de cenas. Porque vamos dizer que a pornochanchada ajudou a criar uma horrível imagem  de piada do nosso cinema. Já que praticamente não havia história, era só ir na sacanagem.












E se  há um exemplo de filme nacional que se pode destacar como um exemplo de história horrível especialmente pelo tempo que levou ficando vintes anos no limbo devido aos constantes problemas na produção que ocasionou  na má fama que o seu diretor levou de picareta, sonegador fiscal por mau uso dos recursos captados  para o   filme em questão que  é Chatô-O Rei do Brasil(Brasil, 2015). 










A jornada desse problemático filme ter levado um longo tempão para ser concluído e só então chegar aos cinemas após duas décadas de incertezas. Tem inicio quando em 1995 o diretor Guilherme Fontes, na época um ator cuja carreira estava em alta na Rede Globo por vim de uma sequencia de novelas de sucesso como Mulheres de Areia(1993) e A Viagem(1994), foi atrás de captar recursos para adaptar o livro homônimo do jornalista Fernando Morais publicado em 1994, um expert e grande referência em escrever livros biográficos sobre grandes personalidades brasileiras. Guilherme ficou bastante apaixonado ao ler este livro do jornalista que contava a trajetória do grande magnata da comunicação no Brasil Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello(1892-1968), vulgo conhecido como Assis Chateaubriand. Considerado o Cidadão Kane Brasileiro, um homem que ao mesmo que era respeito como jornalista e também empresário da comunicação, criador dos Diários Associados, da Rádio Tupi e da pioneira e já extinta TV TUPI. Também foi visto como um sujeito bastante polêmico, especialmente nas controversas posições politicas ao qual tanto criticava em seu jornal. Nascido em Umbuzeiro, na Paraíba. Batizado de Francisco de Assis, em referência ao fato de ter nascido no dia 04 de Outubro, dia dedicado ao santo e o Chateaubriand é de origem na homenagem que seu pai Francisco José tinha pelo poeta francês Francois-René de Chateaubriand(1768-1848) que tem uma linda frase reflexiva que diz respeito às ciências e aos sentimentos: “As ciências explicam tudo para a inteligência e nada para o coração”.  Formado jornalista e  magistrado, Chatô também atuou como político,  mecenas e também tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras. Por trás da figura imponente  de um magnata da comunicação que ele transmitia, também havia a figura de um sujeito com uma personalidade muito egocêntrica, autoritária, ainda por cima um mulherengo   e que pouco ligava para a família. Ou seja, sua vida pessoal estava longe de ser um exemplo de  perfeição, o que contrastava com a sua mítica imagem de o poderoso chefão das comunicações brasileiras. Longe de ser uma perfeição está também no que pode se descrever sobre este filme que retrata a sua biografia. 








A começar pelo fato da maneira como a trama foi construída é bastante confusa, uma verdadeira colcha de retalhos. A bagunça  fica evidente  desde o começo, onde pela premissa podemos bem observar uma grande confusão da narrativa não-linear que começa mostrando o Chatô(Marco Ricca) numa limusine vendo a coroação da Rainha Elizabeth II, em seguida, temos o corte para a cena dele no hospital e nisso temos umas variedades situações aleatoriamente confusas, como por exemplo de repente ele está participando de um programa de auditório onde está passando por uma espécie de tribunal para ser julgado em um tom muito galhofa e canastrão. Depois a trama vai rapidamente apresentando fatos da vida do Chatô, de sua humilde infância no interior da Paraíba, passando por sua vida adulta sonhando alto em trabalhar como jornalista e ser proprietário de seu próprio meio de comunicação, dos seus momentos de glória e queda, a trama vai oscilando  muito no tom a ponto de ficar um filme muito Frankstein. Hora fica cômico demais, especialmente quando mostra Chatô agindo em situações muito absurdas, hora também fica muito dramático a ponto de não conseguir encontrar a dose certa e muitas delas até inverossimilhantes demais dentro do contexto apresentado na obra.  Muito disso consequência dos problemas de edição, devido a este limbo durante a produção onde ele adiou algumas datas de filmagens, fora também o fato do texto está bastante deslocado com as situações apresentadas nas cenas e todo este atraso de vinte anos de lançamento ocasionou de Guilherme Fontes ficar com o nome sujo na praça, já que o Tribunal de Contas da União o acusou de sonegação fiscal e como multa teve de devolver a boa parte do que foi investido, o que resultou no atraso de lançamento deste filme e gerou até suspeita que isto não passava de uma pura picaretagem. 






Parece que Guilherme Fontes errou bastante a mão ao se arriscar em dirigir uma produção dessa magnitude, ainda mais sendo uma cinebiografia de uma pessoa importante como Assis Chateaubriand. A quantidade de erros crassos de produção é tão grande de tão tosco e absurdo  que ficou. Como se não bastasse o roteiro confuso com uma narrativa  não linear, com um texto cheio de diálogos confusos e fora de tom, mesclado a edição cheia  de cenas muito retalhadas e a própria atmosfera indefinida utilizando-se do exagero da extravagancia, que são frutos da liberdade criativas que Guilherme Fontes não soube  como executar. A sensação que dá é que a ideia  no papel se mostrava perfeito, mas na hora da execução terminou ficando bastante problemático. Fora também que o filme apresentou um ritmo bastante fragmentado, com trechos acelerados e outros lento demais a ponto de ficar entediante e a falta de contextualização, especialmente nos momentos importantes da História do Brasil que contou com a colaboração de Chatô, como o seu controverso relacionamento de amizade com Getúlio Vargas(1882-1954), então Presidente do Brasil deixam o espectador bastante deslocado e confuso dentro daquele contexto apresentado no filme, a ponto de gerar aquele estranhamento de pensar assim: será que de fato aquilo aconteceu na vida do Chatô? Outro problema também terrível do roteiro, foi na maneira como foi construída a personalidade do próprio Chatô, sendo ele representado de uma forma muito extravagante, beirando ao ridículo de tão estereotipado e caricato que ficou a ponto mais parecer uma versão satírica. Marco Ricca na pele do Chatô até que não ficou ruim no papel, ele bem se esforça para desempenhar todas as nuances e camadas que envolvem a complexidade de uma figura como Chatô. O grande problema está é na maneira como o texto mal construiu a personalidade dele, a ponto de na forma caricata como ele representou Chatô, principalmente nos momentos de raiva,  agindo como um típico nordestino arretado, cabra da peste, pegando no facão e com uma fonética de sotaque carregado fez ele mais parecer uma patética representação de imitação barata em um típico programa  humorístico. Além de Marco Ricca, o elenco do filme também contou com um elenco estelar, formado por alguns  Star Talents de novelas da Rede Globo, como por exemplo, Paulo Betti na pele do Getúlio Vargas onde ele desempenha uma personalidade dele como um sujeito bastante articulado e como sabia agir como uma verdadeira raposa na política, apesar de em alguns momentos poder-se notar um jeito forçado e até beirando ao caricato que faz ele mais parecer um comediante fazendo sátira do Getúlio. Mesmo contando com a presença  destes, não  mostram peso   suficiente para segurarem o filme, que carrega uma estética bastante fragmentada a ponto de ficar muito confuso com tantas colchas de retalhos que foram feitas, a ponto de se observar muitas mudanças de tom  e com as edições confusas então nem se fala. Hora ele apresenta uma cena do Chatô em coma que tem momentos que cria um clima do tom  bastante pesado pela carga dramática, de repente eles cortam para o momento do devaneio de Chatô de auditório onde o cenário colorido das paletas de cores muda completamente o tom indo para o humor galhofa, canastrão, extravagante em um ambiente com toque bem carnavalescos, toda esta tosquice apresentada no filme  me faz chegar a conclusão dele representar a maior vergonha alheia do cinema nacional de todos os tempos.

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