segunda-feira, 15 de outubro de 2018

SOBREVIVENDO COM LOBOS-A SOBREVIVÊNCIA DA INTOLERÂNCIA


Nesta época  tão sombria que anda ocorrendo nesta eleição em nosso pais, onde nesse momento de crise, boa parte da população brasileira tem transformado um sujeito com ideias intolerantes as minorias  como o Salvador da Pátria é nesse clima que é bom mesmo comentar sobre um filme que aborda o quanto que uma ideologia de intolerância pode prejudicar muita gente, especialmente para uma garota judia em plena Segunda Guerra Mundial como o retratado no filme Sobrevivendo com Lobos( Survivre avec les loups, França, 2007) .É como posso definir, um excelente de exemplo de  filme com essa abordagem, cuja estética é inigualável. 






Um interessante enredo que nos apresenta em tom reflexivo sobre o limite da nossa própria sobrevivência. No primeiro ato  do filme, começa se passando em 1942, mostrando Misha acompanhada de seus pais se  abrigando  numa casa da periferia  de Bruxelas, capital da Bélgica. Fugindo do nazismo, vivendo na clandestinidade e sendo orientada pela mãe a quando aparecer uma pessoa se aproximando dela contando o código "amor da minha vida" é porque simboliza um sinal de que ela deve acompanhar esta pessoa quando os pais não tiverem por perto. Também apresenta ela tentando se adaptar aquela nova rotina tentando parecer a mais normal possível.  Falsificam o registro dela  para que ninguém soubesse que era judia. 












Até chegar o momento em que quando ele ao sair da escola descobre que os pais não estavam lá, e então uma senhora aparece e menciona "amor da minha vida". É então que ela se depara com o perigo e vai a acompanhando até uma casa na zona rural sendo acolhida por uma família, que  aparentam não  estarem muito feliz com este gesto de caridade em abriga-la. É então que ocorre o segundo ato do filme, onde mostra a vivencia dela  neste abrigo numa fazenda onde ela se  dividi entre a família que a abriga, e o Ernest um simpático senhor que é vizinho desta família por quem ela se afeiçoa e passa a viver com ele. Principalmente com os casais de cachorros Mamãe Rita e Papai Ita. Um homem que por trás daquela simpatia, esconde um lado mais dramático que foi ter perdido um filho quando foi combater na guerra, e isso deixou sua esposa Marthe além de abalada, enlouquecida a ponto de sempre achar que ele está voltando.  










É  a partir do momento em que Misha ao observar as tropas invadindo a fazenda. Que tem início o terceiro ato do filme que é aonde se desenvolve a sua jornada solitária pela floresta, fugindo dos nazistas. As únicas companhias que ela conta nesta jornada são Gerusha, a boneca que ela ganhou de Marthe, e uns bandos lobos que ela observando umas fortes semelhanças a Mamãe Rita e Papai Ita, os chama desse modo.

É também ao longo desta sua errante jornada solitária pela floresta, vivendo uma vida de criança  selvagem onde ela perde completamente a noção do tempo e nem faz ideia que tenha passado pela Alemanha, Polônia  onde se deparou com muitos perigos, muitas hostilidades, foi atingida por uma pedrada de um fazendeiro, quando invadiu a propriedade deste para comer. Esteve envolvida com outras crianças que estavam fugindo das tropas, e viu o casal de lobos por quem ela se afeiçoou serem mortos pelos caçadores, até concluir a partir do momento em que ela aparece na Ucrânia em 1944, que é onde ocorre  o terceiro ato do filme.  É numa abandonada e destruída cidade-fantasma  ucraniana que Misha completamente exausta cai no chão para dormir e lá tem o delírio da lembrança do seu pai. Principalmente ao sentir alguém lhe carregando, ela pensa ser seu pai, mas na verdade era um soldado russo, que não por acaso também se chamava Misha.







Neste momento a menina se mostra arredia quando o soldado Misha a leva para o esconderijo dele, provavelmente pelo longo tempo que passou caminhando na floresta e tendo de sobreviver com o que podia, e principalmente aguentar os invernos rigorosos e com a convivência das alcateias então.  E então que vemos o desenvolvimento do quarto ato onde apresenta a vida rotineira de Misha neste abrigo com as tropas russas, onde ela se mostra muito arredia em não querer se comunicar com eles. No momento em que ambos estavam reunidos vendo uns filmes de noticiários sobre a guerra, e quando é apresentado um bombardeio  da resistência de Bruxelas é então que ela reage e grita, já deixando claro  para estas tropas um sinal de onde ela vem. Dai então temos o fim do quarto ato, mostrando com a conclusão com o quinto apresentando Misha voltando para casa, desta não encarando a floresta novamente, mas num trem, e perigosamente debaixo dos trilhos. Assim que chega na antiga casa do bairro, acha estranho o ambiente ter mudado, é então que a senhora dona da propriedade a aconselha ir para a prefeitura para pedir informação e encontrar os paradeiro dos seus pais. O que termina sendo em vão, até que ela acaba ficando lá para receber uns tratamentos médicos que a deixam em delírio.

É então que o filme termina com o velho Ernest aparecendo para assumir a tutela da menina e trazendo para a sua  companhia o Papai Ita e da Mamãe Rita.

O filme com direção de Vera Belmont carrega uma história bastante reflexiva de como numa situação dessas ou mesmo a que  ponto do limite pode chegar ao extremo, em consequência da falta de humanidade e de tolerância das pessoas. Ele teve seu roteiro inspirado  em um livro de memórias da Misha que foi publicado em 1997, que ela depois disse que não eram verdadeiras, mas independente de ser ou não verdadeira, ainda assim transmiti muito bem o sofrimento, as provas e as expiações que temos de lidar quando uma sociedade intolerante nos persegui por sermos diferentes. 








Um filme que representa bem uma temática como com cunho de obra de arte. Diferente de alguns clichês hollywoodianos que costumam exaltar neste tipo de filme, uma visão romanceada com a figura dos soldados no combate, como os salvadores do mundo, com os americanos sendo o  arquétipo do Capitão América  e os alemães como o arquétipo do  Caveira Vermelha. Neste aqui é o contrário, ele nos apresenta um cenário desse tumultuado conflito pelo ponto de vista de uma pessoa comum, uma menininha que sofreu muito por não ter tido uma infância feliz, por ser diferente, por causa de um sistema político que pregava o ódio, a intolerância, queria que todos fossem iguais loiros do olho azul e fossem arianos. Numa trama muito violentamente densa, principalmente pelo aspecto psicológico que passa a Misha, um bom filme reflexivo para quem "Não conhece a sua história, está condenado a repeti-la", como bem descreve o filosofo irlandês Edmund Burke(1729-1797).  E no caso em tempos como os de hoje que a cena vive neste cenário político  delicado no Brasil nesta eleição, com todo mundo se xingando e perdendo amizades por paixões ideológicas  partidárias e até se violentando com muita barbárie, é até recomendável  assistir  um filme desse e imaginar as consequências que isto volte a causar, e que pode ser muito pior que o nazismo.

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