Nesta época tão sombria que anda ocorrendo nesta eleição
em nosso pais, onde nesse momento de crise, boa parte da população brasileira
tem transformado um sujeito com ideias intolerantes as minorias como o Salvador da Pátria é nesse clima que é
bom mesmo comentar sobre um filme que aborda o quanto que uma ideologia de
intolerância pode prejudicar muita gente, especialmente para uma garota judia em
plena Segunda Guerra Mundial como o retratado no filme Sobrevivendo com Lobos( Survivre
avec les loups, França, 2007) .É como posso definir, um excelente de exemplo de
filme com essa abordagem, cuja estética
é inigualável.
Um interessante enredo que nos
apresenta em tom reflexivo sobre o limite da nossa própria sobrevivência. No
primeiro ato do filme, começa se
passando em 1942, mostrando Misha acompanhada de seus pais se abrigando
numa casa da periferia de
Bruxelas, capital da Bélgica. Fugindo do nazismo, vivendo na clandestinidade e
sendo orientada pela mãe a quando aparecer uma pessoa se aproximando dela
contando o código "amor da minha vida" é porque simboliza um sinal de
que ela deve acompanhar esta pessoa quando os pais não tiverem por perto.
Também apresenta ela tentando se adaptar aquela nova rotina tentando parecer a
mais normal possível. Falsificam o
registro dela para que ninguém soubesse
que era judia.
Até chegar o momento em que
quando ele ao sair da escola descobre que os pais não estavam lá, e então uma
senhora aparece e menciona "amor da minha vida". É então que ela se
depara com o perigo e vai a acompanhando até uma casa na zona rural sendo
acolhida por uma família, que aparentam
não estarem muito feliz com este gesto
de caridade em abriga-la. É então que ocorre o segundo ato do filme, onde
mostra a vivencia dela neste abrigo numa
fazenda onde ela se dividi entre a
família que a abriga, e o Ernest um simpático senhor que é vizinho desta
família por quem ela se afeiçoa e passa a viver com ele. Principalmente com os
casais de cachorros Mamãe Rita e Papai Ita. Um homem que por trás daquela
simpatia, esconde um lado mais dramático que foi ter perdido um filho quando
foi combater na guerra, e isso deixou sua esposa Marthe além de abalada,
enlouquecida a ponto de sempre achar que ele está voltando.
É a partir do momento em que Misha ao observar
as tropas invadindo a fazenda. Que tem início o terceiro ato do filme que é
aonde se desenvolve a sua jornada solitária pela floresta, fugindo dos
nazistas. As únicas companhias que ela conta nesta jornada são Gerusha, a
boneca que ela ganhou de Marthe, e uns bandos lobos que ela observando umas
fortes semelhanças a Mamãe Rita e Papai Ita, os chama desse modo.
É também ao longo desta sua
errante jornada solitária pela floresta, vivendo uma vida de criança selvagem onde ela perde completamente a noção
do tempo e nem faz ideia que tenha passado pela Alemanha, Polônia onde se deparou com muitos perigos, muitas
hostilidades, foi atingida por uma pedrada de um fazendeiro, quando invadiu a
propriedade deste para comer. Esteve envolvida com outras crianças que estavam
fugindo das tropas, e viu o casal de lobos por quem ela se afeiçoou serem
mortos pelos caçadores, até concluir a partir do momento em que ela aparece na
Ucrânia em 1944, que é onde ocorre o
terceiro ato do filme. É numa abandonada
e destruída cidade-fantasma ucraniana
que Misha completamente exausta cai no chão para dormir e lá tem o delírio da
lembrança do seu pai. Principalmente ao sentir alguém lhe carregando, ela pensa
ser seu pai, mas na verdade era um soldado russo, que não por acaso também se
chamava Misha.
Neste momento a menina se
mostra arredia quando o soldado Misha a leva para o esconderijo dele,
provavelmente pelo longo tempo que passou caminhando na floresta e tendo de sobreviver
com o que podia, e principalmente aguentar os invernos rigorosos e com a convivência
das alcateias então. E então que vemos o
desenvolvimento do quarto ato onde apresenta a vida rotineira de Misha neste
abrigo com as tropas russas, onde ela se mostra muito arredia em não querer se
comunicar com eles. No momento em que ambos estavam reunidos vendo uns filmes
de noticiários sobre a guerra, e quando é apresentado um bombardeio da resistência de Bruxelas é então que ela
reage e grita, já deixando claro para estas
tropas um sinal de onde ela vem. Dai então temos o fim do quarto ato, mostrando
com a conclusão com o quinto apresentando Misha voltando para casa, desta não
encarando a floresta novamente, mas num trem, e perigosamente debaixo dos
trilhos. Assim que chega na antiga casa do bairro, acha estranho o ambiente ter
mudado, é então que a senhora dona da propriedade a aconselha ir para a
prefeitura para pedir informação e encontrar os paradeiro dos seus pais. O que
termina sendo em vão, até que ela acaba ficando lá para receber uns tratamentos
médicos que a deixam em delírio.
É então que o filme termina
com o velho Ernest aparecendo para assumir a tutela da menina e trazendo para a
sua companhia o Papai Ita e da Mamãe
Rita.
O filme com direção de Vera
Belmont carrega uma história bastante reflexiva de como numa situação dessas ou
mesmo a que ponto do limite pode chegar
ao extremo, em consequência da falta de humanidade e de tolerância das pessoas.
Ele teve seu roteiro inspirado em um
livro de memórias da Misha que foi publicado em 1997, que ela depois disse que
não eram verdadeiras, mas independente de ser ou não verdadeira, ainda assim
transmiti muito bem o sofrimento, as provas e as expiações que temos de lidar quando
uma sociedade intolerante nos persegui por sermos diferentes.
Um filme que representa bem
uma temática como com cunho de obra de arte. Diferente de alguns clichês
hollywoodianos que costumam exaltar neste tipo de filme, uma visão romanceada
com a figura dos soldados no combate, como os salvadores do mundo, com os
americanos sendo o arquétipo do Capitão
América e os alemães como o arquétipo
do Caveira Vermelha. Neste aqui é o
contrário, ele nos apresenta um cenário desse tumultuado conflito pelo ponto de
vista de uma pessoa comum, uma menininha que sofreu muito por não ter tido uma
infância feliz, por ser diferente, por causa de um sistema político que pregava
o ódio, a intolerância, queria que todos fossem iguais loiros do olho azul e
fossem arianos. Numa trama muito violentamente densa, principalmente pelo
aspecto psicológico que passa a Misha, um bom filme reflexivo para quem
"Não conhece a sua história, está condenado a repeti-la", como bem
descreve o filosofo irlandês Edmund Burke(1729-1797). E no caso em tempos como os de hoje que a cena
vive neste cenário político delicado no Brasil
nesta eleição, com todo mundo se xingando e perdendo amizades por paixões
ideológicas partidárias e até se violentando
com muita barbárie, é até recomendável
assistir um filme desse e
imaginar as consequências que isto volte a causar, e que pode ser muito pior
que o nazismo.
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